O Som do Coração escrita por Vlk Moura


Capítulo 30
Parte 2: Capítulo 30 - Música para meu coração


Notas iniciais do capítulo

Love You Like a Love Song - Selena Gomez
~Vai ter textão no final~



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Acordar foi um sofrimento, mas minha fome era maior do que tudo. Marina ainda rolava pela cama tentando reunir coragem para levantar quando eu já estava quase pronta. Prendi meu cabelo de qualquer forma apenas para descer e comer. Era só isso que eu queria. 

Marina levantou reclamando, colocou uma blusa por cima do pijama e desceu comigo com o cabelo amarrado em um coque todo torto. O azul começava a desbotar, mas ainda assim era algo bem vivo. 

Pietro estava sentado comendo sozinho, ou dormindo, difícil definir. Nos juntamos a ele e comemos bastante. Ele reclamava de ter de aguentar alguns dos meninos bêbados e de como era mais quente dormir comigo do que dormir sozinho. Ele também falou que tinha uma parte da noite nele que era uma espaço negro em sua mente que ele não fazia ideia do que acontecia ali. 

Marina comentou ter sofrido do mesmo problema, que se lembrava de mim voltando para o nosso quarto, mas não fazia ideia de como ela mesma tinha conseguido chegar até ele. 

Wilke se juntou com a gente mais tarde.

Marcamos de comer algo juntos para o almoço e talvez ir até o Coliseu. O hotel não ficava muito distante, mas os meninos queriam testar o metrô e sair na estação cujo nome não foi nada criativo - o mesmo nome do monumento. Às pessoas que decidem que nome darão as estações: um pouco mais de criatividade não vai matar ninguém.

Voltamos para o quarto para nos arrumarmos de forma a ficarmos apresentáveis, não que nosso animo para isso fosse algo grande, mas pelo menos da rum jeito na cara amassada e no cabelo dormido pretendiamos fazer. Maquiei um pouco a Marina de forma a tirar as enormes olheiras que pareciam usá-la de hospedeira. Ela me ajudou com meus olhos inchados de cansaço e depois de pentear o cabelo e perceber que não tinha como arrumar aquilo, peguei apenas a parte mais alta e a amarrei em um coque de forma a esconder toda a zona que estava debaixo. Marina separou o cabelo em dois rabinhos e os trançou. Colocamos cachecol e luvas e descemos para encontrar os meninos.

Pegamos um metrô conversando sobre eventos da infância sobre como nos divertiamos e que seria impossível pensar que conseguiriamos passar por uma viagem dessas. 

Descemos na estação de nome criativo e andamos até o Coliseu, estava bem cheio. 

Compramos nossos tickets e entramos. O guia falava muito rápido e eu não conseguia acompanhar seu inglês, no começo eu nem liguei, mas conforme foi passando as explicações as pessoas se admirando, tirando fotos e comentando umas com as outras me senti mal. Fui diminuindo minha velocidade para ficar no final do grupo e sequer ver o guia. Tirei algumas fotos.

Alguém bateu uma foto minha e percebi pelo flash, olhei para trás assustada. Wilke ainda olhava o resultado na tela do celular.

— Bonita - ele falou e sorriu - Mais uma - ele bateu e me olhou - Por que essa cara de brava?

— Não é brava, é chateada - falei e tirei uma foto dele que riu.

— Pelo quê? - ele me mostrou a última foto que eu tinha uma careta.

— Por não entender o que ele fala. - apontei para o grupo.

— Vem comigo - ele pegou meu braço, eu hesitei, ele me olhou - Confia em mim.

Confirmei e o segui.

Conforme andamos ele me contou as histórias do Coliseu, me falou dos filmes em que o monumento aparecia, me falou que era um dos seus lugares favoritos no mundo. Eu o acompanhava falando sobre os lugares que eu gostava e que também eram retratados em séries. 

Enquanto andávamos a hora passou que só percebemos quando minha barriga roncou e imagino que tenha sido algo audível porque Wilke me olhou e riu. Saímos do Coliseu, pegamos o metrô e quando saíamos da estação, mais uma vez, lá estava ela, ia entrar num táxi quando parou e nos observou.

— Sobrevivendo a Itália? - ele perguntou rindo - Veremos até quando.

Ela bateu a porta, fiquei um tempo parada observando o veículo se afastar. Wilke passou a mão pela minha cintura e me guiou até um restaurante na mesma rua do hotel. Um silêncio constrangedor foi instaurado depois do péssimo encontro. 

Wilke estava respeitando o espaço constrangedor que estabeleci entre nós depois de encontrarmos com minha mãe, mas ele não parecia nada confortável com ele, eu via que as vezes ele pensava em dizer algo e até tentava dizer, mas depois desistia. 

Comemos em silêncio, um silêncio que eu não queria, mas não sabia como quebrar. Encontrar com a minha mãe de tempos em tempos naquele hotel era horrível, eu já a tinha visto mais do que todos os anos após o divórcio e se duvidar até durante o casamento dos meus pais. Mas por alguma razão ela estava mais cruel, sei que nunca fui a filha boazinha para ela, mas ela nunca foi uma mãe para mim e era impossível eu fingir que estava tudo bem. 

— Me desculpe - falei soltando meu cabelo e o deixando de qualquer jeito mesmo, Wilke sorriu e passou a mão por ele tirando os amassados.

— Pelo quê? - ele sempre fazia questão de que eu olhasse para ele.

— Por ter estragado esse resto de dia.

— Não foi você, foi ela. - ele sorriu - Vem, vamos afastar esse mal da sua cabeça.

— Do que você está falando?

— Eu trouxe meu violão - eu o olhei surpresa, ele sorriu. Entrelaçou nossos dedos e me puxou para o hotel.

O quarto estava vazio novamente. Ele fechou a porta, pegou o violão que estava dentro do armário e por isso eu não o tinha visto antes, tirou da capinha, sentamos na cama e ele começou a dedilhar algo, me olhou e sorriu, tomou minha mão que estava contida contra meu corpo, a apoiou no violão e voltou a tocar a música, parou e me observou, eu não conhecia. Ele tirou o celular do bolso e fez uma busca, me entregou e tinha o nome de uma música "Locked Away", eu o observei por alguns segundos.

— Não é dos Bananas Esmagadas, mas acho que você vai gostar da mesma forma. - eu sorri e confirmei.

—.-.-.-.

Ela tinha ficado péssima, eu percebia isso pelo seu olhar. Eu sabia que para ela a mãe tinha estragado o final do seu dia. Eu precisava dizer algo, precisava fazer algo para deixá-la feliz, mas eu não fazia ideia do que. 

Durante o almoço tentei dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas na minha mente parecia bom, porém quando eu quase soltava parecia ser a pior combinação de palavras possível. 

E ela lá, em silêncio, se punindo pela mãe. Eu odeio vê-la dessa forma, vê-la se machucando por alguém que não merecia isso, mesmo que aquela mulher fosse sua mãe. Não, mãe não faria o que ela faz, aquela mulher apenas deu a luz a Yara, mas nada além disso. 

Estou ficando impaciente.

O violão! Isso, isso pode animá-la.

Fiz Yara me olhar, peguei sua mão e a levei até meu quarto. Na outra noite quando ela dormiu aqui até pensei em tocar algo para ela, mas o sono foi mais forte do qualquer tentativa minha de permanecer acordado e quando pensei que finalmente poderia fazer isso quem estava na cama ao lado da minha era Pietro. 

Tirei o violão da proteção, Yara já estava sentada na cama me observando, me sentei a sua frente, comecei a dedilhar algo tentando me lembrar do ritmo e com ela me olhando ficava ainda mais difícil, eu estava ficando cada vez mais nervoso.

Comecei a tentar cantar, mas ela não me entendia, não conhecia a música. Pelo celular busquei a letra e encontrei a partitura ditando o ritmo, entreguei a ela que me olhou desconfiada, sorri e brinquei que não era do Bananas Esmagas, mas ela poderia gostar mesmo assim e ela me deu essa chance.

Voltei a tocar, ela colocou a mão no violão, ora olhava a letra no celular ora acompanhava o movimento da minha boca cantando, ela deu um riso.

— As vezes, sinto falta da sua voz desafinada - ela comentou me fazendo rir.

— Vem aqui - eu deixei o violão de lado e puxei a mão dela para apoiar no meu peito, voltei a cantar, ela me olhou e sorriu, mas não era deboche como ela costumava fazer me ouvindo cantar, era algo que eu não conhecia ainda.

— Você pode tocar o violão novamente? - ela perguntou receosa.

Peguei o instrumento e comecei a tocar. Ela se moveu pela cama a acompanhei com o olhar, Yara apoiou as mãos nas minhas costas e deu um riso, depois se aproximou ainda mais como que me abraçando, com as mãos tocou o violão e ficou com a cabeça encostada nas minhas costas, ela tentava me ouvir cantar, mas, na verdade, ela me sentia cantando e isso era melhor do que qualquer coisa pela qual já tinhamos passado juntos.

—.-.-.-.-.-.-.-.-

Eu fiquei desesperado ao perceber que minha prima tinha sumido, vasculhei pelo Coliseu e não a encontrei.

— Vish, Wilke também sumiu - Marina falou e depois - Será que finalmente...

— Para de insinuar essas coisas - briguei com ela - Isso não é hora, precisamos encontrá-la.

— Não, nós precisamos comer alguma coisa, isso sim.

— Meu tio vai me matar se eu perder minha prima aqui.

— Ela não está perdida, Pietro, ela está com o Wilke.

— Como você pode ter tanta certeza? 

— Caramba, como você é chato - ela suspirou e olhou em volta - Ele vai cuidar dela, ok? Agora vamos comer algo e depois voltamos a procurar a Ya.

Eu não entendia como ela poderia estar tão calma, minha prima perdida num país estrangeiro e a sua melhor amiga sequer parece enxergar o problema. 

Mas eu não podia negar que estava faminto. Andamos no entorno do Coliseu até encontrarmos um restaurante, pedimos macarronada - óbvio - que comemos como se fosse o último prato de nossas vidas. Voltamos para perto do monumento. Agora que estava reabastecida, Marina parecia mais dedicada a encontrar minha prima. Ela gritava pela Yara fazendo todos os Turistas nos olharem torto e isso estava me constrangendo. 

Depois de toda a gritaria da menina do cabelo azul para encontrar a de cabelo vermelho desistimos, já com fome novamente. 

Pegamos o metrô, descemos perto do hotel que tinha uma padaria bem próxima, passamos por ela, compramos algumas coisinhas para beliscarmos e voltamos para onde estavamos hospedados. Cansados e esgotados subimos com o elevador parecendo dois mortos. A porta se abriu no meu andar. Marina me acompanhou tentando imaginar onde minha prima poderia estar. 

Marina me fez parar e apurou os ouvidos.

— Ta ouvindo? - ela perguntou, um violão era tocado, eu a observei e confirmei.

Corremos até a porta do meu quarto, passei o cartão magnético e abri só um pouco a porta, quase não dava para ver o quarto, mas com toda certeza era dali que vinha o violão e mais... Wilke, ele estava cantando. Marina enfiou o celular pela porta e acionou a câmera, os dois não tinham nos visto ainda. 

Assistimos a cena pela pequena tela do celular.

Yara estava com a cabeça deitada nas costas do Wilke, ele tocava violão e cantava para ela, quando a música acabou ele colocou o instrumento de lado, minha prima parecia ter gostado de ficar daquela forma, ele riu dela que o olhou e sorriu e então... 

Marina me olhou e sorriu, eu estava sem saber como agir. 

Minha prima tinha pulado sobre nosso amigo de infância e o tinha beijado, fora algo rápido, mas estava tudo registrado. Marina parou de gravar e fez um sinal para eu segui-la. Entramos no quarto das duas e ela começou a dar gritinhos de alegria.

— Finalmente! Finalmente! Finalmente! - eu a observava sem conter a risada - Caramba, nem acredito! E tenho tudo registrado - ela me olhou e riu -E agora?

— Como assim? - eu me sentei na cama da Yara.

— Eles vão namorar ou vai ser só uns pegas da viagem de formatura? - ela se sentou ao meu lado.

— Sinceramente? - ela confirmou - Espero que seja só uns pegas de viagem.

— Quanto romantismo - ela falou com uma voz desinteressada.

— E sabe de mais uma coisa?

— O quê? - ela me olhou com brilho nos olhos, me aproximei dela e a beijei.

— Azul é a cor mais quente.


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Notas finais do capítulo

Sim, esse foi o final, espero que tenham gostado e que perdoem minha falta de disciplina com as postagens de capítulo. Foi mais de um ano com essa história e assim como Quase Namorei o Ídolo da Minha Irmã foi uma das histórias mais gostosas que já escrevi e espero que vocês tenham curtido tudo. Sei que devem ter ficado bravos porque cheguei a passar 6 meses sem postar nada, e quando postava era apenas um capítulo e nada mais, mas para mim é muito difícil finalizar uma história, eu me apego muito aos personagens e quando vou chegando ao fim fico com um enorme aperto no coração.
Mas enfim, não quero enrolar demais aqui.
Se gostaram gostaria que comentassem comigo, se acham que deveria acabar de outra forma me falem também porque quem sabe não role um final extra com o melhor final alternativo ;D
Bom, esse foi o fim, foi ótimo escrever sobre a Yara e o Wilke e vou sentir falta desses dois e de vocês que acompanharam a história.
Beijinhos e até a próxima.



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