Love Remains escrita por Lady Danvers


Capítulo 18
O Vazio Feito de Você


Notas iniciais do capítulo

ÚLTIMO CAPÍTULO!!!

Mas não se preocupem, ainda tem mais uma história depois dessa. Quero agradecer a todos que acompanham, é muito gratificante saber que vocês gostam desse mundo que foi criado tanto quanto eu.

Link da próxima temporada no final.



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JULIE

 

Lars liderava o caminho para o nosso fim enquanto éramos escoltadas pelos corredores, dois agentes de cada lado para garantir que não tivéssemos nenhuma ideia brilhante nesse meio tempo.

Olhei rápido para Maureen, seu rosto estava inchado, mas o sangue havia parado de correr então pelo menos havia uma boa notícia.

Brad seguia atrás como um fantasma. Se ele se arrependeu de alguma coisa que fez, não demonstrou e eu estava cansada demais para lidar com ele.

Só queria ir para casa, em Nova York, trabalhar com o papai nos projetos dele.

Finalmente chegamos a uma sala que mais parecia um abatedouro. Havia tantos corpos empilhados que era difícil reconhecer qualquer um deles.

Tínhamos que sair daqui. JARVIS ainda estava inativo e não havia dutos de ar visíveis. Precisávamos de uma distração.

Como se ele pudesse me ouvir, a voz de Steve ressoou pelas paredes, convidando os agentes leais a SHIELD a lutarem uma última vez.

Os agentes que nos seguravam caíram simultaneamente, uma bala alojada em cada uma de suas cabeças. Foi tão rápido que, com Lars sem ação, Maureen e eu nos jogamos contra ela ao mesmo tempo, a deixando inconsciente.

Peguei a arma de Lars enquanto Maureen a amarrava. Brad tinha matado aqueles agentes para nos salvar, mas isso não significava que ele estava do nosso lado.

— Quem é você de verdade? Me diga ou eu juro que vou atirar em você – ameacei, a arma apontada para o coração de alguém que eu amava.

Brad me olhava um tanto quanto assustado. Ele podia ver que eu não estava blefando. Lentamente, ele guardou a pistola que empunhava.

— Eu estava trabalhando para o Fury esse tempo todo. Logo depois da Invasão a Nova York, ele me procurou, disse que tinha suspeitas de algo muito errado acontecendo no alto escalão da SHIELD – Brad explicou, mas ele mentiu tantas vezes que ficava difícil acreditar. – Eu me infiltrei no círculo pessoal do Secretário Pierce e descobri tudo o que eles planejavam. O sequestro de Megan, Scott, fazer com que o maior número de agentes possível estivesse aqui hoje. Foi tudo a HYDRA puxando as cordas no escuro.

A arma estava tão quente em minha mão, eu podia sentir o peso dela e das balas bem reais que carregava.

— E aquela garota, Sin? Você a trouxe para cá? – Foi Maureen quem perguntou dessa vez, igualmente desconfiada.

— Eu a encontrei enquanto rastreávamos o paradeiro da mulher que sequestrou Megan. Ela já havia sido injetada com uma versão do soro usando o sangue da Megan, não havia como escondê-la então Fury me disse para continuar jogando o jogo.

— E onde está o Fury nisso tudo?

— Eu mandei mensagens para ele o dia todo, mas só agora consegui contato com a Hill. Fury teve que fingir a morte dele, mas ele está vindo para cá. Julie, acredite em mim. Steve, Natasha e Hill estão acima de nós prontos para parar o Projeto Insight que vai dizimar milhões de pessoas se nós não nos apressarmos.

Brad me olhava com urgência e dúvida. Ele não tinha certeza se eu seria capaz de puxar o gatilho.

Meu Deus, como chegamos a isso?

Abaixei minha arma e Maureen suspirou alto ao meu lado. Ela também não tinha certeza se eu o pouparia.

Talvez isso seja em o que me transformei. Alguém imprevisível.

— Você sabe onde eles estão? – Perguntei enquanto Brad pegava as armas dos agentes mortos e passava para Maureen.

— Na parte dos controles. Se alguém ordenar a partida dos aero porta-aviões, está tudo acabado.

— Eu vou para a Central de Inteligência. A Sharon está lá e se alguém tentar acioná-los será por lá – Maureen disse, rapidamente encaixando pistolas e uma faca em seu cinto. – Vejo vocês do outro lado.

— Se cuida, por favor. – Abracei Maureen de repente, mas ela retribuiu o gesto. Podia ser a última vez que nos veríamos.

— Você também, princesa – ela disse antes de sair correndo na direção oposta.

— Julie, eu....

— Não importa, Brad. Nada mais importa nesse momento. Só vamos terminar com isso porque eu quero muito ir para casa – Peguei uma pistola e coloquei no coldre em minha perna direita. – Mostre o caminho.

Brad não falou mais nada e agradeci por isso. Não sei como nosso relacionamento vai ficar depois de tudo isso, mas não vai ser bonito.

Depois de tantas mentiras e dor, acho que já passamos do ponto de retorno.

— Onde está a sua garota? – Os corredores estavam vazios como se todos os que não estavam mortos tivessem evaporado.

— Ela não é..... Ela está indo até o terraço. Disse que quer ver os fogos.

— Que garota que você arranjou – comentei como se não fosse nada demais.

— Ela não é minha garota.

— Você dormiu com ela. Isso faz dela sua garota – falei e vi a verdade estampada em seu rosto dessa vez. – Seu cabelo está molhado, Don Juan.

Eu queria muito jogar tudo que eu via pela frente em Brad, mas me contentei com a cara de sofrimento dele. Por enquanto.

— Me desculpe.

— Por ser um agente triplo? Já perdoei. Agora por mentir e me trair? Não sou uma pessoa tão boa assim.

Fomos interrompidos pelo celular de Brad tocando.

— Era a Hill, vamos subir até a ala de desembarque. Os aero porta-aviões estão lá e parece que eles conseguiram um modo de neutralizá-los com uns chips.

— Devem ser placas trojan magnéticas que dão acesso do controle principal para quem os criou.

— É. Isso.

Os elevadores se mostraram bem mais rápidos do que as escadas para a minha sorte. Chegamos na área de embarque e havia tantos agentes mortos que tive que olhar para o outro lado.

— Abaixa!

Brad me arrastou para o lado dele assim que agentes aparecerem carregando fuzis. Sin os liderava e esperava por algo.

— Eu sei que você está aí, Bradley – Sin disse e Brad me encarou com aquela cara de cachorro sem dono. – Posso sentir o seu cheiro.

— Você me pegou – Brad levantou de trás dos barris, a confiança em pessoa. - Achei que íamos ver os fogos juntos.

— Eu também achei, mas foi antes de você salvar sua preciosa Julie – Sin respondeu e os pelos de meus braços se arrepiaram.

Será que ela sabia que eu estava aqui?

Não tive tempo para pensar mais. O chão começou a tremer quanto o teto se abriu. Brad usou essa distração para atirar nos três agentes que a acompanhavam, mas não sem ser atingido também.

Abafei minha vontade de gritar quando Brad caiu no chão com um estrondo. Corri até ele sem me importar com Sin ou HYDRA ou a guerra iminente.

Brad ainda era meu amigo.

Me aproximei e chequei seu estado. O tiro havia sido na perna, mas sangrava muito.

— Julie, sabia que a veria de novo – olhei para Sin e ela estava no aero porta-aviões que alçava voo devagar. – Por que não resolvemos nossas diferenças do jeito antigo?

Ela seguiu para dentro do aero porta-aviões. Com certeza tentaria desabilitar a placa magnética que Hill havia colocado.

— Julie, não...

— Brad, amarre seu ferimento com força e se esconda. Nos vemos mais tarde.

Corri a tempo de pular na plataforma, o vento era tão forte que muitas das cargas estavam caindo pelos cantos. Sin não estava em nenhum lugar à vista, o que só podia significar problemas.

— Afaste-se! – Apontei minha arma para Sin assim que cheguei na parte interna do aero porta-aviões. Ela estava prestes a tirar a placa do lugar.

— Você teria coragem de matar alguém só por isso? – Ela gesticulou para o painel, fazendo menção de acabar com tudo ao retirar o que poderia ser nossa salvação.

Atirei mirando em sua mão, mas pegou apenas de raspão.

— Au! Você realmente tem coragem, estou surpresa. De verdade – Ela se afastou do painel, mas ainda estava aberto o que significava que não iria funcionar quando fosse preciso. – Eu admiro isso.

Só havia mais duas balas na arma. Eu tinha que fazer contar, mas também tinha que chegar ao painel.

Me lancei sobre Sin, desferindo socos e chutes. Tudo que eu havia aprendido nos últimos dois anos.

Ela desviava de todos com uma agilidade sobre humana. É claro que eu estava em desvantagem, ela tinha o sangue mágico de Megan correndo pelas veias.

Sangue escorreu por minha têmpora quando o punho de Sin se chocou com o meu rosto e um chute acertou meu estomago logo depois, me fazendo voar com o impacto e colidir contra o painel.

Ela era superforte também. Ótimo.

— Sabe, o Bradley quase me enganou com todo aquele jeito misterioso dele, mas como sou uma garota precavida coloquei uma escuta no celular dele. Rápido e fácil – Ela falava enquanto eu lutava para me levantar, minha cabeça zunindo com a batida. - Mas vou sentir saudade dele, principalmente do corpo. Se ele não morrer, talvez eu fique com ele.

Estávamos tão alto que eu conseguia ver o Rio Potomac pelo vidro.

O painel estava logo acima. Tudo o que eu precisava era de força para empurrar o painel para dentro para que tudo funcionasse.

Saquei minha arma e atirei em Sin. Mesmo com o fator de cura de Megan, ela cambaleou para trás, a bala alojada em seu estômago. Era o tempo que eu precisava.

Levantei um pouco tonta, mas empurrei o painel para dentro. Espero que eles tenham conseguido proteger os outros dois aero porta-aviões.

Fui até Sin, impedindo que ela se aproximasse do painel. Dessa vez, meus socos acertaram seu rosto de boneca. Mal tirou sangue. Droga.

Arfei quando Sin agarrou meu pescoço. Sua força sobre-humana me fazia ficar na ponta dos pés.

— Tenho que confessar, eu vou gostar de te matar – Sin disse, sua ferida à bala esquecida.

O aperto em meu pescoço era tão forte que pontos pretos começaram a encher minha visão. Disparei a arma novamente, dessa vez em vão.

Não acredito que vou morrer dessa maneira.

Como um presságio, tudo começou a ruir. Sin e eu despencamos da plataforma e caímos direto no vidro, a única coisa que nos separava de uma queda que poderia ser mortal. Ao invés de atacarem milhões de pessoas, os aero porta-aviões estavam atacando a si mesmos.

Uma jogada de gênio. Se eu não estivesse dentro de um deles.

O ar que preencheu meus pulmões era bem-vindo, mas eu ainda precisava cuidar de Sin.

— Vocês perderam – falei para Sin que se encontrava estirada no chão. O impacto da colisão deve ter quebrado um de seus ossos. Eu também não estava melhor do que isso.

— Você ainda não entendeu, Julie? Isso é só o começo – com uma velocidade sobre humana, Sin me atacou.

Tudo aconteceu como se fosse um sonho. Senti a barra de metal perfurar minha barriga em uma dor lancinante como se eu fosse um cordão partindo ao meio. Nem senti quando bati contra o vidro, meus olhos cheios de lágrimas.

Sin levantou sobre mim antes de se afastar sem dizer mais nada. Isso só queria dizer uma coisa.

Observei enquanto tudo explodia ao redor, mas nunca perto o suficiente para me acertar. Minha agonia não parecia ter fim, eu estava parada no tempo, presa no instante de minha morte e tudo que conseguia pensar era em meus pais e o que isso faria com eles quando descobrissem o que aconteceu comigo. Minha mãe morreria de tristeza e meu pai se fecharia para sempre.

O vidro cedeu, me jogando a céu aberto para uma queda fatal. Era água, mas daquela altura poderia me matar.

Água...

Meu pesadelo veio a minha mente. Ele enfim estava se realizando.

Atingi a água com força, tirando o ar que restava em meus pulmões. Os destroços de metal e concreto caíam ao meu redor como um coberto, velando sobre mim.

Eu deixaria meus amigos, minha família. Talvez eu reencontrasse o amigo que perdi.

Talvez.

A inconsciência nunca foi tão bem-vinda.

 

 

 

MEGAN

 

Cheguei em Washington o mais rápido que pude.

Foi minha colega de classe, Mary, quem me avisou sobre o ocorrido, quase quebrando tudo ao entrar no meu quarto. Eu estava tão absorta em estudar para a próxima semana de provas que havia me desligado totalmente do mundo.

Adagas finas pareciam encravadas em meu coração na medida em que eu andava pelos corredores do hospital, seguindo as orientações das enfermeiras.

Assim que cheguei na porta do quarto, suspirei de alívio. Steve estava lá, deitado e inconsciente, mas não tinha nenhum tubo ou máscara para ajudá-lo.

— Oi, você é o Sam? – Perguntei assim que entrei para o homem alto sentado ao lado da cama de Steve.

— Sou sim. Sam Wilson – ele estendeu a mão.

— Megan Hoffman – Cumprimentei. – Obrigada por ter ligado.

— Ele só pede por você enquanto dorme – Sam disse, um sorriso discreto no rosto. – Bem, eu vou buscar um café porque esses foram os dois dias mais longos da minha vida.

— Obrigada Sam, por estar ao lado dele durante isso tudo.

Sam apenas assentiu antes de sair porta afora.

Sentei na cadeira que Sam antes ocupava e observei Steve, segurando sua mão. Além de alguns machucados no rosto e os tiros que ele havia levado, não havia nada tão grave que seu metabolismo não curaria. Ele parecia tão pacífico dormindo, nem parecia que viveu o pior dos reencontros que alguém pode ter.

Sharon e Maria Hill me colocaram a par de tudo enquanto eu voava para Washington. Aparentemente, a organização que minha tia e metade da minha família lutou para erradicar, havia crescido dentro da SHIELD e se espalhado como um câncer.

— Meg – Steve sussurrou, apertando minha mão. – Você está aqui.

— Onde mais eu estaria? - Alisei seu rosto com cuidado, evitando os arranhões. – Achou que eu ia ficar parada em Princeton quando posso estar aqui com você? Sem chance. Acho até que vou ter que me mudar definitivamente para cá, não acha? É só eu te deixar sozinho por uma semana para você acabar em uma cama de hospital.

Eu estava divagando por causa do nervosismo de saber que ele quase morreu e eu não estava lá. Não que eu fosse fazer diferença em uma batalha, mas só o pensamento de Steve morrer sozinho não é algo que eu posso aguentar.

— Precisamos de férias – Completei com um suspiro.

— Eu ia gostar disso – Steve respondeu, sua voz fraca.

— Já tenho vários destinos em mente en....

— De você morar aqui – Ele terminou, me deixando sem palavras. – Comigo.

Meu silêncio preencheu o ar. Steve conseguiu com que eu parasse de falar, o que era um feito raro.

— Quer dizer, não aqui. Na minha casa, onde for – ele se enrolou mais ainda e pude notar uma nota de pânico em sua voz.

Talvez fosse o caminho certo a se tomar. Já estávamos namorando há quase dois anos e é a relação mais longa que já tive com alguém, mas o medo de tudo dar errado ainda existia lá no fundo da minha mente, crepitando.

— Steve, calma. Que tal você se recuperar primeiro e depois discutimos isso? – Decepção cruzou seu rosto, momentaneamente. – Mas talvez você tenha alguma chance.

— Qual a porcentagem, exatamente?

— Digamos que 80% - Steve sorriu e dessa vez foi de verdade. – Mas só depois disso tudo passar, está bem?

— Mais do que bem – Ele respondeu, levando minha mão aos seus lábios em um beijo delicado. – Mas e os outros, eles estão bem?

O aperto em meu coração voltou assim que ele fez a pergunta.

— Eu não sei. Liguei para a minha prima, mas ela não sabia muita coisa. – ou não quis dizer o que sabia, foi o que deixei de fora. – Assim que eu sair daqui, vou exigir minha entrada no Triskelion. Do jeito teimoso dela, a Julie deve estar ajudando até que tudo esteja em ordem.

Não mencionei que não consegui entrar em contato com ela, Brad e Maureen nas últimas três horas ou que a Sharon evitou habilmente todas as minhas perguntas.

Prefiro não pensar no que estão escondendo.

 

 

 

TONY

 

Minha filha estava perdida.

Era isso que eu me forçava a acreditar enquanto bombeiros e policiais buscavam por ela dentro daquele rio, mesmo que eu mesmo já tivesse vasculhado cinco vezes com a ajuda das minhas armaduras.

Tudo o que encontramos foi um pedaço de metal embebido no sangue dela.

Não podia ser verdade. Julie ia aparecer a qualquer momento e vai me fazer questionar porque me dei o trabalho de viajar de Nova York até Washington para nada.

Ela era a minha garotinha, uma Stark, que viajou do Texas até Nova York sozinha aos onze anos só para me conhecer. Ela não desistia fácil, puxou a teimosia de mim.

Ela vai voltar. Eu vou vê-la de novo, sei que vou e vamos assistir filmes tristes com muito sorvete e vamos rir de tudo isso.

— Stark, eu sinto muito, mas não encontramos nada – ouvi a voz de Nick atrás de mim, mas tudo que eu conseguia fazer era encarar aquele rio maldito e o entardecer do dia.

— Como você pode ter certeza que ela estava lá? Como? – Minha voz tremia.

— Eu vi – era a voz de Brad. Finalmente virei e encarei o garoto que usava muletas para se sustentar em pé. – Ela me ajudou e foi atrás da Sin, uma das cabeças da HYDRA. Eu a vi entrar no aero porta-aviões. Eu sinto muito, Sr. Stark. Eu sinto muito.

O garoto desabou no chão e começou a chorar descontroladamente. Percebi naquele momento, que eu chorava também.

— Não, eu não aceito.

— Stark...

— Nem começa, Nick! Você está dizendo que a minha filha está morta! A minha Julie porque você não soube cuidar da própria agência a ponto de ter nazistas dentro dela! Você recrutou a minha filha, lembra? Eu sempre fui contra e sempre pedi para vocês a protegerem e você está dizendo que a mataram? Aqui onde ela devia estar segura?

Senti o ar faltar em meus pulmões em mais um ataque de ansiedade. Tive muitos desde a batalha de Nova York, mas esse era muito pior. Parecia que meu coração estava sendo aberto aos poucos com uma faca e não havia sinais de que iria parar tão cedo.

A minha filha estava morta.

— Tony! – Encarei o outro lado da estrada e vi Pepper e Happy correndo até mim. Pepper se ajoelhou na minha frente – nem percebi que eu havia caído no chão – e me abraçou forte. Era o que eu precisava para realmente chorar como nunca havia feito antes.

 

 

 

BRAD

Eu havia falhado com ela.

Julie confiou em mim e eu não pude protegê-la. Ela morreu me odiando por tudo que fiz e tudo que consigo falar é ‘sinto muito’.

É um dia frio no cemitério em que ela foi enterrada. Bem, enterrada é uma palavra forte. Depois de dias de busca, seu corpo não foi encontrado, apenas a barra de metal encharcada com o sangue dela. A teoria mais aceita era que um pedaço de escombro grande e pesado o suficiente combinado com todos os químicos que vazaram na água, dizimou os restos mortais dela, levados em pedaços minúsculos pela correnteza.

Era algo horrível de se imaginar.

Não me aproximei demais, mas todos estavam presentes. Louise tinha sido hospitalizada depois de saber o destino da filha, mas agora eu podia vê-la ao lado do Sr. Stark, lágrimas silenciosas percorriam o rosto dela enquanto o padre dizia algumas palavras. O Sr. Stark não estava melhor do que Louise, nunca havia visto alguém chorar tão intensamente quanto Tony chorou, ajoelhado na beira do rio.

A perda que eu sinto é dolorosa, mas deve ser uma dor lancinante para os pais dela.

Como não havia corpo, apenas um memorial foi feito em sua homenagem ao lado dos avós paternos, Howard e Maria. Megan contou que eles decidiram colocar o memorial em Nova York por ter sido para onde Julie fugiu quando tinha onze anos. Quase ri quando Megan me contou, lembrando de um tempo onde apostar corridas a cavalo e ajudar sua melhor amiga a fugir para o outro lado do país parecia uma aventura espetacular.

O pequeno John foi a frente e colocou tulipas na frente da placa, as flores favoritas da irmã. John tem apenas seis anos, mas parece ciente que não verá sua irmã nunca mais. Ele é tão parecido com ela, exceto pelos olhos verdes, mas ele tem aquela mesma expressão de curiosidade sobre tudo, como se pudesse desvendar todos os problemas do mundo se apenas se empenhasse nisso.

Megan está chorando desconsoladamente nos braços de Steve. Estou feliz que eles têm um ao outro, quando alguém morre, uma parte sua vai embora também e você tem que aprender a lidar com o vazio pois ele nunca vai embora. O lugar que aquela pessoa ocupava sempre vai estar lá, um lembrete doloroso de que ela se foi.

Foi isso que senti quando meu pai morreu e agora essa ferida se abriu novamente, de uma maneira muito maior. Molly passou mais cedo para me ver, ela veio assim que soube e saiu o mais rápido que pode, disse que não conseguia fazer isso de novo. Não depois do nosso pai.

Eu também não conseguia. Estava aqui mais por culpa do que dever, eu devia tê-la protegido, não o contrário. Agora, sofríamos as consequências da minha falha.

— Não devia ficar sozinho, Bradley – Maureen apareceu ao meu lado, seus olhos vermelhos de chorar e enganchou seu braço no meu. – Ninguém devia.

Ouvir meu nome inteiro ainda me causava ânsia de tantas vezes que Sin me chamou assim. Era uma piada cósmica o fato de Sin ter sobrevivido ao invés de Julie, como se o universo estivesse jogando na minha cara todos os meus erros. Pelo menos ela havia sido presa e estava bem longe de mim.

— Não consigo fazer isso, Maureen. É tudo culpa minha – senti as lágrimas começarem a descer, minha visão turva.

— Foi escolha dela, Brad – Maureen disse quase me chacoalhando pelos ombros. – Ela era adulta e era uma agente que escolheu o que era melhor para todos ao invés de pensar apenas nela. Não tire esse sacrifício dela.

Maureen falou com tanta firmeza que me recompus. Ela era forte de um jeito que eu nunca seria, agora entendo porque Julie a considerava uma amiga. Maureen era o farol de claridade que fazia Julie focar e pensar de forma clara e lógica. Se Julie era livre e mutável como o ar, Maureen era sólida e confiável como a terra.

Ela me abraçou e me confortou. Levaria um bom tempo para que a culpa fosse embora, mas talvez esse seja o começo.

 

 

 

 

JULIE

 

Minha cabeça parecia pesar uma tonelada.

Ainda sentia a pressão da água sobre mim, uma pontada de dor em meu estômago e a sensação opressora de que havia algo errado.

Meus pensamentos eram um vazio interminável. Minhas lembranças eram como névoa, facilmente dissipáveis se eu tentasse alcançá-las. Sabia quem eu era, mas todo o resto ainda estava meio turvo.

Levantei devagar, saindo de baixo do grande cobertor que esquentava minha pele. Eu não vestia meu uniforme, mas uma singela camisola de seda branca. Meus sentidos se alarmaram.

Estudei o quarto, muito maior em comparação ao meu. As paredes eram decoradas em ouro e prata e toda a mobília parecia ter saído de um conto de fadas. Era lindo.

Passos ecoaram do corredor, cada vez mais perto. Correndo para trás da porta, peguei a primeira coisa que parecia pesada o bastante para arremessar em alguém, um castiçal que parecia ser feito de ouro puro.

A porta se abriu devagar e antes que eu pudesse ver quem era, arremessei o pesado castiçal.  O homem à minha frente apenas aceitou o golpe contra seu peito, sem pestanejar.

— Au - Loki disse, diversão estampada em seu rosto.

— Loki? - Senti o ar faltar em meus pulmões. - Como você.... Você está morto. Eu o senti morrer.

— E eu morri, de certa forma.

Ele era um cínico.

— SEU IDIOTA! EU CHOREI POR VOCÊ! - Me lancei para cima dele, batendo em seu peito.

— Você chorou por mim? - Ele perguntou, seus olhos verdes arregalados de surpresa. Ele não achava que merecia minha afeição.

Talvez ele não mereça mesmo.

— Juliet, eu sinto muito - ele continuou, desconcertado com minha confissão.

— Isso só pode ser um pesadelo - murmurei para mim mesma antes de pegar uma taça de prata e apontar para ele. - Me deixe sair.

— Você pode ir para onde quiser.

Loki caminhou pelo quarto enquanto as portas se fechavam atrás dele. Esperei ouvir o barulho de trancas, um sinal de que eu era uma prisioneira, mas não aconteceu. Eu podia sair.

— Onde estou? - Coloquei a taça em seu lugar e cruzei os braços, esperando.

— Em Asgard - As palavras caíram como concreto sobre mim.

Asgard. Eu não devia estar ali.

Subitamente, flashes do que acontecera voltaram à minha mente: minha última missão, o ressurgir da HYDRA, destroços caindo e me levando junto, a água preenchendo meus pulmões.

— Eu devia.... Devia…. - Não conseguia dizer as palavras. O peso daquelas memórias era demais para mim. - Meu sonho. O menino no precipício. Era você.

Loki apenas assentiu.

— Não podia deixá-la morrer.

Suas palavras eram verdadeiras. De alguma forma, eu conseguia sentir sua honestidade, a culpa e… amor.

— Parece que nosso laço continua intacto - falei enquanto circulava pelo quarto, devagar.

— Sim - ele respondeu, simplesmente.

— Por que não consigo lembrar de tudo?

— Além da água em seus pulmões, um pedaço de concreto, ainda que pequeno dos destroços, acertou sua cabeça. - Loki se aproximou e eu não recuei.  - As curandeiras fizeram de tudo, mas nem mesmo asgardianos conseguem entender com totalidade a mente humana.

— Então eu vou ter que viver sem parte de minhas memórias? - A falta de sentimento em minha voz me causava um vazio que eu não conseguia entender. Lembro da queda, mas tudo antes disso estava um pouco confuso.

— As memórias podem voltar e devem voltar com o tempo, mas essa não é nossa preocupação primária.

— E qual seria? - O encarei de cima a baixo antes de notar que estava a poucos centímetros de seu rosto.  Recuei alguns passos.  - Além de você ter me sequestrado pela segunda vez, é claro.

— Eu não a sequestrei - ele respondeu, calmamente.

Loki parecia diferente da última vez em que o vi pessoalmente. A personalidade obsessiva e perigosa, as palavras cativantes deram lugar a alguém mais calmo e seguro de si.

Centrado. Essa era a palavra que eu procurava.

— Enfim, se quiser respostas - Loki me despertou de meus devaneios. - Sugiro que se vista e me encontre na sala de jantar.  Há roupas no baú e um guarda virá para escoltá-la em vinte minutos. Até logo, Juliet.

Respirei fundo assim que ele saiu, observando o céu estrelado de Asgard. Esse vai ser um longo dia.

 


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Notas finais do capítulo

Próxima e última temporada: https://fanfiction.com.br/historia/786206/A_Pequena_Lady_de_Ferro_3/



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