Keep Holding On escrita por Tris Pond


Capítulo 4
Listen To Your Heart


Notas iniciais do capítulo

Nesse, Mary ainda não tinha conhecido John.



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Às vezes você se pergunta se essa luta vale a pena
Os momentos preciosos estão todos perdidos na maré, sim
Eles foram arrastados embora e nada é o que parece
A sensação de que pertencem aos seus sonhos

(Listen To Your Heart – Roxette)

Eu sei que o trabalho dos caçadores é mais que digno. Salvamos vidas. Ajudamos pessoas. Acabamos com monstro. O emprego dos sonhos de qualquer um. Exceto pelo fato que não ganhávamos dinheiro com isso, podíamos morrer e sacrificamos muito no caminho para podermos vencer e nos mantermos sãos.

Nunca falei sobre isso com ninguém da minha família, nem poderia, mas um dia sonho em largar essa vida. Seria uma vergonha para a nobre linhagem de caçadores Campbell, caçadores há séculos, mas não ligo para isso. Só ligo para os meus pais e os primos que realmente se importam comigo (os que estão vivos ainda). Não posso deixa-los na mão ou os desapontar assim. E ainda...

Sonho com o dia que poderei andar sem me preocupar em estar sendo seguida, com o dia que não terei que verificar todas as saídas de um cômodo automaticamente, com o dia em que poderei andar sem uma arma no punho. Sonho com o dia que a coisa mais assustadora da minha vida será um filme.

Eu quero mais que um caso em uma caçada, mais que fazer uma amizade com quem sofreu muito ou com um caçador. Eu quero poder descobrir o que é ser normal. Quero poder ter uma família que não sabia sobre todas as coisas terríveis que se escondem, quero ter uma família que poderá dormir em paz um dia. Quero que alguém me ajude a dormir em paz.

É egoísta, e não posso fazer isso por causa dos meus pais, mas também não posso deixar de desejar isso cada vez mais, porque eu só vejo sofrimento e sofrimento.

Eu vi horrores que não devia ter visto, fiz coisas que a maioria das pessoas não sonha. Nunca vou poder esquecer-me das minhas memórias. Elas estão comigo o tempo todo.

Eu sei que talvez ainda poderia ajudar muito mais, porém temo que minha hora de sair do campo está perto de chegar. Afinal, um soldado ferido emocionalmente não vale muito. Nem farei tanta falta, sou apenas uma caçadora comum e razoavelmente talentosa. A única razão de ter entrado no mundo de caçadores foi a minha família, que me ensinou tudo que eu sei.

O problema é que isso parece ser tudo que eu sou. Uma caçadora. Uma Campbell. Mais uma. Quero ser mais que uma caçadora. Ás vezes, me pergunto se ser uma caçadora vem antes de ser humana. Sei que faço tudo isso para proteger aqueles que não podem, mas já sei mais quão longe eu devo ir. Tudo são casos de vida ou morte, e um erro é fatal. E eu já errei. E ainda não consigo lidar com o meu erro.

Não que caçar seja de todo ruim. A emoção que corre por você quando está em ação é indescritível e poder salvar vidas é algo que lhe dá orgulho. Saber mais que a maioria das pessoas como se proteger também não é ruim. Também já vi muitas pessoas se sacrificando para proteger quem ama.

É como um trabalho policial mais com menos luxo ainda e mais coisas estranhas. Sem salário também.

O problema é o que a caça custa a sua alma. É pesado demais. Todos os caçadores que eu encontrei são loucos ou sombrios demais – não quero pensar em qual categoria minha família se encaixa. Ninguém arrisca sua vida para lutar contra monstros do nada. E a maioria das motivações não são histórias bonitas. Tudo se resume a vingança.

Outro problema é que ninguém parece disposto a ser um pouco compreensível. Não que eu seja uma fã de monstros, mas, se um lobisomem não mata ninguém, então qual seria a justificativa para matá-lo? Fora o fato que ele provavelmente não escolheu ser o que é.

Se os caçadores fossem mais racionais, talvez tivesse até conseguido destruir algumas espécies completamente. Mas eles não são: atiram primeiro, perguntam depois.

Gosto de pensar que eu sou diferente, que eu sou racional, mas no fundo sei a verdade. Tenho tanto nojo daqueles monstros que não sou contra a ideia de ver todos mortos.

Tento me controlar, contudo, não consigo. Não quando todos a minha volta são assim, não quando todos também os querem mortos.

Antigamente, não era tão ruim. Quero dizer, os benefícios costumavam compensar pelas perdas. Mas hoje não a quase nada que eu queira. Eu esqueci pelo que eu luto e eu tento lembrar, mas tudo quase tudo que era bom foi tirado de mim. Quase não me lembro mais de momentos de pura diversão. Não lembro de nada simples.

Não tenho momentos de simplesmente sair com um amigo para me divertir, pois todos os meus amigos são caçadores ou estão mortos. Não tem ninguém para me distrair da parte ruim da vida.

Eu não tenho para onde fugir. Só posso ficar aqui e enfrentar o que aparecer, pelo menos por enquanto. Vou fazer o que eu cresci fazendo e no fim vou tentar dormir a noite. Provavelmente não conseguirei.

Pesadelos sempre me mantém acordadas, cenas de caçadas antigas e histórias que descobrir não saem da minha cabeça. Não consigo relaxar. E não consigo me livrar disso.

Pensando em tudo isso, eu tenho certeza que vou abandonar o negócio da família um dia, mas não sei como fazer isso. Ninguém da minha família jamais me apoiaria – para eles, caçar é tudo. Não existe a ideia de desistir. E eu seria como uma traidora. Pior, seria uma covarde.

Não quero magoá-los, mas, se for preciso, eu farei. Eu preciso ser feliz. Pelo menos por um pouco. Talvez um dia, com sorte, poderei deixar tudo isso para trás sem ferir ninguém. Talvez eu possa ajudar as pessoas de outro modo. Talvez minha família não me odeie.

O importante é ter esperanças e isso eu tenho. É o que me mantém viva.

– Mary, vamos! – meu pai me chama e suspiro. Hora de mais uma caçada. Mais um pesadelo para enfrentar. Mas seguirei de cabeça erguida e farei o meu melhor para manter os cidadãos a salvo. Porque eu espero que um dia eu não precise caçar, mas agora eu vou fazer o que eu preciso. O que eu sou boa fazendo.


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Notas finais do capítulo

Estou tentando fazer capítulos maiores, mas não estou conseguindo por causa do tempo



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