Love Remains escrita por Lady Danvers


Capítulo 15
A Calma antes da Tempestade


Notas iniciais do capítulo

Início da parte 2. Essa parte vai ter menos capítulos, mas em compensação, vão ser bem mais longos.
Agradeço a todos que continuam acompanhando.



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JULIE

 

2014

 

A água me sufoca.

Dessa vez, sei que estou sonhando, mas a sensação de não conseguir respirar não fica menos desesperadora.

Só quero que isso termine logo.

— Julie! Julie!

Cabelos loiros inundaram minha visão. Quem era uma hora dessas?

— Me deixa dormir – murmurei, virando para o outro lado quando notei a luz no quarto.

— Já são dez da manhã princesa e a sua mãe não para de ligar – a voz de Maureen era mais clara agora, como se o sonho acabasse de esvair da minha mente.

Levantei com os olhos semicerrados, era muita luz para uma pessoa aguentar pela manhã.

— Diz que eu ligo depois – atirei o travesseiro em Maureen, mas foi tão fraco que ela quase me olhou com pena.

— É a sua mãe. Lide com ela – Maureen jogou o travesseiro de volta antes de sair.

Que colega de apartamento que eu fui arranjar.

— Julie, estou te ligando há horas! – Afastei rapidamente o celular da orelha, evitando os gritos da mamãe. – Dios mio!

— Desculpa, eu estava dormindo. A minha última missão durou duas semanas e eu estou exausta – Expliquei, tentando alisar o ninho que meus cabelos haviam se transformado. – O que aconteceu, dona Louise? O John andou aprontando na escola de novo?

— Antes fosse o John, seria um problema muito menor – mamãe suspirou pesadamente. – É o problemático do seu pai. Ele está trancado naquela oficina há duas semanas. A Pepper já tentou de tudo, mas até a paciência dela tem limites.

— Mas eu liguei semana passada e ele parecia ótimo – argumentei em vão. É claro que papai faria de tudo para não me preocupar.

— Depois de toda aquela história com o Mandarim, o Tony não é mais o mesmo. Ele pareceu ótimo por um tempo, mas isso ainda o afeta.

É claro, eu tinha esquecido. Em dezembro do ano passado, o papai sofreu um ataque orquestrado por um antigo conhecido, Aldrich Killian. Eu estava em uma missão com Maureen e tentei chegar ao meu pai assim que possível, mas a chefia da SHIELD me proibiu. Se Maureen não tivesse me segurado, eu teria voado no pescoço do Secretário Pierce.

Eu não estava lá para ajuda-lo e ainda me culpo por isso. Talvez se eu estivesse ao seu lado ele não estaria passando por isso agora.

— Obrigada por avisar, mãe. Eu vou para Nova York ainda hoje.

— Problemas em casa? – Maureen perguntou assim que saí do quarto. Ela vestia um pijama cheio de unicórnios que eu não acreditaria que ela fosse capaz de usar um ano atrás.

— Meu pai provavelmente está surtando – falei, aceitando o copo de café que ela alcançou. – Ele destruiu as armaduras que tinha e, por um tempo, ficou tudo bem, mas minha mãe acabou de ligar avisando que ele está trancado na oficina há duas semanas.

— Boa sorte. Não deve ser fácil ser Tony Stark – Maurren tomou um pouco de seu café. A habilidade dela de parecer uma boneca mesmo de manhã me surpreendia. – Ter consciência que tudo pode depender de você e do quanto você está preparado para uma batalha. É um fardo pesado.

— Virou uma sábia logo de manhã? O que está acontecendo?

— Só pensando em tudo que já aconteceu. Acabamos de nos formar na Academia e é agora que as coisas vão complicar. Temos que nos esforçar para entrar nos esquadrões de elite.

Maureen era tão focada que, ás vezes, agradeço mentalmente, por termos nos tornado amigas. Ela balanceia minha impulsividade e me mantém em cheque para que eu não perca o foco. É bom saber que tem alguém esperando para me segurar se eu cair.

Tenho a Megan também, mas ela é advogada e não é como se eu pudesse falar tudo o que acontece na SHIELD para ela. Pelo menos, agora que estou em Washington, nos vemos muito mais já que ela não sai da casa do Steve.

— Julie??

— Oi? Que foi? – Maureen me olhava como se eu fosse louca.

— Estou te perguntando como você vai para Nova York.

— Ah, eu vou com a minha armadura. Rápido e seguro.

Só porque o papai destruiu as dele, não quer dizer que eu não posso ficar com a minha. Além do mais, foi a única coisa que me restou depois que a mansão foi destruída. Tive que comprar tudo de novo.

— Aquela coisa ainda funciona? – Maureen debochou com um sorriso de canto.

— Perfeitamente. Até venho trabalhando em algumas atualizações nela – mesmo focando em me tornar uma agente, continuei trabalhando na armadura até porque nunca se sabe quando uma ameaça nível Vingadores pode aparecer. – A Lady de Ferro ainda vive.

— Espero que a Lady de Ferro não se atrase para a noite de filme – tentei esconder minha surpresa com o que Maureen disse.

Eu realmente havia esquecido que combinamos de apresentar Kill Bill para o Steve.

— Prometo que volto antes do horário. A Megan me mataria se isso acontecesse.

Como se invocada, a campainha tocou, revelando Megan do outro lado da porta.

— Bom dia! – Megan carregava tantas sacolas de compras que mal conseguiu passar pela porta.

— Falando no diabo – Maureen murmurou, divertindo-se com a cena.

— Bom dia para você também, Maureen – Megan depositou as compras no sofá, um dilúvio fashion caindo pelos cantos.

— De onde você tirou todas essas sacolas? – Perguntei um tanto desconcertada.

— Bem, para surpresa geral, Washington tem muitas lojas de departamento – Megan falava como se estivesse falando sobre o tempo. Totalmente casual.

— Ahh, são 10:00 da manhã – Apontei.

— Exatamente, Julie. São 10:00. Porque vocês ainda estão de pijama? – Sem esperar uma resposta, Megan pegou uma das sacolas e entregou para Maureen. – Espero que goste.

— Como você conseguiu essa edição? – Maureen perguntou, segurando o livro como se fosse feito de diamantes. – Ainda nem foi lançada.

— Fui até a editora e tive uma palavrinha com a dona que acontece de ser uma grande amiga da minha mãe – Megan explicou como se não tivesse feito nada demais. – Isso fica só entre a gente.

— Obrigada – Maureen parecia uma criança que havia acabado de ganhar o presente dos sonhos. Ela preza muito por seus livros. – Cuidado que eu vou trocar você, princesa.

— Que bom saber que as amizades são tão duradouras assim – brinquei, me servindo de mais café.

— Mesmo se eu quisesse, seria impossível. Ainda falta mais dois anos até eu completar a faculdade – Megan disse, transparecendo cansaço pela primeira vez desde que entrou pela porta.

— Nem adianta, Maureen. Quando a Megan terminar a faculdade, ela com certeza virá para Washington, mas não vai ser para morar com a gente – Insinuei, mas Megan fingiu que o assunto não era com ela.

— Como eu pude me esquecer, Julie – Maureen continuou, sua melhor atuação em dias. – O Sr. América provavelmente vai buscá-la em seu cavalo branco no momento em que ela pisar para fora de Princeton.

— E vai ser ao entardecer, não podemos esquecer das luzes românticas – completei.

— Vocês não prestam! – Megan jogou almofadas em nós duas, rindo. – E talvez isso aconteça, mas é um grande talvez e como não sou vidente, tenho que focar no agora que corresponde a tirar vocês de casa e começar a nossa programação.

Esse vai ser um longo dia.

 

 

 

 

Depois de cinco horas perambulando por Washington e fazendo ainda mais compras, consegui voltar para casa e vestir minha armadura. Para o desespero de Maureen, Megan tomou como seu cargo renovar o guarda-roupa dela.

Cheguei em Nova York mais rápido do que pretendia. Meus novos propulsores se mostraram muito úteis.

— JARVIS, onde está o papai? – Perguntei assim que aterrissei na cobertura na Torre Stark que estava a poucos meses de concluir a reforma estrutural e se tornar a Torre Vingadores.

“O Sr. Stark se encontra no laboratório e pediu para não ser perturbado”.

— Isso é o que nós vamos ver – murmurei, entrando na sala vazia e tirando a armadura. – Onde está todo mundo?

“A Srta. Potts e o Sr. Hogan estão no escritório das Industrias Stark na Rua 42”.

— E o Bruce? Ele não estava morando aqui? – Me dirigi para o elevador, ansiosa com o que eu iria encontrar no laboratório.

“O Sr. Banner está em uma conferência de Ciências Biológicas na Dinamarca. Retornará daqui há uma semana”.

Assim que as portas do elevador se abriram, meus ouvidos zuniram com a música alta que preenchia o lugar.

Digitei o código e puxei a maçaneta. Ainda trancada. Ótimo.

— JARVIS, abra a porta! – Gritei, tentando elevar minha voz devido à música.

“Mas o Sr. Stark...”

— JARVIS, isso é uma ordem. Você sabe que ele não está bem – Argumentei. JARVIS podia ser uma I.A., mas era tão intuitivo quanto uma pessoa.

“Sim, Srta.”

Entrei rapidamente antes que JARVIS mudasse de ideia. O laboratório estava uma bagunça, peças de armadura e ferramentas jogadas para todos os lados, tive até que desviar de vários pacotes de hambúrguer.

A música parou assim que esbarrei em um monte de peças no chão.

— Já disse que não quero ser incomodado – ouvi a voz do papai e a segui.

O que encontrei foi bem pior do que eu esperava. Papai estava todo sujo de graxa, suas roupas pareciam não ser trocadas a semanas e seus cabelos estavam uma confusão. Isso sem mencionar a pilha de armaduras ao redor dele.

— Então é assim que você está tratando a sua namorada? Não vou ficar surpresa se ela te deixar.

A surpresa dele foi evidente ao me encarar. Ele não estava mesmo me esperando. Ele estava descalço?

— Thalia? O que faz aqui? – Ele tirou os óculos de solda, revelando seu rosto cheio de olheiras.

— O que eu faço aqui? O que você faz aqui, pai? Você disse que estava bem.

— Eu estou ótimo – ele deu de ombros e voltou ao trabalho como se eu não estivesse ali.

— Ótimo? Olha ao seu redor, pai! Daqui a pouco vai aparecer ratos por aqui – cruzei os braços, com raiva, e acho que me tornei minha mãe.

Meu Deus.

— Está tudo sob controle, Thalia – papai largou as ferramentas e se aproximou, seus olhos pareciam lutar para se manterem abertos. – Apenas tive uma ideia e quando eu terminar, não vamos mais precisar nos preocupar com nada.

— Há quanto tempo não dorme? – Perguntei, direto ao ponto.

— Uns 4 dias.

— Quê!?

— É uma ideia revolucionária! Imagine uma armadura ao redor do mundo que nos protegerá de todas as ameaças de dentro e fora do planeta. Não vai mais precisar existir os Vingadores porque a Legião de Ferro cuidará de tudo – papai falava com tanta energia que quase parecia um maníaco. Ele precisava descansar.

— É uma ótima ideia, pai e posso até te ajudar depois – Peguei as ferramentas que ele ainda segurava. – Mas agora o senhor precisa dormir e descansar. Não vai poder ajudar todo mundo se morrer de privação de sono.

— Mas isso é importante.

— Pai, se o senhor não for tomar banho e ir para a cama agora, eu juro que trago a mamãe aqui para ficar com o senhor até segunda ordem. Sabe que ela adora torturá-lo.

— Está bem. Já entendi – ele levantou os braços em rendição. Ameaçar o papai com a mamãe sempre dá certo, o que me faz pensar em como eu sequer existo. – Desculpe por mentir, só não queria que se preocupasse.

— Pai, sabe que não precisa esconder nada de mim e pode me pedir ajuda – o acompanhei para o elevador. – Não é porque não moro mais aqui que deixei de ser sua parceira de projetos.

— Eu sei. Desculpe – papai se aproximou e beijou meus cabelos em um gesto paternal bem fora do normal. Não que eu vá reclamar, ele já parecia arrependido o suficiente.

— Por favor, vá tomar um banho.

Nós dois rimos dessa vez.

 

 

 

 

— Não me atrasei, não é? – Abri a porta sem fôlego, minha armadura-maleta em mãos.

— Já estamos no meio do filme – Maureen disse, sentada em um puff e me fazendo arregalar os olhos.

— É brincadeira. Acabamos de chegar, Julie – Steve explicou. Ele estava no sofá com Megan ao seu lado. Eles pareciam aqueles casais inseparáveis e que seriam assim até o fim dos dias. Era fofo.

— Como está o seu pai? – Os olhos azuis de Megan chegaram até mim, preocupados.

— Ele está melhor agora. Digamos que meu pai não sabe a hora de parar.

— Não sabe mesmo. Lembra quando ele fez de tudo para você não se mudar? Até tentar me alistar para o lado dele, ele tentou – Brad saiu da cozinha com seus cabelos loiros penteados para trás e aquela jaqueta jeans que eu dei de aniversário para ele. – Boa noite, amor.

Ele se aproximou e me beijou, um beijo rápido de cumprimento só que nos lábios. Não que eu ainda estivesse acostumada com isso. Voltamos a namorar há 3 meses e depois de tudo e todo o tempo que tive para processar o que aconteceu com Loki, pareceu o caminho certo a se tomar.

Loki. Pensar nele não me causa mais devastação, apenas um aperto no peito que, tenho certeza, nunca irá embora. Brad me apoiou muito durante meu período de luto, mas nunca conversamos sobre Loki.

— Boa noite. Como foi a missão na Alemanha? – Nos acomodamos no outro sofá que parecia um grande algodão doce rosa. Eu que escolhi.

— Foi rápida. Pelo menos ninguém saiu ferido.

Assim que nossas pizzas e batatas fritas chegaram, nos juntamos ao redor da TV. Era hora de reeducar Steve.

— Prepare-se Steve, esse é um dos melhores filmes do Quentin Tarantino. Se não, o melhor – falei, mostrando a cópia de Kill Bill Vol.1.

— Hey, Pulp Fiction existe – Brad se intrometeu.

— Cães de Aluguel existe – Maureen emendou.

— Vocês não sabem de nada. Bastardos Inglórios é uma obra prima – Megan disse, enquanto Steve não tinha ideia do que estávamos falando.

— Que tal assistirmos um de cada vez? – Steve sugeriu.

Coloquei o DVD e esperamos o filme começar, mas antes, Maureen apontou seu celular e tirou uma foto.

— O que vai fazer com essa foto?

— É um lembrete de como amo ser solteira – Maureen respondeu com um sorriso de canto.

— Cuidado Maureen, talvez seu príncipe – ou princesa – esteja logo aí e então farei você engolir essas palavras – Brad jogou uma batata frita em Maureen, rindo.

— Sou uma estrela solo, Bradley. Você vai esperar sentado.

O filme começou e logo ficamos quietos e atentos. De meia em meia hora, olhávamos para Steve para ver qual era a reação dele.

— Ok, eu tenho uma pergunta – Steve finalmente se pronunciou, no final do filme. – Qual é o nome da Noiva? Eu acho que perdi o nome dela.

— É só Noiva. Não sabemos o nome dela porque não precisamos – Expliquei.

— Digamos que é licença poética – Megan continuou. – E então, o que achou?

— Gostei bastante. Tem bastante sangue, mas é muito bom. Ótima escolha, Julie.

Continuamos a noite de filmes com o Vol.2. Megan continuava a cochichar para Steve eventos passados e referências culturais que ele não sabia, Maureen estava abraçada em uma almofada quase dormindo, acho que passar o dia com a Megan tirou toda a energia que ela tinha sobrando.

E Brad com seu braço ao meu redor me aconchegando, me segurando. Talvez tudo pudesse ser mais fácil.

Passei tanto tempo dividida entre dois mundos. O meu mundo e o mundo de Loki que já estava difícil escolher ou discernir entre eles, mas agora, observando meus amigos, acho que a escolha pode ser mais fácil do que pensei.

Espero estar certa.


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