Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 13
Capítulo 13 – About a boy


Notas iniciais do capítulo

Dia 13
Aquarius (Let the Sunshine in) (The 5th Dimension)



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Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 13 – About a boy

Era uma vez um garoto chamado Kagami Taiga. Um paria vagando por terras estranhas. Assim que se sentia no decorrer dos dias, sem nenhum amigo nos Estados Unidos da América. O idioma era incompreensível. A comida, estranha. E as pessoas... bem, apressadas e sem tempo para doar aos outros.

Pensou que nunca faria amizade. Até conhecer Himuro Tatsuya. O primeiro a estender a mão e oferecer um pouco de simpática. Tornaram-se mais do que amigos: irmãos com um vínculo poderoso criado pelo coração. Um porto seguro, com quem aprendeu mais do que a sobrevivência naquele país. Aprendeu a amar o basquete. Aprendeu a passar pelos obstáculos como um verdadeiro rolo compressor.

Sua experiência ajudou a moldar-lhe o caráter. Tornou-se adaptável e flexível. Entendeu que possuía fraquezas, mas justamente por conseguir vê-las podia se tornar mais forte. Descobriu como a humildade era ferramenta indispensável no dia a dia: a humildade de assumir os erros e fazer de tudo para corrigi-los. A subserviência de reconhecer seus limites, porém tendo perseverança para crescer e ultrapassá-los. Ainda que dando um passo a cada vez.

Os Estados Unidos da América, verdadeiramente, era o país que merecia ser chamado de Novo Mundo. Tudo eclodia lá, era mais intenso e em grandes proporções.

Por isso, descobrir sobre sua sexualidade não foi exatamente um problema, não faltou contato com a realidade: cresceu vendo as dificuldades encontradas por quem tinha a coragem de assumir a própria homossexualidade, assim como por pessoas que não possuíam tanta coragem.

Ele? Bem... não andava com uma placa na testa piscando “Gay Detected” em luzes néon, embora quando o assunto surgisse nas rodas de conversa não negasse. Nunca teve problemas com amigos e o segredo talvez estivesse em sua personalidade. Não era um garoto estereotipado ou exagerado. Deixava as coisas acontecerem, agia com naturalidade. Muito espontâneo.

Fator decisivo em sua vida foi conhecer Alex Garcia. A jovem estrela promissora da WNBA, mas que acabou prematuramente tendo que se afastar do esporte que amava.

Alex era o próprio país em forma de gente: um poço de contradições vivendo em harmonia, na medida do possível. Tinha a mania absurda de beijar outras pessoas na boca, sem qualquer aviso prévio, andava pela casa de calcinha e sutiã, sem se preocupar se recebia visitas. Kagami jamais se recuperara da primeira vez que fora com Himuro a casa da mentora... ele, até então, acreditava inocente que todas as mulheres se depilavam como as modelos das revistas pornôs.

Enfim...

Apesar do jeito doido Alex era uma ouvinte soberba. Dava abertura para que Taiga se sentisse a vontade e contasse a ela sobre a preferência exclusiva por garotos. Longas conversas se desenvolveram entre os dois. Poucos conselhos ela lhe dava, pois acreditava que o aluno devia vivenciar as experiências na própria pele. Mas suas minímas recomendações eram sensatas e argutas. Todavia, apenas de ser uma ouvinte tão boa ajudava muito.

Por isso, quando voltou para o Japão, o que mais lamentou foi deixar o irmão de afinidade e a mentora de basquete e confidências para trás.

Quando pisou na Terra do Sol Nascente trazia o coração cheio de sonhos e a mente despida de expectativas. Jogara basquete com promissores atletas nos Estados Unidos. Mas... Japão? O que podia esperar encontrar ali, no país em que nascera? Nenhum desafio, nenhuma emoção, nada que o fizesse ultrapassar limites.

Ah, doce e completo engano.

Havia diferenças abismais entre o ensino na América e o ensino no Japão, é claro. E uma das maiores eram os chamados bukatsu. Clubes de atividades extras que os alunos até o colegial eram obrigados a fazer.

Kagami se inscreveu no basquete sem hesitar. E isso mudou sua vida para sempre. Logo de começo ouviu falar sobre uma tal Geração Milagrosa. Os boatos descreviam garotos como picas das galáxias no basquete. Verdadeiros gênios do esporte. E tinha um deles bem na sua equipe! Um cara sem presença alguma, mas que apresentou a Kagami um basquete impressionante!

Ficou tão animado com o que viu que decidiu como desafio pessoal vencer cada um dos cinco remanescentes do antigo time. Caçaria um a um, como um tigre feroz, e requisitaria para si o título de melhor jogador do Japão.

Começou a longa jornada: primeiro ganhou a confiança de Kuroko, o rapaz que tornou-se sua sombra com a promessa de fazê-lo a luz mais brilhante dentro das quadras. Depois conheceu Kise Ryota, um jogador que também era modelo. Ou, talvez, um modelo que também jogava. Mestre na arte de copiar jogadas, um prodígio dentro das quadras. Vencido por Taiga em uma jogada brilhante no último segundo, orquestrada com Kuroko.

Em seguida veio Midorima, o mestre dos arremessos. Não importava de que ponto da quadra estivesse ao arremessar. Sua mira era infalível, sua calma era impressionante. Sua tática destruía os nervos do adversário. Taiga precisou evoluir e forçar-se um pouco para alcançar a difícil vitória.

Mais um passo fora dado na jornada. Sentia que conquistaria o intercolegial. Seirin se tornaria a grande vitoriosa!

Acreditou nisso piamente, até bater em um muro de realidade chamado Aomine Daiki.

Nunca vira alguém jogar como aquele cara, sua fluidez de movimentos, a velocidade, a intimidade com que dominava a bola. A precisão das roubadas e bloqueios. Um jogador completo. Cada ação dentro da quadra parecia instintivo e animal. Natural como o ato de respirar. Aomine era um monstro do basquete. As cinco partes do indestrutível Exodia. Obliteração total.

Esmagou Kagami como se o garoto e todo seu talento fossem menos do que nada.

E doeu. Na verdade doeu pra porra, dar de cara com um obstáculo tão grande. Sentiu inveja, claro. Que logo se tornou admiração e fonte de inspiração. Se treinasse, se desse o melhor de si poderia superar aquele gênio. Voltou a acreditar.

Treinar. Treinar. Treinar. Buscar no passado a solução para os problemas, reencontrar amigos queridos, evoluir. Retomar a luta!

E colher os louros da vitória: conseguira enfrentar Aomine em pé de igualdade. E derrubara a barreira que o impedia de seguir em frente. Quando viu o olhar pasmado na face de Daiki sentiu-se empático. Estivera naquele lugar não muito tempo atrás. Sabia como era doloroso.

Mas seguira em frente! Alguém tão forte e seguro de si como Aomine também seguiria, não?

De jeito nenhum.

Aparentemente não era tão fácil assim para ele ter estado no topo e ser obrigado a recomeçar, quando seu lugar no pedestal fora tomado. Daiki agarrava-se ao passado como aquele loirinho de um anime estranho agarrava-se à uma capivara cor de rosa. E amargava a derrota dia após dia.

Então, num piscar de olhos, o ruivo virara escravo. E tinha um dono. Haha, como lidar, sociedade?

Daiki entrara na rotina de Taiga sem pedir licença e, com sua personalidade espaçosa, preenchera vazios que Kagami sequer notara existir em sua vida. Fora desagradável no começo? Puta que pariu, e como! Se fosse condenado por cada vez que pensara em matar o cara, Taiga já teria acumulado umas dez prisões perpetuas e umas oito penas de morte. Sem chance de condicional.

Mas a convivência forçada trouxe algo a mais. Por trás da personalidade irritante e cheia de si existia algo. Alguma coisa que Taiga apenas vislumbrara em alguns momentos de guarda baixa. Inegável. Não podia descrever, apenas sentir. Uma segurança, conforto... que queria cada vez mais em sua vida. A ponto de cobrar cada vez menos frequentemente a revanche que acabaria a brincadeira de “dono/escravo” e tiraria Aomine de sua vida.

E ali estava ele, pra resumir toda a história, há quase meia hora com o cotovelo descansando sobre a mesinha de centro e o queixo apoiado sobre a mão espalmada; admirando o rosto de Daiki que adormecera enquanto jogava Plague.

Os olhos fechados na face relaxada lhe davam um ar de tão suave abandono que nem parecia a peste que infernizava longas horas de seu dia. Aomine já tinha suspirado umas três ou quatro vezes. Estaria em algum sonho bom? Por isso o garoto de pele amorenada parecia, naquele instante, quase um anjo?

Sentado no chão da sala, absorto em pensamentos, Kagami sentiu a dor do cair da ficha. Estava gostando daquele aho. Incontestavelmente. Mesmo com a personalidade tão peculiar, irritante e cheia de si. Já não podia negar pra si mesmo.

Em algum momento a admiração se tornara algo mais forte e profundo. Provavelmente um beco sem saída, afinal sua chance de ser correspondido era menos do que zero. Saber disso acabaria com o sentimento? Não. Então que aproveitasse a companhia do outro enquanto pudesse.

Levantou-se do chão e foi buscar um edredom. A temperatura caia drasticamente com o avançar do inverno. Ao voltar para sala cobriu Daiki com cuidado, para que o outro não acordasse. Não pensou nas consequências do seu ato. Lidaria com elas quando Aomine saísse do quase coma.

Retomou a tarefa de resolver os exercícios, sem se permitir pensar em mais nada. Muito menos no problemão que dormia largado no sofá da sua sala.

Problemão até que bonitinho...

R&B

Daiki abriu os olhos apenas para voltar a fechá-los, incomodado pela luz. Que cochilo maravilhoso tirara! Sentou-se no sofá, fazendo um edredom escorregar por seu corpo, só então notando que estava coberto. Surpreendeu-se um pouco. A surpresa virou preocupação quando olhou de relance o relógio do aparelho Blu-Ray: quase dez horas da noite! Por que o idiota deixara que dormisse tanto?!

Ia reclamar daquilo quando viu o outro e entendeu o porquê. Kagami também dormira, sobre a mesinha da sala e usando seu caderno como travesseiro. Reparou, inclusive, numa rodinha de baba manchando a tinta de uma página.

Levantou-se e espreguiçou. Sua mãe ia lhe comer um dos rins por chegar em casa depois do toque de recolher. Ela odiava quando fazia isso. Mas paciência. Não fora sua culpa.

Em silêncio apanhou a mochila e preparou-se para ir embora. Antes de sair pegou o edredom e colocou com cuidado sobre Kagami, para que não acordasse. Pela manhã o idiota teria uma bela dor nas costas! Devia desperta-lo e fazê-lo ir pra cama? Não... não era tão bonzinho assim.

— Baka — sussurrou bagunçando os fios ruivos de leve.

Havia evidente diversão na voz murmurada. E um quê quase imperceptível de carinho.

continua...


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Notas finais do capítulo

Pronto, gente. O Bakagami admitiu que gosta do Ahomine! Falta a outra metade da maçã agora xD

Até amanhã!

Bom carnaval e juizo! Não façam nada do que eu faria hohoho



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