Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 26
Capítulo 26 – A primeira neve


Notas iniciais do capítulo

Dia 26
Epitáfio – Titãs
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Contagem regressiva: 02 dias para o fim das postagens T.T



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Tempest

Kaline Bogard

 

Capítulo 26 – A primeira neve

Kagami estava com o cotovelo apoiado na carteira e o rosto descansando na mão espalmada. Os olhos vagavam pela área gramada do lado de fora da sala de aula, através da janela. A mente vagava perdida, longe dali.

Tanta coisa acontecera nas últimas semanas. Desde Seirin avançando e chegando tão longe na Winter Cup a um certo idiota avançando e chegando tão longe em sua vida.

Aomine Daiki, o cara que o eliminara no Intercolegial e a quem imaginara como eterno rival. E que agora era seu par romântico. Exatamente. Mas entre um ponto e outro havia uma longa reta...

Não. Apaga isso.

Entre eles serem rivais e se envolverem de outra forma havia um longo caminho cheio de curvas, pedras, voltas, becos sem saídas, desvios e... a tendência quase patológica de Kagami de exagerar as coisas. Não fora exatamente um desenvolvimento de shoujo manga, mas também não fora tão difícil assim.

Aquele velho clichê de um escravo se envolvendo com o dono, talvez? Taiga se estapeou mentalmente pela comparação. Isso o fez voltar a realidade, e prestar a atenção no quadro negro.

Suas notas tinham sido bem ruins, claro. Por isso estava ali na escola, sábado de manhã para fazer reforço de várias matérias. Não estava sozinho. Mais três ou quatro gatos pingados estavam ali também. E Kuroko, sentado atrás de si.

Para os dois integrantes do time de basquete a recuperação era essencial. Ou estariam fora do Intercolegial do próximo ano, pois teriam aulas de recuperação no horário de funcionamento do clube.

Riko dera um ultimato: ou melhoravam as notas ou o esquadrão de ajuda seria reunido e atacaria muito pior. Kagami não queria passar madrugadas em claro estudando. Então só havia uma solução: levar o reforço muito a sério.

Mas era difícil! Como fazer isso com a mente divagando sobre sua situação com Daiki? E o jogo revanche que faria no dia seguinte? E ter recém conhecido sua sogra, fato que lhe causara uma diminuição significativa na expectativa de vida? Mas Kaoru san era uma senhora muito legal. Parecida com Daiki, para o bem ou para o mal. Dica: nunca tire o colete salva-vidas do peito, porque a família Aomine desconhece o significado de “Cessar Fogo”. Enfim...

As experiências pareciam longe de acabar. Ainda tinha aquela noite que dormira na casa de Daiki. Bem, “dormir” era exagero. No máximo umas cochiladas ocasionais, já que estava em uma posição bem... meio... muito... tipo... resumindo: uma posição em que nunca estivera antes. Inocente, claro. Observando-se certos parâmetros. Nada demais acontecera.

— Kagami kun? Kagami kun?

Taiga ergueu os olhos e fitou Kuroko, parado em pé ao lado de sua carteira. Compreendeu que estivera perdido em pensamentos de novo. O professor já saíra da sala.

— O que foi?

— Não vai almoçar?

— Aa, claro!

Os dois pegaram o bento e saíram da sala. Não havia muitos alunos por ali, apenas os que precisavam fazer algo específico nos clubes ou aulas extras, como era o caso deles. Podiam escolher qualquer lugar para sentar no refeitório deserto. Era um tanto triste, todo aquele silêncio. O ar parecia ainda mais frio, apesar de Seirin ter um bom sistema de aquecimento.

— Kagami kun está muito distraído. Aconteceu alguma coisa?

— Mais ou menos. Conheci a mãe de Daiki. Ela é bem legal, um pouco assustadora às vezes, mas saí vivo, é o que importa.

Kuroko balançou a cabeça, enquanto fisgava um pedaço de peixe com o hashi.

— Conheceu o pai dele também?

— Não. Ainda não — e nem tinha pressa, na verdade. Seu coração não aguentaria outra ameaça de infarto em tão pouco tempo.

O assunto morreu. Tetsu também parecia distraído e isso chamou a atenção de Taiga. Ele terminou de comer seu almoço e resolveu indagar o que estava acontecendo.

— Tudo bem com você?

Kuroko voltou-lhe aqueles olhos azuis apáticos, que nunca revelavam nada, nem a menor dica do que o rapaz pensava.

— Hn. Resolvi seguir o conselho de Kagami kun.

Isso o fez erguer as sobrancelhas, intrigado.

— Que conselho? — não se lembrava de ter dado nenhum.

— Quando disse que eu devia arriscar mais, sem racionalizar tanto sobre os sentimentos de Satsuki.

— Ah! Sério? — sorriu — Então você e a Momoi estão namorando?

— Resolvi aceitar os sentimentos dela. É o que eu quero fazer agora — mesmo que ainda não tivesse certeza de que por baixo da gratidão houvesse algo mais. Não queria olhar para trás e se arrepender por não tentar.

— Então você gosta dela! Que bom, Kuroko!

— Hoje vai acontecer um Matsuri de inverno em Arakawa. Vou com Satsuki. Por que não vem com Aomine kun também, Kagami kun? Vai ser divertido.

O convite foi bem recebido. Kagami animou-se com a ideia. Normalmente não gostava de ficar zanzando por aí no tempo frio. Mas um festival com os amigos e Daiki era uma ótima pedida!

— Vou convidá-lo — tirou o celular do bolso — Que horas?

— Poderíamos nos encontrar as seis horas em frente a estação.

Kagami balançou a cabeça, empolgadíssimo com o programa. Enviou um e-mail para Aomine –sim, agora ele tinha coragem de fazer isso- perguntando o que ele achava e passando os detalhes do encontro. Então colocou o fone sobre a mesa, talvez o outro respondesse rápido.

— Mas não vou a caráter! — Taiga arrepiou-se todinho por baixo da blusa do uniforme e abrigo extra que vestia. Tinha calafrios apenas de se imaginar vestindo um kimono de inverno. Nunca parecia quente o bastante.

Antes que Kuroko respondesse, o celular de Taiga vibrou em cima da mesa. Era a reposta de Daiki. Um simples “okay” digitado em katakana. Aff.

— Combinado — sorriu mostrando a tela para Kuroko — Será demais!!

Kuroko sorriu diante de tanta animação. Era impossível não se contagiar com a energia que se desprendia do corpo do outro garoto, quase uma aura avermelhada e quente de pura felicidade.

Então o dia acabou para Taiga. Se ele tinha dificuldade de concentração antes, depois de marcar o encontro nada sobrara em sua mente além de fantasias animadas sobre como seria passear com Aomine no Matsuri de inverno.

Perdeu a conta de quantas vezes se estapeou mentalmente. E de nada adiantou, pois a imaginação fértil sempre vencia. Parecia uma garotinha apaixonada! Que horror.

Passou pelo Maji Burger e comprou alguns lanches, não pensava perder tempo cozinhando. Chegou em casa e os deixou na cozinha, antes de ir procurar o que vestir. Fuçava em suas roupas quando algo atraiu seu olhar. Era um kimono de inverno. Nem se lembrava de ter aquilo! Mas era verdade: sua mãe insistira em que se aproximasse o máximo que conseguisse de suas origens. Não que tivesse funcionando, afinal não usara kimono sequer uma vez desde que chegara ao Japão.

Todavia, enquanto segurava o tecido do kimono, a tentação atingiu sua nuca como uma flechada. Sentiu uma vontade irresistível de usar aquilo no Matsuri e decidiu que iria sim a caráter no festival de inverno! Só colocaria algum agasalho extra por baixo, já que não queria nada ventilado naquele frio desgraçado.

Teve tempo de comer seus hambúrgueres e tomar um banho rápido. Colocou os trajes e gostou do resultado. Era marrom bem escuro, com tulipas estilizadas em amarelo bem claro nas mangas e em crescente a partir da barra. Fez um bico, porque só agora prestara atenção nos detalhes. Sua mãe tinha cada ideia...

Quase desistiu, porque não queria parecer arrogante. Por outro lado, podia interpretar como um desejo para o futuro, de sucesso na vida? Enfim... só tinha aquele kimono e estava animado para usar. Então, paciência.

Em pouco tempo estava pronto. Não era vaidoso, mas gostou do resultado. No fim das contas o kimono era perfeito para vestir no inverno, dispensando os dois quilos de agasalhos extra que planejava usar por baixo.

Faltavam dez minutos para as seis horas quando Taiga desceu na estação. Várias outras pessoas trajadas apropriadamente desceram também, com certeza iam para o Matsuri. Achou Kuroko e Momoi fácil. Ela usava kimono branco com estampas de sakura rosas. O cabelo estava preso em uma trança que caia por seu ombro. Segurava uma pequena bolsa de mão. O traje de Kuroko era preto, sem estampas. Que ironia.

— Tai chan! — ela cumprimentou — Você está uma graça!

— Obrigado — ele agradeceu sem jeito, coçando a nuca.

— Kagami kun mudou de ideia? — Tetsu referiu-se a decisão anterior de usar roupas ocidentais.

— Não resisti. Vocês querem ir na frente? Aposto que aquele aho vai se atrasar para variar.

O casal concordou. Momoi acenou antes de ir, caminhando um passo atrás de Kuroko. A alegria da menina era inegável.

Kagami encontrou um canto sossegado e esperou. Na verdade, quase morreu de tédio por quarenta minutos, tempo que Daiki demorou para chegar ali.

— Oe! — Taiga resmungou de mau humor, vendo o outro caminhar em sua direção — Você atrasou! Eu estava quase indo embora.

— Aa. Eu tive uma conversa muito séria essa tarde.

Kagami engoliu em seco, tomado por uma súbita preocupação.

— Com sua mãe? — soou temeroso.

— Não. Com o travesseiro. Dormi a tarde toda e perdi a hora.

— AHO! — o ruivo se inflamou. Aquele cara era um idiota mesmo! Por que gostava tanto dele, no fim das contas?

Ignorando a ofensa Aomine o olhou de cima a baixo, aprovando o que via.

— Você fica bem de kimono — elogiou.

Isso fez a raiva de Taiga desaparecer como neblina ao sol. Ele sorriu enquanto coçava a bochecha.

— Pensei que fosse vir de kimono também — Kagami jogou a frase no ar.

Ao ouvir aquilo Aomine enrugou a testa e enviou um olhar esquisito para o outro. Algo do tipo: “por que eu gosto desse idiota mesmo?”

— Você disse no e-mail que não viria a caráter — acusou ácido.

Kagami levou a mão à cabeça e coçou a nuca, envergonhado. Esquecera completamente daquilo na empolgação ao ver os trajes típicos.

— Suman... — falou sem jeito.

O outro enfiou as mãos nos bolsos e caminhou em direção a saída da estação, não dando opção a Taiga, a não ser segui-lo. A noite já caíra por completo, o ar estava frio e... nevava! Provavelmente começara há pouco tempo, pois as ruas tinham pouca neve sobre elas, mas aquilo logo mudaria.

Todos pareciam surpresos, pois olhavam para cima maravilhados. Foi impossível para Kagami não sentir o mesmo. A primeira neve desde que chegara ao Japão! Ele ergueu o rosto e deixou que os flocos gelados caíssem sobre sua pele. Ia abrir a boca para tentar capturá-los com a língua, quando sentiu uma mão segurando na sua, entrelaçando os dedos. Olhou para baixo, surpreso ao ver que Aomine fizera aquilo. O mirou com uma interrogação pairando sobre sua cabeça.

— Daiki...?

— Não fique parado no meio da calçada feito um idiota, Kagami — começou a andar, puxando o ruivo na direção do templo em que seria realizado o Matsuri.

Taiga apenas se deixou levar, incapaz de evitar sorrir. Felicidade define.

continua...


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Notas finais do capítulo

Coleguinhas! Dois dias! Mais alguém aí já está sentindo falta ou sou só eu?

Provavelmente não vou mudar a classificação. Se eu fizer isso Tempest sai daquelas indicações de “Procurando algo pra ler” aqui do site. Ahhhh não quero perder a divulgação da história kkkk e sendo bem sincera, meus lemons são TE.RRI.VEIS. Todo o respeito que eu consegui até agora vai desaparecer e vocês irão odiar Tempest. Então... vamos manter assim, classificação +13 mesmo xD

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Tulipas amarelas = fama

Kimono de inverno = pesquisei e não achei o nome especifico. A Oniguirii chan super linda está tentando descobrir pra mim, se conseguir eu edito o texto e arrumo. E aviso amanhã.



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