Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 8
Capítulo 08 – O melhor curry do mundo


Notas iniciais do capítulo

Dia 08
Live and let die (Guns n' Roses)



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Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 08 – O melhor curry do mundo

Kagami foi até o outro e pegou a caixinha de sua mão, colocando-a de volta no lugar.

Você tem algum problema com isso?

Poucas situações no mundo tiravam Aomine de seu lugar seguro. E, ultimamente, tudo com esse poder se relacionava com o ruivo a sua frente. Reconhecia aquele olhar duro, a expressão de alguém pronto para lutar pelo que acredita e defende. Lutar até a morte. Já fora vítima de tal mirada dentro das quadras mais de uma vez.

Ficou desconcertado. Kagami estava mesmo dizendo o que compreendera? Sérião?! E se estivesse, Aomine tinha algum problema? Ou sequer algo a ver com a vida pessoal do outro? Não. A resposta era “não” para ambas as perguntas.

— E por que eu teria? — devolveu a pergunta reassumindo a expressão desinteressada. Fora pego de surpresa, mas não deixaria nada estragar a diversão.

— Tsc — Taiga desfez a postura defensiva, apesar de olhar com certa precaução para seu visitante. Como se esperasse alguma coisa da parte dele. Um olhar diferente, que Daiki também já vira incontáveis vezes dentro das quadras, no rosto de seus inimigos derrotados. Olhos de quem foi ferido. Não estava preparado para descobrir isso em Kagami, não naquela situação, sob aquelas circunstâncias.

— Pouco me importa o que faz da sua vida, Bakagami. O que me interessa é saber se vai me deixar passando fome, escravo — foi a única maneira que encontrou de dissipar o clima pesado.

— Mas você é um pé no saco mesmo! — resmungou seguindo para a cozinha.

— Cuidado com o tom de voz, baka. Respeito é pra ser usado — repreendeu indo atrás do ruivo.

Sentaram-se a mesa retangular de quatro lugares. Um em cada ponta. Kagami serviu-se e deu uma grande mordida em seu hambúrguer, mastigando rápido. Em poucos segundos deu-se conta de que o outro continuava parado, apenas assistindo.

— O que foi? — indagou de boca cheia, confuso com a quietude dele. O infeliz não estava de mimimi por causa da fome? Como não recebeu resposta respirou fundo e repetiu a pergunta — O que foi, Aomine sama?

— Que mundo é esse em que um escravo começa a comer antes de servir seu dono? — Daiki fingiu indignação.

— EE?! Você quer que eu te sirva?! — exclamou depois de engolir a primeira mordida com dificuldade.

— Divida os hambúrgueres em quatro partes. Eu quero refrigerante também.

Kagami desistiu de lutar. Era melhor fazer aquilo logo de uma vez antes que Aomine o provocasse mais e mais, porque o garoto insuportável se divertia claramente com cada uma de suas reações rebeldes.

Pegou um prato e uma faca. Foi partir o primeiro lanche, quando a voz de Daiki o impediu, antes que alcançasse um dos sanduíches.

— Não vai lavar essas mãos? — fez uma careta.

— !!

— Higiene passou longe...

— Sinto muito, Aomine sama — a faca afiada tremeu perigosamente entre seus dedos, fazendo Daiki erguer uma sobrancelha, mas em total alerta para o caso de precisar desviar-se e salvar a vida.

Entretanto Kagami apenas colocou o objeto sobre a mesa e foi lavar as mãos. Fez bastante espuma e fez questão de mostrar como ficaram bem limpas, obrigado. Após secá-las, pegou um dos hambúrgueres, partiu em quatro partes e estendeu o prato para Daiki, que ficou analisando seu trabalho.

— Este pedaço aqui 'tá maior. Você cortou desproporcional — apontou um aleatório com o longo dedo de pele amorenada.

Taiga sorriu largo, mostrando os dentes e aquele brilho perigoso no olhar.

— To me segurando pra não cortar sua cara em quatro partes iguais, Aomine sama. Não abusa da sorte.

Daiki riu. Fazia tanto tempo que não se divertia tanto! Mas deu um tempo na provocação. Começou a comer seu lanche, aceitando o copo de Bepsi gelada que Kagami empurrou em sua direção. Estava meio frio, mas o Maji Burger possuía qualidade inquestionável, por isso o hambúrguer continuava saboroso.

— Seu habito alimentar é péssimo, escravo — Aomine falou assim que terminou o primeiro — Refrigerante e fast food não é o mais indicado para atletas como nós. Me prepare mais um.

Taiga jogou o dele sobre a mesa para poder cortar outro, conforme Daiki exigira. Não se preocupou em cortar do mesmo tamanho, se Aomine reclamasse o mandaria tomar no meio do rabo.

— Eu não como apenas isso — revelou — Sei que não dá pra viver só de porcaria, mesmo morando sozinho. Aprendi a cozinhar muito bem. Meu curry é o melhor do mundo.

— Ee? Você sabe fazer curry?

Kagami ergueu os olhos para Aomine, reconhecendo aquela expressão. Deu-se conta de que tinha falado demais. Novamente. Quis se chutar, mas já era tarde. Era uma pessoa despreocupada e sincera, sim. Porém, parecia que com aquele imbecil sentado a sua frente as coisas fluíam ainda mais naturalmente. Antes que percebesse as informações escapavam por seus lábios sem que pudesse (ou tivesse tempo) de evitar.

Seria Taiga algum tipo de masoquista? Por que fornecia munição para que o outro o atacasse? Qual o problema consigo?!

— Sim, Aomine sama. Eu sei fazer curry confirmou resignado.

— Então amanhã eu venho pra cá depois do treino e deixo que cozinhe pra mim, escravo.

Disse exatamente o que Kagami esperava que fosse dizer, claramente se divertindo muito com tudo. A maior prova disso era o sorriso que iluminava-lhe o rosto. Aquele era o sorriso que Kuroko se esforçara tanto para ver de novo?

Engraçado. Ainda que tivesse perdido e se dissesse cheio de rancor e desejo de vingança, Aomine vinha sorrindo muito daquele jeito nos últimos dias. E não era um sorriso tão ruim assim de se observar. Pelo contrário.

Taiga recostou-se na cadeira e passou as costas da mão pela bochecha, para limpar alguns farelos de pão. Lembrou as palavras do jogador que era sua confiável sombra.

Perder deixou uma marca profunda, mas logo ele segue em frente.

E era o que aquele cara estava fazendo, não era? Tentando seguir em frente, do jeito dele, meio distorcido e fora dos padrões. Tentar passar por cima de quem o derrotara. Do primeiro que conseguira enfrentá-lo na zona. Ou melhor, do único que conseguira entrar na zona justamente para enfrentá-lo e derrotá-lo. Para proteger os sonhos de todos os companheiros de time, jogando um basquete que Aomine acreditava nunca ser o tipo vencedor. Mas fora.

Se aquela era o jeito que Daiki encontrara de curar as feridas e permitir que a vida seguisse em frente, então talvez devesse ajudá-lo, já que fora o grande responsável por tudo o que acontecia. Em vários sentidos.

— Tudo bem, Aomine sama. Pode vir amanhã sorriu de leve.

Daiki parou de comer e encarou o ruivo, confuso com a mudança de atitude. Não entendeu a facilidade que ele se rendeu à sua exigência. E a postura toda mudara, o clima estava diferente, mais leve. Ficou um pouco preocupado.

— Oe, nem adianta colocar veneno no curry. Você vai provar antes de mim!

Uma veia saltou na testa de Kagami. A frase acusatória varreu as boas intenções do rapaz mais rápido do que o Katrina varreu o sul dos Estados Unidos.

— Se foder, Ahomine! Vou colocar veneno no teu rabo, isso sim!

— Olha a boca, escravo. Não vai colocar nada no meu rabo, não.

— Eu com a maior boa vontade e você fazendo graça! Espero que tenha uma diarreia amanhã.

O rapaz ergueu as sobrancelhas.

— Não adianta colocar laxante também! Eu sabia que essa sua bondade era muito suspeita...

— Devolva o meu hambúrguer e o refrigerante! Acho que já comeu o bastante da minha bondade, maldito.

Aomine riu antes de enfiar a ultima parte do sanduíche na boca, enchendo as bochechas; para evitar que o ruivo tentasse tomar de si. Mas não tinha a prática voraz de Kagami e acabou engasgando-se. Taiga, ao invés de socorrê-lo teve uma crise de risos, assistindo enquanto o outro ficava roxo e sufocava.

Com custo Daiki engoliu a comida, lançando adagas de rancor com os olhos na direção de Kagami, que se arrependeu profundamente de não ter salvado o outro. Pois seu castigo foi enviar cem mensagens de texto para Aomine, pedindo perdão por ser um mau escravo.

Mas não pôde negar que se divertira bastante!

continua...


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Notas finais do capítulo

A intenção é fazer três ciclos nessa fanfic. O primeiro, que é mais das briguinhas infantis, está chegando ao fim. O segundo vai focar nos dois descobrindo os sentimentos e o terceiro e último, é para que eles se acertem. Isso é o planejamento, mas 28 capítulos é um bocado de coisa e eu sou péssima em visualizar a distância. Então se sair tudo diferente, paciência!

Até amanhã!



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