Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 25
Capítulo 25 – Alívio define


Notas iniciais do capítulo

Dia 25
In my life – The Beatles

Contagem regressiva: 03 dias para o fim das postagens T.T



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/590386/chapter/25

Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 25 – Alívio define

Shi-shitsurei... — falou baixo, atraindo a atenção de Kaoru para si — A senhora precisa de ajuda?

A mulher fixou seus olhos no rapaz, avaliando-o sem tentar ser discreta. Taiga engoliu em seco, começando a se arrepender de não ter ficado no quarto.

— Senta — ela apontou uma das banquetinhas ao redor da ilha de mármore.

Kagami obedeceu, sem questionar. Enquanto ela largava a faca sobre a pia e secava as mãos em um pano de pratos. Então se recostou na bancada e cruzou os braços.

— Conheço Daiki o suficiente para interpretar as idiotices que ele cospe. Devo entender que vocês têm algum tipo de envolvimento?

—... — Kagami até abriu a boca, mas não conseguiu falar. Kaoru não parecia interessada na resposta, pois logo emendou um sermão.

— É assim que os jovens fazem as coisas hoje em dia? Você entra na minha casa, aproveita da minha hospitalidade e me dá uma notícia dessas? — jogou a pergunta pro rapaz, que não soube o que responder, preferindo ficar quieto — Oh mon Dieu! Quer dizer então que você veio aqui me esfregar na cara que talvez eu nunca seja avó? Que talvez não veja meu filho criando uma família normal? Que terei de ver Daiki sendo julgado pela sociedade por causa de uma escolha tão insensata? Hn?

O ruivo sentiu o chão desaparecer de seus pés, nem se preocupando com a parte dita em francês. Provavelmente não ia gostar de saber a tradução. Nunca ficou tão feliz por estar sentado e ter um lugar para apoiar os braços. O que iria dizer àquela mulher? Realmente devia ter ficado no quarto!

— Não vai me responder? Ficou mudo depois de entrar na cozinha? Vous avez oublié votre voix? — mais uma vez o silêncio prevaleceu. Tudo o que Kagami fez foi engolir em seco tentando articular uma frase coerente para defender-se e proteger o relacionamento que tinha com Daiki. Mas fora pego de surpresa, pois a mãe de seu namorado parecera tão legal! Só precisava recuperar-se um pouco do choque para poder falar a seu favor.

Mas então Kaoru sorriu.

— Era isso que você esperava que eu fosse dizer, não é?

—... — Kagami não entendeu a mudança.

A mulher descruzou os braços e acertou um tapa no balcão.

— Garoto, você precisava ver a sua cara! Parecia que ia ter um treco, mon Dieu.

—... – o ruivo franziu as sobrancelhas, confuso. Teria ele passado por algum portal ao entrar na cozinha? Estava entendendo nada! Kaoru estava zangada ou não com eles?

Ela aproximou-se e sentou em uma banquetinha. Cruzou as mãos sobre o tampo.

— Bem que eu estranhei que estivesse tão tenso quando se apresentou. Você estava com medo que eu o julgasse, não é? Mas antes mesmo de por o pé em minha casa você estava me julgando.

O garoto percebeu que aquilo era verdade. Tivera receio de conhecer a mãe de Daiki, principalmente por temer-lhe a reação quando soubesse sobre eles, fato que não deixava de ser um tipo de pré-julgamento.

— Suman...

— Mas o que é que Daiki tem na cabeça?! — ela ignorou o pedido de desculpas — Sabia que aquele moleque tem tantas revistas de mulher pelada escondidas no quarto que eu poderia abrir uma banca e viver o resto da vida só com o lucro pelas vendas? E agora me sai com uma dessas?! Tem sentido?

— Eu também achei estranho... — revelou. Ainda não se conformava que alguém pudesse se descobrir, sair do armário e relaxar com tanta facilidade quanto Aomine.

— Bem — deu de ombros — Eu convivo com aquela criatura faz dezesseis anos e pelo jeito não o conheço o bastante. É hora de dividir o fardo, não?

Kaoru respirou fundo, e continuou sem esperar resposta:

— Daiki tem uma personalidade péssima. Ele é preguiçoso, folgado, arrogante e irritante. Espero que saiba onde está se metendo, Kagami kun — olhou muito séria pra ele — A última coisa que desejo é ver meu filho com o coração partido...

Kagami sorriu, aliviado e feliz pela última frase. Não era apenas um ultimato. Era aceitação. Que susto a mulher lhe dera! Agora era bem óbvio de onde vinha o jeito de Aomine.

— Obrigado pela confiança — reverenciou de leve.

— Aa. Você me ofereceu ajuda. Sabe cozinhar? — ela ficou de pé.

— Sim, eu sei — Kagami imitou o gesto.

— Então cuida das verduras, estou preparando oden.

O ruivo seguiu para a bancada, obedecendo. Teve uma ótima intuição de que se daria muito bem com Kaoru san, na mesma medida em que teria que aprender a sobreviver a personalidade tão parecida com a de Aomine. Quase tivera um infarto no começo da conversa!

Quando Daiki terminou o banho e foi para a cozinha encontrou um clima ameno entre os dois cozinheiros. Kaoru dava umas dicas de tempero para o ruivo, fato que o fez girar os olhos. Não pareceu surpreso de encontrar tudo em paz.

— Dai chan, vá arrumar a mesa para o jantar — ela pediu.

— Não — Aomine nem hesitou em negar o pedido — Arrumar a mesa não faz parte das minhas tarefas.

Kaoru estreitou os olhos na direção dele.

— Ótimo. Falaremos sobre novas tarefas quando o Boletim com suas notas chegar...

Daiki não retrucou. Foi fazer o que fora pedido sem reclamar mais. Sabia que suas notas seriam um desastre, graças ao ruivo. Era melhor amaciar a mãe e não abusar da sorte, pois ela podia suspender vários dos seus privilégios.

O jantar foi muito tranqüilo, onde falaram sobre os estudos, planos para o futuro e basquete. Evitaram qualquer assunto mais pesado. O oden estava uma delicia, assim como os espetinhos de salmão com legumes e arroz branco.

Kaoru não escondeu a surpresa diante do apetite de Kagami, que não se fez de rogado. Afinal seu lema era “comer bem para jogar bem”.

— Obrigado pela comida!

A mãe de Daiki sorriu.

— Da próxima vez quero provar o seu curry.

— Será um prazer — Taiga levou a mão à cabeça — Quer ajuda com as louças?

— Não, não precisa — ela não deixava de se surpreender com a boa vontade do ruivo — Hum... to pensando em despejar um inútil que eu chamo de filho. Se quiser preencher a vaga...

Fez a brincadeira provocando Daiki, mas o rapaz não perdia ponto.

— Uma semana convivendo com você e Taiga vai implorar pra ser órfão, mulher.

— Connard! — ela resmungou.

— Em japonês... — Daiki exigiu parecendo entediado.

Mas Kaoru apenas sorriu, ganhando um ar meio sinistro e deixando claro que não responderia. Ao invés disso levantou-se da mesa e começou a recolher a louça.

— Vamos pro quarto — Aomine chamou o ruivo, que também se levantou.

— Oyasumi, Kaoru san — ele despediu-se.

— Oyasumi, Kagami kun — a resposta veio com um sorriso. Os garotos iam saindo da sala de jantar, quando ela continuou em tom ameaçador — Estou no quarto ao lado. Não quero saber de saliências na minha casa...

Taiga sentiu o rosto queimar de vergonha, Aomine só enfiou o dedinho na orelha e coçou devagar.

— Mas foi justamente pra isso que eu trouxe o Kagami... — resmungou sem pudor. O queixo do ruivo caiu tão rápido que ele temeu tê-lo deslocado. Como alguém podia ser assim?!

Antes que pudesse sequer se meter na conversa dos dois, Kaoru mostrou um sorriso que nada tinha de feliz ou sincero, que combinou com o brilho homicida nos olhos negros.

— Ainda estou digerindo essa situação, Daiki. Não força a barra, moleque — observou os garotos indo embora sem responder.

Ao ficar sozinha Kaoru colocou as louças sobre a mesa e sentou-se novamente. Fechou os olhos e respirou fundo, muito fundo.

Aomine saiu da sala em silêncio, obrigando Kagami a segui-lo. Apesar de tudo estava feliz, sua mãe poderia ter reagido de modo ruim a tudo aquilo. A conhecia bem, mas pessoas estão sempre surpreendendo. Era só pensar nele, hum? Muito hétero até um tempo atrás.

— Daiki, eu vou matar você, aho! — Kagami reclamou quando estavam subindo as escadas — Acho que perdi uns dez anos de vida essa noite.

O outro riu, divertindo-se.

— Vai se acostumando. E se prepara para conhecer o meu pai... aí você perde mais uns dez anos de expectativa e morre jovem.

Kagami engoliu em seco com a informação.

— Ele é tão ruim assim?

— Aquele homem? Não — desdenhou — Quase sinto pena quando ele é pego pelo fogo cruzado.

Por “fogo cruzado” se referia as farpas que trocava com sua mãe. Apesar de tudo não podia negar que possuía ótimos pais. Era um sortudo.

— Sua mãe é legal.

— É. Já conheci piores — Daiki deu de ombros.

Entraram no quarto e Kagami viu que já tinha um futon arrumado no chão ao lado da cama. Provavelmente Aomine deixara pronto ao sair do banho. Por costume Taiga sempre mantinha uma escova de dentes na mochila, por isso estava preparado. Foi ao banheiro escovar os dentes, quando voltou Daiki tinha colocado um pijama cinzento.

— Vai ficar confortável? — ele perguntou.

— Hn. Não se preocupe — Kagami ajeitou-se no futon, cobrindo-se com o lençol. Talvez nem precisasse daquilo já que a casa estava bem quentinha.

Quando Daiki voltou do banheiro, apagou a luz e semi-cerrou as cortinas das grandes portas de vidro que levavam à sacada, deixando uma fresta de claridade entrar. Só então se ajeitou na cama. O silêncio durou por pouco tempo.

— Kagami...? — chamou em um tom de voz preguiçoso.

O ruivo abriu os olhos e viu que Daiki tinha colocado a cabeça pra fora do colchão, pra espiá-lo.

— O quê?

— Vem aqui pra cima.

— Mas... sua mãe — Taiga não queria ser desrespeitoso com quem o acolhera tão bem.

— Não faremos nada demais.

— A gente vai caber...? — perguntou incerto. A cama de Daiki era um padrão maior do que o normal, mas ainda era de solteiro. E os dois eram grandes!

— Vamos dar um jeito.

Taiga acabou cedendo, subiu na cama de Daiki, que se deitou de costas e indicou que o outro devia acomodar-se sobre seu peito. Mas Kagami não gostou da posição: ele tinha que ficar meio torto e muito perto da beirada. Tinha a sensação de que ao menor movimento ia cair.

— Daiki, assim não consigo dormir!

— Quanta frescura — ele suspirou — Vamos trocar.

Com algum sacrifício se mexeram na cama estreita, Kagami deitou-se de costas, do mesmo jeito que seu anfitrião estivera antes, e Daiki apoiou-se sobre seu tórax, sofrendo com a posição: também ficava torto e perto da beira do colchão.

— Tem razão, Taiga — saiu da posição, obrigando Kagami a sair também — Assim não dá pra dormir. Chega pra lá.

— Não dá! — protestou, mas Aomine o empurrou um pouco, para ter mais espaço. Isso fez Kagami perder o equilibro. Por sorte Daiki agiu rápido e o prendeu pela frente da blusa, salvando-o da queda. Precisariam de uma cama de casal...

Então Daiki percebeu que os dois estavam de lado, um de frente pro outro, e dessa forma se acomodavam bem, já que eram magros.

— E assim? Podemos dormir assim...

— Tem razão! — sorriu, compreendendo.

— Então vira de costas — Aomine mandou. Quando foi obedecido passou uma mão por baixo do corpo do ruivo e a outra por cima, abraçando-o na famosa posição de conchinha. Um encaixe mais do que perfeito. O calor dos corpos se misturou, relaxando-os.

Fora um dia e tanto, não podiam negar.

— Oyasumi — Kagami murmurou começando a ficar sonolento.

— Oyasumi, baka — Aomine devolveu.

O silêncio confortável durou poucos minutos. Logo Taiga engoliu em seco enquanto sentia o rosto esquentar.

— Daiki... — reclamou.

— Damare! Apenas ignore e durma, está bem?

Kagami não respondeu. Era fácil pro outro falar! Mas como ele ia ignorar aquilo cutucando-lhe o traseiro?

Seria uma longa, longa noite.

continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Haha

Até amanhã xD

—----

Já que a notinha no anterior agradou, vou colocar uma aqui também, com relação a mãe do Daiki. Então, eu não gosto muito de trabalhar com POs, ainda mais em uma posição tão importante. Mas eu juro: fui aos confins da Deep Web (até consegui vender um rim antes que o FBI banisse meu IP...) mas não encontrei nada que ajudasse na fic. Dai tive que inventar mesmo.

Eu sabia que o Kagami teria que ir a casa do Aomine pelo menos uma vez. Dai eu inventei que a mãe dele fazia serviço voluntário pra tirá-la de casa. Por que ensinando japonês em colonias gaijin? Eu só tentei ser original xD

Mas aí a fic avançou, eu fiquei sem ideias e tive que trabalhar com ela de qualquer jeito. Pra construir a Kaoru eu estudei o Daiki, pois crianças são ótimas dicas do funcionamento dos pais. Crianças se espelham em modelos e o primeiro exemplo de um bebê são (ou tende a ser) os pais. O Daiki é um garoto seguro de si e confiante a ponto de ser arrogante. Isso é um traço comum em crianças que crescem com a certeza absoluta de que são muito amadas (já viram como crianças mimadas são arrogantezinhas e topetudas? É mais ou menos por aí). Trata-se de uma regra rígida? Nunca. O ser humano é complexo e imprevisível. A arrogância pode ser sintoma de falta de segurança e conflito em casa, uma barreira para afastar as pessoas e se proteger, evitar o sofrimento. Qualquer coisa é possível. Como o Daiki tem outros traços típicos em seu comportamento e relação com demais personagens, sou mais inclinada a acreditar que ele tem uma boa relação com os pais. Ele fala o que pensa. Por que? Porque ele aprendeu que quem o conhece e o ama não vai se afastar por isso, e quem se afasta não valia a pena no fim das contas. Como o pai viaja muito, deduzi que esse primor de garoto se espelhou na mãe e adquiriu com ela a personalidade irritante, alterada pela experiencia de vida (já que ela é mais velha, né?). O tempo suaviza ou acentua traços. Na Kaoru suavizou. Tem também o fator preguiça, se o Daiki enrola com as coisas é porque tem colher de chá em casa. Huashasuahs se ele fosse realmente punido por sua enrolação ele não seria assim. Então ela dá as broncas, mas nem sempre é a sério. Quando é a sério o Daiki recua e sabe seu limite. O que mais? Kaoru se dispôs a trabalhar com estrangeiros, isso a coloca em contato com culturas e tradições muito diferentes da japonesa. Então ela não pode ser alguém que se assusta ou impressiona fácil, nem pode julgar os outros de modo leviano. Ela tem que estar preparada para inusitadas situações. Em uma colonia não é como a sala de aula formal. Você conhece e conversa com pessoas, da França, Brasil, Estados Unidos, Africa, (insira aqui qualquer lugar do mundo), conhece histórias, vidas. É uma troca que amplia a mente e a visão de mundo. Some a isso que ela se casou com um gaijin (na minha fic). Temos aí uma mulher de mente aberta, pronta pro dialogo, preparada para o inusitado. Então imaginei que em um primeiro momento ela não ia surtar e quebrar o barraco. Mas ela foi pega de surpresa. Quando o Daiki fez a brincadeira com “a minha garota” ela já começou a juntar as peças, não apenas pelo que ele falou, mas pela reação do Taiga que revelou muito mais do que a piadinha e por todo o nervosismo do Taiga na construção da cena. O que a Kaoru fez? Entrou na brincadeira e mandou a visita tomar banho, uma forma educada e alternativa de dizer “sumam daqui que eu levei um choque e preciso de tempo para me recuperar”. Enquanto a cena passa pro preparativo do banho, ela fica lá na cozinha refletindo e pensando no que fazer. Por fim ela percebe que o caminho mais seguro é ser mais racional. Do que a Kaoru conhece da vida ela aprendeu que explosão não é a solução. Mas que foi um baque foi, tanto que quando o jantar acaba ela senta, respira fundo e junta os cacos, aquela sensação de que nem sempre é fácil ser mãe e enfrentar o que vem pela frente.
Tentei montar uma personagem que fosse coerente com o enredo de Tempest e com alguns traços do Aomine que são bem óbvios no anime (não li o mangá ainda). Faz sentido isso tudo ai que eu disse? Tenho amigas lindas que sempre me jogam na cara que tem coisa que só faz sentido na minha cabeça.

E pra você que chegou até aqui, pegue esse troféu de Paciência Inesgotável 2015. E esse link que é de onde eu pego as informações, uma das melhores wikis de anime que eu conheço, bem completinha:

http://kurokonobasuke.wikia.com/wiki/Kuroko_no_Basuke_Wiki



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tempest" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.