Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 13
Cosette Étienne Villeneuve


Notas iniciais do capítulo

Sei que já teve um capítulo dela, mas esse é tipo uma continuação. Boa leitura.



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Capítulo 12

Cosette

“Ferida do coração onde possa chegar o agro e adstringente de uma lágrima, cicatriza cedo ou tarde” – Camilo C. Branco

Christina Perri – Thousand Years

Havia chovido muito, a tempestade desceu sobre o farol e os impediu de voltar para o castelo. Dormiu sobre uma manta velha, com o travesseiro que estava dentro da mala. Isao não se preocupou com conforto e simplesmente deitou no chão, o mais longe dela possível. Não sabia se ele a odiava ou se era apenas vergonha por ter chorado na sua frente. O príncipe provavelmente ainda tinha algum orgulho. Pela manhã, ao despertar, ouviu o som das ondas e sorriu. O oceano brilhava lá fora, com o Sol bem alto no céu azul intenso. O estômago vazio anunciava que havia dormido demais. Perto de sua mala, um prato branco com bolinhos de chocolate e um copo de leite frio jaziam, e mais ninguém.

– Me deixou aqui com os ratos e aranhas – pensou alto, enquanto se arrastava até o prato e alcançava um dos bolinhos. Lembrava-se de, na primeira vez que viu Isao, ter também visto-o comer um bolinho como aquele. Talvez fosse seu preferido. Sorriu para si mesma. Sentia-se mais perto dele, como se fosse uma amiga especial.

Especial, isso ela deveria ser. Era a única pessoa para quem ele havia chorado, a única pessoa que já o abraçara. Isso deveria ser alguma coisa, não? Não era realmente uma grande coisa... Quer dizer, não deveria estar se sentindo tão especial, nem mesmo tão feliz. Sorriu ainda mais. O que era isso? Teve de revirar os olhos um milhão de vezes até tomar coragem de descer as longas escadas do farol, levando sua mala e o prato. O copo de leite estava tão azedo que resolveu não beber. Ela realmente não gostava do leite japonês. Atravessou o bosque quase saltitando, sentindo o doce aroma da natureza, as borboletas voando ao longe, com os pássaros cantando para ela e para seu coração feliz. Enquanto atravessava o salão principal, notou que as garotas que ficaram no castelo estavam todas reunidas diante de uma grande televisão, assistindo a alguma coisa que não a interessou. Subiu as dezenas de escadas, com a mala, sem se importar. Ela realmente não estava se importando com nada.

Abriu a porta do quarto e encontrou as três criadas arrumando-o. Elas pararam o trabalho no mesmo instante, abraçando-a com tanta força que Cosette começou a rir e as envolveu também. Rodaram no quarto e caírem todas sobre a cama de casal.

– Pensei que havia ido embora. – Asumi suspirou, arrumando os cabelos negros.

– Já estávamos nos lamentando – concordou Yano, tipicamente com suas tranças brilhantes e negras. Yano era famosa por seus penteados lindos, e Asumi tinha mãos de ouro em relação a roupas. Mas quem realmente comandava-as era Hikari, que ainda a envolvia.

– Vocês viram o príncipe? – perguntou, enquanto se desvencilhava de Hikari.

– O príncipe? Ele provavelmente está em seu castelo particular. – Cosette se lembrou da pequena cabana que viu atrás do castelo enquanto ia para o farol na noite passada e encolheu os ombros.

– Ele não disse nada? Que eu ia ficar?

– Não acho que ele se importaria – Asumi deu de ombros. – É só um arrogante mimado, aposto que está jogando mais um de seus joguinhos viciantes e controladores de mente.

– Ouvi dizer que a Rainha acha que Isao está sendo consumido por esses jogos. – concordou Yano. – Mas eu daria tudo para poder jogar também. Já contei que eu e meu irmão mais velhos tínhamos um videogame?

– Claro, antes dele morrer na guerra e você vir para cá – Asumi revirou os olhos. Algo que Cosette notara era que Hikari nunca falava. Desde a primeira vez que as viu até agora, não ouvira a voz dela. Com cabelos em um castanho mais claro que as demais, olhos redondos e pele morena clara. Hikari parecia mais diferente não somente na aparência, como se fosse tímida demais para se pronunciar.

– Precisamos te dar um banho, olhe só como está suja! – Asumi exclamou, começando a despi-la. Cosette tentou insistir que não precisava de banho, mas como é que convenceria as três criadas? Por fim, estava dentro da banheira branca, com espuma e óleos relaxantes. Asumi massageava suas costas e Hikari arrumava suas unhas, enquanto Yano buscava toalhas felpudas. – Você está tão tensa – Asumi comentou, enquanto apertava seus ombros. Cosette não sabia se podia contar o que havia acontecido com ela e príncipe Isao na noite anterior, parecia íntimo demais, talvez Isaac não quisesse que ninguém soubesse sobre... Sua tentativa de suicídio. Isso só a fazia se sentir ainda mais especial. Afundou um pouco na banheira. E agora? Como conseguiria encará-lo? Como será que ele iria reagir quando a visse? Talvez com vergonha, ou então fugiria dela. Não importava. Eles eram mais que príncipe e selecionada agora, tinha certeza. Sentia-se assim. Ele era mais importante, como um amigo.

– Onde você passou a noite? – de repente Asumi perguntou, parando de massageá-la – Não a vimos a noite inteira.

– No farol. Quis passar lá antes de ir embora e a vista do oceano me convenceu a ficar – mentiu, embora não fosse totalmente mentira. “É bonito, não? Como ele é violento e ao mesmo tempo gracioso”. Sim, era muito bonito...

O rubor subiu pelas bochechas e sentiu o peito pesar. Afundou completamente nas águas quentes, ouvindo as reclamações de Asumi e Yano. Mas não podia deixar que elas vissem seu rosto agora. Sorriu.

Quando já estava vestida com tecidos floridos, um vestido que ia até seus joelhos e alças finas, o cabelo trançado e louro por cima do ombro direito e o que Asumi chama de “maquiagem básica”, seguiu em direção ao salão das mulheres, descendo as escadas. Os saltos deveriam incomodar, entretanto não se importou com eles e nem com o som que faziam enquanto pisava no chão de mármore, pois a televisão ocupava quase todos os sons no castelo. Quando se aproximou o suficiente para ver a tela, recuou. A cena de crianças mortas e queimadas aparecia em todos os lugares, ouviu soluços e colocou ambas as mãos sobre a boca, enquanto mais destruição aparecia.

Inocentes, mortos por arrogância e orgulho. Pessoas que não tinham relação com a guerra ou com a política. Mães, viúvas, crianças que esperavam seus pais retornarem da guerra. O fim da Segunda Guerra Mundial deixou marcas profundas no coração de nosso país, marcas de vingança.

– Tire disto, tire disto agora mesmo! – ouviu uma das meninas murmurar, enquanto se encolhia no divã em que sentava. – É horrível.

– Foi isso o que aconteceu conosco, há 200 anos. – a instrutora era gelo, e parecia ter visto o vídeo cem vezes antes.

– 246 anos. – corrigiu-a outra moça, um pouco menos abalada com as cenas fortes.

– Senhorita Cosette, está atrasada – ela a viu e apontou a mão para um dos lugares vagos entre as outras garotas – Espero que tenha explicações válidas para isso. Perdeu a aula de história sobre o Japão.

– Você perdeu o período das gangues, o período Meiji, o período dos samurais e... – a moça da Península começou a enumerar todas as suas partes favoritas, entretanto a senhorita instrutora a cortou com um tapa de sua prancheta sobre a cabeça da moça – Ei, isso doeu.

– Cosette, alguma explicação? – a mulher ainda a encarava. Respirou fundo.

– Eu dormi no farol.

– Como? – a descrença no rosto da madame era visível e as demais meninas começaram a rir fraco. – Não me venha com tolices.

– É verdade, eu fui lá para ver o mar.

– Saiu do castelo sem permissão para ver o mar? Isso é pior do que posso aturar. Um atraso tudo bem, mas infringir uma regra básica no castelo é quase...

– Não se preocupe, eu convidei ela. – as cabeças viraram para Isaac, enquanto ele se aproximava. Vestia uma camiseta grande e bermudas jeans surradas. Andava descalço e com os cabelos desarrumados. Seu rosto estava pontilhado de restos de salgadinho e ele segurava uma lata de refrigerante. – Então não foi contra as regras, certo?

– Bem, isso com certeza não se aplicaria... – a madame arrumou a postura – Vossa Graça. Não deveria estar com seu pai em uma reunião?

– Eu deveria – ele concordou – Mas papai querido me mandou vir buscar as minhas propriedades. – ele piscou para Marina, e a morena revirou os olhos, mas com um sorriso no rosto. – Certo, todo mundo ouviu, hora de conhecer o sogrão.

– Só uma será sua esposa. – repreendeu a madame, enquanto desligava o vídeo sobre a história do Japão.

– Ninguém me disse que eu teria de escolher só uma. – ele deu de ombros, caminhando a frente de todos, enquanto as moças se alinhavam. Marina parecia afastada, as demais meninas (oito no total) conversavam entre si, rindo ou apenas comentando coisas baixinho. Cosette se aproximou dela, sorrateiramente.

– Olá. – recebeu um olhar frio, mas ignorou-o. – Eu sou Cosette.

– A menina que abriu as pernas pro príncipe no primeiro dia? Que linda.

– E-eu não fiz nada disso! – exclamou, sentindo o rosto vermelho de vergonha.

– Foi você quem disse que passou a noite com o príncipe. – ela deu de ombros. – Prazer, sou Marina. E não estou nem ai se você fez ou não fez. Certo? Não é da minha conta.

Algo no modo como ela deu de ombros fez com que Cosette gostasse um pouco mais dela. Apertou o passo para conseguir acompanhá-la. Elas subiram as escadas e depois viraram para o corredor oposto ao corredor dos dormitórios, subiram mais uma escada e entraram em uma sala já com a porta aberta. O local de reuniões era grande, com uma mesa comprida e várias cadeiras disponíveis. Um mapa dava a localização dos países no mundo e só quando via tudo junto é que Cosette se dava conta de como o Japão era tão pequeno perto da magnitude da União e da França, China e até mesmo da Península.

O Imperador encontrava-se sentado na primeira cadeira, com os cabelos brancos e os olhos caídos, bolsas e marcas de idade anunciavam que ele era muito velho. Talvez tivesse vivido a juventude no Velho Mundo. Ele lançou um olhar passageiro pelas meninas e então se levantou. A madame se curvou diante dele, o que fez com que todas as outras também se curvassem, inclusive Cosette. Isao sentou-se sobre a mesa e balançou as pernas, como uma criança sentada em algum lugar alto. Isso a fez se lembrar da porta do farol e de como ele balançava, segurando-se apenas com as pontas dos dedos. Isso lhe deu arrepios.

– Foi o que sobrou? – ele perguntou, sem cerimônias. Madame ergueu a cabeça e limpou a garganta.

– Meu Imperador, muitas garotas sentiram saudades de casa.

– Claro, eu aposto. Depois de verem meu filho devem ter sentido muita saudade de casa – e então suspirou. – O que eu fiz para merecer esse castigo, deuses? – Isaac soltou um arroto grave, enquanto amassava a lata de refrigerante e jogava-a na cesta de lixo. Acertou quase perfeitamente e abriu um sorriso largo. – Devo meus agradecimentos a vocês, meninas de convicções, que permaneceram.

– O senhor não deve nada a nós – uma delas disse, a mesma menina que havia implorado para desligar o vídeo.

– Calada, não autorizei que falasse – o Imperador respondeu. – A partir de hoje, não passarão mais nenhum momento com Isaac.

Ele deixou que todas compreendessem suas palavras.

– Meu filho solicitou que fossem banidas da vida dele. E acho que foi a única coisa sensata que ele já fez. Vocês permanecerão no castelo, mas não encontrarão Isao aqui. Ele está... Entretido com outras coisas.

– Videogames. – ele respondeu.

– Isso, essa coisa. – o Imperador deu de ombros. – Eu irei escolher a esposa dele. A melhor, mais competente e sábia entre vocês. Então, a partir de hoje, você terão de agradar a mim, eu irei sair com vocês, conversar com vocês. Não se preocupem, não irei convidar ninguém para dormir em um farol abandonado.

Cosette sentiu todos os olhos sobre si e encolheu a cabeça. Estava vermelha. Realmente vermelha. Experimentou olhar para Isao, mas ele não olhava para ela, estava tranquilamente brincando com algum jogo portátil. “Ele só não quer demonstrar na frente dos outros”, pensou.

– Isao não existe para vocês e não quero que o citem em momento algum. Quero esquecer a existência deste meu filho por algum tempo. Acho que será bom.

– Você não pode fazer isso! – ao seu lado, Marina se pronunciou – Não pode me dizer que vou ter de sair com um velho babão como você.

– V-Velho babão? – o Imperador a encarou – Esta foi a moça que te bateu?

– Essa – Isao sorriu.

– Jovem interessante – ele concordou com um meneio. Cosette não deveria, mas algo no modo como o Imperador perguntou a Isaac se “esta foi a moça que te bateu” e o modo como Isaac disse “essa”... Incomodava. Como se ele não sentisse vergonha em falar sobre Marina com o pai, mas nem pensasse em falar sobre ela. “Ele só está com vergonha”, penso, enquanto suspirava.

– Mas você não pode fazer isso, mesmo. – ela apoiou Marina. – Isaac é que tem de escolher. Como ele pode se casar com alguém que nem conhece?

– Ah, cale a boca. – ele se levantou, tirando a atenção de seu videogame portátil. – Eu é que não quero perder meu tempo aqui com vocês. – suspirou – Você não ouviu uma palavra do que esse velho babão disse? – de repente Isaac se curvou para a frente, enquanto pressionava a garganta. Seus joelhos bateram contra o chão de madeira e ele cuspiu saliva, vomitando um pouco do que havia comido antes de vir até ali.

– Me chame de velho mais uma vez, maldito bastardo – o Imperador apontou um controle pequeno com apenas um botão. – Isso é o domínio, estão vendo? Pessoas que não sabem obedecer. É isso o que acontece com elas. – e então ele olhou o filho no chão, ainda se recuperando do choque. – Uma coleira de choque para cães. Isso funciona bem, tanto em animais quanto em filhos inúteis. – ele sorriu. – Querem provar? Continuem com essa falação.

Nem ela e nem Marina ousaram se pronunciar, e então ele continuou, explicando como tudo funcionariam. Todas estavam proibidas de sair do castelo, teriam de acordas às seis horas da manhã para o café às seis e meia, com chá e bolo. As aulas aconteceriam pela manhã, e de tarde estariam livres para fazer o que quisessem. Como eles não tinham programa de televisão para avisar sobre a Seleção, todas as semanas um grupo de câmeras e entrevistadores iriam ao castelo para perguntarem como estava sendo a Seleção. Cada uma delas teria de inventar algo que justificasse a continuação de sua participação na Seleção, claro, sem falar sobre Isao ou sobre o Imperador. Toda sexta-feira, elas teriam uma reunião com o Imperador e ele decidiria quem seria mandada embora. Ao falar isso, o homem lançou um olhar inquietante sobre Marina e ela.

Foram dispensadas junto com madame, que estava realmente incomodada com as mudanças. Seguiram em direção ao salão das mulheres, mas antes de começar a descer as escadas, Cosette vislumbrou Isao saindo da sala de reuniões, sozinho. Mordeu o lábio e decidiu ir ao seu encontro, enquanto tentava fazer o menor barulho possível. Ele a percebeu no primeiro segundo, e ficou a espera, até que ela chegasse. Não sabia por onde começar. Talvez: nosso segredo ainda é um segredo, certo? Ou: você não pode deixar ele fazer isso, entretanto a única coisa que saiu foi:

– Você me mandou calar a boca.

– Sim. – Isao sorriu. – E você continua falando.

– Não seja tão grosso comigo, não precisa mais fingir ser assim – revirou os olhos – Já não somos desconhecidos.

Ele estudou-a por algum tempo antes de bufar alto.

– Olha pro meu rosto e veja se estou me importando com o que aconteceu ou não? Vocês meninas são tão ridículas. – e então riu - Pare de ser uma bobinha apaixonada, certo? Eu já disse, eu não me importo com vocês e não vou me apaixonar por ninguém.

– Pare de ficar agindo como um idiota.

– Ah, não dá. Eu sou um idiota. Um vagabundo que não sabe fazer nada além de criar amigos que ele nem mesmo quer. – e então a segurou pelo pulso. – Você não me importa mais. Você não é nada para mim. Você acha que aquilo foi importante? Esqueça. Vai ser melhor. Você é tão banal quanto esse velho. – e então soltou-a, dando as costas. – É melhor ir embora, antes que eu mude de idéia e queira te levar pra ver o oceano de novo, no farol – e então riu. – A sua popularidade é mesmo impressionante.


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Notas finais do capítulo

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