Keep Holding On escrita por Tris Pond


Capítulo 18
Missing


Notas iniciais do capítulo

Gostei de escrever esse.



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Você está longe

Mas eu não posso seguir em frente

(Missing – Everything But The Girl)

Tecnicamente, eu sabia que meus pais estavam mortos. Eu vi os corpos frios deles. Eu falei com o demônio que os matou. Eu estava lá quando houve a certeza que não teria mais volta para eles. Tinha visto o olhar de pena de Dean Van. Tinha sentido o cheiro do enxofre. Tinha sentido o acordo que tinha sido selado. Porém, eu não podia acreditar em nada disso. Era como se tudo fosse um sonho ou filme cruel. Era como se eu assistisse afastada. Aquilo não era comigo. Não eram as pessoas que eu conhecia. Eu não tinha os perdido. Não podia ter.

Ainda assim, a falta de contato com eles e olhares de pena (ah, como odiava esses olhares) não podiam me deixar acreditar que nada tinha acontecido. Eu sabia que só tinha uma explicação lógica para isso: que eles estavam mortos. Mas, por uma vez na minha vida, eu não queria nada lógico. Queria fazer qualquer coisa, acreditar em qualquer coisa que fosse trazer meus pais de volta. Se existe tanta coisa sobrenatural nesse mundo como eu não posso ter meus pais de volta? Não era justo.

Eu sabia que não era saudável ficar do jeito que eu estava. Esperando que eles voltassem. Pensando neles a cada mísero segundo do meu dia. Os vendo em todos os lugares. Sonhando com eles. Esperando ouvir as mesmas discussões de sempre. Rezando para ouvir meu pai reclamar mais uma vez sobre o fato de John não ser um caçador.

Eu sabia o que deveria fazer. Procurar um terapeuta ou conversar com alguém sobre isso (e ainda teria que esconder como eles morreram). Livrar-me de algumas coisas deles. Entender que eles não iriam voltar. Deveria entender que eu tinha continuado viva por uma razão. Que eu estava viva.

Mas eu não conseguia. Não tinha como esquecer que meus pais, as únicas pessoas que sabia que podia confiar sempre (fora Tim), estavam mortos. Que eles nunca mais veriam o mundo.

Não era justo que eles, que tinham dedicado a vida inteira para manter os outros a salvo, não tinham sido salvos. Não tinha ninguém para evitar o que tinha acontecido. Nem eu.

Eu tinha tentado. Mas eu cheguei tarde demais e eu nunca vou me perdoar por isso. Eu deveria ter estado lá, eu poderia ter ajudado. Eu deveria ter ouvido Dean.

Eu sabia que meu pai ficaria orgulhoso com a partida dele – lutou até o final. Sabia que era o jeito que ele esperava morrer, o jeito que ele queria ir embora. Representava tudo que ele foi: um caçador até o fim.

Entretanto, ele nunca pensou que isso não seria mais fácil para aqueles que têm que conviver com a partida dele. Ele nunca pensou em como seria difícil para mim continuar sem eles. Em como eu ficaria.

Eu sabia que podia ser pior – eu podia estar morta também – e eu também estava recebendo muita ajuda das pessoas que me conheciam, todas tentavam me fazer me sentir melhor. Menos Tim, que simplesmente se sentava comigo em silêncio pelo tempo que eu precisasse. Ele sabia como era e respeitava o tempo que eu precisava. Ele era o único que me entendia.

Sempre imaginei que assim que meus pais morressem, eu nunca mais iria caçar, mas acabou que a morte dele só me fez querer caçar mais. Eu precisava liberar toda a emoção que estava sentindo de algum jeito ou explodiria. E tinha medo de descontar em algum desconhecido.

Eu sabia que um dia essa emoção iria embora e a repulsa para a caça voltaria, mas agora não me importava. Não conseguia me importar com nada.

Eu queria que tudo voltasse a ser como era antes, mas nunca voltaria. E, contudo, eu tampouco podia seguir em frente. Não quando não tinha mais nada que me fizesse sentir viva. Não quando não tivesse nada pelo que lutar. Eu estava perdida.

Eu sei que um dia essa dor passará, mas agora parece que esse dia não vai chegar. E eu nem sei se quero. A minha dor é a única coisa que os mantém vivo. É uma lembrança constante de tudo que aconteceu.

Meus pais estavam longe de ser a primeira pessoa que eu perdi, mas nunca foi tão ruim quanto agora. Dessa vez a dor foi imaginável. Eu não sabia se um dia voltaria a me sentir bem de novo.

Tentaria viver um dia de cada vez. Tentaria voltar a ser quem eu era e deixar de estar morta assim como meus pais.

Não sabia se funcionaria, mas não tinha mais nada a perder.


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