A noite cai, e por incrível que pareça não matamos nada até agora. Daryl continua no teto, ele não saiu de lá. Ainda não sei como começar uma conversa com ele, mas de algum lugar tem que surgir. Eu meio que estendi as lonas nessa área aberta, espero que hoje ele durma.

— Eu nunca de te vi dormir Daryl — digo —é uma fraqueza minha?

— Talvez sim — ele diz me encarando

Eu sorrio e vou na direção dele, me sentando do seu lado de novo.

— Como vai ser quando encontramos o seu grupo? — pergunto olhando para frente, como ele.

— Vou explicar tudo que aconteceu, e eles vão te aceitar — ele responde

— Você acha? — pergunto — algo me diz que sou bem irritante

— Você é — ele responde me olhando

Empurro ele com o ombro e me foco na estrada de novo

— É sério Daryl — digo — eu preciso saber

— Se encontrarmos, vamos saber — ele responde

— Tá bom mas, — digo — você precisa dormir, está tudo bem calmo não vai acontecer nada

— Falar é fácil, você não tem ideia de como é — ele diz

— Que eu me lembre eu passei 3 meses sozinha na floresta, não no conforto de uma prisão — digo — acho que tenho uma certa noção

Ele não responde. Apenas ficamos em silêncio. O escuro só nos permite ver a estrada, a floresta é um grande buraco negro, um buraco negro que queremos evitar.

— Eu fico de vigia — digo o encarando — descansa

— Não quero e não posso — ele responde rápido, sem me olhar.

— Pode sim — digo — Daryl — digo pegando seu braço, fazendo ele me encarar — vai lá, e... dorme.. um pouco, você precisa

Ele me encara um pouco, mas eu não o solto.

— Vai lá — digo

Como será que eu convenço ele a fazer a alguma coisa? É a pergunta do século. Aí eu percebo o teto que estamos sentados, parece perfeito para mim.

— Ou melhor — digo me levantando — fica aqui no teto, eu fico aqui embaixo

Ele me olha pensativo e com muito custo assenti

— Ok — falo baixo

Ele deita no teto e olha para cima, eu o encaro dou um pequeno sorriso e me preparo para deitar nas lonas. Eu me sento e quando vejo que estou confortável, me deito.

Então eu sinto algo me incomodando, e espirro. Ele me olha.

— Estou bem — digo com a voz estranha

E então uns segundos depois, eu espirro de novo. Esqueci, eu tenho alergia a poeira, ótimo.

— Tenho alergia — digo me sentando

— Vem pra cá — ele diz se levantando

— Não! Você Daryl precisa dormir, não eu — digo me levantando

Aqui estamos nós dois em pé, quase no meio da noite prontos para iniciar uma briga, legal.

— Deixa de besteira — ele responde começando a se irritar

— Daryl, você precisa descansar pelo menos uma vez — digo me aproximando — eu vou ficar bem

— Tira essas lonas — ele diz se abaixando e jogar as lonas no chão

A poeira sobe e eu me seguro para não espirrar de novo. O chão continua empoeirado, mas nem tanto. Mas não é o suficiente para eu poder deitar.

— Tinha uma coisa — ele diz — atrás dos bancos, espera aí.

Eu fico parada vendo ele descer a abrir a porta. Está um pouco frio e, continuo me segurando para não espirrar. Ele volta com um pano xadrez muito estranho. Eu logo percebo o que ele está pensando e vou repreendendo.

— Daryl eu não posso deitar aqui — digo tentando me explicar

— Quem disse que você vai deitar aí — ele responde indo em direção ao teto do carro

— Nada disso Daryl — digo, mas logo me lembro que não quero brigar com ele de novo

Ele coloca o pano que cobre perfeitamente aquele quadrado vermelho. Não era grande, mas o suficiente para uma ou dua... é isso

— Daryl — digo indo em direção a ele — e se, nós dois dormirmos ali ? Quer dizer.. por mim tudo bem

Ele não responde. Talvez esteja pensando em vigilância

— Então? — digo com um sorriso

— E se aparecer um zumbi? Não vamos ver — ele diz

— Vamos estar alto o suficiente para estarmos seguros, vai ter que encontrar uma desculpa melhor — digo ainda com um sorriso

— Você é maluca — ele diz indo em direção ao teto

Eu sorrio e vou também, Daryl e eu finalmente estamos chegando a um acordo, milagres ainda são possíveis. Ele se deita como quando estava antes, olhando ainda para cima. Eu me aproximo e me deito, e olho para cima. O céu está totalmente estrelado, eu não me lembro a última vez que olhei para cima a noite, é lindo.

— É incrível — digo quase num sussurro

Eu me viro e olho para ele, ele não corresponde. Eu me preparo para dormir.

— Sobre a sua pergunta hoje.. — ele diz, me fazendo abrir os olhos — acho que temos uma segunda chance

Ele me olha e eu sorrio, ele abre um sorriso por dois segundos e encara o céu de novo. Ele fecha os olhos e se concentra em dormir, eu sorrio de novo e fecho os olhos. Boa noite então Daryl.