Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Oi, eu tô tão feliz que vocês estejam curtindo. Sejam bem-vidas leitoras novas. Obrigada pela persistência leitoras antigas.


Aaaaaahhhhhh, Jessicaaaaa!!! Como assim você já recomendou a história?! Que feliz!!! Amei as palavras e obrigada pelo voto de confiança, pq né? Estamos no começo da história e tudo pode acontecer, só não vale se arrepender da indicação, hein? Hahaha. Obrigada ♥


Boa leitura



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*Tony*




Ela realmente apareceu pra me abrir os olhos e me fazer ver que nem tudo era como eu imaginava. E que, diferente do que eu pensava, não bastava querer ter alguém e aquela pessoa seria minha.

—Você se vestiu da maneira que ela queria, Anthony?

—Sim, e ainda fiz a barba.— eu ri.

—Do que você está rindo?— o dr quer saber.

—Ele fez isso.— ela apontou pro meu cavanhaque —E eu odiei. A barba por fazer não era o problema, nunca foi.




Quando eu ressurgi na sala ela já estava impaciente a minha espera. Eu passei um tempão procurando algo pra vestir que não a fizesse revirar os olhos, só assim eu saberia que ela estaria contente. Porque ela podia dizer que tudo estava certo, mas se ela rolasse os olhos algo estava errado. Eu tinha só um bom terno, um Armani, que não lembrava a última vez que fora usando, mas, por sorte, ele ainda servia, o vesti sem gravata, porque aí era querer demais de mim também.

—Está do seu agrado, Ardida? — a provoquei ao parar diante dela.

—Esse cavanhaque...— ela rolou os olhos —Porque você fez isso?

—Você pediu que eu me vestisse como um homem adulto.

—Só que cavanhaque é coisa de cafajeste, Anthony, quantos homens sérios usam cavanhaque?

—Eu nunca disse que era um homem sério, Srta Potts.— pisquei pra ela —Vem, vamos pra empresa, no meu carro.

—Porque no seu carro?

—Porque se você for no seu e eu no meu você só chega lá quando eu estiver voltando.— eu disse, sem dar a mínima chance de ela rebater.

Todos estranharam quando eu cheguei, não sei se era pelo dia da semana ou por causa das minhas roupas, mas, com certeza, eu fui o assunto na da empresa naquela tarde. Obadiah foi a minha sala, e quando eu disse que queria realmente fazer parte daquilo tudo daquele dia em diante ele mostrou-se desconfortável, mas aceitou, não tinha como não aceitar. Então eu passei o resto do dia enfiado naquela sala que eu tanto evitei.




—Você fez isso por você ou por ela?— Dr Hayden quis saber.

—Fiz...— olho pra ela, ela está olhando pra mim —Por mim, mas foi por causa do que ela falou.— respondi —Eu não podia confiar cegamente nele, só depois de anos eu tive a prova de que não devia ter confiado.




Mas, se ela estava achando que ela teria tudo de mim e eu não teria nada dela, ela estava muito enganada. No final do expediente eu a chamei na minha sala, a minha surpresa se deu ao perceber que ela estava maquiada, não que não estivesse antes, mas os olhos azuis mais marcados eram notórios, lembrava a garçonete e não a assistente.

—Sim, Sr Stark.— ela disse, e eu detestei ter voltado a ser o Sr Stark.

—Você vai ter que fazer hora extra, Srta Potts.

—Nem pensar, hoje é sexta-feira.

—E pela sua cara vejo que a Srta tem planos.— eu disse —Você vai ter que adiá-los por uma hora ou duas.

—Por quê?

—Eu preciso de roupas, e não tenho ideia do que comprar.— respondi.

—Não é minha obrigação ser sua personal stylist, Sr Stark.— ela disse ironicamente.

—Você devia ter pensado nisso quando me pediu pra parar de usar jeans e jaqueta de couro. Aliás, é isso que eu voltarei a usar porque é tudo o que tenho no meu guarda-roupa, além das camisetas.

—Você, como sempre, venceu, Sr Stark.— ela me disse, eu adorava vencê-la.

Nós saímos da empresa, fomos ao shopping e entramos em dezenas de lojas.

—E esse está bom?— perguntei ao sair do provador.

—Está ótimo.— ela desviou o olhar do relógio em seu pulso —Assim como o outro, você não precisava de mim, sabe muito bem o que comprar.— ela disse impaciente.

—Me desculpa, ter te feito perder seu encontro.

—Quem disse que eu ia a um encontro?

—Essa maquiagem e a sua inquietação.— respondi —Quem é ele?

—Não tem um ele.— ela disse —Eu só ia ao Ted’s, encontrar a Jessica e lembrar dos velhos tempos.

—Então, acho que você está dispensada.

—Às onze da noite?— ela pergunta —Já liguei pra ela, não vou mais, Anthony, estou cansada demais pra enfrentar um bar lotado. Ainda tenho que buscar o meu carro que você me fez deixar na mansão. Tudo que quero é chegar em casa, jantar e dormir.

—Ok. Eu vou ligar em casa e pedir pra prepararem algo pra nós, você janta e vai pra sua casa. — ela rolou os olhos e assentiu.

—Porque você sempre diz pra eu não ligar na sua casa e incomodar o Edwin, mas você vive ligando?— ela me perguntou quando estávamos a caminho de casa.

—Porque você me liga demais, Potts, e se você me ligar em casa ele vai ficar preocupado comigo.

—Se você estivesse aonde deveria estar eu não precisava te ligar tanto, Anthony.

—Pare de me chamar de Anthony ou de Sr Stark e eu te atendo sempre. Precisamos deixar de sermos formais um com o outro.

—Nem pensar, Sr Anthony Edward Stark.

—Foi o Jarvis quem lhe disse o meu nome completo, não foi?

—Não, eu fiz a lição de casa depois de ser enganada por você.

Nós chegamos à mansão e jantamos juntos. Ela convidou o Jarvis pra jantar, e ele aceitou relutante, porque ele achava que a minha relação com ela era como com as outras, mesmo eu já tendo garantido que não.

—Ela é uma boa moça, Sr Stark.— ele me disse assim que ela foi embora.

—A mais difícil que já conheci.— comentei.

—Ardida feito pimenta, e é isso que fez dela uma boa moça.— ele me disse.

“Pimenta”, sem nem perceber o Jarvis havia dado o melhor apelido pra ela.




—Você nunca me disse que o apelido foi o Jarvis quem deu.

—O Jarvis já tinha créditos demais.— brinquei.

—Vocês acreditam que foi a partir desse dia que a informalidade surgiu? — dr Hayden quis saber.

—Não, foi com o tempo.— ela respondeu.




Quanto mais eu tentava nos aproximar, mais ela ficava na defensiva, foram semanas sem pisar em casa, semanas conversando apenas o necessário. Certo dia quando a encontrei na empresa me dei conta de que eu não havia sido o único a mudar o guarda-roupa. Ela estava mais formal na roupa e no comportamento, o que era no mínimo estranho pois há tempos eu lutava pra derrubar essa barreira entre nós.

—O que está havendo, Potts?— eu perguntei quando ela foi deixar uns documentos na minha sala.

—Por um instante eu me esqueci de que você é você.— ela disse e eu não entendi —Estão falando de nós, de mim.

—Quem está falando o quê?

—As outras secretárias, elas acham estranho essa coisa de eu estar sempre na sua casa, e então chegamos e saímos juntos no seu carro.— ela falou —Não as culpo, também acharia incomum se eu estivesse de fora da situação.

—Imponha-se, como você se impõe pra mim e elas vão parar de maldar a nossa relação. Mostre pra elas quem é Pepper Potts.

—Quem é Pepper Potts?

—É o seu alter-ego, aquele furacão que invadiu a minha casa, me fez usar terno e vir pra empresa. ela riu, eu adorava fazê-la rir, me sentia bem quando acontecia.

—Eu disse nada de apelidos, Sr Stark.

—Ele é perfeito pra você, um bom apelido não pode ser desperdiçado, Srta Potts.

—Eu não vou conseguir que você não me chame assim, não é?— movi a cabeça em negação, ela suspirou e seguiu em direção a porta da minha sala.

—Potts...— chamei antes que ela saísse —Sim, Sr Stark?

—Cobrir 90% do corpo não vai fazer com que as pessoas parem de maldar, sabia?— ela aquiesceu.

Daquele dia e diante a nossa vida profissional tornou-se menos tensa, na medida do possível.




—Virginia, você já deixou claro que naquela época ele tinha vários relacionamentos...

—Quando eu disse isso?— Pepper perguntou.

—Há alguns minutos, você disse “Ele vivia nas colunas sociais, saindo cada noite com uma mulher diferente.”— dr Hayden recapitulou.

—Não eram bem relacionamento, né?— ela deu de ombros.

—E você? Você era uma jovem de... 24 anos, não tinha os seus relacionamentos também?

—Tinha, mas nunca atrapalhou o meu trabalho.— ele respondeu.

—Tem certeza?— eu arqueei uma sobrancelha ao voltar-me pra ela.

—Absoluta.— ela respondeu.

—E Seattle?— perguntei e ela rolou os olhos.

—Fale-me sobre isso, Anthony.— o dr pronunciou-se com clássica frase dos terapeutas.




Ela já trabalhava pra mim há quase dois anos, sempre estava presente, sempre me atendia, era a melhor secretária que eu poderia. Eu precisei viajar para Seattle, eu que nunca liguei pra empresa estava até viajando a negócios, fiquei surpreso quando a requisitei e ela não se opôs, pelo contrário, fez questão de ir junto.

—Porque você está tão animada, Pepper?

—Porque é Seattle.— ela me respondeu.

Chegamos à Seattle na sexta pela manhã e ficamos numa reunião de negócios quase o dia todo, mas essas reuniões de negócios são sempre intermináveis e a conversa se estendeu para o jantar. Jantar esse que ela se negou a ir, justificando que sua presença não era importante. Não era mesmo, não precisava forçá-la a fazer hora extra. Quando a reunião acabou, eu pensei que nós podíamos sair, sei lá. Não precisávamos ficar trancados num quarto de hotel até a manhã seguinte quando voltaríamos para Los Angeles. Eu voltei pro meu quarto e me livrei das roupas de “homem sério”, liguei no quarto dela e ela não atendeu, no telefone pessoal também não. Acabei saindo sozinho. Sair sozinho nunca foi problema pra mim.

Seattle parecia a terra dos bares com banda de rock ao vivo, eu acabei ficando no qual a banda me pareceu menos ruim. A minha surpresa foi reconhecer a vocalista da banda. Era a melhor amiga dela, não demorei pra encontrar a Pepper também. Ela estava vestida como eu nunca tinha visto. Quer dizer, jaqueta de couro? Ela falava tão mal das minhas que eu nunca achei que ela tivesse uma também. E a combinação, jaqueta, camiseta e jeans ficava muito melhor nela do que em mim, porque eram complementados por um belo par de saltos-altos. Eu estava numa ponta do balcão e ela na outra, depois de pegar sua bebida ela voltou pra frente do palco, tive que sair de onde estava para não perdê-la de vista. Fiquei de longe a observando, nunca tinha a visto tão solta, ela sabia cantar tudo, estava realmente curtindo o show. Era outra Pepper. Quando o show acabou e a banda saiu do palco eles se sentaram numa mesa e ela se juntou a eles. A vocalista e o guitarrista eram os mesmos que tocavam no Ted’s, onde ela trabalhava, o baterista eu nunca tinha visto, mas sem dúvida ele não era um estranho pra ela. Não era mesmo. “Se você queria ver o seu namorado, devia ter pedido folga e viajado até aqui. E não ter usado um compromisso de trabalho como desculpa.” Eu escrevi num guardanapo e mandei o garçom entregar pra ela. Quando eu deixava o bar ela veio até mim.

—Ele não é meu namorado.— a ouvi dizer assim que coloquei os pés na calçada —E não sei porque vim te dizer isso, já que o que eu faço fora do meu horário de trabalho não te diz respeito.

—Me diz respeito quando você emite passagens em nome da empresa pra viagens pessoais.— argumentei.

—Você está agindo como se eu não tivesse ficado o dia inteiro enfiada num escritório com você. Meu horário de trabalho é das 8h às 17h, de segunda a sexta.

—Hoje é sexta.

—Preciso te lembrar do meu horário de trabalho, Anthony ?— ela perguntou —E eu aproveitei a viagem sim porque se eu saísse de Los Angeles depois do trabalho eu jamais conseguiria vê-los tocar essa noite, não vi problema algum em aproveitar a viagem de trabalho pra isso. Porém, se a questão são as passagens eu o reembolso por elas já faria isso com a passagem de volta mesmo. Não vou voltar com você amanhã.

—Por quê?— eu quis saber.

—Porque fazia quase dois anos que eu não saía de Los Angeles, Anthony, tem noção? A minha melhor amiga mudou de cidade, de estado, e eu nunca tinha vindo visitá-la. Se os meus pais não forem me visitar eu quase não os vejo, porque não dá tempo. Eu trabalho pra você há quase dois anos e nunca tive férias, quando eu penso que terei finais de semana livres você...

—Você quer férias?— eu a interrompi —Considere-se de férias. Dois meses, está bom pra você? Um pra cada ano de trabalho.

—Ótimo.— ela respondeu e voltou pro namorado baterista e eu não a vi por dois meses inteiros.




—Pelo visto esse foi o primeiro desentendimento sério de vocês.— o dr observou —Naquele momento nenhum de vocês percebeu que era uma demonstração clara de ciúme? Talvez até de possessividade?

—Ele não era meu namorado.— ela se manifesta.

—Espera aí, Dr...— eu o interrompi —Ela invadir o meu quarto e expulsar a garota com quem eu estava é normal? Eu cobrar uma postura profissional dela é ciúme?

—Anthony, quando você mudou o seu modo de vestir e começou a realmente se dedicar a empresa praticamente reconheceu que ela estava certa.— ele concluiu —Mas as suas atitudes sempre foram para mantê-la perto, porque você ainda não tinha conseguido o que queria desde a primeira vez que a viu. Fazer com que ela estivesse sempre na sua casa, aproximá-la do seu mordomo, compras, caronas, jantares, viagens. Tudo era um pretexto.

—Sabia que surgiria um momento em que eu seria o errado e ela a certa. Afinal, eu estou sempre errado e ela sempre certa não, é, Sra Stark?

—Tony...— ela sibilou —Acho que não é disso que se trata.

—Não é mesmo, até porque direta ou indiretamente Virginia alimentou a esperança de que um dia algo pudesse acontecer, pois ela sabia o que você queria a princípio.— o dr disse, e no fundo ele não está errado. Negação. Nós passamos anos negando o desejo mútuo —Nós temos muito o que conversar ainda, vejo vocês dois na próxima sessão?— aquiescemos e nos despedimos do dr Hayden —Lembrem-se de conversar.

Ao entrar no elevador olho para o relógio me dou conta de que já havíamos passado da segunda hora de sessão. Duas horas. Há tempos não conseguíamos permanecer juntos por duas horas no mesmo local estando acordados, às vezes nem dormindo. Ainda está nevando quando o nosso carro sai do estacionamento do prédio aonde passamos as últimas horas, o trânsito está lento, e em vez de falarmos um com o outro ela prefere ligar o rádio. A parede entre nós foi levantada outra vez.

Quando chegamos em casa, cada um toma banho num quarto diferente, ela não quis jantar e eu jantei sozinho. Depois do jantar vou pra sala e ligo a tv, está nevando demais pra sair novamente e eu não estou a fim de ficar na oficina também. Quando acreditei que Pepper fosse ficar no quarto, como na maioria das noites, ela sentou-se ao meu lado.

—Você se lembra mesmo do que viu aquela noite?— ela questiona.

—Entre você e o baterista? Acho que vi o suficiente pra agir da maneira que agi. Eu não estava errado, Pepper.

—Alguém com ciúme nunca vai admitir estar errado...— ela disse —Não tinha a ver com trabalho, Tony, você fez uma cena porque pela primeira vez viu que eu não estava a sua disposição. E quando eu recebi o seu bilhete eu pensei "Quem ele pensa que é? Ele vive fazendo isso". Então eu fiquei ainda mais furiosa por você achar que ter um caso de uma noite era uma exclusividade sua.— ela me disse.

—Aquela noite em Seattle eu fiquei furioso porque você estaria no quarto ao lado e não seria eu quem dormiria você.

—Por isso você foi embora assim que voltou pro hotel?— ela perguntou, eu nunca contei a ela que deixei o quarto aquela noite, e ela nunca me disse que sabia.

—Como você sabe?

—Eu fui atrás de você e você tinha feito o check-out.— ela me confessa depois de mais de dez anos. —Acho que você sabe o que teria acontecido se você estivesse lá, não sabe?

Sem saber eu havia jogado fora outra chance com ela. Não digo nada a puxo em meus braços e a beijo, pela primeira vez em meses ela não foge. E pra mim isso é melhor do que qualquer conversa.


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Notas finais do capítulo

Volto depois do carnaval, tá?

Beijos ;)



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