Fragmentos escrita por Ly Anne Black


Capítulo 1
Cacos


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic em três partes que explica os acontecimentos da vida de Olivia Loren após a prisão de Sirius Black. Se você não sabe quem é a personagem, não deve ter lido Dossiê Bellatrix, Indigna Rosa Negra ou Acordado com Amoras. Eu sugiro uma passada lá, mas isso não é obrigatório - você pode encarar a história como uma Sirius/O. C. e caso se interesse em saber mais, dar uma olhada nas outras depois.



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31 de Outubro de 1981 – Godric's Hollow, Inglaterra.

– Alguma novidade na última reunião da Ordem? – Olivia perguntou para Lily, num tom baixo para que só ela ouvisse – Dumbledore disse mais alguma coisa, sabe, sobre o interesse de Voldemort em vocês?

Uma sombra perturbada passou pelos olhos verdes da ruiva.

– Eu já lhe disse sobre a profecia. – ela comentou com a voz fraca – É isso que continua impulsionando Você–Sabe–Quem, a estúpida profecia que lhe faz pensar que Harry é uma ameaça.

– A profecia realmente existe? – seu ceticismo era recorrente. Olívia não gostava daquela história de prever o futuro.

– Não importa, desde que ele acredite que é – a ruiva continuou, e uma lágrima começou a surgir no canto de seu olho – Eu tenho tanto medo... Medo por Harry – olhou tristemente para o filho que brincava com Anne e Sirius na mesa do jardim – Dumbledore tem ajudado com boas idéias para nos esconder. Mas se alguma coisa nos acontecer, o que será dele, sozinho no meio de uma guerra?

Olivia abraçou a amiga com carinho, no fundo tão perturbada quanto ela. Também estava com medo do futuro, e não via como ser otimista. Ela evitou chorar quando a bebê veio até ela gingando e lhe mostrou as mãos melecadas de abóbora.

Sirius passara a tarde com o afilhado e a filha fazendo Jack Lanternas, escalado para ser o adulto responsável por manter o nível de bagunça no mínimo. No entanto, ele próprio parecia ter entrado em uma abóbora.

– Você tem coisa laranja gosmenta no cabelo – Olie lhe avisou com uma careta quando ele passou por ela.

– Faz parte da minha fantasia de Halloween – Sirius piscou, tentando lhe acertar um beijo no rosto, ao que ela esquivou rindo.

Mais tarde, eles deixaram a casa de Lily e James, que pretendiam fazer sua própria comemoração de dia das bruxas à meia noite. Era uma data especial, fazia um ano que tinham se mudado para Godric’s Hollow, que viviam como uma família, e que, contra todas as expectativas, estavam criando Harry em segurança.

Sirius tinha a bebê adormecida nos braços e caminhou até a moto voadora, usando a varinha para cobrir a noiva com feitiços de proteção, depois à Johanne e a ele mesmo. Olívia subiu na garupa com desgosto, já predizendo as náuseas da altura.

– Não podemos ir pelo chão, só hoje?

Ele abriu aquele sorrisão–Sirius típico.

– Justo hoje que o céu está incrível?

Ela rolou os olhos. Ele sempre tinha uma desculpa como aquela. “Justo hoje que a lua está em alinhamento com a constelação de Belteugese?” Justo hoje que Vênus está no seu quadrante sul?” Ele gostava de estar lá em cima, junto com as estrelas, mesmo quando elas estavam escondidas. Olívia preferia a estabilidade da terra firme. Eles travaram uma pequena disputa visual até que o moreno cedeu

– Tudo bem, só hoje. E só porque a Jô está dormindo e não vai ver essa lua cheia de tirar o fôlego.

– Ela é visível daqui do chão, sabe?

– Isso não tem graça. Não é perto o bastante.

– Você pode mostra–la amanhã. Ainda vai ser lua cheia.

– Bem, vai saber? – ele deu de ombros – As coisas andam tão imprevisíveis.

– Não gosto quando fala assim.

Mas ele ria, lhe estalou um beijo na bochecha e deu partida na moto, que rugiu como um pequeno monstro noite a dentro.

Olivia morava perto, do outro lado da colina, no vilarejo vizinho. Apesar da proximidade, os dois lugares não podiam ser mais diferentes. Godric’s Hollow era alegre, com casas cheias de cor e pessoas calorosas. Lembrava um lugar onde os contos de fadas aconteciam. St. Sensille, no entanto, era mais como onde em que o vilão do conto de fadas moraria.
À proporção em que se aproximavam, uma névoa densa tomava o ar, rodopiando mais concentrada perto dos pés. Para quem chegava, tudo era um pouco turvo, mas a sensação passava com o tempo. A névoa retinha o frio, motivo pelo qual, mesmo no verão, a noite do vilarejo era enregelante. Aquela altura do outono, respirar a névoa fazia o nariz arder.

Sirius aterrissou a moto barulhenta na varanda da casa dos Loren. Ela pegou Johanne nos braços e Sirius deu um beijo na testa da filha, colando os lábios na franja preta.

– Se eu pudesse – Olívia começou a resmungar, limpando uma poeira imaginária da roupa – nunca mais deixava você andar nessa máquina trouxa louca.

– Ah, nem vem – ele disse fazendo uma careta engraçada, mostrando–lhe a língua – Além do mais, a Jojô gosta, não gosta, filha?

Johanne, ocupada em sonhos de bebê, que provavelmente envolviam caretas em abóboras, não se deu ao trabalho de responder.

– Pare de ser tão ranzinza! – ele roubou um beijo de Olivia, e ela revirou os olhos.

– De toda forma, já está tarde, Sirius, é melhor você ir para casa, antes que minha mãe nos encontre aqui e comece a implicar.

– Tem certeza que quer que eu vá? – perguntou, fazendo sua melhor cara de cachorro que caiu da mudança – Ou melhor, tem certeza de que não quer ir comigo?

– Tenho. – suspirou, realmente tentada. – Vou pôr Anne para dormir, ela já brincou muito hoje, e tenho que reconstruir a lombada de "Magia Defensiva dos Bruxos Gauleses", alguém vem consulta–lo amanhã cedo.

– Olivia – ele a interrompeu suavemente – você não larga essa biblioteca velha nem no meio de uma guerra?

Ela olhou zangada para ele, como quem diz "não é assunto para brincadeira", então acariciou seu rosto com a mão que não segurava a filha, cujo peso já começava a doer seu braço.

– Temos que continuar vivendo, amor... – suspirou cansada, fitando os olhos negros dele – Apesar de tudo, não devemos nos render ao terror.

– Boa noite, Mane – ele disse carinhosamente, enfim recolocando as luvas de couro de dragão – Boa noite, princesa – e beijou a bochecha rosada da filha – Eu continuo achando estúpido que não podemos morar juntos. Não era pra isso que estávamos preparando aquele apartamento em Londres? Odeio ter que dormir longe de vocês.

– Nós conversamos sobre isso. Dumbledore acha que aqui é mais seguro para nós.

– Dumbledore acha muita coisa. – ele bufou.

– Eu concordo com ele.

– Olívia, não. Eu posso protegê–las, ok? Que tipo de incompetente eu sou, se não posso dar segurança à minha mulher e à minha filha? Isso tudo é estúpido. Faremos um feitiço Fidelius, nunca vão nos encontrar. Nós nem somos alvos, de verdade, não como Lily e James.

– Nós somos da Ordem. Isso nos torna alvos o bastante.

– E como se enfiar numa vila minúscula dentro de um hotel velho vai ser mais seguro do que comigo?

– Sirius...

Ele enfiou os dedos pelos cabelos que cultivava longos, seu ar transtornado vindo à tona novamente, caída a fachada da displicência habitual.

– Só me mata ter que ir e deixar as minhas garotas aqui.

Quando ele falava algo assim, a desmontava de todos os seus argumentos. Queria ir com ele, mais do que qualquer coisa. A guerra não os deixava ser uma família de verdade. Estavam adiando o casamento deus sabe há quanto tempo, por falta de uma oportunidade. Se viam muito menos do que gostariam. Tinha medo de ir com Sirius e, de alguma forma, colocar Johanne em perigo.

Em St. Sensille, pelo menos, existiam as barreiras mágicas, garantidas por muitas camadas de magia protetora feitas pelos habitantes, todos os dias, ao longo de séculos. Dumbledore explicara o quão forte era aquilo. E então, deixar tudo para trás e ir a um pequeno apartamento trouxa no centro da Londres trouxa?

Ela não confiava na Londres trouxa.

– É melhor eu ir. – ele observou por um tempo a expressão reticente dela, e montou na moto. – Nos vemos amanhã.

– Sirius – pediu – Não vá zangado comigo.

– Não estou. Mas gostaria que confiasse um pouco mais em mim.

– Eu confio!

Ele deu um tipo de sorriso triste, que não combinava com seu rosto bonito. Puxou a jovem pelo braço e beijou sua testa.

– Sonhem comigo, as duas. Se cuidem.

Ele levantou voo com sua moto horrorosa e barulhenta. Por um momento, a jaqueta de couro refletiu o brilho da lua e reluziu, mas depois sumiu, e ela só via a luz do farol traseiro. Depois não soube mais o que era o farol, no meio de tantas estrelas. Ela apertou Johanne protetoramente nos braços.

– Nós poderíamos ter ido. Não poderíamos? Eu gostaria de ter ido, Jojô.

– BD -

O dia amanheceu incomum. Havia uma coruja espancando o vidro de sua janela quando Olívia acordou.

– Se a senhora puder esperar só um segundo... – praguejou, se enroscando no robe. O que a ave trazia era um bilhete com um código engraçado.

A coruja é chamada ao ninho antes do sol subir.

Era o tipo de mensagem que não gostava de ler, mas acontecia cada vez mais frequentemente. Uma onda de náusea varreu seu estômago, e rapidamente se enfiou em roupas quentes, sem se preocupar se combinavam.
Era como se fingisse viver, mas o constante teatro do dia a dia fosse um arremedo de existência, enquanto no fundo esperava por um momento como aquele o tempo todo.

Não havia tempo para pegar o trem: aparatou até o quartel general, se sentindo fraca por fazê–lo, pois a distância era grande. Encontrou caras piores que a sua, e teve a sensação de que todos já sabiam o que havia acontecido de errado, menos ela. A primeira pessoa que viu foi Hagrid, no oposto da sala, afundado em uma cadeira, parecendo menor do que realmente era, por estar encolhido. Sua juba de cabelos estava revolvida e cheia de orvalho, e ele portava uma capa pesada de viagem. Era só o que dava para ver dele, pois a cabeça estava enfiada entre os braços e o tampo da mesa.

Remus também estava lá. Estava arrasado, mas era mais que a lua cheia. Seus olhos castanhos estavam perdidos do outro lado da sala, pareciam buscar uma resposta que o mundo ainda não tinha inventado.

Ela ignorou as outras pessoas da sala, quando percebeu que a cadeira onde Sirius costumava se sentar permanecia vazia. Ele não costumava se atrasar. Ele não estava lá. Olivia sentiu seu coração saltar dois batimentos. Andou até McGonnagal sem pensar.

– O quê…?

– Estamos esperando o Prof. Dumbledore, Srta. Loren.

A Professora McGonnagal estava dura e branca como um boneco de cera. Ninguém ia tirar nada dela, a jovem percebeu, e se afastou. Procurou sentar, com receio do chão, que parecia ameaçar faltar.

Ela percebeu que aquilo era medo. De que, não estava muito claro. Não estava querendo – não conseguia – fazer suposições.

Dumbledore entrou pela porta, e absolutamente todas as cabeças o acompanharam se sentar à mesa redonda do salão. E todas as respirações foram presas.

Dumbledore, para Olivia o maior e melhor mago do universo, tinha a aparência de sempre, com seus longos cabelos e barbas brancas. Mas os atenciosos olhos azuis tinham um brilho fora do normal, quando ele pigarreou.

– Senhoras e senhores, vou ser muito breve. Como alguns de vocês já devem estar cientes, tenho hoje aqui uma notícia maravilhosa, e uma terrível. Elas estão interligadas profundamente, de uma forma que eu mal seria capaz de explicar. – e mais um pouco de suspense, ou talvez fosse simplesmente uma tentativa vã de reprimir uma grande dor – O Lorde Voldemort foi finalmente derrotado.

As pessoas continuaram ridiculamente imóveis. Algumas piscaram.

– Porém, isso custou a vida de dois dos nossos melhores membros. Duas pessoas que foram traídas da pior maneira que alguém pode ser traído, traída por alguém por quem dariam a vida se fosse preciso. Apesar de tal ato de barbárie, a sabedoria e o amor foram os responsáveis por nos livrar de Tom Riddle.

Olivia sentiu algo estranho, que parecia com se desfazer. Seus fragmentos pareciam evaporar no ar pesado com vapor.

Por algum motivo, os olhos de Dumbledore a procuraram, quando ele prosseguiu.

– Nessa madrugada, dia das Bruxas, Lorde Voldemort conseguiu a localização de quem perseguia há quase quatro anos. Através de um informante que pensávamos ser confiável, e que era o fiel do segredo, ele chegou até Godric's Hollow. Matou Lily e James Potter, mas sua verdadeira intenção era acabar com a vida do herdeiro, o pequeno Harry, e foi nele eu o Lorde encontrou a sua derrota. Não se sabe bem como, mas o nosso grande inimigo não foi capaz de vencer o filho de Lily e James. Devo lhes informar que o pior bruxo das trevas dos últimos cem anos perdeu todos os seus poderes, e sumiu.

A partir daí, Olivia não ouviu mais nada, embora consciente de que Dumbledore dava outras informações. Alguém perguntou de Voldemort estava morto, mas ela não pôde ouvir a resposta. Uma dor pior que cruciatos veio chegando, junto com o entendimento. O caminho de entender aquelas palavras embotou seus sentidos por algum tempo, até ela perceber que não havia mais ninguém na sala, a não ser Dumbledore, que esperava pacientemente.

– Creio que você queira saber do Harry.

– O–onde... onde é que ele está?

– Na casa dos tios.

– A irmã e o cunhado de Lily? – ela perguntou fracamente, tentando se recuperar. – Mas ela os odiava! Eu posso, eu poderia... ficar com ele!

– Infelizmente não será possível, Srta. Loren. Tenho motivos para crer que o que quer que protegeu Harry da fúria de Voldemort depende de contato com seu sangue para continuar existindo. A Sra. Dursley é a única Evans restante.

Olivia baixou a cabeça. Queria mais que tudo ficar com Harry, mas confiava perfeitamente no que Dumbledore estava falando.

– Voldemort... ele está morto?

– Tenho quase certeza que não. Apenas perdeu todos os seus poderes por causa de um garotinho...

Ela riu tristemente.

– E... – mas não conseguiu falar, porque sua garganta se fechou novamente, e mais lágrimas escorreram pelo seu rosto. Engoliu muitas vezes, mas não era possível engolir também a ausência dolorosa dos amigos. – Não foi o Sirius, não é? Por favor... por favor, me diga que não foi ele! Não o Sirius, ele não seria capaz, ele amava James como a um irmão...

– A informação que temos é que Sirius era o fiel do segredo, e se Tom descobriu onde Lily e James estavam, é porque foi informado, Olivia. – ele sentenciou o mais suavemente que pode – Só o fiel poderia dar essa informação.

– Não, Dumbledore! – ela disse mais alto, balançando negativamente a cabeça. – Acredite em mim, eu tenho certeza que não foi ele, ele NUNCA faria algo assim...

– Eu entendo o que quer dizer. Isso não se parece com ele. Infelizmente, nós temos que ter em mente que a guerra muda as coisas, e as pessoas. – Olivia parou de murmurar imediatamente. – Eu não posso certificar nada, e o fato de ele ter fugido é mais uma evidência de que...

– NÃO! ELE NÃO FUGIU! Tenho certeza que aconteceu alguma coisa... qualquer coisa... e ele não pôde vir agora, mas...

– Não, Olivia. Sirius realmente desapareceu, está ilocalizável por todos os meios, e até mesmo se livrou da moto.

– Não sei se posso aguentar tudo isso... – ela suspirou por fim, baixo, e Dumbledore a consolou, embora nada pudesse atravessar a dor dela naquele momento.

– BD -

Informativo Urgente do Profeta diário,

Acabamos de confirmar, que às 10h20min da manhã, dia 01 de novembro, foi preso o criminoso Sirius Edward Black, cujo crime chocou toda a comunidade mágica. Sirius Black, segundo fontes confiáveis, foi ritualizado fiel do segredo da localização dos Potter, família perseguida por Aquele–Que–Não–Deve–Ser–Nomeado há alguns meses, e os traiu, entregando à Aquele–Que–O–Comandava a informação que protegia, embora se acreditasse ser amigo e confidente da família Potter. Na noite de 31 de Outubro o Sr. e a Sra. Potter foram assassinados por Aquele–Que–Não–Se–Deve–Nomear, o qual perdeu seus poderes, misteriosamente, ao enfrentar o filho do casal, o garotinho de apenas 1 ano de idade.

Sirius Black, capturado esta manhã após explodir uma rua trouxa, ocasionando a morte de doze trouxas e um bruxo ainda não identificado, terá prisão perpétua em Azkaban, sem julgamento, pelos crimes de traição e serviço comensal, cúmplice de assassinato, e assassinato a sangue frio.

O paradeiro d’Aquele–Que–Não–Deve–Ser–Nomeado e de Harry Potter é desconhecido.

Aguardem por novas informações,

Correspondente de Londres, Michael Lowans.

Sophia Olivaras olhou piedosamente para a prima que se desmanchava em soluços. Queria fazer alguma coisa por ela, mas Olivia não podia ser ajudada. Aquela dor não ia passar seja lá como fosse, e só o tempo poderia resolver. Ela esperava que as coisas melhorassem logo, que a sombra da guerra se dissipasse e a tristeza sumisse dos olhos das pessoas que amava.

Ainda com um peso enorme no coração, por Sirius e pela prima, a única no mundo que a entendia como era, enxugou as lágrimas, deu um beijo de despedidas em Olivia e em Johanne, que dormia, e pegou a mochila nas costas. Queria ficar, mas não podia adiar mais – a tia nunca deixaria que ela fosse, e se tinha que fugir, era melhor ir no meio de todo aquele rebuliço. Já estava na porta, quando ouviu a voz de Olivia.

– Sophia... Se eu não for capaz... Se eu não resistir... prometa pra mim que vai – que vai olhar por Johanne... Que vai mantê–la longe das garras da minha mãe... Não deixe que minha filha sofra como sofri nesse casa... prometa.

Sophia gostaria de dizer que tudo iria dar certo, mas não acreditava nisso. Talvez os acontecimentos confusos daqueles tempos estivessem anuviando seus sentidos, mas tinha uma certeza dolorosa que coisas horríveis estavam por vir – que os desastres ainda não tinham acabado. Só pode assentir.

– Tenho que ir, Olie, sinto muito. Espero que fique tudo bem.

Quando Sophia se aproximou para um abraço de despedida, Olívia a segurou pelo pulso. Seu olhar ficou sério e grave.

– Não esqueça que Johanne é sua afilhada. Você tem um vínculo de magia com ela.

– Eu sei. Eu sei.

E com um último olhar de despedida, virou as costas, esperando ter se livrado de vez da vila, e rezando para ver a prima novamente, um dia, talvez, quando as coisas estivessem melhores.

– BD -

03 de Novembro de 1981, St. Sensille – Inglaterra.

Aquele era um dia triste de outono. O céu pesava, as estrelas apagadas daquela última noite de lua cheia tinham ido embora.

No cemitério de Godric's Hollow, onde vários antecedentes da família Potter foram enterrados ao longo dos séculos, a tristeza parecia ser a única matéria de que eram feitos os olhares, e lágrimas e as palavras.
A família Potter era tradicional e querida no vilarejo, e muitos também tinham vindo prestar sua homenagem aos bruxos que, por bem ou por mal, puseram fim ao terror que Voldemort representara.

As pessoas gostavam de pensar que o Lord das Trevas estava igualmente morto.

Os que tinham de fato conhecido e amado Lily e James em vida se posicionaram num lugar privilegiado a direita de suas covas. Dumbledore foi pessoalmente celebrar aquela cerimônia histórica. Haviam repórteres ali. Eles perguntavam por Harry Potter.

Todo mundo queria saber de Harry Potter. E embora Olivia achasse que ele estaria melhor com ela do que com os tios trouxas, podia ver que seria ruim para o garoto toda aquela atenção. Era uma lástima que o pobre bebê nem mesmo tinha o direito de se despedir de seus pais.

O destino era injusto. Olívia tremia sob uma chuva fina que começara a cair. Não tinha trazido Johanne, tampouco. Estava evitando passar muito tempo com ela, andava tão confusa, olhava em seu rostinho e via Sirius, e então o imaginava em Azkaban, e seu ar sumia...

A garoa espalhava uma camada suave de brilho pelo gramado verde esmeralda do cemitério. Os dois caixões de madeira nobre imperavam silenciosos, encerrando dentro deles as duas pessoas que, para Olivia, não precisavam ter ido. Tanta coisa planejada para o futuro, todos os planos deixados para trás.

Dumbledore começou a falar. Sua voz amplificada magicamente ecoava pelo cemitério inteiro.

"Os que aqui encerramos foram por toda a sua vida pessoas nobres e de bom coração. Souberam viver aproveitando o que o mundo lhes podia oferecer de bom, e nunca deixaram de acolher um amigo que estivesse em dificuldade. Souberam amar e perdoar, dispuseram de uma bonita amizade e um amor acima de qualquer desafio, e sempre se recusaram a viver de outra forma se não na felicidade. Deixaram seu fruto na Terra, uma prova viva de amor e dedicação absolutas, e partiram cedo demais. Não se nega que ainda tinham muito à viver, mas se aceita que viveram plenamente durante o tempo que lhes foi dado. E agora que partem, que vão em paz e tranqüilidade, e não deixaremos de semear as preciosas sementes que, durante vida, plantaram e nosso coração."

Os olhos de Dumbledore cintilavam mais que nunca naquela manhã. Olivia e ele trocaram um olhar longo, cheio de dor, e magicamente, os caixões iniciaram a descida para sob a cova espalmada presente através da grama.

Ela sentia um vazio que jamais pensara ser capaz de existir, enquanto se despedia dos amigos. Dos meus irmãos, corrigiu–se mentalmente. A sensação era de que se despedia de um pedaço de si mesma.

Ao retornar para casa, o Sr. Loren lhe esperava, balançando Johanne no colo. Ele lhe deu um olhar terno e envolveu o braço em torno de seus ombros, a levando para a sala de inverno. Ela sentou numa poltrona ao acaso. A bebê exigiu seu colo e se aninhou com a cabeça em seu ombro.

– Que tal você está, Olie?– seu pai tinha um tom preocupado, mas tranquilizador.

– Eu... eu sinto falta deles.

– Sim. Eles eram jovens incríveis, com certeza.

– Eles eram. – ela tremeu. – Papai?

– Sim?

– O senhor acha que Sirius foi o culpado? Que ele os entregou?

O Sr. Loren pareceu pensar naquilo por um momento. Seu rosto arredondado era sereno e, o que quer que ele dissesse, Olívia confiaria. Ele tinha um histórico de opiniões certeiras, de modo que confiava em seu julgamento cegamente. Duas vezes mais num momento como aquele, quando se sentia tão desorientada. O senhor esfregou o nó dos dedos na barba branca bem aparada, rente ao queixo – um hábito antigo – e se voltou para a filha.

– Acho que isso é fácil de descobrir, Olivia.

– O que quer dizer?

– Vocês se conhecem a muito tempo. Quando olhar nos olhos dele, você saberá a resposta.

Ela sentiu uma onda de náusea diante da sugestão implícita.

– Não posso vê–lo, pai. Não posso ir a Azkaban. E se ele... isso é horrível, mas e se ele...

Mas ela não podia pronunciar aquilo em voz alta, de modo que sua voz fraquejou e sumiu. Seu pai lhe olhou com compreensão.

– Leve seu tempo, minha filha.

– BD –

19 de Dezembro de 1981, Sábado – St. Sensille, Inglaterra.

– Vamos, Jojô, eu sei, ainda é cedo, mas precisamos ver o tio Moony! – Olívia falhava, tentando persuadir a filha a acordar.

Até uma criança de pouco mais de um ano podia reconhecer que deixar a cama no frio modorrento de St. Sensille era um absurdo. No entanto, a vila não ficava tão perto de Londres, e precisavam ir o quanto antes para a estação, pegar o trem das oito horas.

– Vem, sua pequena preguiçosa. – Olivia decidiu por fim, pegando-a no colo, sob protestos sonolentos – senão vamos nos atrasar.

– Vai sair, filha? – O Sr. Loren perguntou assim que Olivia entrou na cozinha, com Johanne no colo, ainda sonolenta, mas com um bonito vestidinho branco de babados.

Olivia sentou a bebê na cadeirinha dela e se deixou cair ao lado, desanimada.

– Vou. – respondeu, se esforçando para sorrir ao seu pai. – Até Londres falar com Remus.

– Remus Lupin, o lobisomem? – a Sra. Loren fez uma careta de desagrado, enquanto trazia o café para a mesa.

– Mãe, não fale assim dele – reclamou a jovem, inutilmente. – Lupin sempre foi muito simpático com a senhora, e o fato de ele ser lobisomem não muda isso!

– Suponho que mude – Amélia Loren continuou, sentando–se à mesa. – Ou pelo menos é o que todos acham, por que pelo que sei, ele não está exatamente conseguindo emprego com facilidade... – insinuou com depreciação.

Olivia se controlou e baixou a cabeça para fazer o prato de Johanne. Realmente não estava com disposição para brigar com a mãe àquela hora da manhã, até porque não era de hoje que Amélia não aceitava bem os seus amigos.

Então seu pensamento voou para Sophia. Sua mãe, tia de Sophia, não tinha se mostrado tão preocupada com ela ter fugido, quem sabe até aliviada, diferente do seu pai, que ainda tentava se corresponder com a sobrinha (sem sucesso). Olívia não tinha notícias dela, só esperava que não estivesse arrependida da ideia impulsiva de sair do país com o namorado francês.

Depois da cansativa viagem, se viu em Londres novamente. Quanto tempo fazia que não ia àquela cidade? Quase um ano, pelos seus cálculos. Mas não esquecera o frenético vai–e–vem de pessoas muito ocupadas com seus próprios assuntos, ou os carros do tráfego, o frio muito mais agradável que o de St. Sensille, e mesmo o barulho do metrô. Estranha sempre que se dava conta de como havia um mundo completamente alheio a uma guerra e também ao fim dela. Voldemort tinha vindo e ido e os trouxas continuavam por ali, comendo churros e dirigindo seus automóveis, abençoadamente ignorantes.

Ela levava Johanne num canguru, que seria perfeitamente trouxa, se não fosse por um feitiço de levitação discreto, que impedia de sentir o peso da menina. Era a primeira visita da garotinha à Londres e ela virava a cabeça para todas as direções, curiosíssima. Elas pegaram o metrô, e pouco tempo depois saltavam na Leree Street, rumo à casa de Remus.

O prédio era pequeno e escondido. Se ela não tivesse o endereço nas mãos, não o enxergaria. Com algum receio, subiu suas escadas íngremes – lugares trouxas lhe pareciam sempre instáveis. Depois de alguns lances, parou na frente do apartamento de nº 408, dotado de uma porta descascada e uma placa manchada de ferrugem.

Bateu os nós dos dedos na porta. Uma, duas, três vezes. Ouviu uma movimentação lá dentro, e minutos depois a porta se abriu suavemente.

Não era o mesmo Remus com quem convivera na escola, em definitivo. Este tinha olhos tristes e escuras olheiras sob eles, a pele sem brilho e cabelos opacos, que pareciam refletir sua tristeza. Ainda assim, um sorriso suave se abriu no rosto do rapaz ao reconhecer sua visita.

– Olie! Oh meu Deus! – e a abraçou carinhosamente, e em seguida recolheu Anne no colo, com mais alegria ainda, e os olhos brilhando. – Nem acredito que você a trouxe! Jojô, como você cresceu! Tudo bem com você?

Johanne abriu um sorriso cativante, os grandes olhos negros brilhando de reconhecimento, e Lupin ajudou a tirá–la do canguru, lhe deu um beijo na bochecha, então virou para a amiga novamente.

– Entre – saiu da frente para dar espaço – Você é doida? – disse depois que ela entrou e a porta foi fechada. – O que te deu na cabeça pra vim aqui, garota, é perigoso! Está cheio de comensais lá fora ainda! – mas apesar do tom de repreensão, ele sorria.

O pequeno apartamento de Lupin era a cara dele, Olivia observou. Tinha um único cômodo e uma única porta que não a de saída, que devia ser o quarto. A cozinha e a sala eram separadas por um balcão de madeira, sendo a cozinha impecável e sem muitos artefatos e a sala com um velho sofá marrom, uma pequena mesa de centro, um rádio mágico, uma janela estreita e, em duas paredes, do teto ao chão, pesadas estantes de carvalho escuro, cheias de prateleiras, e prateleiras repletas de livros antigos que em outra ocasião teria achado muito interessantes.

– Você está bem, Moony? – perguntou preocupada, mas rindo, ao observá–lo brincando com sua filha.

– Ah, Olivia, eu vou indo – disse melancólico. – E você?

Ela suspirou, um nó na garganta. Só Lupin poderia saber como ela se sentia em relação à Lily, James e Sirius, só ele compartilhava sentimentos semelhantes. Desviou o olhar, sentindo que as lembranças ainda podiam fazer verter lágrimas atrozes.

– Você sabe... – sua voz estava levemente rouca, e se esforçou em mudar de assunto. – A Sophia fugiu de casa. Foi para a França.

– Foi? – ele levantou as sobrancelhas. Pelo brilho intenso de seus olhos, Olivia sabia que aquele assunto também o incomodava. – Com Austin? – perguntou, a voz soando amofinada.

– Com Austin – ela confirmou suspirando, se aproximando do balcão onde Remus tinha posto Johanne sentada e a distraía.

– Espero que ela esteja satisfeita, então. – ele disse, os olhos brilhando. Encarou Olivia, que o olhava com uma certa pena e alguma desconfiança. – É sério – salientou – desejo para ela toda felicidade que puder ter com ele.

– Remus... Sophia também gostava muito de você. – ele evitou encará–la, olhando para a afilhada novamente. – Mas você precisa entender, ela estava apaixonada. A paixão não deixa as pessoas pensarem direito.

– Então você também acha que ela está errada em fugir do país com um cara que conheceu há tão pouco tempo? – questionou, magoado.

– Não posso julgá–la, nem julgar Austin. Mas ela está certa em seguir seu coração, e não devemos ir contra os sentimentos dela, não se nós a amamos.

– Você tem razão. Toda a razão. Quer um chá? – perguntou, tentando soar mais animado.

– Tudo bem, quero sim. – aceitou sorrindo.

– E você, filhote? – virou-se à afilhada – também quer chá? – Johanne balançou a cabecinha de cabelos muito negros afirmativamente.

Ele providenciou as bebidas com acenos práticos de sua varinha, e a chamou para o sofá.

– Mas afinal, Olivia, porque você se pôs a viajar para Londres só para vir aqui me ver? Poderia ter pedido para que eu fosse até lá, era mais seguro!

– Ah, Moony – revirou os olhos, rindo, cuidando para a filha não derramar chá no vestido – Eu estava mesmo precisando vir até aqui lhe ver, estava com saudades. Você conseguiu algum emprego?

– Até parece – ele suspirou derrotado, sentando do outro lado do balcão, para ficar de frente à Olivia. – Não existe vaga para um lobisomem perigoso e insano no mundo mágico. Eu até tentei alguns empregos trouxas, mas "não tenho as qualificações necessárias". E você, anda trabalhando muito?

– Muito pouco. Minha mãe não queria, mas meu pai conversou com ela e a convenceu a me liberar um pouco da biblioteca para que eu cuidasse de Johanne. Dumbledore, você sabe, ele é um homem muito bom e tem me dado um descanso da Ordem, até porque não houve mais ataques.

– Eu ouvi dizer que os comensais andam procurando membros da Ordem para nos obrigar a dizer o que aconteceu com Voldemort. Como se nós realmente soubéssemos...

– Você tem notícia de alguém da Ordem? – Olivia perguntou, já quem em St. Sensille ela dificilmente ficava sabendo de alguma coisa. As corujas se mantinham longe da vila se podiam, odiavam a névoa.

– Quase nunca. Sei que Hagrid continua em Hogwarts, como Guarda–Chaves, e o ranhoso, você sabe, conseguiu uma desmerecida vaga de professor de Poções, agora estou com pena dos alunos. Já Alice e Frank... Frank me mandou uma carta semana passada, acho que conseguiu um emprego na Escócia. É muito tentador, mas estou em dúvidas se ele vai aceitar e deixar Alice e Neville sozinhos.

– Remus – ela o interrompeu. – Você tem notícias do Harry?

Os seus olhos escureceram, como se tanto quanto ela, ele se sentisse revoltado com fato de Harry estar na guarda dos desagradáveis parentes de Lily, e tão longe de seu verdadeiro mundo. Negou, voltando sua atenção para a afilhada, que tentava rolar a xícara pelo balcão.

Olivia os observou por um tempo. Às vezes chegava a se questionar por ter escolhido Remus como padrinho de sua filha, então lembrava das circunstâncias. Ela ia escolher Lily e James, e isso já estava combinado desde que eles eram apenas estudantes. Mas então, Lily a chamara e conversara com ela sobre os motivos de achar melhor não assumir a responsabilidade.

A amiga tivera a sensação de que Anne ia precisar de uma proteção que nem ela nem James poderiam dar no futuro, e por mais que Olivia relutasse, acabou concordando, porque sabia que, no fundo, Lily de alguma forma tinha razão.

Então reunira Remus e Lily e os três conversaram sobre o assunto, chegando a um consenso. James também concordou, e dez dias depois do nascimento de Anne, Remo Lupin e Sophia foram consagrados seus padrinhos de magia.

Revendo agora sua decisão, se sentia absolutamente segura de que tinha feito a coisa certa, e ficava tranquila quanto à Anne ter Moony e Sophia sempre por perto. Ou ao menos, vivos. Por outro lado, se lembrava que era madrinha do pequeno e indefeso garotinho nas mãos dos piores parentes que alguém poderia ter, e não podendo fazer nada, seu coração apertava.

– Eu gostaria de vê–lo. – disse resoluta.

– O que? – Remus levantou os olhos da afilhada, sem entender.

– Harry, Remus. Eu gostaria de poder vê–lo. Eu não sei se poderia ir sozinha, mas sinto falta dele, e gostaria de vê–lo ao menos uma última vez, e saber se ele está realmente bem.

– Eu não acho uma boa ideia. – falou, com certo receio.
– Como assim? Ele iria gostar de ver rostos conhecidos! Ele poderia brincar com Anne, e nós teríamos certeza se está sendo bem cuidado. Eu acho que é o mínimo que podemos fazer por Lily e James!


– Você está penando em Lily e James e em você mesma e no peso da sua consciência – o lobisomem disse duramente – mas não no próprio Harry. A única chance que ele tem de ter uma vida boa no mundo trouxa, Olie, é deixar tudo isso para trás. Nós, a magia, tudo. Isso não vai acontecer se nós aparecermos lá sempre que sentirmos peso na consciência.
Ela abriu a boca para protestar, mas não pode pensar em algum argumento. Era a aterrorizaste verdade: Harry precisava esquecer. Não havia nada que pudessem fazer com ele que não fosse reavivar o fato de que era órfão agora.


– Isso é terrível – ela murmurou com uma mortificação conformada – Mas acho que tem razão.

Tentava aceitar a teoria de Dumbledore de que a segurança era mais importante que a educação mágica de Harry. Dumbledore nunca estava errado antes. Pensar assim, no entanto, não acabava com a sensação de impotência que a tomava desde a morte de seus amigos, a fuga de Sophia, a prisão de Sirius.

Nunca ia aceitar o modo como sua vida ia desmoronando, se destruindo, e o quanto se encontrava impossibilitada diante de tudo isso.

Ela permaneceu silenciosa até terminar o seu chá, enquanto Remus e Johanne brincavam de ‘levite a sua colher de chá’ no tapete.

– Olie?

– Sim?

– No que está pensando?

– Logo ele não vai se lembrar de nós, não é?
Remus percebeu que ela ainda estava falando de Harry.

– Será bom para ele ficar afastado de toda essa bagunça por um tempo.

– É o que Dumbledore acha.

Ele assentiu.

– Dumbledore também acha que Sirius pode ter traído Lily e James.

Remus ficou sensivelmente pálido.

– É o que toda situação parece indicar...

– Você o conheceu, Remus. Como pode dizer algo assim? James... James era para Sirius tudo e um pouco mais. Ele jamais...

– Eu penso que existia algo que significava mais para Sirius.

Ela o olhou com uma pergunta muda. Remus suspirou perturbado.

– Eu andei pensando nisso, e pensei muito, e a única conclusão a que cheguei é que, se de alguma forma vocês duas, ou uma de vocês duas fosse ameaçada, então Sirius diria qualquer coisa. Quem sabe o que fizeram com ele para falar, Olie? Aquele homem amava vocês mais que tudo nesse universo. Se por um momento sequer achou que vocês estavam em perigo, ele teria quebrado o Fidelius, e quem pode culpa–lo?

– Você acha? Que ele foi torturado para contar, que o pegaram e ameaçaram nos fazer mal, e por isso ele contou?

– Eu acho que é possível, você não?

– Bem nesse caso... nesse caso, foi tudo culpa minha.

Remus a olhou sem entender. O peso daquela nova compreensão estava deixando Olivia amortecida e gelada.

– Naquela noite, véspera do dia das bruxas, Sirius insistiu para que viéssemos com ele aqui para Londres. Ele disse que queria nos proteger, que... que... – inspirou, com dificuldade – ele disse que não se sentia bem longe de nós. Será que ele já estava sendo ameaçado?

Remus pareceu refletir sobre aquilo.

– Não temos como saber. Mas eu sei que ele gostaria muito de ter vocês duas por perto.

– Então talvez, se eu estivesse com ele aquela noite, ele não teria sido ameaçado... ele não teria entregado Lily e James e eles não estariam mortos agora! É minha culpa, e ele tentou me avisar, mas eu sou tão medrosa, eu sou tão estúpida...

Ela começou a soluçar. Remus se apressou em abraça–la e acalentar Johanne, que estava assustada com a explosão de soluços da mãe.

– Já chega, Olie. Ninguém tem culpa em acontecimentos como estes. É impossível prever desastres numa guerra. A gente só faz o que acha que é melhor, mas não tem como saber.

– Mas se eu o ouvisse, ele reclamava, eu nunca o ouvia, eu sou tão t–teimosa...

– Pare com isso, está assustando sua filha. – ele disse severamente – Não faz o menor sentido se culpar, não sabemos o que aconteceu aquela noite. Aquela não foi a primeira vez que Sirius lhe chamou para ir morar com ele, foi?

– N–não...

– E nós sabemos que ele não estava sendo ameaçado antes, porque ele teria nos dito. Pode ter sido só uma coincidência, Olivia. Eu quero lhe mostrar uma coisa.

– O quê?

– Venha comigo.

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

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