Perdida em Crepúsculo escrita por Andy Sousa


Capítulo 42
Pólvora.


Notas iniciais do capítulo

Este é o último de hoje, aproveitem, boa leitura!



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Trailer

Especial: Edward PDV - Final

"E se eu tivesse algo para lhe dizer,
Diria suavemente.
Beijaria seus lábios rosados e jamais te deixaria partir.
Teria calafrios em seu telhado
Ao ver seu rosto sob a luz das estrelas
E te abraçaria a noite inteira.
Tenho cinco dedos em cada mão para cada erro que cometi,
Sou uma sombra pálida demais para ser bonita
E tenho hábitos que não posso mudar.
E sou o que sou, um trem desgovernado.
Enquanto estiver tudo bem com você
Acho que permanecerei bem aqui.
Não tenho lugar para ir, porque isto depende de você, querida.
Você pode tentar deixar tudo melhor,
Pegar todas as minhas roupas sujas,
Mas se você não me entender
Então jamais saberá o que realmente sou."

Colorado Sunrise – 3OH!3

~*~

Na segunda feira pela manhã Carlisle estava arrumando sua mala, pronto para viajar quando Alice apareceu em seu quarto e o surpreendeu. Eu estava sentado na varanda, próximo a eles e pude ouvir sua conversa, embora tivesse a suspeita de que não sabiam que eu estivesse ali.

– Você não pode ir, Carlisle.

– Alice, de que está falando?

– Não pode voltar para Forks... Ainda.

Seu tom ficou imediatamente sério.

– E porque não?

– Bem, tive uma visão hoje cedo e ainda estava me decidindo se devia lhe contar ou não, é sobre o xerife.

Charlie?

– O que há com ele?

– Nada, ele está bem, mas, hmmm...

Quando se conteve em falar deixou seus pensamentos fluírem e tive imediato conhecimento de que se tratava, afinal. Charlie estava nos procurando, queria que respondêssemos formalmente pelo que havia acontecido a ela. Só que ainda havia outra parte, algo em que Alice evitava pensar.

Sem tempo ou paciência para charadas saltei até o andar de cima e entrei no cômodo sem cerimônias, apenas minha irmã pareceu surpresa em me ver – e também um tanto sem jeito.

– O que está havendo?

– Alice diz que não posso ir para Forks, mas se recusa a justificar seus motivos.

“Tem idéia do que possa ser?”

Assenti e meu pai esperou que ao menos eu lhe desse uma explicação. Vendo seu rosto compreendi porque minha irmã hesitara, dizer a ele que o filho estava tendo problemas com a polícia não seria uma boa notícia.

– É melhor chamarmos Esme, vocês dois merecem saber o que aconteceu no sábado à noite.

Carlisle se mostrou um tanto apreensivo, mas concordou e chamou por minha mãe que veio ao nosso encontro numa batida do coração.

– Alice, Edward. O que está acontecendo? – Seus olhos grandes passaram de um para o outro e então repousaram sobre o rosto de Carlisle, ele lhe indicou que se aproximasse e ela se posicionou ao lado dele.

– Edward quer nos contar algo – anunciou com ar grave.

Então os dois esperaram e lhes contei sobre a discussão, sobre ter sido terrivelmente grosso e até mesmo violento. Quando relatei a última parte nenhum deles pareceu compreender muito bem minhas palavras.

– Me desculpe filho, você disse que... Machucou Aneliese? Fisicamente? – Carlisle averiguou e envergonhado baixei os olhos.

Esme arfou baixinho.

– Edward! Como pôde?

Eu não sabia, não sabia como havia tido coragem para tanto e na verdade aquilo se tratava de covardia. Eu me descontrolara, ficara fora de mim, era claro que estava arrependido, os insultos já haviam sido suficientemente maldosos, mas tê-la agredido fugiu de meus limites.

– Não o julgue Esme, ele não fez por mal.

– Sim Alice, mas também não fez para o bem, ser agressivo, ferir humanos não é de nossa natureza, fazendo parte desta família Edward tem que seguir as regras, eu não acho que sejam nada absurdas.

A voz de Carlisle era autoridade, mesmo não sendo meu verdadeiro pai eu o respeitei.

– Ainda mais quando se trata de alguém que conhecemos – completou minha mãe. – Filho, eu sei que Aneliese lhe magoou, mas você acha mesmo que o que fez foi certo? Está satisfeito com sua atitude?

– Não, é claro que não.

Eu falava verdadeiramente e isto pareceu acalmar a ambos.

– Bem, então agora creio que o mais aconselhável seja encarar as conseqüências. O que Charlie está planejando fazer, Alice?

– Bem, ele não está nada animado, na realidade o achei bem transtornado, mal tem dormido, desde sábado passou a maioria das horas na delegacia fazendo telefonemas e conversando com outros policiais. Está afoito por pistas, desesperado para desvendar nosso paradeiro, o estado de Aneliese o deixou ainda pior.

O estado de Aneliese? Mas, ela ficara tão mal assim? Tornei a tentar desvendar o que Alice vinha escondendo, mas outra vez ela bloqueou minhas investidas. Fitei-a fixamente ao passo que ela desviou o olhar.

– Alice – chamei seu nome em sinal de alerta.

Em resposta ela começou a pensar em coisas banais, mergulhando em lembranças irrelevantes, tentando me despistar.

– O que foi Edward? – Carlisle que nos conhecia bem notou que havia tensão entre nós.

– Há algo que ela não quer me contar – esclareci.

Jasper apareceu ao lado da parceira, pondo um braço sobre seu ombro. O olhei em uma carranca e ele ergueu uma sobrancelha. Imediatamente comecei a ficar calmo e logo ia me esquecendo o motivo da raiva, dando-me conta de seu truque tratei de me focar.

– Jasper, chega! – Ralhei.

Alice o olhou e sorriu e depois assentiu dizendo que estava tudo bem. Voltando a poder sentir minhas próprias emoções eu já estava perdendo a paciência.

– Diga Alice, o que está acontecendo?

Ela respirou fundo e depois me encarou.

“É Aneliese. Eu não iria lhe contar, já que você está disposto a evitar qualquer contato com ela, mas acho que deve saber que no domingo de manhã ela passou muito mal, foi levada às pressas ao hospital e acabou internada vítima de febre altíssima e delírios. Ainda não saiu de lá.”

Dei um passo involuntário para trás, sem dizer nada. Aquilo não devia importar, mas não pude evitar ficar preocupado.

– E então? – Sondou Esme.

Alice contou a breve história aos outros.

– Meu Deus! Mas ela ficará bem?

– Não sei ainda, parece mergulhada em sono profundo, embora creio que não seja assim tão grave ou Charlie estaria no hospital junto dela. Está sendo fortemente medicada, talvez logo acorde – deu de ombros.

– Sim, provavelmente. São muitas horas desacordada, o corpo tem de se manifestar de uma maneira ou de outra. Jack é um ótimo médico, com certeza mantém constante vigilância sobre ela. - Não passou despercebido a ninguém que Carlisle demonstrava consternação, era de seu trabalho que ele falava, não tínhamos dúvidas de que era lá que ele queria estar.

Ter de lidar novamente com a culpa estava se mostrando incrivelmente fatigante então mudei de assunto.

– Qual é o plano?

Agora que já tínhamos as informações faltava decidirmos o que fazer com elas, Alice compreendeu que cabia a ela guiar nossa direção.

– Acredito que o mais aconselhável seja que Carlisle entre em contato com o xerife, se ele pretende fazer uso da lei para punir Edward nenhum de nós terá vantagem que ele se mantenha afastado. Ligue para a delegacia, diga que sente muito por ter partido sem aviso e que reconhece o erro, imagino que terá mais chances de criar um diálogo racional se agir primeiro.

– Sim, faz sentido.

– Faz, mas espere até amanhã, não acho aconselhável que o procure hoje, dê-lhe mais um tempo, deve estar profundamente angustiado, aflito pela saúde de Aneliese, talvez se esperarmos mais um tempo o estado dela melhore.

– É verdade, você está certa novamente querida – Esme a elogiou e depois se virou para Carlisle – amanhã você poderá ir para Forks e tenha certeza de resolver todas as coisas que ficaram pendentes. Depois disso poderemos seguir vida nova aqui ou em qualquer outro lugar, o importante é não deixarmos assuntos inacabados.

Eu estava muito quieto, ocupado em manter minha mente livre da aflição e quando o tópico da conversa foi encerrado retornei para a sacada, me sentando novamente sob o sol fraco.

Depois que desencadeei os sentimentos eles se tornaram difíceis de conter, procurei passatempos o dia todo, ansioso por manter as lembranças fora de minha cabeça, foi mentalmente cansativo fingir que estava aproveitando as disputas com Emmett ou que ligava para o que as mulheres conversavam ou que sequer prestava atenção ao noticiário. Com o cair da noite pude me recolher em um canto do quintal, deitar sobre a neve e observar o peculiar céu do Alasca. Estava repleto de estrelas, mas ainda assim fracamente iluminado, de todo modo não deixava de ser uma visão espetacular.

Ouvi o ruído de passos, Tanya se juntou a mim, deitando-se a distância de um braço.

– É lindo, não é? Durante todos estes anos nunca me cansei de observar.

Eu aquiesci. Sua presença já não me aborrecia, depois da desconcertante cena da véspera ela havia se tornado muito diferente, agora não me atacava mais com pensamentos efusivos e eu tornara a ver nela a boa amiga que um dia tivera.

Nenhum de nós disse nada, bastava que ficássemos ali, envoltos em deslumbre. Surpreendentemente fui eu a quebrar o silêncio.

– Sou uma companhia terrivelmente ruim, não sou?

– Acho que antes era mais – brincou.

Sorri fracamente.

– Ela me deixou assim – suspirei.

Vi que Tanya se virou e agora me olhava.

– Vai voltar para Forks junto de Carlisle?

– O quê?

– Eu soube da história, você está sendo procurado pela polícia, se não for podem pensar que tem culpa.

– Mas eu tenho culpa.

– Toda ela? Você agrediu essa moça porque quis? Sem justificativa? Soube que ela mora com um homem que a considera uma filha, se esta Aneliese foi capaz de trair você a quem jurou dar todo o amor porque não faria o mesmo com ele? Já pensou que pode estar em perigo?

Eu pensei sobre o que ela disse, não pareciam argumentos infundados. Isto significava que eu teria de ir para Forks?

Não quero voltar para lá. Não quero vê-la. Mas não posso deixar que um inocente sofra, não posso deixar que ela envolva mais gente neste desastre.

Os pensamentos de Alice se tornaram audíveis quando ela se aproximou devagar.

“Aneliese acordou.”

Passei a mão pelos cabelos soltando um longo suspiro enquanto tornava a observar a beleza ao redor, amanhã provavelmente a paisagem seria bem diferente.

Na terça-feira Carlisle ligou para o xerife, tiveram uma longa conversa e por fim decidiram se encontrar em sua casa à noite, todavia saímos horas mais cedo para que ele tivesse tempo de finalizar seus assuntos. Fomos com o mesmo carro e ao chegar pedi que me deixasse em um ponto qualquer da rodovia, dando-lhe privacidade para cuidar de suas coisas.

Estar outra vez neste lugar causava-me uma reviravolta e achei melhor esperar o anoitecer no único ponto suficientemente afastado e protegido de humanos. Era uma clareira característica que ficava bem no coração da floresta, curiosamente naquele espaço não havia árvores, somente plantas silvestres e havia sido um dos poucos locais onde por anos eu me mantivera escondido, distante da confusão de mentes que me sufocavam. Estando ali eu me senti em casa, a chuva estava ausente e o céu claro por vezes liberava raios pálidos de sol. Não houve porque me esconder, eu estava seguro.

As horas passaram depressa, nos últimos dias em geral acontecera o contrário, mas hoje em especial eu estava inquieto, não parara de me questionar se ela estaria junto do xerife quando o encontrássemos. Quase podia apostar que não, ela não queria me ver, talvez não chegasse a sair de casa, mas não precisava necessariamente se manter a vista. E conseqüentemente assim era mais fácil lidar com a ansiedade.

Agora só o que tinha de fazer era esperar.

As sombras se tornaram mais e mais proeminentes e por fim a escuridão começou a cair ao redor, sem muita vontade me levantei e comecei a correr, Carlisle esperava por mim em um ponto específico e ao menos parecia aliviado por seu dever estar cumprido.

– Vou sentir falta daqui – não fazia parte de seu perfil ser sentimental, mas lhe dei o direito de se lamentar, tirá-lo daquilo que mais amava estava sendo duro para mim também. – Quem sabe um dia possa retornar.

Não pensei sobre aquilo, eu não queria que acontecesse. Os minutos passaram acelerados e de repente já estávamos em frente à pequena casa de parede branca desbotada. Saímos do carro e caminhamos em silêncio até a soleira da porta, a esta altura eu já ouvia perfeitamente os pensamentos de Charlie e eles eram particularmente ruidosos. Entretanto não havia mais nada, apenas ele e suas condenações.

Carlisle apertou a campainha e foi fácil distinguir o som dos passos de apenas uma pessoa, ele estava sozinho. Demorou alguns segundos até que finalmente abrisse a porta e então meus olhos dispararam para o interior, parada há poucos metros estava ela e me fitou de imediato. O que fazia aqui? Eu pensei que... Pensei que não estaria. E então me dando conta de que ainda a observava desviei o olhar procurando manter a postura indiferente.

O xerife nos recepcionou com meticulosa educação e tomei o cuidado de não deixar meu aborrecimento transparecer, pois ele pensava coisas pouco agradáveis a respeito de mim e meu pai.

Depois de trocarmos vagos cumprimentos ele nos convidou para a sala, Carlisle entrou primeiro e fui ao seu encalço, ao me aproximar de Aneliese seu cheiro me atingiu em ondas torturantes e vi quando ela se retesou sob minha presença. Será que estava com medo? A impressão que deixara nela no final de semana não havia sido muito boa.

Quando estávamos devidamente acomodados Carlisle perguntou a ela como se sentia e procurei não mostrar excessivo interesse em seu rosto quando respondeu.

A mente de Charlie estava uma desordem, extremamente ofensiva e sua aversão se tornou visível em suas palavras.

– Estão sentindo falta de sua ajuda por lá, Carlisle – ele se referia ao hospital.

Prometera a mim mesmo moderar meus atos, mas minha frase soou descortês:

– Meu pai teve suas razões para abandonar sua função, xerife.

– Imagino que sim. E vão me dizer quais são? Foi para isto que vieram, não foi? Para se explicar. Inventar alguma justificativa sem sentido para minha filha estar machucada.

Sua filha? Sua afeição já avançara a tal ponto? Lembrei-me das palavras de Tanya e achei melhor cumprir meu papel avisando-lhe com quem estava lidando.

– Ela não é sua filha, você não a conhece tão bem assim.

Aneliese fez menção de responder, mas Charlie foi mais rápido o que considerei uma pena, pois gostaria de saber o que ela diria. Tornei a desejar que não estivesse aqui, pensar com clareza se tornava incrivelmente difícil em sua presença.

Depois de ouvir a declaração hipócrita do policial tornei a falar.

– Vejo que Aneliese já deve ter lhe contado seu lado da história, não é? Porque estou aqui se deixou claro que sou o culpado?

Ela já o manipulara, era esperta.

– Está enganado. Ela não me disse sequer uma palavra, se recusa a incriminá-lo, apesar de ser óbvio que você não mereça sua proteção.

“Seu moleque inconseqüente, quisera eu que ela nunca tivesse lhe conhecido, Jake seria um partido dez vezes melhor para ela e espero que agora ela possa finalmente ver isso!”

Ver que Aneliese me defendia me deixou claramente confuso, porém eu não me esquecera de que ela podia ser manipuladora, eu não quis me deixar levar por sua fachada inocente. Também me enfureci ao ouvir o nome de outro rapaz sendo ligado ao seu.

– Eu não fiz por você. – Esclareceu. Era tão bela quanto fria.

– Charlie, talvez fosse melhor conversarmos a sós, não acha? Aneliese e Edward ainda estão muito alterados para conseguir manter um papo leve, não obteremos as respostas que precisamos se insistirmos nisso.

Fiquei aliviado que ao menos Carlisle fosse capaz de manter a serenidade.

– Está bem, concordo com você, mas tem que me dar sua palavra de que seu filho não fará nenhum mal à minha enquanto estivermos ausentes.

Meu pai me olhou.

“Por favor, Edward, se contenha, lembre-se que viemos em paz. Eu só quero resolver isto e voltar para casa, imagino que você também. Apenas se contenha!”

Concordei minimamente e ele pôde dar ao xerife uma afirmativa.

Assim que deixou o cômodo a atmosfera ficou pesada, sem a presença dos outros o cheiro do sangue dela se tornou terrivelmente acentuado, eu não me lembrava do aroma ser assim tão bom, devia ser efeito da distância. Além disso, a quietude era demasiada e me vi desesperadamente buscando algo em que me concentrar, estava claro que ela não diria uma única palavra então tive de intervir.

– Charlie parece disposto a me colocar atrás das grades – zombei. Com efeito, eu não possuía o mínimo humor para provocá-la, mas não quis soar complacente.

Foi bom ouvir sua resposta, mas eu preferiria que ela olhasse em meus olhos ao invés de fingir prestar atenção no estúpido relógio sobre a lareira.

– Tenho a impressão de que pretende inventar uma versão da história em que eu seja a única culpada.

Então era com isto que estava preocupada? Seu próprio bem-estar. Parecia-me uma atitude egocêntrica, mas eu também tinha como ignorar o altruísmo.

– Não preciso disto Aneliese. Sou perfeitamente capaz de me esconder, seu pai jamais me encontraria se eu não quisesse.

– E, no entanto aqui está você. Qual é sua explicação para isto?

Não pensei muito na resposta.

– Nenhuma. Carlisle é a razão, ele não achou certo conviver com a ‘má fama’ e acredito que seus motivos sejam genuínos, uma vez que para um médico a reputação conta muito. Mas eu não tenho nada que precise proteger, eu não tenho porque prestar contas a ninguém.

– Mas você veio.

– Sim, porque de que adiantaria tê-lo deixado vir só? É a minha cabeça que vocês querem.

– Por favor, não use o ‘nós’ com tanta propriedade, a única coisa que quero de você é que vá embora e que desta vez mantenha-se longe de mim.

Não dei atenção à pontada em meu peito ao ouvir seu desprezo, eu já me acostumara a ela.

– É isto o que quer? – Pude soar casual, mas esta pergunta era sem dúvida a mais importante.

Prestei muita atenção aos sinais de seu corpo quando confirmou, enquanto estivera com ela me tornara pleno conhecedor de suas reações e algo me alertou de que o que acabara de ouvir fora uma mentira.

– Você mente muito mal, Aneliese.

Dei-lhe um sorriso definidamente perverso e gostei de subjugá-la, mas aparentemente ela não se sentia bem assim e se levantou decidida a me deixar. Sem pensar no que estava fazendo me pus à sua frente bloqueando a passagem porque eu ainda tinha algumas coisas que tratar com ela.

– Charlie em certo momento pensou em seu amigo da aldeia, aparentemente ele viria vê-la hoje, não é mesmo? Vejo que não perderá tempo em forjar laços com outra espécie de monstros, gosta tanto assim de manter a adrenalina presente em sua vida?

– Jacob ainda é humano.

Não suportava ouvi-la dizer seu nome, não agüentava saber que o defendia. Aquele deveria ser eu, não consegui evitar me enfurecer, rindo secamente.

– Sim, assim como você, apenas humano, mas você disse uma vez que ele deixaria esta existência para trás em breve, então o que a faz pensar que continuaria a se importar com você? Sabe Aneliese, tenho a suspeita de que todas as pessoas que ama uma hora vão abandoná-la.

Quis feri-la, quis que ficasse magoada, ela havia feito o mesmo comigo, ainda assim sua proximidade mitigou meu autocontrole e antes que percebesse estava com a mão sobre seu rosto, me entregando ao apelo do calor de sua pele. Ela me olhava de volta, calada, os olhos profundos descansando nos meus e não tive dúvidas de que queria chorar.

– Desgraçado. Vá embora, eu não quero te ver nunca mais!

Sua exaltação trouxe os outros de volta ao nosso encontro, perguntando o que estava havendo.

– Edward, o xerife e eu estávamos terminando de nos acertar, por consideração a mim e sua mãe ele concordou em encerrar a acusação, a não ser que Aneliese se oponha, como queixosa ela é a única que tem poder para levar este processo em frente – falou Carlisle.

Olhei quando ela negou rapidamente, só o que queria era livrar-se de mim, sem dúvidas não se importava mais.

– Certo, então acho que estamos combinados.

Charlie não escondeu o desapontamento quanto à escolha dela em não me acusar.

– Concordou em promover minha liberdade com tanta facilidade, xerife? – Era óbvio que ele me detestava e eu nem ao menos entendia o por que.

– Edward, por favor, nos foi feita uma grande concessão, ao menos mostre respeito à lei.

“Você prometeu se conter.”

Desculpe-me Carlisle, mas creio que seja tarde demais para convenções.

– Só fiz uma pergunta, não é uma ofensa.

– Seu pai esqueceu-se de mencionar uma parte do acordo. Há uma condição imposta para que você fique impune.

Eu não havia me dado conta disto e esperei até Carlisle confirmar.

– A condição é que teremos de deixar Forks.

– Isto já foi feito – assinalou Aneliese.

– E nunca mais poderemos voltar.

O quê?

– Está de acordo com isto Carlisle?

– É verdade que gostaria de um dia poder voltar a trabalhar no hospital, mas imagino que possa fazê-lo em outro lugar, é o preço que temos de pagar se quisermos seguir com nossas vidas sem deixar erros incorrigíveis para trás.

Uma tristeza profunda tomou conta dele e fui obrigado a compartilhar cada pensamento de derrota e desânimo que cruzou sua cabeça. Isto não parecia justo, podia concordar que descontassem sua fúria em mim, mas Carlisle era um ser excepcional, sempre seguira as regras, se esforçara muito por sua carreira, se sacrificara pelos humanos e era esta a recompensa que recebia. Simplesmente não podia ser certo e isto desencadeou os maus sentimentos que eu reprimira até agora.

– Acho que a esta altura o senhor ganhou o direito de ouvir minha confissão – falei para Charlie - sou o responsável pelo que houve a Aneliese. Estas marcas em seus pulsos se formaram quando a segurei com força enquanto discutíamos. Antes que me julgue eu tive meus motivos e se aceita um conselho meu procure saber mais sobre essa garota que você chama de filha.

– Edward! – Carlisle me repreendeu.

“Não faça isso!”

Tive de ignorá-lo.

– Do que você está falando? – Charlie rosnou.

– Do passado dela. De quem ela é. Tem certeza de que a conhece bem?

– Cale a boca, Edward! Você não sabe o que diz – não a olhei quando tentou me parar.

– Aneliese, o que está havendo aqui?

Ela olhava para nós assustada e encurralada. Isto a fez jogar sujo.

– Porque não diz a ele sobre você? – Confrontou-me. - Gosta tanto de falar dos outros, mas se esquece de apontar os próprios erros, vamos! Conte a ele o que você é!

– Aneliese, cuidado com o que diz. Você está muito alterada, vai se arrepender depois – Carlisle entrou em pânico com a possibilidade de nossa família ser envolvida.

– Eu estou alterada? Porque será, não é mesmo? Talvez porque seu filho é um grande mentiroso, traidor! Talvez porque há poucos dias ele me enchia de promessas dizendo que eu era o ‘grande amor de sua vida’ e agora me apunhala pelas costas como se nada tivesse acontecido. Então ele continua a me ofender, a dizer calúnias sobre mim e eu tenho simplesmente que ficar calada? Desculpe-me Carlisle, mas desta vez não!

O que ela queria com esse diálogo?

– Deixe-a, ela está fora de si. Não tem autoridade alguma para falar mal de nós, ela é a mentirosa.

– Cale essa boca Edward! – Berrou.

– SILÊNCIO, TODOS VOCÊS! Quero que me expliquem neste exato momento o que está acontecendo e porque devo ou não confiar nas pessoas que conheço. Chega de enigmas, quero a verdade já!

Estava claro que a ordem era mais direcionada a ela que a nós, mas só o que fez foi se manter em silêncio, o rosto impassível, não iria se entregar porque se falasse acabaria em problemas.

– O que foi Aneliese? Mudou de idéia? – Ela me olhou irritada, mas não falou nada. - Covarde – sibilei.

E então com um ruído esquisito de ‘clique’ Charlie estava com a arma na mão e a empunhava em minha direção. Ignorou o grito de pavor de Aneliese.

– Vá embora daqui e não volte nunca mais – fitou-me com ódio, ignorou os apelos dos outros para que se acalmasse. - Você fez mal a ela, a machucou, insultou e continua fazendo o mesmo em minha própria casa! Vá. Embora. Daqui.

Por quê? Porque eu tinha de passar por isto? Parecia um castigo desproporcional apenas por ser diferente, nem ao menos havia tido chance de mostrar que sentimentos bons, sentimentos humanos ainda existiam em meu peito.

– Acha que pode me atingir? Tente.

– Edward. Acalme-se.

Carlisle tentava a todo custo evitar o confronto, ele estava profundamente envergonhado.

Como uma garota, uma humana conseguira em tão pouco tempo desconjuntar minha família? O rancor me dominou.

– Tente me matar. Acha que consegue? TENTE!

– EDWARD, NÃO!

Carlisle quis intervir, mas foi tarde, sua ordem pairou no ar, seguida do som da pistola sendo acionada, milissegundos foram necessários para uma tragédia acontecer, a bala que Charlie usou acertou meu rosto e ricocheteou de volta, passando velozmente por sua jaqueta e se alojando próxima a seu ombro. Ele ia caindo quando foi amparado por meu pai.

Aneliese colocara as mãos sobre o rosto ao gritar, mas se desvencilhou delas ao ouvir Carlisle me chamando apressadamente.

– Charlie! O que a-aconteceu?

Carlisle não perdeu tempo enquanto explicava a ela a situação se levantou anunciando que precisava levar o homem ao hospital e antes que qualquer um de nós pudesse responder ele estava fora.

O silêncio de sua partida se tornou imediatamente perturbador, eu não conseguia dizer uma só palavra, só agora via que fora inconseqüente, tudo se passara num sopro: expusera minha família, ferira aquele que na verdade deveria ter protegido... A sala se tornou cena de um desastre.

– O que você fez?

Ela estava falando comigo, mas não encontrei nada para lhe dizer e isto a aborreceu ainda mais.

– Edward, o que você fez? Charlie... Charlie. É tudo culpa sua! CULPA SUA!

Eu não encontrei um motivo para dialogar, eu errara. O que fizera? Meu pedido de desculpas não pareceu suficiente.

– Não! Não se desculpe, eu NUNCA vou perdoar você! Nunca! Você destruiu minha vida, você... Você mentiu para mim.

Ela chorava em desespero, as mãos inertes do lado do seu corpo e nesse momento eu pude ver a menina que amava. Estava indefesa, magoada, precisando de mim. Eu havia destruído sua vida? E como descrever o que ela causara a toda a minha existência? Éramos duas peças desencaixadas, dois pedaços que sobraram de uma relação fodidamente complicada. Então ao menos agora não me importou que me odiasse ou repugnasse.

Toquei sua pele livrando seu rosto detrás do esconderijo que eram suas mãos, vi nitidamente em torno de seus pulsos as marcas que lhe infligira da última vez que a vira e suavemente passei o dedo por elas. Guiei seus braços até mais perto, fazendo com que me abraçassem e me curvei para perto aspirando ao inconfundível aroma de seus cabelos. Ela havia se aninhado em mim, chorando baixinho, podia sentir as lágrimas deixando úmida a frente de minha camisa.

– Você esteve equivocado todo esse tempo, eu não pertenço ao seu mundo, mas fui verdadeira desde o começo. Eu nunca seria capaz de fazer mal à sua família, mas você fez à minha. – Sua voz saiu abafada, frágil. - Você me odeia tanto assim?

Eu não a odeio, eu a amo como um louco, sempre a amei e suspeito que sempre será assim. Beijei o alto de seus cabelos me entregando a sensação reconfortante de tê-la junto a mim.

– Como você pôde fazer isso?

Do mesmo jeito que você fez. Nós nos destruímos, talvez agora não tenha restado mais nada para ser quebrado.

Inesperadamente ela se afastou como se tivesse levado um choque, secava o rosto com veemência.

– Pela última vez, vá embora daqui. Eu não quero te ver nunca mais.

Por favor.

– Liese...

Ela me fitou de um modo que eu jamais vira antes, decepção, mágoa e desprezo perpassaram sua expressão.

Por favor, meu amor, não faça isso.

– Vai embora!

Não esperou por uma réplica, disparou escada acima e ouvi quando remexeu os objetos de seu quarto à procura de algo, logo o tilintar característico das chaves da caminhonete se fez ouvir e subi ao seu encontro, quando cheguei entretanto a encontrei parada e de cabeça baixa, apoiada à cômoda. Estava claro que não se sentia bem.

Ao abrir os olhos e me ver tornou a me mandar embora, mas não lhe dei ouvidos. Tentei soar razoável ao lhe explicar que não era aconselhável que saísse nesse estado.

Sua resposta me pegou de guarda-baixa.

– E em que isto lhe diz respeito? Pelo amor de Deus, saia da minha casa, você já me causou muito mal, já deixou claro o quanto me detesta, já conseguiu me magoar muito mais que qualquer um, então apenas, por favor, vá embora.

Ela não soava incoerente, nem mesmo falsa, pela primeira vez em dias acreditei no que me disse, estava magoada, podia ver que sofria por Charlie. Eu havia me cansado dessa guerra, quis me afastar de verdade, não havia mais como apontar erros, nós dois havíamos nos excedido. Eu era nocivo a ela tanto quanto ela era a mim e não havia mais espaço para decepções em nenhum de nós.

Soube exatamente o que tinha que fazer.

– Vou concertar tudo, Charlie vai ficar bem e quando você acordar eu já não estarei mais em sua vida – anunciei suavemente. A dúvida estampou seu rosto e antes que a deixasse inconsciente lhe pedi desculpas.

Foi necessário apenas um movimento e logo ela desmaiou em meus braços, contemplei seu rosto sereno, lufadas de ar atingiam-me enquanto ela respirava e cuidadosamente a posicionei sobre sua cama deixando que dormisse despreocupadamente. Tornou-se claro que com ou sem traição ou plano maligno eu jamais encontraria a força necessária para desejar seu mal.

Eu tinha que ir embora, simplesmente não havia mais lugar para mim aqui.

Beijei seus lábios desfrutando uma última vez o gosto de meu paraíso particular e então sem olhar para trás saí para a chuva que finalmente começara a cair.


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Notas finais do capítulo

É isso aí, o que acharam? Não deixem de falar, é muito importante, principalmente por causa destes capítulos tão especiais... E, ah, deixa só eu avisar, isso foi exceção hein gente, agora é só Liese PDV mesmo, beijão :*



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