Arco e Baquetas escrita por Stella


Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é inspirado em River Flows in You, do Yiruma.

07/02/2015



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– Não. Ainda não está bom. – disse o professor, enquanto limpava as lentes dos óculos com a blusa.

Felipe o olhou com consternação e colocou o violino na cadeira ao lado. Havia semanas que estava estudando aquela música, corrigindo todos os erros de técnica. Não sabia mais o que fazer.

– Mas... Eu acertei os vibratos, dessa vez. – argumentou.

– Não, o problema não é esse. A sua técnica é muito boa. A questão é que… Eu não sinto nada quando você toca.

Ah, claro, pensou Felipe. Agora, ele tinha que ser responsável pelo que os outros sentiam quando o ouviam tocar? Não fazia o menor sentido. Não sentir nada era um problema pessoal do professor, obviamente.

– Não me entenda mal – continuou o professor Márcio – Eu acho que você é um ótimo aluno. A questão é que às vezes você parece um robô programado pra tocar direito. Eu preciso que você transmita emoção através do seu instrumento, entende?

Felipe assentiu, um pouco irritado.

Márcio sorriu para ele e colocou os óculos de volta.

– Eu indiquei você pra ser o novo primeiro-violino da orquestra, no concerto desse semestre. Seu teste é na próxima terça-feira, às 14 horas.

Márcio riu quando viu os olhos do aluno brilharem com aquela notícia.

– Quando um músico está no palco, Felipe… A música precisa fluir dele como um rio. Se você fizer rios fluírem em você nesse teste, a vaga é sua. – disse o professor.

Felipe saiu da aula animado e angustiado ao mesmo tempo. Queria aquela vaga desesperadamente. A única coisa que podia impedi-lo era aquela velha história de emoção e sentimentos e coisa e tal. Será que tocar bem não era o suficiente? Por que não poderia ser o suficiente?

Enquanto caminhava pelo corredor da escola, podia ouvir uma melodia suave, como uma canção de ninar muito bem elaborada. Seus passos o aproximavam do som.

Sozinha na sala da percussão, Malu tocava o xilofone usando quatro baquetas. Duas em cada mão. Felipe ficou parado na porta, assistindo à cena. Ela se divertia explorando os sons do instrumento. Suas mãos brincavam entre as placas de madeira, e as baquetas pareciam extensões de seu corpo.

A música ressoando suavemente, enquanto os grandes olhos verdes da garota flertavam com o instrumento como se ele fosse a coisa mais preciosa e amada do mundo.

Era como se rios fluíssem dela, pensou Felipe.


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