O Som do Coração escrita por Vlk Moura


Capítulo 23
Parte 2: Capítulo 23 - Sutilmente




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Eu estava muito animada para o show do Bananas Esmagadas e esse dia ter finalmente chegado me deixava nervosa. Eu me arrumava cantarolando as músicas deles, parei e me olhei no espelho, por que eu estava tão empolgada se não poderia ouví-los? Me joguei ao chão. Será que era uma boa ideia ir? Eu não poderia ouvir minha banda favorita quando finalmente poderia ir a um show dela, não quero mais.

Não percebi alguém entrar n no quarto, apenas quando sentou ao meu lado e me abraçou. Olhei meu irmão, o reconheci pelo fortissimo perfume que ele passara, disse que tinha de durar até o final do festival. Ele deixou claro que iria com a gente, mas queria ver outros grupos, quando nos cansássemos deveríamos ligar para ele e marcar um ponto de encontro.

– Está tudo bem? - ele perguntou enquanto eu o olhava - Pensei que já estaria pronta.

– O que eu vou fazer no show? Eu não posso ouvir nada, o que que eu vou fazer em um show?

– Sentir as vibrações? Se divertir? Curtir com a Marina e o cabelo rosa? Um show não vale apenas pela música - eu o encarei - Ta, ta, ta, mas o show não é cem porcento a banda e música dela - tive de concordar - Então vem, já vi a roupa que você separou é linda, mas - eu o analisei - Coloca uma blusa ou sua tatuagem vai aparecer.

Eu ri e concordei.

Troquei de roupa, coloquei a blusa, coloquei dois colares, um comprido até quase o umbigo e o outro era mais grudado ao pescoço, coloquei dois anéis na mão direita e dois na esquerda, pulseiras e braceletes. Passei o perfume, fiz a maquiagem com o puxado de gatinho, batom vinho, o cabelo eu joguei todo para um lado e fis uma trança com a parte que ficou com menos cabelo, a trança grudada ao couro cabeludo a amarrei com uma linha estilo tererê.

Saí do quarto. Marina e o namorado já estavam ali, Pietro entrava e sorria para nós.

– Todos prontos, estamos indo, pai! - Marco gritou.

Meu pai veio nos ver, pediu para tomarmos cuidado nos cuidarmos e todo o blablabla que os pais falam quando os filhos estão saindo. Entramos no carro, eu corri para ir na frente. Eu sabia que no carro todos conversavam, mas eu não conseguia me colocar em nenhuma delas porque sempre perdia a fala de alguém, então resolvi ficar quietinha em meu lugar.

Quando chegamos a fila já era enorme, mas por sorte Wilke nos dissera que se fossemos para entrada e dessemos nossos nomes conseguiriamos entrar sem precisar pegar a fila. Depois de vermos o tamanho resolvemos ir direto. Muitas pessoas já caminhavam pelo espaço, alguns shows já tinham começado, outros começavam a acumular publico. Caminhamos um pouco, o celular do Pietro tocou, ele olhava em volta procurando por alguém. Mãos cobriram meus olhos, eu levei a minha até aquelas mãos, eram as de Wilke com certeza.

– Wilke - falei rindo, ele destampou meus olhos e me rodou me abraçando - Onde vai ser o show do Bananas?

– Oi, Yara, eu estou muito bem, obrigado por perguntar. - ele riu - Vem, vou levar vocês até lá.

Nos despedimos de Marco.

Wilke nos contou que a mãe parecia estar envolvida com alguns dos show dali, eu não entendi muito bem o que ele dizia porque prestava atenção no publico em volta. Ficamos em um bom lugar, eu conseguia ver bem o palco, mas no fundo eu não queria estar ali, talvez fosse pior ver o show e não ouvir, eu me sentiria pior.

Cutucaram minhas costas, olhei.

– Yara? - era menino talvez da minha idade, ele falava com calma e parecia conter as mãos.

– Sou.

– Ótimo, sou James - eu não sabia quem ele era - Ah - ele fez as letras com os dedos, ele se continha para não conversar em libraas, sorri.

– Eu entendi, mas desculpa, eu te conheço?

– Ah, claro, desculpa. Eu sou de um grupo para jovens surdos, tentamos manter os jovens convivendo no ambiente normal dos outros jovens. Eu entrei em contato com sua família há algumas semanas- eu não sabia disso - Falei, acho que com seu irmão, Marco, não é? - confirmei - Ele disse que você viria ao show e pensei que poderia ajudar um grupo que veio comigo.

– Eu? - ele confirmou - Desculpa, eu mesma não sei conviver nesse ambiente.

– Mas está convivendo é isso que importa - ele sorriu, tinha um sorriso bonito. A pele negra não tinha nenhuma espinha, o sorriso largo era forte e lindo, os olhos escuros me deixaram presa por alguns instantes, ele parecia malhar, o corpo era forte.

– Yara - olhei assustada para meu primo - Quem é esse ai?

– Ele.. Ele.. Não sei - eu ri e perguntei em libras qual era o nome dele porque já tinha me esquecido - James- ele riu comigo - De um grupo de jovens surdos, ele disse que falou com Marco.

– Sei, sei... Wilke pediu para eu te chamar, disse que tinha algo legal para você.

– Você quer vir? - James confirmou.

Seguimos meu primo até uma área mais aberta, eu nem vira quando Marina e o namorado foram para lá, com toda a certeza eu me perderia deles facilmente caso eles não prestassem atenção em mim. Eu e James iamos conversando, ele contou que o grupo fazia reuniões, os jovens interessados nas atividades se inscreviam e todos saiam para shows, cinemas, teatros, palestras museus e várias outras coisas. Perguntei qual era o real interesse em mim, então ele me contou de um vídeo que encontrara um vídeo meu tocando violão junto de um menino loiro - aka Wilke - e ele achou muito interessante e queria que eu fosse fazer alguma atividade musical junto da minha dupla para os outros.

Peguei o número de James e ele o mau para que depois pudessemos continuar conversando sobre isso, gostei da ideia e talvez fosse bom até para mim fazer isso.

Quando chegamos ao grupo para minha triste surpresa tinha uma Sabine agarrada ao pescoço de Wilke, ele me olhou e sorriu, observei em sua mão um violão que ele usava ou quase, ele analisou James que sorriu para todos e pareceu se apresentar.

Será que a Sabine sabia quem fora Freddie Mercury para usar uma camiseta com a cara dele estampada? Ta vou tentar parar de julgá-la, aparentemente ela deve ser boa para o Wilke já que ele não a larga depois de tudo, vou passar a me conformar com essa minha posição de melhor amiga.

– Vai, toca para a gente - ele me esticou o violão.

– Não, não quero - falei timida, não estavamos só nosso grupo, os amigos dele também estavam ali e todos me encararam.

– Tem certeza? Ela é... - ela virou o rosto, mas eu sabia o resto da sua frase.

– Ei, fonte sexual do Wilke, cala a boca, você não sabe o que está falando - Marina falou revoltada - Ela toca violão melhor do que qualquer um.

– Só não a deixe cantar - Pietro falou rindo - Desculpa, mas é verdade, tocar: okay; Cantor: nunca.

Peguei o violão, todos me observavam senti minha bochecha corar, eu estava gostando daquele ambiente, meu irmão tinha razão o ambiente era muito gostoso. Wilke se aproximou de mim e sorriu, pediu para eu recomeçar. O fiz.

– "E quando eu estiver triste/Simplesmente me abrace/Quando eu estiver louco/Subitamente se afaste/Quando eu estiver fogo/Suavemente se encaixe." - ele continuou cantando, Sabine se aproximou de nós, uma movimentação começou a nossa volta imaginei que os Bananas começavam a caminhar para o palco. Sabine beijou Wilke aproveitei para me levantar, larguei o violão.

Marina e o namorado me acompanharam.

– Yara... Yara... Yara... - Marina me parou - Para, me escuta... Não, me leia - ela riu sozinha - Olha pro palco.

Segui par ao palco e tinha um telão, videos dos musicos, ta nada demais, tinham legendas, comecei a ler.

"Nos disseram que uma fã especial estava entre nós, parece que ela não sabe cantar, mas sabe tocar" olhei Marina ela ria "Yara! Yara, você está por aqui?"

– Eu não...

– Você vai sim! - ela me empurrou e pareceu gritar algo, todos nos olharam e começaram a abrir caminho, mexiam comigo.

Cheguei até e divisão do palco com o publico os seguranças me ajudaram a pular, subi no palco.

– Yara? - confirmei - Certo, é verdade que você sabe tocar violão mesmo sem ouvir? - confirmei constrangida - Interessante - o vocalista sorria, eu estava tremendo - Um amigo seu, esse amigo seu, nos contou que você é fã nossa...

O telão mudou e apareceu, Wilke, eu tremi ainda mais.

– "Eu sei que você pode querer me matar depois disso, mas achei que gostaria da surpresa. Yara, você é mais especial do que pensa ser e merece coisas maravilhosas, espero que se divirta" - eu tremia e continha o choro, ele falara tivera legendas além de ter feito tudo em libras. Olhei o publico que gritava e batia palmas.

Alguém me tocou, olhei assustada e o encontrei ao meu lado, pulei sobre Wilke, ele me afastou.

– Aquilo lá embaixo foi apenas um aquecimento, acha que consegue? - confirmei e peguei o violão, respirei fundo e controlei a tremedeira.

Comecei a dedilhar, o vocalista entregou o microfone para Wilke que me olhou, pelo tempo e as notas fiz sinal para que ele começasse, ele começou a cantar, eu queria saber como era a voz dele cantando isso. Observei uma movimentação na banda, eles começaram a tocar junto de nós, eu queria poder ouvir aquilo. Eu sentia algumas vibrações pela altura da música, mas nada além disso. Quando a música acabou pude cumprimentar a banda e tirar umas fotos, mas tudo muito rápido par anão atrasar o show. Wilke me levou de volta par ao publico, eu não conseguia soltar sua mão, até quando Sabine quase o derrubou eu ainda não larguei sua mão, e ele ria olhando nossos dedos entrelaçados. Nos afastamos um pouco do publico e tinhamos a visão perfeita, Pietro estava com James, Marina e o namorado, eles ficaram rindo par amim enquanto eu cantava desafinada e atrapalhada por nunca ter certeza de qual música estavam tocando.

Quando o show acabou eu me joguei na grama feliz, minha barriga doia de tanto que eu ria.

– Vou ter d eme juntar ao grupo - James falou - Você me liga?

– Claro, obrigada pela oportunidade - ele me abraçou e se afastou, eu sorria vendo-o se afastar.

– O que ele queria com vocâ? - Wilke perguntou curioso, expliquei.

– Agora! - falei fingindo estar brava - Por que você fez essa loucura?

– Você é minha melhor amiga - droga - Você estava merecendo algo super - ele riu - Fico feliz que tenha gostado.

Fomos aproveitar outros shows, até que Pietro recebeu a ligação do Marco falando que já estava no estacionamento nos esperando, o dia já tinha nascido, imaginei que já fosse quase oito da manhã, seria bom dormir um pouco.


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