2006

Rubem Alves escreveu:” O encontro inesperado, as situações inusitadas, o que não foi combinado, mas tinha que acontecer.”

“É bom trabalhar com você novamente Emily” Ele disse saindo, me deixando sozinha no meu cubículo. Mil pensamentos rodearam minha mente, mas o predominante foi: ele continua igual. Claro, alguns anos mais velho, mas ainda com o mesmo charme, audácia e comprometimento com o trabalho de sempre. Fiquei ali sorrindo para o meu relatório, ou o que era para ser um. Você deve estar se confundindo, então vamos começar do início: O encontro.

Havia sido transferida há poucos dias do exterior. Elena estava satisfeita em passar mais tempo comigo, porém tentava esconder de mim o fato que estava triste por ter deixado minha mãe para trás. Seria um dia normal, deixaria Elena na escola, depois a babá (uma senhora viúva, moradora do mesmo prédio) que contratei iria busca-la e ficaria com ela até a hora que eu voltasse. As coisas pareciam perfeitas, pena que só pareciam.

Estava ansiosa para conhecer minha nova equipe, afinal era uma equipe de elite, não que eu não tenha trabalhado com a elite antes, mas eu estava curiosa mesmo era pra conhecer o chefe. De acordo com boatos era um homem fechado, integro e que valorizava muito sua equipe. Estava sentada no escritório dele, quando ele entrou. Eu mal pude acreditar, parecia um fantasma na minha frente. Mesmo em meio a caixas ele me reconheceu, ficamos nos encarando pelo que pareceu uma eternidade, até que ele desviou o olhar meio incomodado. Trocamos poucas palavras antes dele e a equipe partir para um caso. Mas o que eu soube imediatamente era que eu faria o que fosse para ficar com esse emprego. Pelo que eu percebi ele não estava ciente de uma transferência, e o mais importante ele não queria um novo agente.

Foi muito difícil entrar na equipe, e mais difícil ainda fazer com que confiassem em mim. Tive a oportunidade de provar meu valor nos meus primeiros dias de trabalho, em um caso de terrorismo. O caso requeria conhecimento não apenas cultural, mas também da língua árabe, foi ai que tive minha chance. Fiz minha primeira viagem em equipe, mesmo sendo apenas com Reid e Gideon, este último não me queria na viagem, mas tenho a impressão que um certo supervisor fez ele mudar de ideia. O caso foi resolvido com êxito, e pouco a pouco fui fazendo parte da equipe.

Na maior parte do tempo eu me preocupava apenas com o trabalho, mas as vezes me peguei distraída pensando na possibilidade dele conhecer Elena. Não isso não poderia acontecer em hipótese alguma. Mesmo que ele já houvesse esquecido o que aconteceu naquela noite, ele não era burro, bastaria apenas perguntar a idade e fazer as contas. E ele não precisava disso, nós não precisávamos disso. Ele tinha uma família, e Elena não precisava de um pai agora, ou pelo menos eu não queria admitir que o que fiz todo esse tempo foi errado. Estava ocupada o suficiente com meu debate interior, quando vejo alguém muito conhecida no escritório, e que por acaso eu não sabia que estava no país.

Para variar mamãe conseguiu a ajuda da equipe em um caso de seu interesse. Grande novidade, ela sempre conseguia o que queria. O caso em si não foi o mais difícil, o difícil foi os sermões que recebi enquanto estávamos a sós em sua nova residência. “A senhora está aqui há muito tempo?” Tentei puxar uma conversa enquanto ela esperava um retorno de um de seus contatos, ou apenas adiar o assunto inevitável. “Não, cheguei há alguns dias. Faria contato com vocês em breve” Ela disse secamente, ou seja mal sinal. “E por que a senhora está aqui?” Ela me olhou ceticamente, ela sabia que eu estava fugindo do assunto principal. “Por favor Emily, não precisa ficar enrolando, você sabia que eu descobriria mais cedo ou mais tarde” Ela disse revirando os olhos e continuo “ E nesse caso talvez eu tenha descoberto mais cedo do que você pensa” Olhei para ela curiosa. “Logo depois que vocês foram embora, resolvi checar em que você trabalharia de verdade, e devo dizer que fiquei realmente feliz com o que descobri. Talvez assim, a verdade venha a tona” Dito isso ela me analisou, ela podia não ser uma profiller, mas sabia muito bem prever a reação das pessoas, acho que é uma qualidade comum nos políticos. “Nós já conversamos sobre isso mamãe, e achei que a senhora tinha concordado que era melhor deixar o passado no passado” Ela continuo me analisando e respondeu “Tínhamos Emily, mas você não facilitou trazendo o passado para o presente e além do mais uma hora por mais que você tente evitar Elena fará de tudo para descobrir” Ela sorriu, orgulhosa “Não sei se você percebeu, mas ela tem um dom nato em descobrir as coisas”. “É ela tem” concordei. Estava de saída para o escritório quando mamãe, sendo ela não perderia a oportunidade de fazer uma observação “A proposito querida, ele continua bonito” Revirei os olhos e sai.

O caso foi encerrado e fui jantar com mamãe e Elena. Era um fato que mamãe estava a me perturbar perguntado a Elena se eu estava namorando, normalmente isso não me afetaria, mas mamãe entrou em um assunto mais delicado, ela perguntou a Elena se ela já havia conhecido minha equipe, e essa foi uma pergunta seguida de uma disputa de olhares meus e de mamãe, eu sabia o que ela queria, ela queria manipular Elena, e Elena claro notou que havia algo errado. Ela sempre foi boa em notar as coisas, agora eu teria que aguentar minha filha me pedindo para conhecer a equipe. Eu deveria ter ficado furiosa com mamãe, mas não fiquei apenas continuei o jantar após ter dito que eu não era muito intima dos outros membros, porém do canto do olho pude observar mamãe revirando os olhos. Pelo menos esse assunto estava encerrado, pois mamãe perguntou a Elena como estavam suas aulas de latim, ela claro falou que estavam ótimas e ela era a melhor da turma, e começou a nos contar que sua babá foi casada com um ex-militar russo, e que a ela estava lhe ensinando russo. Mamãe claro ficou satisfeita, Elena era realmente uma Prentiss, talvez até mais do que eu, apaixonada por línguas, e de fato tenho a impressão que ela estava orgulhosa da minha pequena. Ouvindo a conversa delas sobre línguas sorri satisfeita, esse assunto da equipe ficaria de lado por um tempo. Eu esperava que fosse até Elena aprender Árabe coisa que eu esperava que demoraria muito.

Eu estava no meu cubículo, aparentemente sozinha, terminando meus relatórios do último caso, ou pelo menos tentando, já que eu ainda estava pensando na minha conversa de mais cedo com Elena. Ela estava querendo aprender árabe, eu tentei convence-la para esperar mais, pelo menos ela terminar as aulas de latim, mas ela me disse que seria logo, eu tentei enrolar, mas sabia que não tinha como, quando Elena botava uma coisa na cabeça, não havia quem a tirasse, no final das contas ela é muito parecida com minha mãe, para não falar que é comigo. Fui tirada dos meus pensamentos quando Hotch veio se despedir de mim.