— Quando eu disser corra... Corra!

Não pôde deixar de sorrir ao ouvir a voz inconfundível.

Ouviu-o lutar contra mais dois terroristas que a tinham capturado, provavelmente os deixando inconscientes, uma mão foi estendida em sua direção.

— Vamos sair daqui.

Deixou que ele a guiasse para fora daquele lugar, antes que pudesse pedir respostas era preciso sair dali, deixou que ele a levasse para fora. Saíram por uma porta, era fim de tarde e o Sol já tinha praticamente sumido no horizonte.

— O que é isso? – Irene quis saber ao sentir uma algema sendo colocada em seu pulso.

— É para me assegurar que você não fugirá na primeira oportunidade, temos assuntos pendentes a tratar. – Sherlock explicou enquanto colocava a outra algema no próprio pulso.

Irene não escondeu a expressão curiosa, então eles ‘tinham assuntos a tratar, é?’ não imaginava que tipo de assunto teria para tratar consigo, a última vez tinham se visto ele consegui vencê-la no jogo cujo objetivo era ter a posse das informações no final. Lembrava-se perfeitamente de quando contatou o Consultor Criminal, Jim Moriarty, para lhe oferecer informações que virariam o mundo do mais velho dos Holmes de cabeça para baixo.

Obteve todas as informações necessárias, por isso sempre soube que logo o famoso Sherlock Holmes iria atrás de si, na realidade esperava que ele viesse de fato. Preparou-se da melhor maneira que pode, o jogo era interessante e tentador demais para evitar não jogá-lo, era seu tipo favorito, então, no momento em que o conheceu, sentiu mais interesse por seu adversário do que esperava, mais interesse do que deveria.

Nessa ocasião permitiu que seus sentimentos levassem a melhor, seu grande erro e por isso acabou perdendo o jogo.

Sherlock segurou na mão de Irene para evitar que as pessoas na rua os olhassem mais curiosas que o necessário, as algemas em si nem eram tão estranhas, mas duas pessoas de burca, algemadas e perambulando pelas ruas era algo curioso em potencial.

Entraram num hotel, por fora e por dentro era decorado de maneira clássica, Sherlock pediu a chave do quarto e foram até o último andar de elevador, Irene não tinha dito nenhuma palavra desde que saíram do lugar que seria sua execução e provavelmente seu túmulo, se perguntou se ele havia escolhido o último andar para evitar uma tentativa de fuga pela janela. Ela não pretendia fugir, agora estava instigada a saber o que o detetive consultor pretendia. Após abrir a porta do quarto e entrarem Sherlock tirou as algemas.

— Sinta-se à vontade Adler, tem algumas roupas no quarto, imagino que não vá querer ir jantar de burca.

— Que jantar?

— Aquele que eu te devo.

Irene observava Sherlock o estudando, tentando entender o porquê daquilo tudo, estava agradecida por ele tê-la salvo, claro, mas não entendia o porquê dele tê-la levado até aquele hotel para um jantar, principalmente depois de como tudo terminou da última vez que se encontraram.

Sherlock retirou a burca por cima da cabeça, viu a mulher entrar no quarto e depois o barulho do chuveiro sendo ligado. Foi até o outro quarto e entrou no chuveiro, saiu de lá e separou seu terno preto, a camisa, a calça, os sapatos, não tinha pressa, sabia que estaria pronto antes dela.

A mulher não se sentia mais tão especial, quando o grande detetive resolveu o grande mistério e a deixou mais exposta do que quando apareceu nua na sua frente, daquela vez tinham um jogo elaborado para participar. Se não tivesse se deixado levar... Se não tivesse se divertido demais, a ponto de deixar seu emocional guiar e não o racional, razão que a levou a quase ser morta se não fosse ele aparecer lá, mas... Agora não fazia ideia do que o levava ali.

Irene escolheu um vestido preto, prendeu os cabelos como costumava, calçou seus tão adorados Louboutin e para finalizar o batom vermelho, não usaria nenhum tipo de disfarce, afinal ela não tinha porque dissimular. Saiu do quarto e foi até a sala onde Sherlock estava passando os canais de tv na tentativa de encontrar algo interessante. Levantou-se da poltrona que estava sentado, esperou que a mulher se aproximasse e ofereceu o braço, ela aceitou e saíram do quarto para irem ao restaurante.

Na entrada do restaurante, Sherlock conversou com o maitre e foram levados a um espaço reservado. Lá só havia a mesa que ocupariam, a mesa estava decorada com velas e ao lado um garçom a espera. Irene esperou que servissem o vinho para começar a perguntar.

— Pois bem Holmes, se bem me lembro você nunca respondeu minhas mensagens e nunca aceitou um convite meu para jantar, então por que agora? – Sherlock a encarava, parecia que tentava encontrar maneiras de dizer algo.

— Ora Adler. – Ele sorriu de leve — Pensei que você fosse mais esperta, você mesma disse que queria ser lembrada como ‘A mulher que ganhou de mim’.

— Eu ganhei de você, naquela vez ao menos.

— Mas não ganhou no final.

— Por causa de um defeito químico encontrado nos perdedores, como você disse.

— Ambos somos perdedores minha cara Adler.

Então ela compreendeu o que o levou ali depois de tudo.

“Sentimento.”

O mesmo motivo que foi a causa da sua derrota naquela vez, era o mesmo motivo que o levara ali.

Irene sorriu, demonstrando que tinha entendido o propósito daquilo tudo.

Mais tarde naquela noite Sherlock Holmes implorou por misericórdia, duas vezes.