Tempest escrita por Kaline Bogard


Capítulo 12
Capítulo 12 – Você queria?


Notas iniciais do capítulo

Dia 12
I fell good (James Brown)



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Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 12 – Você queria?

Vendo que Kagami parecia paralisado à porta, Aomine avançou, obrigando-o a ceder passagem. Tirou os tênis no genkan, a mochila ficou abandonada no meio do percurso, logo estirava-se no sofá que, se continuasse assim, ficaria com o formato de seu corpo.

— Oe, Kagami! Cadê meu travesseiro?

A falta de limites da cara de pau de Aomine tirou Taiga da letargia. O garoto tinha dupla personalidade? Ele ia invadir sua casa e fingir que nada acontecera? Sério mesmo?

— O que você ta fazendo aqui? — só então fechou a porta.

— Hn? Como assim?

— Como assim?! ‘Cê tá me zoando, né?

Daiki sorriu torto.

— Desde o nosso um-contra-um, gênio. Só foi perceber agora? — endireitou-se no sofá, respirando fundo — Eu te ganhei em uma aposta, lembra, escravo? A casa veio de brinde. Agora seja um bom garoto e vá pegar um travesseiro pro seu dono.

— Teu rabo que você vai fazer uma ceninha como aquela e fingir que nada aconteceu!

O outro garoto franziu as sobrancelhas muito de leve, ganhando um ar pensativo. Sorriu um pouco, com certa arrogância.

— Aprendeu a lição?

— Lição? Que lição? — Taiga explodiu — Por que devolve todas as minhas perguntas? Você não responde nada? Merda!

Ver o ruivo fora dos eixos deu a Aomine uma verdadeira satisfação. Finalmente conseguira tirar um pouco da paz de espírito dele.

— Kagami, você é retardado ou o quê? — apoiou os braços nos joelhos, inclinando-se para frente. A expressão condescendente desconcertou Taiga. Não era algo que esperava em Daiki naquela situação — Eu escolhi te fazer de escravo com o único objetivo de te ensinar uma lição. Só notou isso agora...?

Taiga deixou os ombros caírem, saindo da postura agressiva. Claro que notara a brincadeira infantil de Aomine, mas na quarta-feira as coisas tinham ficado tão estranhas e confusas. Tudo era pra zombar de si? Até as palavras raivosas...?

— E aquilo que você disse na véspera da minha revanche?

Aomine encostou-se no sofá, enquanto tentava lembrar-se. Dissera algumas coisas, mas não conseguia pensar em uma específica que deixasse Kagami tão puto.

— Refresque minha memória, Bakagami.

O ruivo abriu a boca para obedecer, mas perdeu um pouco do ímpeto. Não era tão confortável assim, repetir as palavras em voz alta.

— Que eu devia pensar só em você — resmungou após alguns segundos.

— Ee? Pelo visto foi o que você fez esses dias todos — Daiki sorriu satisfeito. Por algum motivo aleatório a imagem de um gato com um rato na boca veio a mente de Kagami.

— E o que você quis dizer com isso?!!

Por um breve instante Aomine pareceu confuso. Mas logo a máscara de indiferença retornou ao seu rosto.

— Eu quis dizer exatamente o que eu disse, Kagami. Vou explicar bem devagar pra ver se você entende — debochou — Perder pra Seirin foi algo que eu não esperava...

— Ah, você jura...? — foi a vez de Kagami debochar.

— Damare. Quando você entrou na zona e me enfrentou de igual pra igual pensei que tinha encontrado um rival a altura. Mas depois... eu entendi que não perdi pra você. Eu perdi para o basquete que você jogou com Kuroko e que eu subestimei — tivera muito tempo para refletir e amargar a derrota dolorosa — Você sozinho não é capaz de me vencer, Kagami. Existe um abismo entre suas habilidades e as minhas.

— É o que você pensa? — Taiga não acreditou no que ouviu.

— Quero que perceba isso. Que admita que nunca me alcançará e aceite sua limitação. Mas não vai conseguir se ficar com outras coisas em mente — suspirou — E no fim estou explicando o que era pra você concluir sozinho. Que saco, Kagami.

— Então foi... isso o que quis dizer?

Algo no tom de voz de Taiga chamou a atenção de Aomine e o deixou em alerta.

— O que você achou que eu quis dizer? — estreitou os olhos azuis.

— Nada! — respondeu rápido demais.

— Nada? — a desconfiança de Daiki aumentou — Você está corando!

— Da-damare! Não estou corando, aho — tentou disfarçar.

— Ee...? Kagami, o que é que tem nessa sua cabeça oca? Você ruminou mesmo todos esses dias, não foi?! Mas o que você ficou remoendo, baka?

O ruivo não respondeu. Tomou o rumo da cozinha e deixou Aomine falando sozinho. Entretanto o garoto sentiu-se intrigado demais com o comportamento sem sentido e foi atrás dele.

— Eu não pensei besteira nenhuma — Taiga foi se defendendo enquanto mexia na geladeira atrás de algo que pudesse cozinhar — Você que falou uma coisa estranha pra cacete!

Daiki sentou-se a mesa. Não via nada de estranho no que dissera. Quer dizer... se vingar de um rival não era a atitude mais digna do Universo, admitia. Mas também não era o fim do mundo. Quanto drama!

— Não entendo como pode ter concluído outra coisa do que eu disse...

Meio pressionado, Taiga voltou-se para o outro. Segurava uma embalagem de frango cortado em cubos, ideal para fazer curry.

— Parecia que você estava com ciúmes! — confessou de uma vez, aproveitando a pontada de coragem que cutucou sua nuca — Do Midorima.

Aomine foi pego de surpresa. Não teve a menor chance de disfarçar.

— Ciúmes? De você? Com o Midorima? — riu — Sério? De verdade?

Kagami se irritou. Apertou o pacote nas mãos, tentado a fazer o outro engolir aquilo cru e sem tempero. Pelo nariz.

— Pára de rir.

— Que imaginação fértil — tentou, em vão, se controlar — Ciúmes é sentimento de pessoas inseguras, baka. Eu nunca sentiria ciúmes de nada, é obvio. Muito menos de você. A não ser que tivesse peitões e dois buracos lá embaixo ao invés de um. Não fode, Kagami.

O ruivo bateu a porta da geladeira e foi até a pia continuar a preparar os ingredientes. Não podia acreditar que Aomine dissera aquilo mesmo sem nenhuma segunda intenção! Mas a reação do maldito estava bem natural. Ele não tentava disfarçar, até se divertia. Teria Kagami fantasiado e exagerado as palavras do outro? Teria visto algo que não existia? Por quê? Por que dar um significado oculto ao que Aomine lhe falava? Maldição.

Daiki observava o ruivo trabalhando, de costas pra si, todo tenso e na defensiva. Quase se condoeu pela situação em que ele estava. Mas a simpatia logo passou. Kagami cavara a cova, que se deitasse e morresse nela.

Não ia negar uma coisa: sentira falta! E como! Das provocações e pequenas maldades, de deixar Kagami na berlinda e encurralá-lo. Divertia-se tanto! Como há anos não acontecia. Foi então que um pensamento surpreendente passou por sua mente.

— Você queria? — se viu perguntando.

Taiga olhou por sobre o ombro, confuso.

— Queria o quê?

— Que fosse ciúmes? — provocou com um sorriso cheio de falsa inocência.

— Teu rabo que eu queria! — Kagami explodiu, sem poder conter o rubor de cobrir seu rosto. Odiou-se por isso!

— Queria o meu rabo? Isso você nunca vai ter — Daiki riu maldoso, principalmente quando o ruivo se virou, com uma colher na mão e apontou para ele tentando ameaçá-lo, mas falhando miseravelmente.

— Pára com isso, aho! Ou eu juro que...

— Oe, oe — Daiki ficou em pé, com as duas mãos pra cima — Paz, escravo. Só to te zoando. Vou pra sala, jogar vídeo game. Me avisa quando isso aí estiver pronto.

Levantou-se da cadeira e saiu da cozinha, com as mãos cruzadas atrás da cabeça. Estava feliz, apesar de tudo. Que bonitinho o Kagami todo envergonhadinho. Sua vingança se saia melhor do que o esperado. Descobria coisas surpreendentes sobre o ruivo! Incrível como ele próprio dava corda para se enforcar.

Taiga respirou fundo e apoiou as duas mãos na borda da pia. Em que momento sua vida se tornara tão complicada? E todos aqueles sentimentos que confundiam sua mente, sem que soubesse o que fazer com eles? Ao mesmo tempo em que desejava jogar Aomine pela janela e admirar seu corpo amassado no chão, confessava que sentira falta da presença irritante durante os longos quatro dias. Como lidar com duas coisas tão contraditórias?

Precisava acabar com aquela história! Tinha que conseguir a revanche e amputar o folgado da sua rotina antes de tudo piorar. Ah, sim. Taiga era realista: sempre existia a chance de piorar muito antes de melhorar.

— KAGAMI — a voz preguiçosa o tirou da reflexão angustiada — MEU TRAVESSEIRO, ESCRAVO!

— Peste — resmungou com um sorriso muito leve nos lábios.

A vida era mesmo uma droga.

continua...


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Notas finais do capítulo

Dando o sangue aqui ahuahuahhaa

Só digo isso: A MALDADE ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM VÊ E NOS OUVIDOS DE QUEM ESCUTA!! /foge

Até amanhã!



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