Hinata olhou para a pintura com receio. A Galeria estava fechada, então ninguém além de seu chefe e os outros vendedores estava ali. Hatake Kakashi, o dono, estava parado a seu lado com as sobrancelhas arqueadas.

– O que é isso, Hinata? – perguntou.

Os dois encaravam a pintura mais sem graça e feia que a Galeria Hatake possuía. Hinata, uma especialista em arte, poderia listar todos os erros que tinham nela, mas seria indelicado com o artista. Ela suspirou e deu de ombros.

– Foi sua esposa quem escolheu, senhor Hatake.

Hatake Shizune era conhecida por seu gosto excêntrico ser mil vezes maior que o do marido. Com um leve suspiro, Kakashi concordou. Apenas sua esposa poderia gostar daquilo. Olhou para sua especialista apologeticamente e disse:

– Por favor, dê um jeito de vender isso.

– Pode deixar, chefe!

***

Sasuke olhou para sua companhia com indiferença, mas estava morrendo de raiva. Seu irmão, Uchiha Itachi, tinha convencido o mais novo a sair com sua atual namorada, mas Sasuke não poderia ter imaginado que a garota era tão burra. Como o Itachi consegue? Perguntou-se incrédulo.

Ela não era feia. Loira, olhos azuis, corpo esbelto, porém tinha um cérebro de caranguejo e não falava sobre nada que não fossem sapatos e roupas. Ela andava rebolando e parecia estar pronta para morrer de tédio entre as pinturas. Sasuke quis jogá-la pela janela. Como um dos primeiros em seu mestrado em Artes, o Uchiha amava a Galeria Hatake e sempre a visitava quando tinha tempo livre. Itachi provavelmente nos mandou para cá para me compensar. Aquele babaca. Concluiu indignado.

– Vamos logo, Sasuke! – falou Ino puxando sua manga. – Vamos olhar logo para irmos embora de uma vez!

Vou matar Itachi. Decidiu deixando-se puxar para dentro. O lugar estava lotado. Diversas obras estavam expostas nas paredes e todas pareciam muito melhores com as luzes escolhidas para chamarem a atenção. Sasuke parou de prestar atenção na mulher que acompanhava e voltou-se para uma pintura de um cara que estava bocejando.

– Muito boa – disse para o artista. – Os traços são inspirados no Impressionismo?

– Olha, temos um estudioso aqui – falou o artista se levantando. – Sou Shikamaru, muito prazer.

– Sasuke – respondeu apertando a mão do outro. – Tem um belo trabalho aqui.

O Uchiha estava começando a ficar feliz por ter concordado com aquela idéia idiota do irmão. Talvez eu consiga aproveitar minha noite de algum jeito. Pensou satisfeito e começando a prestar atenção nas palavras do artista.

***

Hinata suspirou. Eu não deveria ter concordado em vender isso! Pensou resignada. Além de ser feia, a pintura era cara e a artista parecia mais interessada em beber do que outra coisa. A Hyuuga sabia que precisava manter a promessa para o antigo professor, mas seria muito difícil com aquilo exposto.

Haruno Sakura, a aprendiz da grande Seju Tsunade, estava se mostrando uma alcoólatra inveterada. Como a professora. Pensou Hinata com um revirar de olhos. A especialista apoiou-se na parede e cruzou os braços, pronta para desistir do quadro e perder seu pagamento da noite, quando uma garota loira saltou e parou a sua frente.

– Meu Deus, como é linda!

A Hyuuga analisou a loira de cima a baixo. Pela experiência da Hyuuga, com toda certeza, aquela mulher não sabia nada de arte. Hinata estava pronta para negar a frase dela quando se impediu. É, provavelmente, minha única oportunidade! Pensou começando a ficar animada.

– É realmente uma peça muito interessante – comentou parando ao lado dela. – A artista é aquela moça, Haruno Sakura.

Ino levantou o nariz para Hinata e assumiu uma pose arrogante: - Eu gostaria de tratar apenas com a artista, se for possível.

Hinata engoliu em seco, mas concordou e fui buscar a Haruno. Precisava fazer aquela venda de qualquer maneira.

***

Sasuke xingou em voz baixa. Ino tinha sumido e não estava em lugar algum. A vontade de deixá-la ali e ir embora era muito grande, mas impediu-se de fazer aquilo. Era um favor para seu irmão e, se conseguisse terminar a noite, poderia exigir qualquer coisa do maldito. Eu ainda vou me vingar.

O Uchiha andou até o canto mais distante da Galeria e estava começando a achar que Ino fora seqüestrada quando viu o quadro mais feio do mundo e ela em frente a ele, dando pulinhos de alegria.

– Senhorita Haruno, ele é realmente tão lindo! – exclamou passando o braço pelos ombros de uma garota de cabelo rosa. – Fico muito feliz que tenha encontrado-o.

O que ela disse?! Perguntou-se olhando novamente para a obra. A loira continuou conversando animadamente com a outra, sem perceber que a rosada estava totalmente embriagada e cambaleante. Sasuke revirou os olhos e virou-se, apenas para encontrar olhos perolados na direção das duas.

– Hinata? – questionou surpreso.

Ela olhou em sua direção e abriu um sorriso enorme: - Sasuke! Eu não acredito!

Ela aproximou-se e os dois se abraçaram. Hinata fora sua mentora na faculdade e ajudara-o em tudo que podia antes de se formar. Eram grandes amigos. Sasuke apertou-a com vontade... Bem, eram grandes amigos na visão dela. O Uchiha queria muito mais desde sempre.

– Quanto tempo! – exclamou a garota afastando-se para olhá-lo. – Você realmente cresceu, hein?

Sasuke sentiu as bochechas ficarem um pouco vermelhas, mas concordou e sorriu para ela: - E você continua usando óculos. Aproveitando a Galeria?

Eles tinham se soltado, mas Sasuke manteve-se perto dela. Hinata sorriu para ela e negou com a cabeça.

– Não, bobo. Eu trabalho aqui. Desde que me formei em meu Mestrado – explicou piscando para ele. – E você, passeando?

– Na verdade, fui obrigado pelo meu irmão – explicou apontando para suas costas. – Ele me pediu para tentar incutir alguma cultura na namorada dele.

Hinata olhou para Ino e fez uma leve careta: - Bem, espero que o gosto dela não seja inspirado no seu... Porque aquele quadro é horroroso.

– Não se preocupe, ela escolheu sozinha – afirmou também com uma careta. – Não entendo como a Galeria Hatake está com um negócio desses aqui.

– Foi a mulher do dono que escolheu – respondeu com um dar de ombros. – Ela achou lindo e tivemos que vender.

Sasuke olhou mais uma vez para a obra, tentando ver o que as duas mulheres e a artista tinham visto. Entretanto, apenas um monte de rabiscos e cores aparecia sua visão. Nada de artístico, nada inspirador. Arte moderna é um saco.

– Conseguiu fazer a venda? – perguntou de repente.

– Na verdade, graças a sua cunhada, sim – respondeu. Hinata parecia aliviada e cansada. – Passei quase a noite toda aqui e achei que não receberia meu salário.

Sasuke concordou, mostrando que entendera. Olhou para Ino e percebeu que ela não sairia de perto da rosada tão cedo, tinha feito uma nova amiga bêbada. Uma idéia surgiu na mente do Uchiha e ele sorriu de canto de boca para Hinata.

– Hina, está solteira?

Hinata olhou-o envergonhada, mas concordou com a cabeça. O sorriso de Sasuke aumentou imperceptivelmente e ele aproximou-se ainda mais dela, até ficarem apenas uns centímetros um do outro.

– Que tal fazermos o seguinte: eu e você vamos tomar um café aqui no bar e eu te espero sair. Depois damos uma volta e conversamos sobre arte. O que acha? – propôs. Ele colocou a mão em sua cintura e puxou-a levemente para si.

Hinata pensou um pouco. Há uns bons dois anos não via Sasuke e não sabia que ele ainda pensava assim de si. Ficou muito consciente das roupas que estava usando e da mão dele em sua cintura. Os olhos dele estavam cheios de expectativas, mesmo que sua expressão continuasse neutra. Ela não conseguia dizer não para ele.

– Claro. E sua cunhada? – perguntou olhando para Ino, que parecia estar começando a ficar bêbada junto com Sakura.

– Irei mandar mensagens ou ligar para o namorado dela – falou pegando o celular e segurando a mão dela. – Vamos?

Hinata sorriu para ele e concordou. Sasuke guiou-a até o Bar enquanto estava com o celular no ouvido. Não posso esquecer-me de agradecer ao Itachi, também.