Amanheceu tão rapidamente. Por algum motivo eu não dormi, por mais que estivesse muito cansada e precisando de um pouco de descanso.

Eu odiava esses atrasos, "volto à noite", que besteira.

Mas Daryl me surpreendeu abrindo a porta às sete da manhã. Pulei da cama, descendo as escadas e me enrolando em um roupão, enquanto tentava arrumar o cabelo, estava com uma mistura de raiva e desespero. Hoje eu mato ele.

— Caramba, o que aconteceu? — gritei levantando os braços

Ele passou por mim, me dando um beijo na testa. Caminhou até a cozinha.

Fiz cara de entediada e o segui.

— Onde vocês estavam? — joguei meu peso na bancada e o encarei pegar um copo d'água

— Tivemos um problema — ele disse calmamente, levantando o copo e tomando o seu conteúdo, ele levantou o rosto para me encarar

Cruzei os braços, esperando uma explicação.

— Encontramos uma horda no lado leste da floresta — ele diz saindo da cozinha

— Você é rídiculo. Sabe que temos problemas aqui e vai pra floresta, e ainda demora tanto assim pra chegar. Você não vai sair mais, pelo menos, não agora. — reclamo o seguindo, ele finalmente se vira para me encarar

Ele coloca suas mãos no meu rosto. Toco sua mão em minha bochecha.

— Você está bem? — ele diz quase em um sussurro

— Estou — digo suspirando

— Vem cá — ele me puxa para ele, me abraçando forte demais

Me afasto. Encaro seu rosto.

Ele me olha preocupado por um momento.

— Cadê o meu cachorro? — digo séria

Ela respira fundo, passando por mim.

— Vê se não demora, temos coisas a resolver — digo enquanto o vejo subir as escadas, direto para o banho

[...]

— Caramba! — gritei puxando todo o ar que conseguia

— O que foi?! — Daryl surgiu com a cabeça para fora do banheiro me encarando

— Essa calça maldita! — digo tentando juntar o zíper mais uma vez, vi que não consegui e soltei, suspirando

— O que tá havendo? — ele diz suspirando entendiado, caminhando em minha direção

— Era a minha calça favorita — eu lamentava me olhando no espelho — esse trem de engordar está em deixando irritada, olha isso — me virei de lado, deixando a amostra o volume da minha barriga sobre a calça

Ele analisava minha irritação.

— Você está linda — ele dizia como se eu fosse uma criança

— Aham estou, vamos ver daqui 3 meses, eu vou estar parecendo o monstro do lago Nessi — me virei em direção ao guarda roupa, escolhendo outra roupa

Ele voltou sorrindo para o banheiro. Ele não entende, não é ele que está carregando um bebê dentro dele.

É bom ele ser um filho muito comportado, não é nada fácil esse trem de gravidez. E pensar que eu ia fazer um aborto.. sacudi minha cabeça, espantando esse pensamento. Puxei qualquer coisa do cabide e fechei a porta.

[...]

Saí da casa, senti o sol me aquecer e o vento fazer meu cabelo voar para a frente do meu rosto. O céu estava muito azul, estava lindo.

Caminhei em direção à enfermaria, ver como a Tera está passando esses últimos dias.

— Amy! — ouvi alguém gritar o meu nome, me virei instintivamente

Carol corria em minha direção.

Franzi o rosto.

— Oi?!

— É o Rick — ele dizia pegando fôlego — temos um problema

— Tá, tudo bem, o que houve? — eu disse preocupada, sua expressão era quase de desespero

Ele colocou a mão no meu braço e me guiou até um pequeno beco na lateral de uma casa. A sombra do espaço estava fria.

— Ele brigou com o marido da Jessie, fez um discurso e apontou uma arma para as pessoas. A Michonne interviu, ele está inconsciente na enfermaria. O tempo acabou, eles não vão permitir que ele continue aqui, não depois de hoje.

Minha expressão estava numa mistura de espanto e confusão. Tentei processar tanta informação de uma só vez, como eu perdi isso tudo?

— Está dizendo que.. o tempo que tínhamos acabou? É isso?

— Estou dizendo que elas não vão deixar isso em branco, com certeza o tempo que tínhamos acabou, precisamos saber o que fazer

Encarei seu rosto por longos segundos, tentando processar uma ideia. Instintivamente lembrei da minha arma escondida em casa, mas preferi não comentar sobre isso.

— Temos que falar com o Rick então, vê o que decidimos — digo suspirando

— Tudo bem, eu vou ver a Tera, ele não vai acordar agora — ele diz calmamente — tudo bem? — mal notei minha casa de preocupação

— Claro, claro. Tudo bem. — me recompus tirando uma mecha de cabelo do rosto

Ela ficou parada me observando.

— E como você está? — ela parecia calma novamente, como se seu terror anterior tivesse passado

— Estou bem — era verdade, eu estou bem

— Tudo bem, se precisar de alguma coisa...

— Olha Carol, eu não quero ter "essa" conversa — fiz aspas com a mão

— Achei que queria alguém para falar sobre isso, a Bárbara está ocupada esses últimos dias

— É, não, quer dizer.. — suspirei alto — é tudo tão estranho, os gostos, as sensações, eu já mandei duas calças minhas pro fundo do guarda-roupa, sem contar que a cada momento eu me sinto com um sentimento novo, me sinto como se tivesse bipolaridade aguda

Respirei para pegar fôlego, ela me analisava com um olhar materno, como se já tivesse preparado essa conversa para ter com alguém.

Ela sorria.

— Quando eu estava grávida, era tudo exatamente assim, vai passar — ela parecia leve, como uma pluma, era como se falasse de uma novela que acompanhava a muito tempo

— Eu sei, mas temos que ir, talvez eu deixe você me falar de fraldas mais tarde — eu disse sorridente

Ela tentou me mandar um sorriso, sem muito sucesso.

Percebi seu olhar se perdendo.

— Eu sinto muito pela sua filha — disse rapidamente

Ela levantou os olhos para me olhar. Você não a conheceu, como pode dizer isso? ela deve estar pensando.

— Obrigada

Foi tudo que ela disse, me senti aliviada por ter recebido uma boa resposta, mas sei que não passou de educação.

— Vou encontrar o Rick, te vejo depois? — comecei a andar, ela passou a me seguir

— Claro — ela diz ativando seu lado boazinha, percebi que já estávamos de volta ao lado de fora, pessoas passavam sorrindo, mas evitando contato visual conosco

Virei para o lado, ela virou para o outro. Seguimos nossos caminhos em direção oposta.

Então vamos lá, checar nossas regras de batalha. Não acredito que o Rick foi tão imprudente! Ele devia ter se segurado mais um pouco, vamos precisar agir rápido.

Não espero ser uma das atiradoras frontais, só espero fazer parte disso como todo mundo.

Revolução?! Uhuu.