Nico levantou mais tarde que o habitual, mas não se importava, afinal, era sábado e seu aniversário. Ele saiu de seu quarto e andou até a cozinha, de onde um maravilhoso cheiro de bolo vinha. Sorriu ao ver um bolo caseiro com uma velhinha ali. Mary andou até ele e o abraçou com seus braços gordos.

– Feliz aniversário meu querido! - Ela disse dando um beijo molhado na bochecha dele. - Ah, parece que ontem você era meu pequeno garotinho! Olhe só para isso, agora você está quase um homem!

Nico riu.

– Eu vou ser sempre seu garotinho, Mary. - Ele disse sorrindo. A mulher deu-lhe um beijo na testa e saiu apressada para algum lugar da cozinha, de onde tirou um pacote perfeitamente embrulhado com um papel de presente azul-escuro. Ela voltou pra onde o garoto estava e o entregou.

– Não é muita coisa, mas eu juro que eu comprei com carinho. - Ela disse. Nico sorriu e abriu seu presente.

Era uma camiseta preta com uma caveira no centro. Ele olhou para a mulher, que o olhava com expectativa e sorriu.

– Eu adorei, Mary! - Ele disse tirando sua camiseta e colocando a nova. - Tanto que vou com ela na minha festa de aniversário!

A mulher sorriu, ela gostava de vê-lo feliz. Empurrou-o até mais perto da mesa.

– Vamos, apague a vela e faça seu pedido! - Ela disse. Nico fechou os olhos, como ele fazia todos os anos quando estava apenas com Mary, fez seu pedido, assoprou bem forte e a vela se apagou. Ele, então, pegou uma faca e cortou o bolo, entregando um pedaço a Mary e servindo a si mesmo, se sentou.

– Onde está Thalia? - Perguntou depois de um tempo. Mary sorriu.

– Sua amiga Silena passou aqui mais cedo e disse que iria "roubá-la" até a hora da festa. - Mary disse. Nico riu, já imaginava que Silena iria fazer algo assim, principalmente com Thalia sendo melhor amiga de sua irmã.

– Por falar nisso, vou me arrumar. - Nico disse. - Se eu chego atrasado mais um ano seguido Clarisse me mata com as próprias mãos.

~^~

Thalia já estava há horas naquele quarto com Silena, Piper, Annabeth e Clarisse. As duas primeiras não paravam de andar para lá e para cá com escovas de cabelo, maquiagens e roupas, enquanto Thalia, Annabeth e Clarisse reviravam os olhos. A mãe de Silena e Piper tinha contratado uma equipe de beleza apenas para a ocasião, e a equipe (que consistia em um homem "afeminado" e três mulheres) ficavam dando voltas e falando coisas como "O cabelo dela ficaria melhor de tal jeito" ou "Já sei uma sombra que combina perfeitamente com esses sapatos!".

Ela já não aguentava mais alguém mexendo em seu cabelo. Não entendia o porquê de tudo aquilo, parecia que estavam indo para um casamento, não para uma festa de aniversário. Piper não parava de repetir que Thalia tinha que ficar bonita porque era namorada do aniversariante. A morena queria gritar que não era namorada de Nico, pelo menos não de verdade, mas não podia, então apenas revirara os olhos e suspirava.

A única coisa boa era que Clarisse tinha o humor muito semelhante ao de Thalia, e as duas já estavam a ponto de explodir. Depois de um grande tempo dentro do banheiro sendo "embelezada", Annabeth saiu de lá e Thalia tinha certeza de que nunca vira sua amiga mais linda.

Usava um vestido com lantejoulas azuis escuras que ficavam pretas conforme ela se mexia e um salto alto azul escuro também. Seus cabelos caiam em cachos perfeitos pelas costas e sua maquiagem estava leve, mas o suficiente para realçar seus olhos cinzas.

Piper, que já estava totalmente pronta, deu um gritinho quando viu a loira.

– Ai meus deuses, você está tão linda! - A morena gritou, pulando de emoção. - Gente, está parecendo uma daquelas modelos.

– Não exagera, Pips! - Annabeth disse corando. Silena, que também estava pronta, andou até Annabeth.

– Você está linda sim. - Disse numa voz doce. - Extremamente linda.

Annabeth sorriu tímida. Thalia ria internamente de sua amiga, que sempre preferiu não chamar muita atenção. Uma das mulheres saiu do banheiro e chamou Thalia, que tentou se recusar a ir, mas ela não podia fazer quase nada já que seu cabelo estava empastelado de um creme com cheiro de morango. Ela se sentou em uma cadeira e deixou que mexessem em suas unhas, cabelos e rosto.

~^~

Nico chegara a festa já fazia meia hora. Estava incrível, os garotos tinham arrumado o espaço para que pudesse ter um karaokê, uma pista de dança e uma espécie estranha de bar. As luzes, coloridas como sempre, piscavam no ritmo da música, o que ele achou bem legal.

Estava em um canto, tentando acalmar Chris, que estava preocupado com a possibilidade de sua namorada ter sido presa de novo. Percy também parecia uma pilha de nervos, os únicos relaxados ali eram ele, Charles e os garotos que não tinham namorada (ou aqueles cuja namorada já havia chegado).

E, quando ia falar pela milésima vez que se Clarisse tivesse sido presa ela, com certeza, ligaria, as palavras fugiram de sua boca e sua atenção inteira fora voltada para a garota que entrava no galpão.

Pele pálida, cabelos negros, olhos azuis. Tudo isso já lhe era familiar. Mas não aquele vestido preto que ela estava usando, contrastando com sua pele, nem os cabelos arrumados num coque detalhado, muito menos na maquiagem perfeita que só deixava seus olhos mais bonitos.

Thalia Grace parecia um anjo daquela maneira, pelo menos na visão de Nico.

Ele não percebeu que quase todos seus amigos tinham saído dali, nem que ela entrou acompanhada de mais quatro garotas, muito menos que a música mudara para uma mais lenta.

Thalia rolou os olhos rapidamente pelo galpão procurando-o, e deu um pequeno sorriso quando achou. Nico deve ter devolvido o sorriso, mas não tem certeza disso. Ele acompanhou cada passo dela com os olhos. Viu quando ela cumprimentou alguns amigos, quando ela tropeçou por causa de seu salto alto e quando ela tentou disfarçar o tropeção.

Quando ela chegou até onde ele estava, se inclinou levemente para lhe dar um selinho, mas, sem pensar no que estava fazendo, Nico a puxou para perto e aprofundou o beijo. Se separaram quando o ar faltou e Thalia abriu um grande sorriso.

– Feliz aniversário. - Disse ofegante. Nico riu.

– Obrigado. - Respondeu sorrindo.

Antes que algum deles pudesse dizer algo, Clarisse apareceu. E, surpreendentemente (pelo menos para Thalia), ela o abraçou. Não um abraço obrigatório, como as pessoas geralmente dão, mas sim um abraço carinhoso, como o de uma irmã.

– Feliz aniversário, Nico. - Disse, ainda abraçada a ele. Nico, que retribuía o abraço, sorriu. Ela se separou dele, deixando que Silena, Annabeth e Piper também lhes dessem os parabéns.

E, então, as luzes se apagaram. Um bolo gigante foi levado de carrinho até o entro do palco improvisado. Ele tinha dezesseis velas, uma para cada ano de Nico, que brilhavam fortemente. Todos começaram a cantar o clichê "parabéns para você", enquanto Nico sorria. Quando acabaram, as luzes foram acesas e Nico assoprou todas as dezesseis velas (o que deu um pouco de trabalho).

– Para quem você vai dar o primeiro pedaço, Nico? - Connor perguntou. Nico cortou o primeiro pedaço e fez uma coisa que ninguém esperava: dividiu ele em três partes. Entregou uma parte para Percy, uma para Clarisse e a outra para Thalia. Todos fizeram uma algazarra na hora de comer o bolo, gritando, se empurrando e rindo. Nico deixou com Piper a tarefa de repartir o bolo, enquanto ele estava num canto comendo seu pedaço quieto junto de Clarisse e Thalia.

– Está na hora dos presentes! - Silena gritou. Alguém desligou a música e todos eles se sentaram em uma grande rodinha na pista de dança. Charles e Chris apareceram trazendo dois grandes carrinhos de supermercado entupidos de presentes.

Nico se levantou e pegou o primeiro que viu, um envelope preto e dourado. Annabeth levantou a mão.

– Esse é o meu. - Ela disse. Nico abriu ele, com cuidado para não rasgar, e Thalia quase riu de como os olhos dele brilharam quando viram o que tinha dentro. No dia anterior ela tinha falado com a amiga, que dissera a ela que tinha conseguido um vale de duzentos reais na livraria e iria dá-lo a Nico.

– Obrigado, loira! - Ele disse sorrindo. Annabeth riu e disse que não tinha sido nada.

Nico continuou abrindo presentes, que eram geralmente roupas, livros e coisas relacionadas à música (CD's, fones de ouvido, pôsteres, chaveiros, pingentes, bottoms e mais algumas coisas). Por fim, faltavam apenas os presentes de Thalia, Clarisse e Percy.

Nico pegou a caixa que restava.

– Esse é o meu. - Thalia disse sorrindo. Nico olhou para ela sorrindo e se sentou no chão para que pudesse abrir. Seus lábios se retorceram em um grande sorriso quando viu a guitarra vermelha e branca novinha. Ele olhou para Thalia como uma criancinha quando ganha o brinquedo que queria.

– Isso é sério? - Perguntou. Thalia riu e deu de ombros. Nico examinou um pouco mais a guitarra, antes de colocá-la com todo o cuidado no chão e andar até a Thalia, abraçando-a agradecido.

– Acho que depois disso você não vai querer ver o nosso, não é? - Clarisse perguntou comum sorriso de canto. Nico se separou de Thalia, dando-lhe um beijo na bochecha e sussurrando um "obrigado" em seu ouvido, e olhou para sua amiga.

– O que você quer dizer com isso? - Ele perguntou com um grande sorriso. - Oras, seus presentes sempre são os melhores, não são? Superem Thalia!

Clarisse e Percy se entreolharam com um grande sorriso. O garoto tirou uma pequena caixinha de dentro do bolso e entregou-a a Nico.

– Finalmente saiu do armário e está pedindo Nico em casamento? - Alguém gritou. Thalia não pôde deixar de rir, assim como os outros (inclusive Nico e Percy). Nico tirou o laço vermelho da caixinha e a abriu, tirando de lá de dentro uma chave. Ele demorou alguns segundos para entender o que aquilo significava.

– Vamos para a garagem. - Clarisse disse fazendo um aceno. - Seu carro está te esperando.

Se, quando ganhou a guitarra, todos pensaram que o sorriso de Nico não poderia ser maior, estavam enganados. Seu sorriso quase rasgava suas bochechas depois da frase de Clarisse. Eles foram todos até a garagem, onde um lindo 4x4 preto estava.

Nico abraçou Clarisse primeiramente, depois Percy, então abriu seu carro e entrou nele. Passou bastante tempo ali, mexendo em tudo o que era possível e soltando exclamações de entusiasmo.

– Acho que você acabou de perder seu namorado para um carro. - Annabeth brincou. Thalia riu.

Realmente, ela sabia que ele planejava comprar um carro. Essa foi uma das razões para ele aceitar dividir as despesas do apartamento com ela, poderia economizar mais ainda. Mas Thalia sabia que mesmo que ele economizasse até o final do ano, não daria para comprar um carro realmente bom.

– Acho que conseguimos superar a Thalia. - Percy disse com um sorriso de canto. Clarisse andou até Thalia com um grande sorriso.

– Tente de novo no ano que vem! - Disse ameaçadoramente. Thalia fez uma certa e disse que certamente iria ganhar dela, logo depois as duas riram.

E, naquela hora, Nico não poderia estar mais feliz. Era legal ver Clarisse e Thalia se dando bem, e era legal ter ganho uma guitarra e um carro.

~^~

Annabeth estava encostada em uma parede. Thalia tinha ido junto com Nico e Clarisse para "testar" o carro novo do garoto, Piper estava conversando com algumas amigas da irmã e ela estava sozinha. Só tinha ido naquela festa por causa do bilhete que Percy havia mandado por Thalia.

"Me encontre no vestiário."

Se ela achou estranho? É claro que achou. Mas ela foi, e se sentiu uma completa idiota quando Percy não estava lá. Pensou, primeiramente, que poderia ser uma brincadeira de Thalia, mas a amiga estava preocupada demais com o aniversário de Nico.

Mas então, ela viu uma caixa em um dos bancos. Não tinha nada nela além de um pequeno bilhete. Ela andou até ali e abriu o bilhete.

"Quero que use isso na festa de Nico, no sábado."

E estava ali o vestido que a garota tinha no corpo naquela hora. Talvez por isso ela tenha deixado que mexessem em seu cabelo, porque queria impressionar Percy. E, segundo Silena, tinha dado certo, mas a loira não estava convencida disso, considerando que até aquela hora o garoto não havia falado com ela.

Talvez ele tenha decidido que ela não era tão impressionante assim como ele achava.

Ela olhou para ele, que estava sentado conversando com um garoto cujo nome Annabeth não se importava. Ela se sentia incrivelmente idiota ali, já que ele nem ao menos olhara para ela. Suspirou e começou a andar para fora do galpão, resolveu que iria embora.

Quando saiu um ar frio a atingiu. Graças aos deuses, ela viera preparada, e tinha um casaco preto dentro de sua bolsa. Colocou-o e começou a andar, estremecendo um pouco. Já estava escuro e aquele beco não parecia um lugar muito seguro para uma garota andar.

Sentiu uma mão em um dos seus ombros e se virou bruscamente. Percy estava ali, parado. Se encararam durante alguns segundos, procurando algo para falar. Não se falavam pessoalmente desde o dia que ele a entregou o diário.

– Já está indo embora? - Ele perguntou um pouco sem graça. Annabeth desviou seus olhos do dele e sorriu tímida.

– É, não é muito legal ficar sozinha. - Respondeu.

– Você está sem carro? - Ele perguntou. Annabeth deu de ombros.

– Eu vim de carona com Silena. - Ela disse. Percy molhou os lábios, parecendo pensar.

– Quer uma carona? - Perguntou. - Eu planejava ir para casa mesmo.

Annabeth piscou, enquanto pensava um pouco. Resolveu que era a melhor escolha dela, então olhou novamente para Percy e concordou.

– Não vai te atrapalhar? - Perguntou. Percy fez um sinal com a mão como se dissesse "nem um pouco", então andou até o lado dela e passou um de seus braços por seus ombros, guiando ela até o carro. Annabeth sentiu um choque correr por todo o seu corpo.

Ele abriu a porta para que ela entrasse, então deu a volta e sentou-se no banco do motorista. Enquanto saia do "estacionamento" do galpão, se virou para Annabeth.

– Pode escolher a música, se quiser. - Disse, abrindo o porta-luvas e mostrando uma grande coleção de CD's. - Eu tenho de tudo aí.

Annabeth passou alguns CD's até achar um de alguém que ela conhecia. Percy o colocou no rádio e a música começou a tocar em um volume agradável.

– Onde é sua casa? - Ele perguntou. A loira explicou detalhadamente para ele. Passaram vários minutos em silêncio, até que Percy se pronunciou novamente: - Você ficou maravilhosa nesse vestido.

Ela corou, tem certeza disso. Demorou alguns segundos para conseguir respondê-lo.

– Obrigada. - Disse, ainda sem graça.

– Confesso que quando o vi na vitrine me lembrei de você. - Ele disse, também corado. - Você gostou dele?

– É muito bonito. - Ela respondeu. - E você acertou meu número.

– Ah, isso? - Perguntou, dando uma risadinha. - Eu não acertei, mandei uma mensagem para Silena, para que ela perguntasse a sua irmã qual era seu tamanho.

Annabeth riu, e Percy gostou disso. Ele parou na frente da casa dela.

– Chegamos. - Percy disse olhando para ela.

– Obrigada pela carona. - Ela falou saindo do carro. Já estava na entrada quando deu meia volta e se abaixou para que pudesse ver Percy.

– Você quer entrar? - Ela perguntou. Percy olhou para ela.

– Seus pais não vão se incomodar? - Ele perguntou.

– Eu moro com a minha mãe e ela não está em casa. - Annabeth disse. Percy desligou o carro e saiu dele.

~^~

Thalia havia recebido uma mensagem de Annabeth falando que tinha ido embora. Estava preocupada, já que a amiga não estava com carro, mas ela foi acalmada por Piper, que disse que viu a loira entrando no carro de Percy.

– Quer que eu ligue para Percy, para perguntar se ele está com Annabeth? - Nico perguntou. Thalia negou.

– Não precisa. - Disse. - Se você confia nele, eu também confio.

Nico sorriu para ela.

– Está tarde, vamos embora? - Ele perguntou. Thalia assentiu.

Se despediram de quem ainda estava na festa e foram para fora. Estava um vento frio e Thalia tremeu um pouco. Nico tirou sua jaqueta (que tinha sido um de seus presentes de aniversário), e colocou-a em Thalia.

Depois de terem colocado todos os presentes de Nico no porta-malas do carro, entraram nele. O garoto até mesmo deixou que Clarisse pegasse sua moto emprestada, coisa que nunca tinha acontecido antes.

Quando chegaram em casa, tinha um grande embrulho na sala. Mary explicou que era do pai de Nico. O garoto torceu o nariz, mas abriu o presente. Era um computador novo. Nico sorriu.

– Amanhã vou colocá-lo no seu quarto, Lia. - Ele disse. - Eu e Mry já temos o nosso, então você merece o seu.

– Mas foi um presente do seu pai, Nico! - Thalia protestou. Nico deu de ombros.

– E eu estou dando ele para você. - O garoto disse. Thalia viu que ele não iria desistir e disse um "tudo bem, obrigada, Nico!", depois foi para seu quarto, estava realmente cansada.

~^~

Thalia acordou ofegante. Tinha tido um pesadelo com Luke que não fora nada legal. Ela encarou o teto por um tempo, até decidir que precisava sair daquele quarto. Se levantou e andou até a sala, abrindo a varanda. Provavelmente era louca por abrir o apartamento uma hora daquelas, mas ela precisava de ar. Sentiu a brisa gelada da madrugada e estremeceu. Se sentou no muro de proteção, tentando ignorar seu medo de altura, e olhou para a cidade que estava na sua frente. As luzes piscando ao longe, carros passando, tudo estava tão lindo. Ela se sentia como a dona do mundo ali, mas não a dona de si mesma. Estava tão confusa.

– Sem sono? - Ouviu uma voz atrás de si que a fez tomar um susto. Ela se agarrou ao muro e se virou para a pessoa que falara. Nico estava ali, usando uma calça de moletom xadrez e uma blusa de mangas compridas cinza, ficava tão lindo assim.

– Eu tive uma espécie de pesadelo. - Ela disse. Não era exatamente uma mentira. Nico sorriu para ela.

– Quer compartilhar? - Ele perguntou, se encostando no muro. - Dizem que quando as pessoas compartilham seus medos fica mais fácil de lidar com eles.

– Não, é uma coisa um pouco pessoal. - Ela sorriu triste. Nico sorriu de volta para ela.

Um vento frio passou por eles e Thalia estremeceu novamente. Nico percebeu isso e encostou sua mão nela.

– Você está gelada. - Concluiu. Sem esperar uma resposta da garota, ele a puxou para o chão e tirou sua blusa de mangas, colocando-a em Thalia. Estava quentinha. Thalia levantou a cabeça quando Nico puxou seus cabelos para fora da blusa e percebeu que o garoto usava apenas a calça agora. Perdeu o fôlego, ele tinha os músculos definidos, mas não muito, o suficiente para impressioná-la. Ela pensou em se repreender, mas aquilo era normal, certo? Ela era uma garota, ele era um garoto, era normal que ela se sentisse atraída.

Saiu de seus devaneios ao perceber que ele a olhava com um sorriso divertido.

– Tire esse sorriso do rosto, di Ângelo. - Ela disse corando. Nico riu e a puxou para perto, abraçando-a e surpreendendo-a. Thalia não estava acostumada com tanto contato, mas decidiu que não era exatamente ruim, então retribuiu o abraço, passando suas mãos em volta do corpo do garoto e enterrando sua cabeça em seu pescoço.

– Você quer dormir comigo, hoje? - Ele sussurrou para ela, enquanto acariciava sua cabeça. - Para que o pesadelo vá embora?

O coração de Thalia bateu mais rápido com aquela demonstração de carinho e, por mais que tudo racional dentro de si falasse para ela recusar e sair logo daquele abraço, Thalia tinha certeza que não conseguiria dormir sem Nico por perto, afinal, ele era o único que a fazia sentir-se protegida contra Luke, então ela balançou a cabeça concordando.

O garoto a pegou no colo e a levou até o quarto dele. Estranhamente, Thalia nunca tinha entrado lá, mas era tão bonito, e realmente, se dissessem para descrever aquele quarto em uma palavra ela diria "Nico".

Nico a deitou na cama e se deitou ao seu lado, puxando-a para perto e fazendo carinho em sua cabeça. Thalia fechou os olhos.

– Nico. - Chamou. Nico respondeu algo como "hum", enquanto olhava carinhosamente para ela. Thalia abriu os olhos e o encarou. - Canta aquela música que você cantou naquele dia, no Galpão?

Nico sorriu para ela e lhe deu um beijo na testa.

– Você pode descansar essa noite - Começou a cantar. Thalia sorriu e fechou os olhos novamente, se aninhando ainda mais ao garoto. - Tudo vai ficar bem, eu prometo. - Ele deu mais um beijo na testa dela antes de prosseguir: - Vá dormir e sonhe comigo esta noite; Talvez tudo não seja perfeito, mas nós tentamos.

Ao terminar a primeira estrofe, Thalia já estava dormindo. Ele olhou para ela, parecia tão indefesa e delicada assim, mas ela nunca poderia saber que algum dia ele pensou isso dela.