Ficamos horas sentados em frente a uma fogueira sem dizer um palavra. Está de madrugada e o sono não está nem perto de chegar. Eu tenho tantas coisas para perguntar, mas ele parece não se preocupar com mais nada. Ele só observa o fogo, como se nada em vonta importasse mais. Talvez ele tenha perdido alguém, ou simplesmente perdido a si mesmo. Ele é bem reservado, como alguém que perdeu tudo na vida, acho que me identifico um pouco com isso. Talvez depois de tanto tempo eu possa ter encontrado alguém que me entende. Mas ainda assim não acho seguro ficar com ele, talvez seja melhor eu ir embora pela manhã. Mas se eu vou ficar, precisamos conversar e é exatamente essa a parte mais difícil

— Então Daryl.. perdeu alguém hoje? — digo mexendo na fogueira com um graveto

— Já te disseram que sutileza não é seu forte?! — ele diz sem me encarar

Dou um pequeno sorriso de lado e continuo:

— Desculpa

— O que você quer saber? — ele me interrompe

Olho para ele e volto com meu graveto

— Bom, se vamos caminhar juntos ao pôr-do-sol preciso saber alguma coisa sobre você

O encaro de novo e percebo que não respondi sua pergunta.

— Como por exemplo — continuo — você tem uma namorada?

Ele levanta o rosto e me encara

— Vou considerar isso um não — digo e ele volta a encarar o fogo — uma família?

O encaro esperando uma resposta. Mas não recebo. Solto o graveto e abraço minhas pernas. Ele me olha e eu faço uma cara tipo 'e aí?'. Ele nega com a cabeça e volta a encarar o fogo.

— O que houve lá? — falo seriamente

Mas de novo ele não me responde. Vou acabar dando um tiro nesse cara.Aperto a mão e me preparo para levantar.

— Tudo bem então amanhã conversamos — digo me levantando

Vou pisando forte em direção a uma árvore em frente. Me sento no chão e escoro nela, por que ele tem que ser tão teimoso?

...

— Finalmente — uma voz no fundo diz

— Não sabe dizer bom dia? — digo tentando me sentar

— Bom dia — ele diz

Dou um pequeno sorriso e me levanto. Tem alguma coisa queimando na fogueira ainda acesa.

— Com fome? — ele diz pegando sua faca

— Pra ser sincera — identifico um esquilo queimando na fogueira, me viro com um pequeno sorriso — como achou isso?

— Encontrei dois, não foi difícil. — ele diz me encarando — quando acabar, precisamos ir — ele guarda a faca e se levanta

— Verdade? E pra onde? — pergunto ironicamente cruzando os braços.

— Qualquer lugar — o tom de voz dele muda e ele sai sem me encarar

Será que eu falei alguma coisa errada? Eu nunca vou entender esse cara.

Vou até o esquilo e apago o fogo.

...

Depois de comer estou satisfeita e pronta para seguir Daryl. A única pergunta é: cadê ele?

— Daryl? — digo entrando entre as árvores

Afs ainda vou ter que ir atrás dele. Vou andando sem rumo atenta a procura dele, que patético.

— Daryl? — resolvo aumentar o tom da voz

Será que ele está deixando mais esquilos órfãos por aí? Rio com esse pensamento esquisito e continuo a procurar.

— Daryl! — quase grito

Ele não pode ter ido embora.

— Daryl! — começo a gritar entre as árvores quando sinto uma mão no meu ombro

— Ahhh — quase grito, quando vejo o "não acredito que você não sabe fazer uma fogueira" na minha frente

— Tudo bem? — ele diz com a besta nas mãos

— O que? Como assim tudo bem? — digo quase gritando

Ele se vira e começa a andar me deixando gritando sozinha

— Não está tudo bem — continuo com meu drama

— Não enche — ele diz

— Eu ainda mato você. — digo e vou andando atrás dele.

Desgraçado