Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 5
Menta, gasolina e tabaco.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando, boa leitura! :}



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Trailer

"Passei por tantas coisas quando eu era outra pessoa,
Um lutador no ringue tentando me defender
Enquanto olhos alheios tentavam ver o que acontecia.
Pontes estão queimando,
Querido, eu estou aprendendo uma nova maneira de pensar.
Amor, eu posso ver, nada será
Da maneira como era.
Talvez você nem seja humano, porque

Somente um anjo poderia ser tão incomum."

Unusual You - Britney Spears

~*~

Tive a impressão de que, ao contrário do que eu esperava, Charlie havia diminuído a velocidade, mas era apenas minha exaltação, fazia parecer que nunca chegávamos perto o bastante. Foi somente quando avistei a tão famosa placa de boas-vindas que o processo se inverteu, eu agora queria que tudo se passasse em câmera lenta.

Forks. A palavra era agradável até de se pensar...

– Então Bells conseguiu se livrar de vir ver seu velho pai.

A voz de Charlie me pegou desprevenida, eu havia me esquecido de que ele estava aqui, minha imaginação havia me transportado para fantasias tentadoras com olhos ocres e campinas cheias de flores.

– Hmmm, pois é. – Procurei me situar, para Charlie a falta da filha com certeza não estava sendo fácil, eu tinha de respondê-lo melhor. – Você conhece a Bella, ela é decidida. E jovem. Acredito que foi apenas uma vontade repentina de viver uma aventura, coisa de adolescente, logo ela estará de volta. – Ao final da frase tive de desviar o olhar, pois eu sabia que estava mentindo, não quis fazê-lo realmente, saiu antes que eu me contivesse.

Não houve resposta, sem conseguir evitar tornei a olhar para fora, agora as construções apareciam em maior número e a pequenos intervalos de tempo, quando o comércio começou a aparecer com a mesma frequência que as residências eu soube que estávamos no centro. Estava movimentado e quando pensei bem lembrei de que era sábado e as pessoas aproveitavam suas horas de folga.

– E vocês são amigas há muito tempo?

– Não, eu nunca a vi antes – ri distraída.

Charlie se aproximava do semáforo fechado e freou de forma brusca quase batendo no carro adiante, eu fui jogada para frente e lançada de volta de encontro ao banco. Olhei para ele perplexa, tentando entender a situação, a rua parecia comum, a única coisa diferente eram as cabeças que agora olhavam em nossa direção. Afinal o que aconteceu para ele ter se distraído assim?

– Você nunca viu Bella antes? Mas como? E o que ela faz em sua casa então?

Ah, foi isso. Como eu fui imbecil, devia ter prestado mais atenção no que estava falando. De qualquer modo eu não era de todo culpada; Renée devia ter me alertado de que não havia informado ao ex-marido tudo o que se passava, e agora como eu ia saber em que terreno seria seguro caminhar?

– É bem... Ela... – Não estava encontrando as palavras que precisava. Isso não era nada bom, no curto período em que estava aqui eu já havia me decidido que queria ficar, mas se não encontrasse uma boa explicação para o que Charlie queria eu sabia que meus planos estariam em perigo. Fiz o possível para elaborar a melhor das explicações. - Bom, acho que você entendeu errado, o que quis dizer é que Bella e eu realmente nunca nos vimos, mas nos tornamos grandes amigas através da internet. Sei que parece pouco comum, mas é justamente o contrário, as redes sociais são ótimos lugares para se conhecer pessoas.

Ele não parecia convencido, mas quando tornou a dirigir sua destreza havia voltado.

– Não me parece comum de forma alguma, a internet é o lugar perfeito para psicopatas encontrarem suas vítimas. Fora muito irresponsável da parte de Bella, com certeza eu irei ligar para a mãe dela assim que chegarmos em casa.

Seu tom era decidido e não ousei argumentar com ele, estava sendo ingênua, Charlie além de pai era policial, sua preocupação e seu conhecimento sem dúvidas eram maiores do que eu previra. Eu quis muito ter chance de alertar Renée do que a esperava, mas ele não havia blefado, assim que estacionamos me ordenou que entrasse e esperasse na sala, eu mal tive tempo de ficar impressionada com a casa, só o que sentia era o medo do que poderia ser resolvido nesta conversa.

O telefone ficava na cozinha, mas o domicílio era pequeno e não tive dificuldade em ouvir cada palavra que era dita, mas imaginei que ele quisesse mesmo que eu estivesse a par do assunto, afinal também dizia respeito a mim. Sem muito que fazer comecei a andar pelo cômodo, ora olhava pela janela, ora me posicionava em frente à lareira observando as fotos de família. Não fiz uso do relógio, mas tinha certeza que havia se passado quase meia hora quando Charlie finalmente se despediu com um ‘até logo’. Ouvi o ruído do fone sendo recolocado no gancho e me virei para o portal no momento em que ele aparecia.

– Renée não tem qualquer intenção de voltar e ao que parece Bella está adorando o Brasil, a mãe falou que ela está bem e que seus pais estão sendo extremamente gentis. Acredito que a melhor forma de agradecer sua hospitalidade seria proporcionar o mesmo a filha deles, me desculpe se pareci rude. Vamos buscar suas coisas, você deve querer se acomodar.

Ele refez seu caminho até a porta e eu o segui, calada. Sentia pena dele, acreditava que se dependesse apenas de seu julgamento agora mesmo eu destrocaria de vida com sua filha, mas claramente por ser mãe Renée é quem tinha a palavra final.

Bella estava bem. Estava bem e estava feliz, seria possível? Senti-me tola por ter dispensado tanto tempo me afligindo, eu devia seguir seu exemplo, não tinha dúvidas de que essa era uma chance única na vida.

Assim que voltamos Charlie me mostrou as dependências rapidamente, subimos juntos carregando a bagagem até o quarto que ele me indicou que seria meu. Apressei-me para olhá-lo e contive um suspiro, era do jeito que eu imaginava.

– Não está muito diferente de como ela o deixou. Apenas a roupa de cama e as cortinas são novas. Acho que Bells iria gostar.

Virei-me para fitá-lo e sorri:

– Também acho, está ótimo Charlie.

Ele assentiu, colocou as malas em um canto e começou a convergir de volta, virando-se uma última vez para falar comigo.

– O computador não é dos melhores, mas você pode usar sempre que quiser. Apenas tenha cuidado, está bem? – Seu tom era grave e não tratei seu conselho com leviandade, lhe agradeci e assegurei que seria vigilante.

E então ele se foi deixando-me sozinha com meus pensamentos.

Tive o tempo que queria para me situar e desfazer minhas malas com calma, quando terminei voltei a pensar em Bella, era inevitável, uma vez que estava mergulhada em um espaço que lhe pertencia; comecei a imaginá-la em meu lugar, fazendo uso de minhas coisas e fiquei feliz de saber que a tecnologia lhe seria favorável, em meu caso eu não tinha muitas esperanças de conseguir utilizar a máquina de aparência decrépita que estava em cima do gabinete. Talvez tivesse mais sorte se começasse a enviar sinais de fumaça...

Foi então que me lembrei de que trouxera comigo meu celular, mas assim que o retirei do bolso notei que estava desligado. Era estranho, eu não me lembrava de ter feito isso, tentei religá-lo duas vezes, mas não houve sinal de vida, a bateria devia ter acabado. Procurei pelo carregador e usei a tomada que ficava ao lado do criado-mudo, assim teria um bom lugar para deixá-lo, mas mesmo depois de conectado a energia o aparelho não se manifestou. Comecei a ficar agitada, fiz o teste em duas outras tomadas, mas o resultado foi igual, pelo jeito meu celular havia pifado.

– Não pode ser! – Choraminguei.

Agora eu podia me despedir de vez da internet, tinha perdido a maneira mais promissora de ter acesso a ela, entretanto o que mais me aborreceu foi ficar sem a câmera, nunca tinha tido tanta vontade de usá-la como agora.

A voz de Charlie chamando meu nome soou do primeiro andar e tive de deixar de lado minhas lamúrias para ir ao seu encontro, antes, porém escolhi uma gaveta qualquer e joguei o objeto imprestável dentro, aborrecida.

Desci as escadas com cuidado, ainda levaria algum tempo para que me acostumasse a elas e dei de encontro com Charlie no hall de entrada.

– A chuva deu uma pausa, há algo que quero lhe mostrar, venha, está aqui fora.

Ele fez sinal para que o seguisse e o fiz ansiosa. Com efeito, o céu continuava nublado, mas dele não caía uma só gota, fomos até a lateral da casa e assim que vi o que havia ali arfei em surpresa.

– Este era o presente de boas-vindas de Bella, mas está claro que ela não poderá fazer uso dele. Quantos anos você tem Aneliese?

– Dezessete.

– Sim, foi o que pensei, pode ficar com a caminhonete, Renée me disse que seus documentos estão em ordem então poderá dirigi-la. Mas tente não correr, está bem? – Ele deu uma olhadela para o carro e completou: - Acredito que não poderia mesmo se quisesse – riu.

Eu estava sem palavras, havia se passado tudo muito rápido, ali estava a notável picape vermelha e ela agora era minha! Mais inacreditável era que eu tivesse recebido do xerife permissão para dirigi-la quando nem ao menos possuía uma carteira de motorista, mas estava claro que ele pensava que sim. Sua ingenuidade não o deixava perceber que em meu país a maioridade era diferente daqui. Senti-me irresponsável por não lembrá-lo de um detalhe tão crucial, mas francamente, eu estava doida para dirigir e meu pai já havia me dado muitas aulas, eu só precisava praticar mais um pouco, mas acreditava que conseguiria.

– Obrigada, vou cuidar muito bem dela – sorri com alegria enquanto estendia a mão para pegar a chave.

Ele me deixou sozinha para que eu aproveitasse o presente, estava empolgada enquanto caminhava na direção do robusto veículo; alcancei a maçaneta, estava rígida e exigiu mais força do que eu gostaria de usar, mas não me abalei, um carro tão antigo com certeza teria seus defeitos. Assim que me acomodei no banco do motorista me senti poderosa, era meu primeiro carro e apesar de velho seria útil. Eu tentei não pensar no quão barulhento e vistoso seria dirigi-la, com sorte eu passaria despercebida.

Passei as mãos pelo volante, no painel e nos bancos, era tudo antigo e estava gasto, havia um cheiro peculiar misturando-se ao odor forte de gasolina, como Bella o descrevia mesmo? Oh sim, menta e tabaco. É, era isto mesmo, me surpreendi por ter achado agradável. O interior da cabine estava razoavelmente limpo, era claro que tinham cuidado disto antes de passá-la à frente. Abri o porta-luvas, mas não havia nenhuma relíquia escondida, apenas uma flanela velha.

– Não acredito que estou mesmo aqui – eu sorria como uma boba enquanto perscrutava ao redor.

A casa de madeira branca, apesar de simples se destacava das demais, nenhum detalhe me passou batido, a varanda, o telhado, as janelas... E a floresta, sempre meu olhar recaía sobre ela, a brisa suave balançava as folhas leves e os passarinhos povoavam o alto das árvores, tudo perfeitamente corriqueiro, mas de uma importância sem igual para mim.

Charlie apareceu na porta e fez sinal para que eu entrasse, eu teria tempo para me encantar depois. Saí e comecei a andar a passos rápidos, a rua estava calma, mas não fugiu de minha percepção que as poucas pessoas por ali olhavam curiosas para mim. Será que pensavam que eu era Bella? Pensei em cumprimentá-las, mas naquela circunstância achei melhor não, eu sabia que estava em uma cidade pequena e que rumores eram normais, mas eu detestava fofoqueiros.

Adentrei a residência e fui direto para a sala onde sentado ao sofá Charlie assistia ao jogo.

– Obrigada pelo carro, estou ansiosa para dirigi-lo – tornei a agradecer.

– Sua ansiedade não vai durar muito, você vai usá-lo para ir à escola na segunda-feira.

Tive sorte de ele estar concentrado na tevê o que o impediu de ver minha cara ficar branca.

– Se-segunda? – Gaguejei.

Não consegui manter minha voz tão tranquila como queria e isto o fez se virar e me analisar.

– Sim, conversei com o diretor na semana passada e mesmo que já seja o meio do semestre ele conseguiu uma vaga para você.

– Ah, que ótimo – fingi animação.

Eu estava com um pequeno problema nas mãos, não tinha certeza de que conseguiria dirigir sem nem mesmo treinar e se Charlie desconfiasse de algo eu estaria em apuros.

– Logo vou providenciar o jantar – completou dividindo a atenção entre mim e o televisor – se quiser pode subir para tomar banho antes.

Segui seu conselho e voltei desanimada para o andar de cima.

Eu já tinha me aprontado, estava sentada na cama olhando para o vazio, mergulhada em pensamentos. Como Bella estaria se saindo? Será que meus pais sentiam minha falta? Quem mais sabia de minha viagem? Alex? Rafaela?

Alex... Pensar nele era como pensar em um amigo, nada mais.

Desci ansiosa para o jantar assim que Charlie o anunciou, pensei no que ele poderia ter feito, mas assim que vi duas embalagens de pizza sobre a bancada minha animação começou a perecer. Ele abriu a primeira e era de calabresa, mas ao destampar a segunda eu pude sorrir aliviada.

– Esta é light – informou com uma cara de nojo. – Pensei que você talvez preferisse algo assim.

– Eu não ligo para as calorias – informei dando uma gargalhada. – Mas sou vegetariana.

Suas sobrancelhas se ergueram e ele murmurou algo como ‘coisa de mulher’ enquanto soltava um muxoxo. De qualquer forma eu lhe agradeci e me servi logo, pois estava faminta, preferi permanecer na cozinha, sentada à mesa, eu não tinha costume de comer em frente à televisão, algo que eu herdara de família. Eu sentia saudade deles. Bella tinha sorte, eu sabia que meus pais a tratariam muito bem.

Eu não queria me emocionar ou acabaria perdendo a fome, mas somente agora à noite é que eu percebera que estava com medo. Foi um dia extraordinário, mas era tudo tão incomum que eu custava a me adaptar.

A tão idealizada Forks... Suas lendas seriam reais?

Eu mastigava devagar e acabei engolindo de uma vez quando passei para aquela linha de raciocínio. Todas as criaturas fantásticas que povoavam as histórias de Stephenie Meyer existiam aqui? Mesmo tendo conhecido Charlie, Phil e Renée se tratavam apenas de humanos, humanos como eu. E se fosse somente isso? Um universo paralelo repleto de pessoas comuns... Mas era Crepúsculo! Isto não fazia sentido, se aqueles seres não existissem minha escolha havia mesmo sido equivocada e eu não tinha absolutamente nada que fazer aqui. Quer dizer, Charlie era legal e tudo mais, mas obviamente eu não viera por ele!

Aquelas considerações não estavam ajudando em nada meu apetite e eu não precisava me ocupar delas agora, na segunda-feira eu teria as respostas que precisava.

Era sensato pensar assim, porém não era fácil. Sabia que a dúvida me tiraria até o sono.

Segunda-feira. Na segunda talvez eu entendesse melhor o motivo disto tudo.


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