The Riters escrita por Brenda Tesch


Capítulo 1
Capítulo Único.




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Era tarde quando Liza voltou de seu encontro e com visível cansaço misturado à satisfação daquela noite agradável, destrancou a porta de seu quarto de hotel em Barcelona. Seus serviços extragovernamentais haviam sido cumpridos na noite anterior então decidiu prologar sua estadia saindo para jantar com uma paixonite de regimento dos anos de militar. A conversa fora descontraída e o vinho estava perfeito, mas não se sentiu disposta a terminar a noite na cama com ele.

O quarto estava imerso em penumbra sendo cortado por faixas de luz azul da lua cheia que entrava pelas cortinas semiabertas. Tirou os sapatos altos sentindo um enorme alívio nos pés alongando-os e ouvindo pequenos estalos. Já abria o zíper traseiro de seu vestido tubinho preto quando percebeu uma presença no quarto. Com reflexos rápidos e precisão incrível, girou sobre os calcanhares sacando sua Walther PPK prateada de coronha branca antes presa no elástico de sua meia com liga apontando-a para o escuro.

— Você ainda usa a arma que te dei – uma voz masculina conhecida veio das trevas, e o abajur de uma mesinha foi aceso revelando o último rosto que esperava ver naquela noite. Jean Riter estava assentado numa poltrona em tom pastel olhando para sua ex-mulher com aquela tradicional expressão de ironia maliciosa que parecia nunca sair de seu rosto.

Liza abaixou a arma colocando-a sobre um aparador de vidro abaixo de um belo quadro de Fabián Perez juntamente com um canivete também escondido na meia. Na coronha da pistola jaziam gravadas as iniciais de seu nome de casada em vermelho: E.R. – Elizabeth Riter.

— Não ia tirar esse vestido? – perguntou malicioso.

— O que você quer? – interrompeu a mulher deixando seu aborrecimento transparecer, variando entre a perturbação que a presença dele sempre lhe causava e o alívio em saber que ele ainda estava vivo.

— Pontos.

Ela o fitou sem entender, então Jean afastou sua jaqueta exibindo uma mancha de sangue no nível de suas costelas descendo como uma cascata vermelha até os quadris. Ela ajoelhou-se em frente a ele para examinar o ferimento levantando-lhe a camisa e vendo novamente os músculos daquele corpo que já tinha beijado e amado anos atrás. Era uma facada profunda e certamente precisaria ser costurada.

— Por que não foi a um hospital? – indagou a mulher, confusa. Sendo um ex-militar altamente condecorado tinha privilégios em todos os hospitais em terreno aliado, mas depois que se envolvera com assuntos escusos não sabia se o governo manteria tais regalias – E há quanto tempo este corte está aí?

— É uma longa história, amor.

Pensou em retrucar, mas ficou calada. Discutir com Jean era tão inútil quando pegar água usando uma peneira, e ignorando os assédios sutis partiu em busca de uma mala de primeiros socorros que sempre levava com a bagagem. Tirou todos os instrumentos necessários para a higienização do ferimento e pediu que ele se sentasse na cama de casal king size que dominava o quarto. O mestiço tirou a jaqueta e a camisa e Liza logo começou o procedimento estancando o sangramento, limpando o corte para então começar a costurá-lo.

Jean a observava com atenção, gemendo com a dor algumas vezes. Por alguns segundos pensou ver divertimento nos olhos de Liza, como um tipo de vingança interna, fazendo-o sofrer em suas mãos, mas seu semblante era natural, profissional até.

— Você não era tão mole assim quando nos conhecemos. – ela comentou sem tirar os olhos do que estava fazendo mantendo uma seriedade inabalável.

— É a idade. – respondeu. E ela sorriu, ele não tinha mais que trinta e cinco anos.

Ficaram em silêncio por vários minutos enquanto o corte era fechado com precisão cirúrgica. Jean havia esquecido como Elizabeth era boa nisso e em todas as vezes que precisara da ajuda dela quando o mundo e o Céu inteiro lhe viravam as costas. Ele a viu com um homem num restaurante próximo à Rambla, parecia animada ainda que cansada da missão que havia completado e que tomara quatro dias de sua profunda concentração. Matar um chefe do tráfico superprotegido com um tiro na cabeça a mais de novecentos metros de distância não era um trabalho para qualquer pessoa. Ainda que estivesse trabalhando para o governo dos E.U.A., eles nunca a teriam. Liza era boa demais, e inteligente demais para eles.

— Dormiu com ele? – perguntou Jean de repente e ela levantou os olhos com aborrecimento.

— Eu não sabia que tinha de prestar contas da minha vida pessoal a você. – e continuou seu trabalho.

— Desde que se tornou mãe dos meus filhos, sim.

— E desde que você se tornou meu ex-marido, não.

Liza já estava irritada com todo aquele jogo de palavras e acusações. Por mais que demorasse, Jean sempre voltava com alguma parte do corpo a ser remendada e um detalhe do casamento a ser remoído.

— Será que você nunca vai me perdoar? – ele disse mais para si mesmo do que para a ex-mulher, triste e solitário.

— Foi há muito tempo. Você seguiu a sua vida e eu segui a minha. – respondeu, desta vez mais branda em seu tom.

Colou a gaze perfeitamente apertando-a para firmar, amassou os papéis da embalagem e os colocou junto aos instrumentos na mesinha de cabeceira. Fitou o ex-marido, o mesmo a olhava fixamente e por um instante Liza achou que veria lágrimas.

— Pelo menos você seguiu...

Ela não soube o que dizer. Há poucos meses teria mentido ao dizer aquilo, mas à medida que Jean aparecia, menos ela sentia coisas por ele. Quanto mais ele escondia coisas dela, mais pensava que seria melhor que considerasse sua história com o mestiço acabada. Ele sumia por meses, quase anos sem dar notícias ou ao menos escrever e quando voltava toda a cena se repetia. Jean ferido como se tivesse saído de uma guerra e ela imaginando em que confusão teria se metido. Estava cansada.

Jean ainda a fitava insistente. Ergueu a mão e tocou a face de Liza demoradamente roçando o polegar sobre os lábios carnudos pintados de vermelho. E ela fechou os olhos diante do romantismo erótico do toque.

— Sinto tanto a sua falta... – ele sussurrou. Temendo que Liza abrisse os olhos e recuasse, aproximou-se devagar cobrindo a boca dela com a sua, mordiscando seus lábios, provando-os como costumava fazer nas noites quentes de verão do Brasil. Deslizou os dedos pelos cabelos de Liza sentindo o mesmo cheiro que impregnava seus lençóis todas as manhãs voltando secretamente no tempo. Com o dedo indicador abaixou uma das alças do vestido, mas ela o deteve mesmo que sua pele tenha se arrepiado. Liza correspondia ao beijo de forma sutil, quase hesitante e isso o fez sentir-se mais culpado do que qualquer homem na Terra. Por mais que dissesse que o que acontecera não fora sua culpa, uma parte estava consciente quando aconteceu e não protestou, por isso não poderia se sentir pior. Ali naquele quarto de hotel, pela primeira vez, sentiu que Liza escapava por entre seus dedos e talvez fosse tarde demais para reconquista-la.

Afastou os lábios dos dela mantendo suas frontes encostadas, lutando contra o choro que contraía sua garganta. Ele precisava sair dali, porém suas pernas não o obedeciam! Queria ficar, tentar consertar tudo naquela noite de uma vez por todas, mas não sabia como nem por onde começar. O que fizera não tinha perdão. 

— É melhor eu ir. – disse Jean se distanciando, pesaroso.

Liza abaixou a cabeça diante daquelas palavras. Em seu íntimo estava em luto pela história acabada, pelas aventuras vividas e pelo amor intenso sentido. Ainda que tentasse enterrar tudo no canto mais escuro de sua memória havia sempre uma voz que pedia mais uma chance, esta que sempre a levava a ceder e ser decepcionada de novo pelos sumiços de Jean e pelos segredos que mantinha. Pensava em quantas mulheres mais ele teria ao redor do mundo com as quais fazia o mesmo. Quantas outras depois dela o haviam tocado e beijado também ao longo dos anos? Não poderia reclamar, pois também tivera alguns homens embora nunca tivesse amado nenhum deles.

Ele não é mais meu, e eu não sou mais dele, pensava Elizabeth com uma pontada de tristeza.

Jean arrastou as pernas para a beira da cama colocando os pés descalços no carpete frio, e quando ergueu o corpo para ficar de pé dando o primeiro passo para longe, a mão de Liza agarrou seu pulso. A vibração que seu corpo emitiu em razão do toque dela foi tão grande que talvez tivesse sido o motivo  do rádio ter sido ligado e a música baixa invadir timidamente o recinto. Jean quase sorriu com o quanto a situação tornara-se oportuna quando o apresentador do programa dava início a uma seleção de clássicos do blues. A voz de Janis Joplin tornou tudo inevitável.

Ela se levantou quando ele se virou, e os dois beijaram apaixonadamente transferindo toda a saudade naquele contato. O mestiço agarrou os cabelos da mulher distribuindo beijos por toda aquela face descendo ao pescoço, aspirando o perfume feminino que há muito não sentia. Jean tirou Liza do chão agarrando sua cintura e deitando-a na cama atrás deles, colocando-se sobre ela para continuar a tocá-la sem conter alguns gemidos de prazer que só a mesma conseguia provocar.

Se ele cometera grandes erros na vida, casar-se com Liza havia sido seu maior acerto e por puro capricho jogou tudo pelo ralo.

As mãos dela deslizavam por seus cabelos e suas costas sempre marcadas por cicatrizes, a mesma estava tão excitada que pularia os preliminares sem o menor problema. Enroscou uma das pernas nos quadris estreitos de Jean e este a agarrou com força movendo-se sensualmente contra ela para provoca-la e fazê-la sentir sua ereção sob as camadas de roupa que ainda os separava. Um gemido feminino escapou aumentando a excitação de Jean, mas tentou conter-se a fim de aproveitar o momento ao máximo.

Inseriu uma das mãos por baixo dela para alcançar o zíper do vestido e Liza o ajudou arqueando o corpo para frente, movimento o qual fez seus seios se avolumarem consideravelmente. Com rapidez, Jean abriu o vestido a baixou o sutiã de renda igualmente preto mantendo a mão por baixo para sustenta-la naquela posição. Era maravilhoso ter o corpo dela à sua mercê novamente depois de quase dois anos. Após passar momentos breves apreciando aquela visão, deslizou a língua pela pele quente e perfumada fechando os lábios sobre um dos seios. Liza arfou agarrando-lhe os ombros, e Jean continuou a excitá-la lambendo-a sem a menor pressa. Usou a mão livre para apertar o outro seio em seguida deslizando a palma pelo corpo da mulher até chegar ao ponto entre suas pernas onde o prazer se concentrava.

— Jean... – Liza o chamou com voz rouca e ofegante. Quanto tempo esperou para ouvir seu nome sendo pronunciado daquela maneira por sua amada. Acariciou-a por cima do tecido fino da calcinha já completamente úmido, e depois de desviar a boca para o outro seio afastou a peça para o lado e enfiou o dedo médio em Liza provocando um gemido lento e alto.

— Ah, Deus! – ela gemeu quando ele começou a mover o dedo para dentro e para fora.

— Vamos deixa-lo fora disso, meu amor... – Não perdia uma chance de ironizar qualquer coisa que seja e por um segundo viu diversão no semblante dela com a piada. Jean estava tão feliz que poderia morrer.

Liza nunca conseguiria dizer não a ele. O único homem que conseguia lhe dar sexo e amor juntos estava ali com ela. Seu pior medo era abrir os olhos e perceber que estava sozinha se tocando enquanto pensava nele como várias vezes já fizera.

— Você é linda, Elizabeth Riter... – o ouviu dizer. “Riter” e não “Ward” soava como música aos seus ouvidos e teve coragem de abrir os olhos e ver Jean puxando seu vestido para baixo a fim de se livrar dele. O olhar faminto de seu amante despertou todo o desespero e a vontade de entrega que continha por tanto tempo. E a visão de Jean, seu anjo/demônio de cabelos loiros e olhar sensual, com um dos joelhos apoiados na cama e as mãos grandes desafivelando o cinto a fez perder o ar.

Aproximando-se dele, Liza afastou suas mãos para terminar de abrir a calça jeans e exibir aquela masculinidade a poucos centímetros do rosto. A mulher olhou para cima, e naquela posição parecia um tipo de pedido de permissão que foi concedido com o olhar brilhante de Jean focado no dela. Sendo assim, deslizou o pênis para dentro da boca com vagareza contraindo-a para envolver aquela ereção poderosa em toda a sua extremidade. Ele gemeu e fechou os olhos sentindo um arrepio sacudir o corpo. A boca de Liza escorregava sobre seu membro, chupando-o ao passo que sua cabeça ia e vinha de encontro aos quadris dele. Mordeu os lábios pousando a mão no cabelo dela, tentando ao máximo retardar a ejaculação.

— Liza... – ele a chamou entre dentes, emitindo gemidos quase guturais quando ela acelerou os movimentos da boca e língua. E depois de provocá-lo parou, ajoelhando na cama para chupar o pescoço de Jean com a ereção molhada roçando em seu ventre.

Ele a deitou de novo na cama tirando a calcinha que ela ainda vestia e se livrando das próprias calças. Com gentileza abriu as pernas da mulher esfregando-se na entrada dela para lubrifica-la ainda mais, preparando-a para ele.

Os gemidos de Liza só serviam para aumentar sua urgência em possuí-la, mas pretendia lhe dar tanto prazer a ponto de nunca mais pensar em se entregar a outro homem. Provocou sua mulher penetrando-a de forma rasa e torturante usando o polegar para estimular seu clitóris, fazendo o corpo dela se contorcer. Queria que ela enlouquecesse até não aguentar a demora, o que não levou muito tempo.

— Jean! Por favor! Eu não aguento mais! – ela dizia entre os gemidos procurando por ele. Seu olhar perdia o foco e ela apertava os lençóis com força, e então soube que era a hora. Penetrou Liza profundamente num só movimento e ela soltou um gemido que poderia acordar todo o hotel.

Ela queria tudo, queria que ele a possuísse com força e explodir de prazer e êxtase. E então Jean começou a mover os quadris aumentando o ritmo gradativamente. Segurou sua cintura puxando-a para si enquanto investia contra ela e quando estava a ponto de ejacular diminuía o ritmo para impedir, pois queria gozar junto a ela.

— Diga que sentiu minha falta. – ele pediu inclinando-se sobre ela sussurrando perto de seus lábios entreabertos.

— Senti sua falta!

— Liza... – ele repetia sem deixar de se mover indo até o fundo e voltando, beijando a boca dela sempre que podia.

Ela o sentia por inteiro enquanto subia e descia sobre a cama. Era surreal o modo como se encaixavam e de como ele não precisava se esforçar para chegar ao fundo. Eram mesmo perfeitos um para o outro. Ao passo que os gemidos dela aumentavam Jean diminuía seu ritmo deixando-a louca de desejo e frustração, e em determinado momento virou-a de costas pra ele incitando-a a se apoiar sobre os joelhos. Sem demora penetrou Liza segurando firme sua cintura e fitando aquele corpo perfeito à sua disposição. Retomou os movimentos agora tendo mais mobilidade para aumentar a força de suas investidas.

Ela gemia alto demais, o que o fez pensar na possibilidade de amordaça-la na próxima vez que fizessem amor para que os vizinhos não tirassem conclusões equivocadas sobre o que estava acontecendo ali dentro. O som dos corpos se chocando o incentivava a se mover com ainda mais vigor, entretanto procurava se controlar visto que ela era humana e ainda que fosse resistente tinha medo de força-la. Jean sentia o corpo dela tremendo, sabia bem como ela ficava exausta quando era impedida de gozar por muito tempo. Como pretendia repetir a dose quantas vezes fossem possíveis naquela noite, queria que Liza estivesse disposta o suficiente.

O suor já umedecia os dois corpos, a cama já se movera alguns centímetros com os movimentos incessantes de Jean. Ambos já quase perdendo a noção de realidade. Ao ver as mãos de Liza apertando com força os lençóis e jogando a cabeça para trás, agarrou com força os cabelos longos e úmidos dela enquanto ela gemia sendo tomada por um orgasmo devastador. Segundos depois Jean também gozava dentro dela, interrompendo os movimentos com os olhos fechados.

Sem forças, Liza desabou sobre a cama com o corpo trêmulo e a respiração ofegante sentindo o gozo dele misturado ao seu escorrer pelas pernas. Com cuidado Jean deitou-se sobre ela encostando o rosto em seus cabelos ao passo que ambos tentavam recobrar o ritmo normal da respiração.

— Eu amo você, Liza. – disse passando uma das mãos sobre a pele suada da mulher. – Você é tudo o que eu tenho na minha vida.

— Esperou quase dez anos pra me dizer isso. – ela disse com um sorriso e os olhos fechados.

— É porque só agora eu deixei de ser idiota.

Depois disso, os dois cobriram-se abraçados e lentamente deixaram que o cansaço os acalmasse. Jean a segurou firme passando a mão pelos cabelos dela desejando que aquela noite nunca terminasse. Um pouco antes de cair no sono pensou na horda de inimigos que deveriam estar se preparando para finalmente dar cabo da vida de sua família. Não permitiria isso de maneira alguma. Enquanto vivesse protegeria Liza e seus filhos. Era uma promessa.

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Jean acordou devagar. A julgar pela claridade do quarto, o sol já estava alto derramando luz dourada sobre Barcelona. Sentou-se na cama esfregando os olhos para que os mesmos se adequassem à luz da manhã e permaneceu parado por longos segundos encarando o fato de que estava sozinho na cama.


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Notas finais do capítulo

Auf Wiedersehen o/L.



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