Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 15
Jasmine Harper


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 14

Jasmine

“O altruísmo que tanto se louva, não é mais do que um ardil do próprio egoísmo para burlar os ingênuos” – Adão Myszak

CNBlue – Intuition

Começando do começo. Primeiro era verbo. E depois o mundo.

– Eu odeio escrever nessas coisas. – resmungou alguém ao seu lado, enquanto borrava o papel com as longas mangas dos vestidos. As roupas chinesas com certeza não eram as mais convencionais. Principalmente para se mexer com nanquim, pincel e letras que Jasmine mal conseguia formar. Como podia ser to diferente da Península, estando no mesmo mundo, a um reino de distância? Sua professora de mandarim a mandou calar, enquanto passava por entre as fileiras de garotas, todas empenhadas em fazer uma única coisa: escrever seu próprio nome.

– Muito bom, senhorita Meiying. – ela elogiou. Meiying era uma das japonesas que vieram do outro lado do mar. Não era justo, afinal a menina tinha mais facilidade com aquelas letras. Todavia a professora não levava em consideração de onde elas vinham, mas seu desempenho ali. – Coloque mais pressão nesta mão, Fernandes, graciosa porém decidida. Está tremendo como o meu avô. – e caminhou um pouco mais a frente. – Você tem medo do papel, Catrine? Então aproxime o pincel dele, esses riscos estão quase disformes. – ela virou nos tornozelos. – Sua tinta está acabando, Beatrice? Pode usar um pouco da tinta da senhorita Jasmine, eu espero.

– Pode, sim. – empurrou seu pote de tinta para perto de Beatrice, enquanto a menina mergulhava seu pincel e voltava a escrever.

– Altruísmo é a essência de uma princesa, muito bom. – e virou-se. – Helena, o que é isso? Um “o” ou um “ta”?

Não odiava a madame Goe, como a maior parte das garotas. Ela estava lá para ensiná-las como agir. Nenhuma tinha conversado com o príncipe Syaoran, muito menos visto-o pelo castelo. Aliás, o castelo era realmente algo que Jasmine não esperava. Uma casa, exatamente. Feita de bambu, papel, concreto e telhas finas, que por incrível que pareça não permitiam a entrada da chuva. Havia chovido quase todos os dias que passou lá, o que contava dois dias, um pela chegada e outro agora. A mansão era feita com quase 70 quartos, todos ligados por um único corredor, rodeando toda a casa por dentro. O corredor era ao ar livre, e o no centro de todo o castelo, um jardim de inverno estava montado, com árvores pequenas, pedras aonde sentar, uma fonte montada em um dos cantos e cascalho. Era lá que tinham as aulas. As demais moças que freqüentavam o local mudaram-se para algum outro espaço, deixando-as libertas para as aulas. Ninguém falava com as selecionadas, muito menos as criadas. Raramente Jasmine encontrava alguém além de Madame Goe ou alguma espanhola para conversar.

Passara quase o tempo inteiro deitada na cama, apenas sonhando acordada. Depois passara todos os sonhos para o papel. Era uma história curta, um príncipe chinês, com lindos cabelos lisos e olhos puxados pelos cantos, passeando com uma donzela de pele morena, por um jardim muito maior que aquele onde tinham as aulas. Esse príncipe era quieto, não falava muito. Mas a donzela vivia tagarelando. Um dia, ele se cansou de tanto que ela falava e jogou-a dentro de um poço profundo, onde até hoje se ouve os lamentos da moça, ela perdeu a capacidade de formular frases, por isso imita a quem quer que tente falar com ela.

Quando mostrara a história para sua colega de quarto, ela apenas perguntou se a donzela era o eco que sempre ouvimos quando gritamos algo para o poço, e Jasmine revirou os olhos.

Terminou de traçar a última letra de seu nome “Ne”, e mostrou a Madame Goe. Ela deu nota sete, poderia melhorar, mas que estava na média do aceitável. Libertou Jasmine da aula, assim como já havia feito com algumas das garotas. Meiying, próxima ao poço onde as moças chinesas retiravam a água, parecia conversar com o poço. De repente Jasmine a viu como a donzela que caíra no poço. Uma menina ingênua, amante da curiosidade e falante. Não sabia se Meiying era assim, provavelmente não, mas quem se importava? Percorreu os corredores, sempre se impressionando com o quanto tudo era simples. As portas feitas de papel deixavam todos os ruídos escaparem dentro dos quartos, o chão de madeira estalava em algumas partes e as paredes eram divisórias de bambu. Em cada canto, uma estátua dourada posicionava-se. Gostava de observar os dragões. Eram diferentes dos dragões que vira em filmes, eles pareciam serpentes, com um corpo alongado e cabeça de cobra, entretanto com pernas e algo que pareciam penas na cabeça. O castelo chinês com certeza era o mais barato de todos os castelos de todos os reinos, até mesmo o Japão deveria ter um castelo mais elaborado. Entretanto a calmaria, a paz que regozijava de cada “clap clap clap” que suas sandálias de madeira faziam... Era prazeroso estar em um lugar onde nada parecia acontecer.

– É uma tradição que as mulheres da casa ajudem a manter o local limpo. Elas cozinham, colhem seus alimentos, plantam e antes disso, escolhem quais sementes são boas para o plantio. Elas buscam água no poço, limpam os tatames e batem os tapetes. São as primeiras a acordar e as últimas a dormir. Sempre graciosas, belas e fortes. – Madame Goe contou, naquela manhã. – Vocês começaram cuidando de seus quartos. Mantenham-no limpo, bem arejado e sempre com as portas abertas. Não há nada a esconder, então não esperem que tenham a liberdade de manter algo em segredo. Suas criadas são também suas companheiras. Uma de vocês viverá entre elas daqui um ano, são todas primas, tias ou sobrinhas do Imperador, e serão também suas primas, tias ou sobrinhas. A família é grande, vai até o terceiro ramo da quinta geração de Xii Fu.

Passou ao lado de duas garotas com quase a sua idade, ambas segurando baldes cheios de mariscos. Elas se inclinaram, e Jasmine inclinou a cabeça também, em uma saudação rápida, e continuaram por onde iam. Era assim que as pessoas agiam no castelo, não falavam, mas seus movimentos simbolizavam o que sentiam. A tradição era seguida a risca.

“Muitas culturas caíram, a maioria já foi esquecida. Mas eles não querem esquecer”, Jasmine pensou, e achou isso nobre. Se teria de lutar por Syaoran, então seguiria a tradição como havia de ser, pois não queria ser a responsável pela extinção de tantas coisas bonitas e honestas. Todas as portas realmente ficavam abertas. Senhores idosos bebericavam chá, lendo livros grossos ou jogando pecinhas pequenas que chamavam de Mah-Jong. Jasmine queria aprender a jogar, parecia interessante. Mas o que mais a chamava eram os livros. As lendas, mitos... A fé era algo bonito e mágico para eles. E as histórias eram tão elaboradas que ela se sentia um fracasso perto dos poetas chineses de milênios atrás.

No primeiro dia, havia se perdido naqueles corredores, mas agora sabia por onde ir. Pelo menos para chegar ao quarto que dividia com Zafirah El Hage, da Eurásia. Não havia conversado muito com a garota, mas sabia que ela não se importava com contos bobos de donzelas e príncipes. Jasmine perguntava-se quanto tempo mais demoraria até que o príncipe aparecesse. Ele nunca havia ido a um programa de televisão, a China era um local afastado, o próprio castelo não ficava em uma capital, mas dentro de uma floresta. Madame Goe contara que não existiam cidades propriamente ditas, mas vilarejos, vilas e pequenas junções de famílias. As grandes capitais chinesas caíram há muito tempo, e o Japão havia tomado quase toda a costa leste do território chinês, junto com Coréia do Norte e Coréia do Sul. A China tinha quase 40% de seu território detonado por bombas, resquícios da guerra, e a outra metade sofria com as secas.

“Mas aqui chove tanto...”, pensou, olhando os céus brancos e sentindo a fina garoa tocando seu rosto. Não conseguia pensar que naquele mesmo reino pessoas poderiam estar morrendo de sede. Não parecia tão grande, em um mapa ela viu que a China era formada pela antiga civilização chinesa, e com a adesão de derrotados da guerra, Índia, Mongólia, Malásia, Indonésia, Paquistão e Nepal. Alguns territórios nem mesmo eram identificados. Estavam agora no que antes era a Mongólia, próximos da União Eurásia, que por sinal abrangia outra parte da Ásia e da Europa. A China perdera o Afeganistão para a França em um tratado de paz. O Japão conseguiu parte da costa chinesa, no Mar Amarelo e também Coréia do Norte e Coréia do Sul, sendo o menor território em todos os reinos.

Eram tantos tratados e novos cortes nos mapas que Jasmine perdia-se, lendo-os. A porta de seu quarto estava aberta, e do lado de dentro a paz reinava. As cortinas esvoaçavam com a brisa suave, o cheiro de ervas plantadas em um canteiro próximo ao seu quarto adentrava também o local, e as camas dela e de Zafirah estavam arrumadas, como deixaram pela manhã. Entretanto algo de anormal jazia na cena pacífica. Seu caderno de anotações, aberto, sobre a cama. Correu até ele e pegou-o, fechando imediatamente e recolocando no lugar que havia guardado. Quem quer que tenha entrado no quarto, deixou a evidência de sua presença. Não podia ser Zafirah, afinal ela passara a manhã na aula, como todas as meninas. Talvez uma criada? Não achava que as chinesas pudessem ter interesse por um caderno que nem poderiam ler.

Ouviu algo vindo do banheiro, e quando virou-se para a porta, ouviu a descarga. Depois o som de água corrente. Alguém lavava as mãos. Respirou fundo. O intruso seria revelado ali mesmo! E iria bater em sua cabeça com o caderno, porque ninguém tinha o direito de ler suas histórias sem a sua permissão! Esperou, até que a porta se destrancou, e abriu-se. A pessoa do outro lado pareceu quase tão assustada quanto Jasmine.

– Você pegou meu caderno! – acusou, em espanhol, embora duvidasse que ele soubesse o que era espanhol. O garoto a encarou. Ele era uma cabeça mais alto, entretanto tinha ombros estreitos e um corpo magro. Virou a cabeça e então enrubesceu, disse algo em mandarim, que ela identificou como “desculpe”. – Não, não desculpo! – insistiu – Não pode ler o caderno dos outros. E se eu quisesse manter segredo?

– Então haveria alguma coisa proibida ai dentro. Há alguma coisa proibida? – ele questionou, em fluente espanhol.

– N-Não, mas mesmo assim eu tenho meus direitos a privacidade.

– Ah, desculpe, não queria invadir sua privacidade. Mas eu li suas histórias, sim. – ele admitiu, quase tão honesto que ela teria atirado o caderno em sua direção, caso ainda o tivesse em mãos. – E são muito boas.

Sentiu a raiva passar aos poucos.

– Você fala espanhol.

– Sim, eu falo espanhol. E inglês. E russo. E francês. E mais o que precisar.

– Que útil – revirou os olhos. – Vai continuar invadindo meu quarto?

– Pensei que a porta estivesse aberta. – ele indicou com a cabeça a porta, que realmente ficara aberta. Não conseguia entender estes chineses. Tudo bem, estava tentando seguir a tradição, mas ainda queria sua privacidade. – Você quer passear em um jardim? – ele perguntou.

– Por quê?

– Na história a donzela passeava num jardim, certo? Há um templo no começo da montanha, gostaria de te levar lá.

– E por que eu iria? – aquele rapaz estava começando a irritá-la. Não podia paquerá-la ali, dentro do castelo, principalmente aonde todos poderiam ouvi-los!

– Ora, para fazer um príncipe feliz, talvez? Prazer, meu nome é Syaoran Lee Dingbang, mas acho que você não sabia disso. – piscou.


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Notas finais do capítulo

Castelo: http://thumbs.dreamstime.com/z/casa-tradicional-em-china-21071978.jpg
http://st.depositphotos.com/2733631/3497/i/950/depositphotos_34970299-Sichuan-Province-China-Chinese-House-on-Mountain-Hillside.jpg