Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 21
Dominique Quebec


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 20

Dominique

“Só o amor constrói para a eternidade” – Marques Rebêlo

Tom Odell – I Know

As fagulhas flutuavam ao seu redor, como espirros do fogo. Uma mancha de sangue marcava a placa de aço a frente de sua cabeça. Ergueu ambos os braços e empurrou-a, gemendo. Sua perna doía muito, presa entre as ferragens. O céu abria-se, branco. O Sol havia fugido, deixando-a apenas com nuvens de tempestade. Ao redor, mais e mais placas, bancos. Um braço ao seu lado não possuía dono e por um instante temeu que fosse seu braço, até encarar ambos os membros e suspirar. Empurrou tudo, o que conseguia, até livrar a perna do que a segurava. Sangue banhava a meia, e subia por sua coxa, até a saia. Não conseguiria dar um passo, mas poderia se arrastar. O fez, enquanto procurava algo, talvez Pierre ou papai. Tirou a placa que cobria o corpo de um homem idoso. Não sabia quem era, e não se importou em se arrastar sobre o corpo dele. “Agora ninguém se importa”. Entre alguns bancos, ouviu um gemido suave e levantou-se, somente com uma perna, removendo os bancos ao redor das duas pessoas. Reconheceu os cabelos louros de Pierre. E o irmão abraçava o corpo de outro homem, que havia perdido parte da mão, com um braço dobrado de forma impossível e uma estaca de metal fincada no estômago. Ele já havia morrido, mas Pierre continuava a tentar acordá-lo.

– Pai! Pai... Pai. Pai. Pai – ele movia os ombros do homem, em vão. – Pai.

Dominique deixou-se cair ao seu lado, enquanto os soluços se formavam em sua garganta e abria a boca para gritar.

Despertou de imediato, sentindo o pânico se expandir pelo peito, subindo a garganta, até sufocá-la. Apertou o pijama sobre o coração, sentindo-o bombear rapidamente a adrenalina por suas correntes. Tinha que parar, ou teria outro ataque. Respirou fundo, jogando as pernas para fora da cama. A lua estava cheia, encarando-a da janela. Correu os dedos pelo vidro e fechou as cortinas. Encarou o retrato de papai pendurado em sua porta, sorridente. As paredes de seu quarto foram pintadas de creme, sua cor favorita, e os móveis eram de um marrom profundo. As cobertas tinham flores vermelhas entrelaçadas e os travesseiros eram em creme, tudo refletia a ela. Gostava de tudo ali, mas não se sentia realmente bem. Mesmo com papai bem do seu lado, ainda era difícil fugir dos pesadelos. Ou dos flashes.

Quando é que conseguiria vencer todos os pesadelos? Ou sentir que estava em casa? Mesmo com sua família, não conseguia se envolver. Talvez não houvesse mais lugar no mundo para ela, isso mesmo. Uma alma condenada a vagar, sem nunca estar bem. Sem nunca ter algum lugar para chamar de lar. Só restava aceitar. Abriu a porta do quarto, enquanto o silêncio do corredor envolvia-a. Todos dormiam, e o castelo jazia com fantasmas a perambular suas escadas e corredores. As janelas permitiam que o brilho das estrelas iluminasse parte do salão, enquanto descia as escadas. Talvez fosse punida por sair do quarto em plena madrugada, mas quem a veria? Um guarda? Não se importava. Queria apenas andar por ai, vagar. Uma nômade.

Avançou, enquanto o Salão das Mulheres se abria a sua frente. Mas não era lá. Recuou, olhando ao redor e procurando. Uma porta de vidro dava a um jardim, onde árvores e relva balançavam com a brisa fria da noite. Caminhou até lá, observando através do vidro. Um banco de pedra escondia-se entre alguns arbustos, cheios de flores da estação. Parecia um lugar solitário, e perfeito para encarar a Lua e sentir-se deslocada. Tentou abrir a porta, entretanto ela não se moveu. Estava fechada. O vidro continuava, contornando todo o local. Corria os dedos por ele, deixando lá suas marcas. De repente algo se moveu ao seu toque. Colocou mais força, empurrando a abertura escondida. Com cuidado, abaixou-se e engatinhou jardim adentro, fechando a porta de vidro.

A Lua realmente iluminava bem ali, e notou que havia orvalho pingando de algumas folhas, no alto das árvores. Sentiu a umidade. Logo choveria, ou então era simplesmente o clima da Inglaterra. Não conhecia ainda aquilo, a França sempre fora um local seco e quente. Ao menos no local onde morava. O território era tão grande que muitas cidades eram desertos ardentes e outras o frio dominava. E o mundo tinha tantas agitações no clima ultimamente que se tornava impossível prescindir alguma variação mínima ou máxima. Ouviu os grilos e cigarras, cantando. Vaga-lumes ao longe surgiam de desapareciam. O jardim não era muito grande, mas em certa parte desaparecia, onde as arvores e as sombras o envolviam. O banco estava quase escondido, também, entretanto algo o mantinha vivo em meio a tudo. Uma luz que não provinha da Lua e nem das estrelas, a luz de uma vela dentro de um candeeiro antigo, de vidro, negro como se toda a beleza tivesse sido corroída pelo tempo. A vela queimada no lugar onde deveria haver óleo, mas isso não diminuía a sensação de ser velho. O calor dela emanava, e estava sobre o banco de pedra, solitária em meio às trevas.

Uma das pernas estava levantada, e a outra batia o pé no compasso do ritmo. A camisa de botões amarelada estava aberta no começo e a gravata frouxa pendia sobre o violão. Os dedos eram miúdos e ossudos, embora ligeiros em dedilhar as cordas. O cabelo pareça brilhar em dourado, junto a vela, enquanto os lábios se entreabriam, como se estivesse cantando junto a melodia. As sobrancelhas arqueadas eram naturalmente desalinhadas e os olhos grandes e negros encaravam obstinadamente algo a frente, fixo e sem notar nada ao redor. Ele parou de tocar e lançou-lhe um olhar assustado, enquanto abaixava a perna e se levantava.

– Eu não estava fazendo nada – disse, de repente, como se esperasse que ela fosse gritar com ele por estar no jardim, tocando violão, a luz de uma vela, debaixo da escuridão de árvores, incrivelmente amarelado e antigo. Ele exalava o cheiro dos anos dourados da humanidade. “Veio da Primeira Guerra para visitar a última”. – E o que você está fazendo aqui?

– Poderia formar a mesma pergunta para você. – cruzou os braços. O príncipe parou e cerrou os olhos.

– Quem? – perguntou, a voz um pouco mais calma. – Não consigo ver, está escuro.

Dominique deu um passo a frente, e depois outro, até estar a luz do candeeiro. O príncipe ruborizou e moveu uma das mãos para frente do rosto, escondendo-se atrás dela. Era adorável o modo como colocava o pulso em frente o nariz, evitando que ela percebesse seu rubor.

– Pensei que era um dos guardas. – ele admitiu, um pouco envergonhado.

– Tudo bem. – olhou para os próprios pés. – Você toca?

– Ah, eu tento. – ele deu de ombros, ainda segurando o violão com apenas uma mão. – Quer ouvir?

– Adoraria. – sorriu, aproximando-se, enquanto o príncipe se sentava no banco. Sentou-se ao lado dele. O candeeiro estava do outro lado do príncipe, iluminando-o, enquanto ela via seu rosto de perfil, na escuridão. Notou gotas se suor escorrendo pelo pescoço em direção ao peito, ligeiramente visível pela camisa de botões. Engoliu em seco. Adam começou a tocar, lentamente, uma melodia calma e melancólica.

– Cold house, white light. Yellow lamps and black in the skies. Full holes in deep brown eyes. I sing you a song that I think you'll like. And we walk to places we always go. A million faces, I don't know. I say the words I always hope that your heart is racing. Even though. – Adam levantou os olhos para ela e sorriu. - Casa fria, luz branca. Lâmpadas amarelas e pretas no céus. Buracos cheios de profundos olhos castanhos. Eu cantarei uma canção de que eu acho que você vai gostar. E nós caminhamos por lugares que nós sempre vamos. Um milhão de rostos, eu não sei. Eu digo as palavras eu sempre espero que seu coração esteja acelerado. Mesmo que...

– Que bonita. – Sorriu, agradecida pela tradução em francês. – Você parece gostar das mesmas coisas que eu. – encolheu os ombros – Essa música... É diferente das outras. Ela é atual?

– Não. Foi escrita há quase duzentos anos. – ele encarou-a, enquanto dedilhava coisas aleatórias no violão. Observou-o, e notou que ele tocava com a mão esquerda. Adam era canhoto. - Oh you bring me all the things I need. I follow the rain to the rolling sea. I love you baby all the things I lay. – O príncipe continuou cantando. - I know what you told me. I know it's all over and I know I can't keep calling. Every time I run. I keep on falling.

– Eu não entendi muito. Mas parece ser romântico. – comentou. Mas Adam não respondeu, apenas virou a cabeça e encarou as cordas do violão, ainda tocando. Como se estivesse envolto de pensamentos, como se tentasse desvendar um quebra-cabeças imaginário.

– Eu sei.

– Sabe? O que você sabe?

– O nome da música é “Eu Sei”. – seus olhos viraram para ela. – É sobre um homem que foi abandonado. Que não se encaixa em lugar algum, que não se sente bem em lugar nenhum, pois quem ele amava foi embora.

– Então acho que eu e ele combinamos em muitas coisas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. A história vai girar em torno de alguns casais definidos e outros casais que vão surgindo e desaparecendo. Agora, no momento, o casal inglês é a Nique e o Adam. Isso não significa que as outras selecionadas dele não vão ter um espaço no coração do príncipe. Ainda tem muito chão pra andar (MUITO MESMO). Beijos.



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