Fear of Love escrita por Raynara Marinho


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Depois de uma longa temporada sem publicar ou escrever, enfim aqui estou eu.



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Eram quatro da manhã, eu não conseguia dormir. Meus olhos pesavam e fortes pontadas eram sentidas por mim em minha nuca. "Maldita enxaqueca!" Haviam problemas demais e tempo algum para me preocupar com intensas dores de cabeça.
Ao tentar levantar da cama, senti-me como derrotado pelas leis da gravidade; dei-me por vencido quando caí ao chão. A dor se tornava um pouco mais insuportável e constante, no entanto, eu precisava alcançar a cozinha, lá estavam guardados os medicamentos. "Nem ao menos consigo manter-me em pé, quem dirá, alcançar a cozinha!" -Pensei.

–O celular! -Dizia em dor. Ao menos pude o alcançar, já que estava sobre meu criado mudo, o qual servia-me de apoio, em vão.
Não estava muito empolgado por ter de listar os contatos de minha agenda, a claridade do visor afetava meus olhos. Encontrei o número de quem poderia me atender naquele momento, contudo, já era a segunda vez que ligava e nada.

–Vamos Catherine! Atenda. E mais uma vez ouvi a mensagem da caixa postal. Tornei a listar meus contatos quando encontrei seu nome: Sidle. Sara Sidle. Disquei.
Demorou um pouco para que eu fosse atendido. Eu podia notar sua voz embargada em sono, talvez imaginá-la em seus lençóis, sobre uma cama macia, seu corpo encolhido sobre a superfície lisa do colchão, sozinha em seu leito.

–Sidle.
–Sara? Preciso de você.
–Grissom? -Ela parecia surpresa, não esperaria uma outra reação.
–Sim Sara, sou eu.
–E, em que você precisa de mim? Você ainda está no laboratório?
–Não, estou em casa. Preciso que me ajude. Estou numa de minhas crises de enxaqueca e mal enxergo o que está a um palmo de distância sem que force a visão e doa-me mais a nuca. Estou em meu quarto, encostado ao criado mudo. Quando chegar, procure a chave reserva junto a um pequeno vaso de planta que está sob o apoio da porta.
–Grissom... -Ela pareceu hesitar
–Por favor.
–Tudo bem, não demoro.
E assim encerrou-se a ligação.

Alguns minutos se passaram, exatamente vinte minutos. Cada minuto me parecia como um ano que passava vagarosamente, as dores só aumentavam e já não podia manter meus olhos entreabertos. Em um lapso de dor profunda, pensei que desmaiaria.
Ouvi o rodar da chave na fechadura, o mexer na maçaneta da porta da sala, era ela. Meu coração parecia bater descompassadamente, isso sempre acontecia quando estava em sua presença ou a trazia em lembranças. O que eu era? Um pobre fraco e sem forças que não conseguia admitir a si mesmo o tamanho de sentimento tal que nutria por uma subordinada? Um completo fraco.

–Grissom! -Ela pareceu assustada, talvez por eu estar ao chão.
–Sara... -Eu parecia gemer em dor, ainda sem condições de abrir os olhos.
–Fique calmo, eu vou cuidar de você.

[...] Eu vou cuidar de você, a frase ecoava em minha mente enquanto sentia seus braços a me envolver, seu cheiro doce exalar próximo a meu rosto. Percebi seu esforço ao me levantar e colocar-me sobre a cama. Confesso que tudo isso seria um tanto constrangedor, se não estivesse em uma crise insuportável de enxaqueca. Senti-me um completo dependente.

–Onde você guarda seus medicamentos?
–No armário da cozinha, última porta, lado direito.
–Não se mexa, vou tentar achar algum analgésico.
Ouvi seus passos rápidos em direção a cozinha e entre alguns minutos, sua voz ao meu lado.

–Grissom, olhe para mim. -Era uma ordem; com muito esforço consegui enxergá-la. Vestia uma blusa de alças azul celeste, envolta a um casaco acinzentado e mantinha fixa uma expressão de preocupação. Refletia cuidado para comigo. -Tome, isso deve ajudá-lo um pouco, e isso também pode ajudar a aliviar. -Colocou em minha testa um pano molhado por água fria, em seguida, pôs em minha boca um comprido, acompanhado por um gole de água.
Eu ainda a observava e notei que procurava alguma cadeira para se sentar junto a mim.

–Sara, sente-se ao meu lado.
–Vou pegar uma cadeira... -Não deixei que completasse.
–Não precisa. Sente-se aqui, ao meu lado. -Indicava com a mão esquerda o lado da cama para que ela se acomodasse. -Eu preciso de você.
–Grissom...
–Sente-se. -Respondi friamente.

Ao acomodar-se, pôs minha cabeça em seu colo e senti o afago de suas mãos. De imediato, me assustei com seu gesto, não estava acostumado com coisas assim, mas logo senti-me bem aconchegado com o acariciar de seus dedos, mesmo que parecesse não demonstrar sentimento algum, apenas meu jeito racional de sempre.

–Você precisa de alguém, Grissom. Alguém que cuide de você e se preocupe com você. -Ela sabia como me dar reações de espanto, novamente havia sido pego, desta feita pelo que dissera.
–Desculpe ter chamado você, Sara. Não queria atrapalhar.
–Você nunca me atrapalha, Griss. É só que... você merece alguém que cuide de você e o ame.

Essa era uma das poucas vezes que me chamava assim Griss. Seu olhar sobre mim era como esperança, talvez. Esperança de um futuro incerto entre nós. Nós? Não existe um 'nós'. -Entrava em conflito comigo mesmo, mentalmente. Eu estava por viver um dilema. Já dizia Shakespeare: Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar. As delicadas carícias de suas mãos me traziam paz, mesmo em dor; ela era meu porto seguro naquele momento. Sentir seu toque, o carinho de suas mãos... Talvez estivéssemos íntimos demais para um chefe e subordinada.

–E como poderia encontrar esse alguém? -Ousei
–Talvez não precise procurar. Você é um dos melhores peritos em Vegas, saberá a conclusão que cada detalhe o levará a ter.

Nunca soube o que era certo dizer quando estava diante dela, nem mesmo decifrá-la, mas rapidamente compreendi sua mensagem, ainda que dita em códigos. Toda e qualquer razão via-se inexistente em mim. Sem palavras a dizer, palavras que não me comprometessem, mantive-me calado, apenas a encarar seus olhos castanhos e a doce expressão contida em seu rosto. Senti o desejo impulsivo de beijá-la, contive-me. Com o passar do tempo, minha enxaqueca já não era tão forte e logo fui acometido pelo sono, adormeci em seu colo.


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Notas finais do capítulo

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