Fireworks Into Your Heart escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 1
All I want for the new year is you


Notas iniciais do capítulo

Olá, você!
Essa oneshot ficou um tanto melosa, mas eu me diverti escrevendo ela e fugindo um pouco dos padrões das paradas que eu geralmente escrevo.
O Renan e o Marcelo são puramente fictícios (na verdade, espero que existam por aí); a família deles foi levemente inspirada na minha (Roberto Carlos toca sem parar, minha gente).

Espero que se divirta lendo! c:



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Renan suspirou pela enésima vez naquele dia. Não conseguia evitar: estava terminantemente entediado.

Com todas as forças, ele queria que aquilo acabasse logo e que pudesse voltar para a sala, esparramar-se nos puffs coloridos e jogar Call Of Duty até apagar. Mas, do jeito que o tempo estava se arrastando, parecia que o maldito 2014 não queria ir embora.

Ele detestava aquilo. Detestava a época de final de ano. Detestava a falsa e interesseira solidariedade que surgia, detestava as promessas de mudança e a felicidade compulsiva que se instalava. Detestava ser arrastado para a última missa do ano com a família. Detestava o calor sufocante e os insetos que vinham de brinde. Detestava a coleção de discos do Roberto Carlos tocando a noite toda. Detestava as piadinhas clichês dos tios, os primos mais novos e a decoração exagerada que sua prima Karina insistia em fazer no sítio de seus avós.

O arsenal de ventiladores que o avô montara na área de churrasco não surtia o efeito esperado, bem como o repelente de insetos que Renan se certificara de passar pelo corpo ao menos quatro vezes antes de sair de casa com os pais. A sala de estar prometia mais confortabilidade, com seu ar-condicionado e a ausência do falatório dos familiares. No meio daquela reunião familiar, Renan considerava apenas seu smartphone como companhia.

– Vó, o caseiro pediu pra avisar que a tia Regina chegou – Karina informou, aparecendo nas portas de vidro que davam na sala.

Renan sobressaltou-se. Tia Regina vinha acompanhada de Marcelo, a última pessoa que ele gostaria de ver no momento.

Mas é claro que o carma não iria desperdiçar a chance de descontar algumas dívidas.

– Vai lá ver seu primo – dona Giuliana, a mãe de Renan, apoiou uma mão em seu ombro.

Ele bem que tentou fazê-la desistir da ideia com uma batalha de olhares, mas as sobrancelhas franzidas de dona Giuliana convenceriam até o diabo.

– Ah – Renan bufou, abandonando seu lugar à mesa. – Tá bom.

Na verdade, não estava nada bom coisíssima nenhuma. Por mais que sua vontade fosse correr até o primo e dar-lhe um bom gancho de esquerda bem no queixo, ele não suportava a ideia de cumprimentá-lo na frente de todos como se nada tivesse acontecido. Por isso mesmo, ao invés de ir até a varanda da frente, sorrir e se oferecer para ajudar a carregar alguma coisa, ele correu, discretamente, para o pequeno bosque do outro lado da casa.

Tropeçando nas raízes mais protuberantes, Renan conseguiu chegar à clareira fracamente iluminada pelos postes de luz distantes. Acomodou-se num dos bancos duros, diretamente de frente para a pequena fonte no centro da clareira. Alguns insetos, grilos, ele pensava, cantavam no meio da grama do bosque, e ainda era melhor do que ouvir sua madrinha arranhando a garganta e os ouvidos alheios com "Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo".

O relógio digital de seu smartphone marcava 40 minutos para a meia-noite. Muito tempo.

– Cara, por que você simplesmente não vai embora logo? Já deu o que tinha de dar – ele bufou.

Um inseto pousou na tela do smartphone.

– Que droga, nem aqui vocês dão sossego – Renan levantou-se, desferindo tapas no ar e rodopiando. Não havia assim tantos insetos na clareira, mas havia o bastante para deixá-lo alarmado.

De repente, a palma de sua mão direita encontrou carne e seu pulso foi preso após o estalo do impacto.

– Olha, eu pensei que você estivesse bravo comigo, já que não respondeu minhas 356 mensagens – Marcelo quase sussurrava na semi-escuridão da clareira. – Mas não imaginei que estivesse tão bravo a ponto de me bater descaradamente.

A voz de Renan morreu no fundo de sua garganta e seu coração disparou. O silêncio fez-se ouvir por um instante, então ele livrou seu pulso e deu outro tapa no primo.

– Puta que pariu, precisa mesmo me matar de susto, filhote de cruz credo?!

Os grilos voltaram a cantar baixinho no bosque. Renan voltou para o banco, passando a mão pelos cabelos e dando atenção ao smartphone. Não tinha reparado em Marcelo direito, apenas que era ele. Esperava que com isso fosse deixado sozinho com os mosquitos chatos e o chafariz novamente.

Porém, Marcelo era persistente.

– Oi, pra você também – o primo sentou-se ao seu lado, suspirando pesadamente enquanto pousava uma caixa de papelão no chão. – Tá mesmo tão chateado comigo?

O som do teclado digital sob os dedos de Renan ocupou o espaço de sua resposta.

– Renan, você tem quinze anos nas costas, para de criancice – Marcelo tomou-lhe o aparelho, enfiando-o no bolso da camisa social azul-cobalto.

– E você tem vinte, não deveria agir mais como um adulto? – Renan virou-se para ele, cruzando os braços contra o peito e assumindo o olhar indignado que parecia tão sensual ao primo. – Ou os adultos costumam dizer que amam alguém e depois correr pra festa de algum amigo idiota e postar fotos agarrados com uma qualquer aí? Costumam? Ah, desculpe, eu não sabia – ele desviou o rosto para o lado oposto.

Uma semana atrás, na ceia de Natal, Marcelo e ele tinham trocado algumas juras de amor, nada mais. No entanto, para Renan pareceu extremamente mágico e romântico. Ele passara a semana inteira pensando em como os olhos castanhos, levemente esverdeados, do mais velho tinham o olhado com um carinho maior do que o de costume. Depois disso lembrava-se de que Marcelo abandonara a casa de tia Marlene logo após a ceia. Imperdoável.

– Você só estava um pouco bêbado no Natal, não é? – Renan sorriu amargamente. – Por isso você disse tudo aquilo e depois foi embora.

– Você não me deixou explicar...

– Explicar que era brincadeira? Poxa, eu esperava isso de qualquer babaca da escola, menos do meu próprio primo! – Renan soluçou. – Faz uns dois ou mais anos que tudo o que eu desejo no Natal é exatamente isso. Aí, quando o bobão aqui pensa que o desejo mais besta se tornou realidade, você caga em tudo.

– Exatamente isso o quê? – Marcelo aproximou-se mais, ignorando a parte em que ele supostamente cagava em tudo.

– Você, sua anta.

Marcelo puxou o queixo do primo para si, de modo que se encarassem abertamente. Renan tinha os olhos castanhos marejados e os lábios comprimidos. Estava tão frágil e vulnerável... Ele só queria aninhá-lo num abraço apertado e enchê-lo de mais palavras doces, mas sentia a necessidade de ouvir a confissão mais uma vez.

– Eu? – Fez-se de desentendido.

– Tudo o que eu sempre desejo no Natal é você, Marcelo. E na Páscoa, no meu aniversário, no Dia das Crianças e no Ano Novo... Sempre é você!

– Você já é meio grandinho pra receber presente de Dia das Crianças, né? – O mais velho riu, recebendo um soco no ombro. – E não acho que se deseje algo além de paz e chocolates na Páscoa.

­– Idiota. Você entendeu.

– E você entendeu errado – Marcelo agora segurava-lhe o rosto entre as mãos, afagando-o gentilmente com os polegares. – Eu já tinha prometido ao Carlos que iria naquela festa, afinal, ele faz aniversário bem no Natal e eu nunca apareço nas festas dele. E aquela qualquer é a irmã mais velha dele, que por acaso é casada com outra mulher. Entendeu agora?

Renan arregalou os olhos, incrédulo.

– Você transformou tudo numa trama de novela das nove – o primo riu, enxugando as ralas lágrimas que manchavam seu rosto. – Muito lerdo mesmo.

– Ah, sei. Acha que eu vou acreditar e me derreter todo só por causa do seu cabelinho loiro, ou porque você está usando aquela colônia hipnotizante ou porque...

Marcelo o calou com um beijo súbito e longo. Encontrar a boca de Renan aberta no meio do discurso só facilitava as coisas. Lábios foram movendo-se desajeitados e hesitantes, encaixando-se com aquela delicadeza com a qual se fazia tudo na primeira vez. Quando o mais novo estava pegando o jeito, o ar da clareira voltou a ficar entre eles.

– Acredita agora?

– Com quem você andou aprendendo isso? – Renan questionou, ofegante.

– Com a vida – Marcelo gargalhou, jogando a cabeça para trás.

O momento lhe soava delicioso, tinha esperado uma semana inteira para resolver o mal-entendido e finalmente beber dos sentimentos do primo.

Acalmando-se, ele escorregou as mãos pelo rosto de Renan, dedilhando suavemente os traços delgados e angulares. Os cachos castanho-escuros tinham sido cortados um pouco mais desde o Natal, e estavam jogados para todos os lados - se bem lhes conhecia o dono, não deveriam ter sido penteados para a ceia. Acariciou os lábios avermelhados do beijo com o polegar, desejando consumi-los com voracidade. Mas não podia.

O silêncio voltou, mais confortável do que nunca. Renan deitou a cabeça sobre o ombro do primo, fitando o chafariz desligado. Enquanto Marcelo enrolava os dedos compridos no meio de seus cachos, pouca coisa parecia lhe importar. Os insetos, o calor, as piadinhas chatas dos tios, Roberto Carlos repetindo sem parar no toca-discos... Nada importava além de respirar e sentir o corpo de Marcelo em contato com o seu.

– Falta só dez minutos – foi informado. – Quer voltar? Acho que vão procurar por nós.

– Dois mil e quinze vai ser louco.

– Acho que isso foi um não – Marcelo riu. – Vai sim.

Ele abaixou-se para apanhar a caixa que trouxera.

– Olha – fisgou um palitinho que mal dava para ver na fraca iluminação e mostrou-o a Renan. – Eu comprei hoje de manhã naquela loja que você gosta. Faz tempo que não usamos isso, não é?

– Pequenos fogos de artifício – Renan sorriu, pegando o palitinho. – Marcelo, acho que isso é de pôr em bolo. A Carol sempre põe nos bolos queimados que ela tenta consertar com chantilly. E não era bem isso que a gente usava não.

– Ai, para de quebrar o clima – Marcelo o atingiu com uma ombreada. Do bolso do jeans, sacou um isqueiro, puxando a mão de Renan que segurava o palitinho. – Vamos usar isso mesmo, e se reclamar faço você acender sozinho todos os quarenta.

A chama do isqueiro lambeu a ponta coberta de pólvora do palitinho e faíscas alaranjadas começaram a saltar para os lados. A luz efêmera inundou os olhos escuros de Renan, tornando-os mais vivos ainda. Uma sombra tênue delineou suas feições, mas não atingiu o sorriso ingênuo que lhe erguia os cantos da boca.

Marcelo não aguentou mais.

A caixa com os pequenos fogos de artifício escorregou de volta para o chão quando ele avançou com tudo para Renan. Suas mãos encaixaram-se ligeiras no maxilar do primo, surpreendendo-o.

– Marcelo, Marcelo! – O menor quase engasgara com a sofreguidão do ósculo. – Quer se queimar?

O palitinho foi brandido no ar por dois segundos, depois Marcelo lançou-o à fonte.

– Talvez – um sorriso de canto abriu em seu rosto.

– Vai com mais calma e para de quebrar o clima – Renan retrucou, enlaçando seu pescoço.

– Frescurento – Marcelo inclinou a cabeça, roçando a ponta do nariz na base de seu pescoço cheio de pintinhas.

Fazia cócegas, mas Renan não se retraiu. As mãos grandes e quentes do mais velho passeavam por seus braços magricelas de adolescente que gastava tantas horas quanto fosse possível na frente do Xbox. Já as suas esparramavam-se pelos fios dourados e alheios, escorregavam pela nuca sob o colarinho alto da camisa e apertavam os ombros largos.

Ele arquejou com um gemido abafado contra a curva do pescoço de Marcelo, quando o seu próprio recebeu um chupão próximo ao pomo de Adão. Porém, antes que ele terminasse de saborear o ato, o outro já estava no lóbulo de sua orelha, distribuindo pequenas mordidas pela extensão da cartilagem.

– Como se sente? – Marcelo sussurrou deleitosamente em seu ouvido.

– Quente – Renan suspirou, sentindo comichões nas paredes do estômago. – Parece que estão fazendo uma queima de fogos dentro de mim.

Marcelo deu uma mordida mais forte em seu lábio inferior.

– Dois minutos para o fim de dois mil e quatorze – Marcelo afastou-se, balançando o relógio de pulso. – Vamos acender algumas velinhas de bolo.
Entre risadas e olhares provocativos, eles acenderam palitos de pólvora maiores, espetando-os aleatoriamente perto da fonte.

– Fala que você trouxe um balde com água. Sabe que isso se apaga num balde com água, certo? – Renan observou o primo acender os dois últimos palitos serem acesos.

Nas propriedades próximas, a queima de fogos já tinha se iniciado.

– A gente joga no chafariz, chatice.

Renan revirou os olhos, sendo agarrado pela cintura pelo mais velho. Marcelo era dez centímetros mais alto, então tinha de se inclinar sobre seu ombro para tentar ficar na sua altura. Assim os fios loiros enroscavam-se nos cachos castanhos e lânguidos, e sua barba rala fazia cócegas.

– Suas últimas palavras do ano? Talvez um desejo? – Ele sugeriu, rindo.

– Vamos ver – Renan virou-se no abraço, espalmando os ombros da camisa social. – Que nesse novo ano meus professores sejam mais legais, que o time de futebol da escola ganhe pelo menos uma partida, que eu zere todos os jogos da lista e que o mundo não acabe. Acho que vou dar uma de miss simpatia e pedir a paz mundial também.

Marcelo gargalhou, fazendo o ribombar de suas cordas vocais contagiar o corpo do mais novo. Renan adorava seus dentes - só um pouco tortinhos depois dos caninos na fileira superior -, a sombra de covinhas sob a barba loira e como sua voz ia morrendo no final da gargalhada com um suspiro satisfeito.

– E você? Vai pedir o quê?

– Tudo o que eu quero pra dois mil e quinze é você.

– Ah, que amor...

– Bem, era isso que eu pediria – Marcelo ergueu os ombros.

– Quer apanhar? – Renan franziu o cenho.

– Mas eu já tenho você – o abraço ficou mais apertado. – Então só vou pedir: dois mil e quinze, por favor, seja bom!

O som dos fogos de artifício explodindo nas propriedades próximas indicava que já era meia-noite e, consequentemente, 2015. Uma espiral dourada subiu no céu além do bosque, talvez alguns metros depois da piscina do sítio.

– Feliz Ano Novo, Renan – Marcelo colou suas frontes levemente suadas. – Eu te amo.

– Feliz Ano Novo, Marcelo – a voz de Renan era um murmúrio sob os estouros no céu renovado de janeiro. – Eu também te amo.

Enquanto seus lábios eram tomados com gentileza, ele se perguntou se as faíscas dos palitinhos fincados no chão da clareira não colocariam fogo na grama. Mas seus pensamentos foram completamente varridos pelo calor devastador que Marcelo emanava sobre seu corpo. Renan imaginava que, naquele momento, seu coração deveria estar explodindo em cores tão vivas quanto as que se contrastavam com o véu noturno.

– Ok, acho que agora eles vão mesmo procurar pela gente – Marcelo findou o beijo, entrelaçando os dedos nos seus.

– Vamos lá brindar – Renan jogou um punho para cima, comemorando.

No caminho de volta para a área de churrasco, o coro da família cantando "Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo" surgiu baixinho.

– Viu só, começaram sem nós – ele riu, correndo na frente de Marcelo para se juntar aos outros.

O sorriso largo em seu rosto não mostrava nenhum vestígio do Renan entediado que detestava a época de fim de ano e o barulho ensurdecedor dos fogos de artifício. Pelo contrário, ele mal podia esperar pelo próximo fim de ano.

O céu estava multicolorido quando seu pai passou um braço por seus ombros e mãe lhe entregou uma taça de champanhe - em ocasiões assim, lhe era permitida uma única taça que fosse. Ele se juntou ao coro, sorrindo para Marcelo do outro lado da mesa com tia Regina e tio Heraldo.

Enfim era 2015.

Por favor, que seja incrível!


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Notas finais do capítulo

Hels, obrigada de novo por ter limpado a sujeira que fiz aqui. u.u

Eu tentei deixar fofinho apesar de tudo. c:

P.S.: Por favor, procure "filhote de cruz credo" no Google Imagens para mais divertimento.

Obrigada por ter lido! :3