Unforeseen escrita por UmaEscritoraAnônima


Capítulo 43
Consequencia




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Caminho até o banheiro enquanto minhas mãos tremem.

Entro e fecho a porta.

Respiro fundo e começo a abrir a caixa. Logo cai na minha mão um objeto parecido com um termômetro. Já li sobre, você precisa urinar sobre ele. Isso não é muito legal.

Puxo um papel que veio junto com ele. É como uma bula, a abro e começo a ler.

Não tem segredo. Uma barrinha é negativo, duas barrinhas é positivo.

Respiro fundo e vou fazer o teste.

...

Espere 5 minutos. Esse é o momento da minha vida, que vai me dizer o que vou fazer hoje, amanhã... o tempo deveria ser menor.

Tento me distrair, ando em círculos pelo banheiro, abro a torneira e lavo o rosto, tenho que me acalmar.

Os segundos passam cada vez mais devagar, cada vez mais distante.

5 minutos... 5 minutos...
3 minutos... 3 minutos...
2 minutos... 2 minutos...

1 minuto, meu Deus.

Deixei ele em cima da pia e me sentei no chão encostada na porta. Não vou ter coragem de levantar, não vou ter coragem de ver.

Eu sei que já está ali, a resposta está ali.

Minhas mãos começam a suar, eu não vou me levantar. Eu não consigo.

Depois de vários minutos tomando coragem, eu me ergo e me levanto. Caminho lentamente em direção a pia, com os olhos já queimando de vontade de chorar.

Me aproximo e levanto o teste. || claro.

Acho que eu sempre soube.

Enxugo uma lágrima que cai no meu rosto, por que isso está acontecendo comigo?

Eu deveria estar feliz, eu sempre quis ser mãe. Mas, nesse mundo? Quanto isso vai me custar?

Como vou correr e atirar com uma barriga de 9 meses? O que vai ser de um bebê nesse mundo?

Por que eu tenho que tomar essas decisões? Isso é a pior coisa que poderia ter acontecido agora.

Por um lado, esse lugar parece seguro.

Que besteira, não existe segurança. Não posso colocar um inocente bebê nesse mundo, não vou sobreviver, não vamos sobreviver.

Meu Deus, o que eu faço?

Me arrasto pela parede até cair ao chão com lágrimas querendo cobrir todo o meu rosto.

Cubro a boca com a mão e me proponho a chorar tudo aquilo de novo. Parece que essa sensação é infinita, parece que eu nunca mais vou conseguir caminhar sem chorar.

Penso no meu futuro. Daryl, meu Deus, como ele ficará quando descobrir? Não posso contar. Não pode? Ele tem que saber.

Milhares de pensamentos percorre a minha cabeça, caminho até o chuveiro e o abro, me sentando no chão com a mesma roupa. Abraço meus joelhos e choro por mais vários minutos.

...

Sinto que já está anoitecendo, é hora do Daryl chegar, é hora de resolver tudo isso.

Fiquei sem chorar por um tempo, mas meus olhos continuam tão inchados. É algo que não tem como não reparar. Só espero que não dê tanto na cara.

Ouço a porta se abrindo e eu respiro fundo antes de começar a descer as escadas.

Antes de pisar no último degrau eu recuo e puxo mais ar. Sem chorar, sem gritar, sem tremer.

–--- Oi ---- digo me aproximando

Ele me olha confuso.

–--- O que houve? ---- ele pergunta chegando mais perto

Alguém me diz que este é o momento para desabafar e dizer tudo o que está acontecendo. Vejo a preocupação em seu olhar, me vejo em seu olhar. Não posso fazer isso.

–--- Não houve nada ---- digo me afastando

–--- Seus olhos estão inchados ---- ele diz me seguindo ---- você chorou?

Sinto meu maxilar se prender, vou começar a chorar de novo.

–--- Não foi nada ---- digo forçando um sorriso ---- o shampoo caiu no meu olho, besteira. Como foi seu dia? ---- mudo de assunto antes que ele insista

Ele me analisa um momento. Podemos brigar e querer nos matar de vez em quando, mas não sabemos mentir um para o outro.

–--- O que aconteceu? ---- ele diz sério

Sinto as lágrimas chegarem, faço tudo para prendê-las.

–--- Acabei de dizer ---- respondo

Ele fica em silêncio. Estou com vontade de sair correndo daqui, sem rumo e sem direção.

Ele nega com a cabeça, sabe que estou mentindo. Mas felizmente sabe que não vou dizer. Ele vira para sair mas para.

–--- Quando quiser me contar ---- ele diz por cima do ombro com seu olhar meigo

Fico em silêncio observando sua saída.

Me preparei tanto para não chorar, se controlar. As coisas sempre saem erradas.

Respirei fundo e tentei limpar minha mente.

Não há como evitar, eu não consigo mais olhar nos olhos dele.

...

Fiquei a noite toda pensando no que iria fazer. Olho para baixo e vejo a mão de Daryl caída, com ele dormindo como um anjinho. Mal sabe que pode ter um filho daqui a 6 meses. Isso é tão assustador.

A madrugada chega, diferente do meu sono. Eu não vou dormir, preciso de uma solução.

Sinto o quarto se iluminar lentamente, está amanhecendo? Já?

...

Bato na porta e espero uma resposta. Não sei se isso está certo, nem sei se é isso que eu deveria fazer. Mas quem se importa? Ela é a única que sabe.

A porta se abre rápido e nela surge a mesma moça que me deu essa descoberta.

–--- Oi Amy, entre ----- ela diz sorrindo

Será que ela não percebeu minha frustração? Ela tem sorte por ainda poder sorrir, e não ter problemas gigantes, até invejo isso.

–--- Preciso da sua ajuda ---- digo séria

Sua expressão muda e nela aparece um olhar preocupado.

–--- Claro, o que eu posso fazer?

–--- Preciso que me dê a chave do armário de remédios ---- digo firme

Ela me olha surpresa, não pode só me dar essa merda logo? Não tenho tempo para julgamentos.

–--- Me desculpe, eu não posso ---- ela se explica ---- só eu posso ficar com a chave, mas o que você estiver precisando pode me dizer que eu pego para você

–--- Não ---- digo ---- você pode me dar só por um instante? ---- insisto

Ela não pode fazer isso, ela não entende?

–--- Não posso, me diga do que precisa ---- ela diz firme

Tá na cara que isso não vai dar em nada. Não tenho tempo de ficar discutindo.

–--- Eu preciso de... ---- digo com uma pausa

–--- De...? ---- ela pergunta

–--- Pílulas de aborto ---- encerro

Ela me olha surpresa.


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