Fragmentos escrita por Ly Anne Black


Capítulo 3
Estilhaços


Notas iniciais do capítulo

Último. :)



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Havia três pessoas ali, que eles conheciam o suficiente para temerem.

Dois homens e uma mulher. A mulher era a líder do grupo, e estava um pouco mais à frente. Tinha brilhantes cabelos negros, era alta e com olhos tão escuros como os do resto da sua família. Olivia odiava aquela mulher. Mais até do que odiava o próprio Voldemort.

Seu nome era Bellatrix.

O homem logo atrás dela era alto e forte, e tinha uma beleza selvagem, com seus cabelos cor de terra até os ombros e os estreitos olhos de vinho tinto. Rodolphos Lestrange. Seu irmão, Rabastan, um homem robusto e rude, possuía os mesmos olhos do irmão.

– Bellatrix... – Olivia sussurrou em tom de aviso. Atrás dela, Frank tentava se aproximar do lugar onde a esposa caíra.

– Eu não faria isso se fosse você, Longbotton... – disse a Comensal de forma ameaçadora, enquanto seus olhos penetrantes estavam cravados em Olívia com intensidade. – Não se mova.

Frank o fez com ainda mais rapidez. Mas antes que pudesse chegar à Alice, que se levantava, alguém lhe lançou um feitiço silencioso e ele gritou de dor.

– Frank! – Olivia gritou e avançou.

– IMPEDIMENTA! – Bellatrix agitou a varinha.

– NÃO!

O alguém quem lançara o feitiço em Frank saiu das sombras e Olivia o reconheceu, sentindo o coração dar um salto no vazio e um nó sufocante em sua garganta. Ela jamais imaginara...

Era um adolescente franzino e de pele leitosa e muito branca, com cabelos cor de palha espalhados pela face confusa, que focalizava Olivia com um misto de receio e revolta sôfrega: Bartô Crouch Jr.

Sentiu náuseas. Não, não Bartô... o garoto que admirara em Hogwarts pela esperteza e sagacidade impar... o seu parceiro de poções, o seu primeiro e estúpido beijo... Aquilo era inacreditável.

– Bartô... – suspirou.


So I bleed,
I bleed,
And I breathe,
I breathe now...

Ele pareceu lembrar-se porque estava ali e lhe lançou um olhar obstinado. Avançou em Alice com rapidez e a pegou pelos cabelos, a varinha empunhada firme contra sua cabeça, a deixando sem ação.

Bellatrix mantinha seus grandes olhos em cima de Olivia com um prazer sagaz.

– Solte–a. – Frank ordenou para Bartô, ao seu lado. Olivia estava fria e insensível, sem sentir nem mesmo seus dedos que seguravam firme a base varinha. As duas mulheres agora só faltavam trocar farpas pelo olhar.

Ao ouvir o tom de Frank, Bartô tremeu, mas Rodolphos e Rabastan o olharam tão ameaçadoramente que ele se manteve na posição.

– SOLTE–A! – Frank urrou, correndo até onde a mulher estava, bravo.

– Frank, NÃO! – Olivia e Alice gritaram, mas já era tarde.

– Cruccio! – Os irmãos Lestrange gritaram e dois raios vermelhos cortaram o ar, e se instalaram no peito do rapaz, que caiu de joelhos na terra, gritando desesperado, se contorcendo de dor.

– O que você quer de nós? – Olivia perguntou diretamente para Bellatrix. Esta abriu um sorriso suave, sem separar os lábios, sorriso que não atingia seus olhos.

– Digam–nos onde está o Lorde! – Rabastan ordenou, cortando o feitiço, e Rodolphos fez o mesmo. Frank tombou no chão, exausto, gemendo.

Bartô permitiu que Alice corresse até ele, e ela se ajoelhou ao lado do marido que agonizava.

– NOS NÃO SABEMOS ONDE ELE ESTÁ! – Alice disse arredia, um fervor borbulhando em seu olhar – ELE ESTÁ MORTO, BELLATRIX!

– O Lorde não está morto – Bellatrix disse sem piscar. Apesar de atenta ao que acontecia a sua volta, ela não parecia capaz de desviar o foco de de Olivia. – O Lorde nunca morre. Rod – chamou, se virando para o marido – Faça–os dizer. Eles sabem.

Rodolphos e Rabastan foram até onde o casal estava. Rabastan levantou Alice grosseiramente pelos cabelos e Frank se ergueu cambaleando, mas foi segurado por Rodolphos que estava logo atrás dele.

Bartô se esquivou dos dois irmãos, como se os temesse tanto quanto Alice, Frank e Olivia temiam.

Ela sentia aquele medo paralisante que tinha lhe acompanhado muitas vezes nos últimos anos, durante a guerra. Estava assustada e com raiva, e decepcionada com Bartô, mas ainda assim presa ao chão. Sentia as mãos formigarem, uma pressão dolorosa atrás dos olhos. E, de repente, entendeu exatamente porque Bellatrix estava ali.

Era o jeito com o qual a mulher a encarava. Não havia para onde fugir. Estavam frente a frente, uma olhando nos olhos da outra, e o destino circulando entre elas como uma terceira presença.

Olívia sempre odiara aquela conversa de destino, que batia de frente com a sua alma livre. Não admitia que houvesse um caminho a que devesse seguir, ou que suas escolhas tinham uma razão maior de ser, além de suas intenções próprias. Execrava profecias, elas lhe davam arrepios. Olivia tentava ignorar até mesmo uma herança familiar que lhe dava habilidades com visões. No geral, ela preferia não saber.
No entanto, uma verdade sempre lhe fora pungente sobre a bruxa que encarava naquele momento.
Elas precisavam se enfrentar. Resolver suas diferenças de uma vez por todas. Bellatrix tentara arruinar sua vida com Sirius vezes demais. Da última vez, o levara a acreditar que nunca tinha abortado a criança, após ficar grávida dele em seu sexto ano. Justo quando ela, Olivia, estivera grávida de Johanne, a Black tentara roubar a atenção para si mesma, como lhe era típico.
Bem, aquilo tinha sido a gota d’água. Deixara Sirius perturbado por semanas, até descobrirem que tudo não passava de um blefe cruel da comensal.

Nunca perdoara a mulher por aquela última atrocidade.

– Cruccio! – Rabastan conjurou. A maldição imperdoável atingiu o corpo de Frank novamente. Ele se contorceu num sofrimento mudo, sem cair no chão, suspenso pelos braços e Rodolphos. Alice e Olivia gritaram para que parasse. Alice tentava se livrar de Rabastan que a segurava pelos cabelos com uma só mão, mas o bruxo era forte demais para fazer frente ao corpo pequeno da auror. Olivia ergueu a varinha.

– Impedimenta! – disse, apontando para Rabastan, para cortar a maldição. Mas alguém a impediu.

– Paralisae! – era Bartô. O feitiço de Olivia desapareceu no ar. Ela não olhou para ele, porque Rabastan tinha interrompido a maldição. Os olhos de Frank estavam perdendo o brilho.

– Você não quer sofrer, Frank – Bellatrix sussurrou, se aproximando, olhando para o auror que sufocava, as orbes negras faiscando perigosas. – Veja a sua mulher, ela está enlouquecendo... – Alice a olhou desafiadora. – Fale para nós onde está o Lorde, e sua morte será mais rápida.

– Nós não sabemos! – Frank rebateu.

– NOS NÃO VAMOS DIZER! – Alice o interrompeu, uma fúria que Olivia não conhecia brotando da amiga. – Não vamos dizer para você, Bellatrix!

– Não vai dizer? – a morena repetiu as palavras da outra, debochando. Se virou para Olivia, que se preparava para se aproximar. – Ninguém vai me dizer onde o meu Lorde está? NINGUÉM VAI ME DIZER? – Gritou enlouquecida, sacando a varinha.

Rabastan e Rodolphos sorriram. Olivia viu nos olhos de Bartô um misto de ansiedade e arrebatamento. A mulher, a passos de felino, se aproximou de Frank, e encostou a varinha na têmpora dele. Sussurrou algo para o marido, que se afastou do auror. Mas em algum lugar da sua mente, Olivia sabia o que ia acontecer naquela noite.

– É a sua última chance, Longbottom!

– Eu não vou falar NADA!

– CRUCCIO!

Olie apertou os olhos bem fechados, mas os gritos horríveis ainda arranhavam seus ouvidos.

Os casal de aurores e ela foram amarrados às árvores, depois de um feitiço não verbal que os pegou despreparados. Olivia estava suspensa por cordas em seus pulsos, estas tinham algum tipo de linha de corte, e se enfiavam mais fundo em sua pele toda vez que ela se debatia.

Alice estava amarrada num tronco alguns metros adiante. Mergulhara num torpor e lágrimas não paravam de escorrer por seus olhos de contas, e ela olhava fixamente para o marido que agonizada fixo ao troco grosso do carvalho.

– Bella, eles não sabem de nada! – Bartô sussurrou para a mulher, mas todos puderam ouvir bem, tal era o silêncio da floresta.

– Cale a boca, Crouch! – ela mandou, e ele se esquivou para perto dos outros dois homens, que assistiam a tudo muito satisfeitos. – Frank Longbottom, você irá se arrepender se continuar com sua lealdade estúpida ao velho esclerosado. Não vou lhe dar outra chance.

– Ele não vai dizer nada... – Alice gemeu. Bellatrix se virou.

– Talvez, vendo sua querida mulherzinha sofrer, você resolva abrir o bico, Longbottom – sibilou, apontando a varinha para o coração de Alice. Ela olhou insolente para a comensal.

– Covarde. – Sussurrou.

Bellatrix a atingiu com a maldição Cruciatos. Olivia sabia que lágrimas de agonia escorriam pelo próprio rosto, mas não se sentia exatamente em si mesma, era como se visse a cena toda de fora.

Daquela vez, a maldição durou tempo demais sem ser interrompida. Os gritos de Alice tinham cresceram, destruindo sua garganta, e então viraram gemidos baixos, enquanto a auror se debatia cada vez menos nas cordas.

Bellatrix, sem interromper o feitiço, gargalhava descontroladamente, e repetia "Diga! Vamos! Fale, Frank!" e "Veja, Frank, se você não falar nada, ela vai morrer!" e "Olhe só, como ela está sofrendo!".

Frank chorava desesperado, vendo a pessoa mais importante da sua vida ser destruída aos poucos. Mas ele não tinha nada para falar, e pedia que Bellatrix parasse, embora seu olhos também fossem se desfocando, e as palavras se embolassem no caminho da garganta.

Quando Frank já não falava mais nada, o olhar fixo e completamente perturbado em Alice, Olivia, que não sentia mais o corpo, conseguiu uma voz fraca para implorar.

– Já chega, Bellatrix. Já chega.

Bellatrix Lestrange abaixou a varinha. Alice relaxou, como morta, os olhos fechados, uma linha de sangue correndo pela boca.

A mulher se virou vagarosamente para Olivia. Como um dementador, parecia que seu maior contentamento era ver o quanto a outra sofria. Ela se alimentava do seu sofrimento.

– É uma pena que não puderam ajudar, não é mesmo, Olie? – disse amigavelmente. – Rabastan, Rodolphos, façam o que quiser com os corpos. Tenho assuntos importantes a tratar com minha velha amiga.

Quando Bellatrix a soltou, Olivia estava fraca e caiu de joelhos no chão. Em contato com a terra, olhou para os pulsos. Havia um corte em cada um deles, de onde sangue fluía com mais intensidade do que o esperado. Estava completamente tonta, sua vista turva. Estava sem varinha. Os pulsos doíam e as pontas dos dedos começavam a formigar.

– Vamos, Loren, precisamos conversar – Bellatrix continuou, estendendo a mão. Olivia a ignorou e levantou sozinha, mal conseguindo se equilibrar, e apoiou as mãos no tronco onde estivera amarrada.

– Eu não tenho nada para falar com você. – disse fria. Não via nada na sua frente, a não ser vultos, e isso a estava desesperando. – Você não se contenta em acabar com minha vida? Me deixe salvar Alice e Frank!

– Venha comigo. – Bellatrix disse, ignorando seu protesto e pegando–a pelo antebraço, tentando arrasta–la. Olivia puxou o braço bruscamente.

– NÃO VOU PARA LUGAR NENHUM COM VOCÊ!

Bellatrix levantou a mão e acertou um tapa na face de Olivia que, desorientada, caiu pesadamente entre as raízes. Ela voltou a se erguer, com o resto sublime de energia que tinha. Um vazio enorme ia acometendo seu corpo a medida que o sangue vertia de suas veias e molhava suas mãos, então eram absorvidos pela terra.

– É claro que vem – a mulher voltou a ordenar, pegando Olivia pelo braço. Ela se deixou arrastar, sem forças para resistir. – E vocês dois, sumam com os corpos, não vou demorar.

As duas mulheres andaram pela floresta por alguns minutos. Olivia não via para onde estava indo, mas sabia que gotas do seu sangue caiam pelo caminho. E tinha a impressão de que conhecia aquele caminho, de qualquer forma. Tentava pensar no que faria, mas havia uma nuvem espessa entre sua agonia e os pensamentos lógicos.

Finalmente, Bellatrix parou de andar e a soltou no meio de uma clareira. As árvores circulavam o lugar de um jeito estranho, como se tivessem entrado num acordo para formar um círculo. Suas copas de uniam e se embaralhavam no topo, tecendo um teto prateado. Havia uma única coisa no meio da clareira – um poço velho de pedra. Ela só tinha ouvido falar daquele poço, e fazia muito tempo.

– Você nunca chegou tão longe, não é, Loren? – Bellatrix perguntou por trás dela. – Eles dizem que esta floresta pode ser perigosa... parece que estavam certos.

Olivia se virou com ódio. Odiava quando a sonserina era cínica. Antes que pudesse evitar, socou o rosto de louça da mulher com toda a força. Ela gritou e com um empurrão, jogou-a no chão, alguns metros longe, entre as raízes de um tronco onde bateu a parte de trás da cabeça.

Atordoada, Olivia se virou e viu que seu o anel de noivado causara no rosto da outra um corte feio. E viu o que sua inimiga fazia, desviando a atenção.

Ela tinha nas mãos um punhal. Uma bela arma de prata e ouro branco, cujo cabo fora minuciosamente talhado com insígnias. Aquele era um objeto que pertencera há muito tempo à família Black, e Olivia o reconhecia. Ficou claro que a comensal o roubara de Sirius.

– Você não passa mesmo de uma ladra sem honra, Bellatrix – Olivia cuspiu. O punhal tinha sido presente do padrinho de Sirius para ele.

– Não é engraçado, que justamente a faca velha de Sirius seja o que vai dar um fim em você? – ela deu uma risadinha irritante – Eu acho engraçado.

– Eu penso que você não vai rir muito disso quando estiver apodrecendo em Azkaban.

– Azkaban? – ela gargalhou – Você acha que eu sou como Black, uma incompetente completa? Acha que vou me entregar para os aurores? Loren, francamente, eu esperava mais de você.

Seguiu–se silêncio. Olivia deixou–se cair na grama. O sangue ainda escorria dos seus pulsos, e ela estava cada vez mais fraca, embora tivesses voltado a ver com clareza. Não importava mais, naquele momento... algumas coisas estavam ecoando na sua cabeça. Podia ouvir com muita clareza, eram mais reais que a ladainha de Bellatrix.

"Não se preocupe, Olivia. Isso vai acabar... vai ficar tudo bem."

"Só ficará bem se você acreditar que vai ficar."

"E pare de dizer que vão acontecer coisas com você, apenas enfrente–as como uma verdadeira grifinória!"

"Só estou tentando levantar o astral das coisas..."

Bellatrix andou até Olivia e a puxou por debaixo do braço, forçando–a a se levantar. Sentou a jovem na beira do poço, cuidando para que seu corpo ficasse firme. Olivia viu névoa lá embaixo, circulando, brilhando suavemente. Agora a comensal estava muito próxima e tinha a boca perto do seu ouvido.

– Eles dizem que esse poço não tem fim. – cantarolou, alegre. – Como será, cair pra sempre? É uma peeena que você não vai me dizer... Porque vai estar mor–ta!

Bella segurou com uma mão os cabelos da outra, na altura da nuca, forçando sua cabeça para baixo e exibindo seu pescoço. Com a outra, posicionou uma das lâminas do punhal em sua garganta.

– Você sabe porque eu vou jogar você aqui, Olívia? – ela sussurrou, quase docemente, seu hálito quente soprando no ouvido de Olivia e arrepiando de asco seu corpo todo – Porque eu não quero que achem o seu corpo. Assim, você não pode se tornar uma heroína. Já estamos cheios de heróis... ninguém pode suportar mais um herói.

Olivia fechou os olhos. Pensou em Johanne, tranquila em sua cama. Quis acreditar que ela estava segura, para além de todo aquele mal. Desejou ter dito que a amava pela última vez, e murmurou isso, sem ligar se Bellatrix estava ouvindo.

– Você tem um último pedido, Loren? Ah, espere! Eu não me importo! Vamos logo com isso.

Concentrada em Olivia, Bellatrix não tinha notado as sutis mudanças que iam ocorrendo na clareira ao seu redor. A névoa as circundava, girando cada vez mais rapidamente em torno do chão. O ar estava uns dez graus mais frio. Um assobio suave vinha do fundo do poço, quase inaudível. O punhal em sua mão emitia um brilho fraco. Quando a comensal tencionou o pulso para cortar a garganta de Olivia, e então tentou deslizar a lâmina por sua pele, algo aconteceu. O punhal resistiu.

– Mas que diab...

Então ela percebeu. A névoa tinha virado um redemoinho frenético ao redor delas, vertendo diretamente para o centro do poço.

Olivia, aproveitando a hesitação da comensal, agarrou sua mão e afastou da sua garganta. Bella largou a arma, gritando, quando esta queimou sua mão. Olivia a tocou e foi possuída de imediato por um espirito frio de inconsciência. Seus olhos, antes azuis e calorosos, se tornaram duas placas claras de prata líquida.

– Pare já com essa magia! – Bellatrix ordenou, puxando sua varinha. – O que está fazendo, Loren? PARE AGORA!

Olivia não estava ouvindo. O assobio vindo do fundo do poço foi aumentando e arrepiando cada fio do corpo da comensal, mas a sua vítima parecia completamente alheia ao ruído. Ela tinha o olhar desfocado e o punhal não parecia queimá–la.

– Devolva! – Bella mandou. – Devolva, isso é meu! – e lançou–se sobre ela, tentando alcançá–lo. Foi repelida por uma força mágica que lançou seu corpo longe. Caiu derrapando no chão, mas prontamente levantou.

– LOREN, DEVOLVA!

Mas Bella não foi rápida o suficiente. Com horror, viu a jovem lhe lançar um olhar vazio e outro para o fundo do poço. Aquela altura, a névoa era tanta e tão coesa que se assemelhava a um véu, ondulando com rapidez. Bella viu o véu branco rasgar o ar, abrindo um buraco. Do outro lado havia sussurros baixos, excitados.

Olivia passou as pernas para dentro do poço. Ela segurava o punhal firmemente, apontando sua ponta estrelada para o centro. O buraco se abriu, ficando do tamanho da boca do poço. Olivia impulsionou o corpo para frente.

– Não ouse...

E se jogou. Sumiu rapidamente da superfície, ao mesmo tempo que Bella correu, esticando o braço para alcança–la. A névoa a repeliu ferozmente, dessa vez a jogando mais longe, lhe dando a sensação de um choque de energia. A comensal caiu inconsciente. O poço engoliu a névoa até o assobio sumir.

Já não havia sinal de Olivia Loren, tampouco.


Bleed,
I bleed,
And I breathe,
I breathe,
I breathe–
I breathe no more.

– BD –

Millow Mirrow se aproximou sem qualquer animo da casa. Era ali que precisava despejar mais uma torrente de noticias trágicas. Teria de enfrentar outra família pesarosa – e pensar que, com o fim d’Aquele Que Não Deve Ser Nomeado, chegou a acreditar que não teria mais que fazer o papel de mensageiro de péssimas notícias.

Mas não. Os comensais seguiam matando, aqueles parasitas infernais. Sem fugir da sua responsabilidade de Chefe do Departamento de Investigação do Ministério da Magia, bateu à porta.

Enquanto esperava, admirou a bela casa feita em madeira, bem conservada apesar da sua antiguidade. Era enorme, devia ter muitos quartos ao longo daqueles três andares. Sabia que o quarto andar abrigava a conhecida coleção de livros raros da família Loren, e em outra ocasião, Millow gostaria de ter ido ali conhecer aquele acervo espetacular de raridades.

Uma velha atendeu a porta, lhe tirando dos seus devaneios.

– Boa tarde, senhora. Sou Mirrow, do Departamento de Investigação do Ministério da Magia.

– Amélia Loren. Em que posso ajuda–lo?

– Gostaria de conversar com a senhora e o seu marido, se possível. Ele se encontra?

– Sim, pode entrar, fique a vontade, vou chama–lo.

Millow esperou o casal de velhos estarem sentado para contar sua história. Quatro comensais da morte capturados dentro da Floresta Branca, após a Central de Monitoramento de Magia Extraordinária identificar uma atividade incomum na vila aquela noite. Encontraram também um casal de jovens moradores da vila atados às arvores, inconscientes. Torturados, estado grave, provavelmente com sequelas irreversíveis.

E a parte mais difícil. Identificaram sangue na Floresta, e a varinha de Olívia Loren. Ela estava desaparecida. Pela quantidade de sangue perdido, se não fosse encontrada e socorrida nas próximas horas, poderia estar morta. Se já não estivesse. Mas não deviam alimentar esperanças.

Millow deixou a família lamentar sua perda. Ele se retirou da sala e andou até o quintal, para tomar um ar. Encontrou uma garotinha. Ela devia ter pouco mais de um ano.

– Olá. – acenou para ela, que brincava com alguma coisa. Ela sacudia o brinquedo pelo ar, como se voasse. Fazia um barulho de motor com os lábios. Não lhe deu muita atenção. – O que você tem ai?

Ela parou de brincar e abriu a mão miúda, lhe mostrando o objeto. Era uma pequena escultura de madeira, bem feita. Mostrava três pessoas sobre um artefato trouxa de transporte que ele sabia se chamar motocicleta.

– Que lindo. Quem são esses?

– Jojô, mamã, papá. – ela explicou, apontando. – Na estelas. – e apontou para o céu, sorrindo.

Millor assentiu. Ele se emocionou com aquela pequena e inocente, e agora órfã, menininha. Afagou sua cabeça, bagunçando a franja de cabelos muito escuros.

– Nas estrelas. Eles com certeza estarão olhando por você, pequena.


(Fim)


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Notas finais do capítulo

Eu sei, é de partir o coração.
E intrigante, quero dizer...
O que vai acontecer com Johanne agora? 
O que foi essa magia estranha que impediu a Bella de usar o punhal roubado do Sirius? 

Para essas e outras respostas, continuem acompanhando a série! Se você ainda não começou a ler Indigna Rosa Negra, o que está esperando?? 

Obrigada a todos que chegaram até aqui e aos comentários, poucos porém sinceros! Mil beijos!