Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 23
Vinte e Três




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*Pepper*




O exame de gravidez está sobre a pia e as duas ricas cor-de-rosa parecem mais intensas do que da última vez que olhei pra ele. Quase néon. O olhar do Tony oscila entre o exame e eu, dos meus olhos pra minha barriga, e de volta pro exame. Ele não diz nada e isso me desespera, porque não era a hora pra acontecer, eu nem sei mais se queria que acontecesse, estou adiando isso há uma semana, mesmo sabendo que não era um simples atraso como aconteceu antes da viagem à Positano. Estou carregando uma criança e tudo o que eu penso é em como ter um filho nosso, gerado por mim, pode afetar a nossa filha que dorme no quarto ao lado. Tony se aproxima e com o polegar enxuga uma lágrima que eu sequer senti cair.

Não era pra acontecer. eu soluço. Ele segura o meu rosto entre as mãos e beija os meus lábios.

Se aconteceu é porque era pra acontecer. ele diz quando nossos lábios se desunem.

Eu tô adiando esse exame há dias, torcendo pra que fosse mais um atraso, mas...

Você não é um relógio.

Eu não sei como foi acontecer. choramingo.

Quer que eu te diga? Melhor, quer que eu te mostre? ele brinca, não sei de onde ele consegue tirar humor.

Tony...

Baby... ele me pega no colo, sai comigo do banheiro e me põe sobre a nossa cama Dois filhos de uma vez só, baby, você não podia me fazer mais feliz. ele beija a minha barriga.

Eu tô com medo. E se tudo aquilo se repetir?

Não vai. ele me beija Não pensa nisso, daqui alguns meses seremos quatro. ele me acalenta.



—Porque você pensou nela?— Dr Hayden pergunta interrompendo as minhas lembranças. Sim, recorremos ao nosso terapeuta pra que ele nos instruísse em como contar pra Julie.

—Tudo o que eu pensava era ela.— respondo —Tê-la em casa mudou a nossa rotina, a minha rotina, antes eu acordava ia ao banheiro, abria o armário e tomava a pílula antes mesmo de escovar os dentes, desde quando ela começou a dormir no quarto ao lado eu acordava e ia até lá pra ter certeza de que ela estava lá. Mas depois eu sempre lembrava, só me dei conta de que a falha havia sido minha quando eu atrasei e percebi que estava sobrando uma pílula na cartela.

—Não foi uma falha.— Tony argumenta.

—Se eu não tomei foi.— respondo.

—Não foi.— ele diz pro Dr. —Naquele dia mesmo nós descobrimos quando e porque ela esqueceu.

—Porque você esqueceu?— dr Hayden pergunta.

—Logo depois do ano novo quando voltamos pra casa a Julie ficou bem ruim, acho que foi a mudança de tempo. Nova York, Portland, Los Angeles. Resultado: muita febre até descobrirmos que era a garganta. Foi num desses dias cuidando dela que eu descuidei de mim.— respondo.

—Dormi sozinho por três noites enquanto ela dormia com a Julie, e quando ela voltou, sabe como é doc, muita saudade.— Tony diz malicioso.

—Desnecessário o seu tom e seu comentário.— verbalizo o que acabo de pensar.

—Estamos na terceira semana de fevereiro, quanto tempo de gestação?

—Cinco semanas.— respondo.

—E vocês vieram aqui pra que eu os instrua como contar pra Julie?— assentimos —Vocês devem ser os mais diretos e honestos possíveis. Deixem claro pra ela que não haverá distinção entre ela e o bebê e ela o acolherá. Deixe ela participar desse momento com vocês, ajudando na decoração do quarto, comprando o enxoval, ajudando a escolher o nome...

—Na teoria é fácil, mas aí entraremos numa outra questão.— Tony o interrompe.

—Qual é a questão?

—Pepper.— ele diz —Ela não quer se aprofundar na gestação.

—Isso significa o que eu acho que significa?— dr Hayden indaga.

—Que ela tem medo de que tudo aquilo aconteça de novo? Sim.— Tony pergunta e responde.

—Virginia você não deve se prender àquilo, cada gravidez é diferente.

—O médico disse isso a ela também. Mas nós vamos voltar pra casa e a Dra Ellis, a médica que conhece melhor o histórico, fará o acompanhamento da gravidez.— Tony avisa.

—Casa quer dizer Malibu?— dr Hayden pergunta. Aquiesço.

—Nós já planejávamos voltar, e agora será mais rápido do que pensamos.— eu falo.

—Então essa é uma sessão de adeus.— dr Hayden constata —Curioso vocês voltarem aqui exatamente um ano depois da primeira sessão, agora juntos, estamos fechando um ciclo, que começou por causa de um bebê, com uma garotinha e outro bebê.— olho pro Tony, eu nem havia me dado conta de que um ano havia passado. Quanta coisa a gente viveu nesse ano. —Me prometam uma coisa?

—Que coisa?— Tony pergunta.

—Daqui oito meses vocês me mandarão uma foto dos quatro.— Dr Hayden responde.

—Fechado, doc.— Tony aperta a mão dele como quem sela um pacto.


(...)



Quando chegamos em casa vou direto ao quarto dela, eu nunca a deixei sozinha e a babá que o Tony arranjou não é a pessoa mais indicada pra função. Elas não estão no quarto, nem na sala de TV.

—Onde ela foi com a Julie, Tony?

—Calma, baby.— ele tenta me tranquilizar —Jarvis?

—A srta Stark encontra-se na academia com a Agente Romanoff.— ao ouvir eu me dirijo pra academia.

—Chuta, chuta, direita, esquerda, soco...— Natasha ordena e Julie obedece desferindo golpes contra as palmas das mãos dela. —Olha quem chegou, finalmente.

—Mamãe.— Julie corre pra mim, eu parei de me importar com a mania que ela tem de correr desde quando a palavra mamãe passou a vir antes. —Vocês demoraram.

—Demoraram mesmo e como eu não ia aguentar dois desenhos seguidos nós viemos pra cá.— sua resposta é mais direcionada ao Tony do que a mim.

—Tia Nat disse que eu faria algo que gostava, depois a gente tinha que fazer algo que ela gosta. Agora eu gosto de desenho e de luta.— olho pro Tony e pra Natasha os censurando, não foi nada disso que combinamos.

—Já pode recrutá-la, Tony, ela tem futuro, embora não tenha nenhum senso de direita e esquerda.— Natasha diz pra me provocar —Bem, já que vocês chegaram... Vou nessa, se precisarem, não me chamem.— ela pega a sua jaqueta sobre o sofá e nos deixa.

—A sensibilidade da Natasha é tocante, não é, amor?— Tony ironiza.

—Ela pode voltar outro dia?— Julie pergunta.

—Acho que ela não vai poder.— eu digo.

—Nem se o meu pai chamar?

—Seu o quê?!— Tony indaga surpreso. É a primeira vez que ela o chama assim e foi tão natural e espontâneo que parece que ela o trata assim há meses. Embora ele não tenha ficado eufórico como eu o seu sorriso me mostra que ele está muito feliz.

—Você, Tony, é meu pai, não é?

—Sou sim.— ele bagunça o cabelo dela.

—Tia Nat falou que você é meio boboca, mas é o chefe dela.— Julie diz e eu rio.

—Então, acho que se chamarmos ela vem sim.— Tony diz pra ela —Agora você precisa de um banho, olha essa testa suada cheia de cabelo grudado e essas bochechas vermelhas.

—Mas eu tô cheirosa.— ela replica com as mãos na cintura.

—Me deixa ver.— Tony diz e corre na direção dela fazendo com que ela saia da academia correndo.

Depois do jantar eles foram pra sala de TV enquanto eu vim tomar banho, e tudo o que eu sinto enquanto a água e o sabão escorrerem sobre a minha barriga ainda lisa é medo. Da outra vez eu escolhi o bebê que estava dentro de mim e acabei ficando em seu lugar. Hoje eu não me imagino longe daqui. Mas eu preciso parar de pensar nisso e acreditar que não irá se repetir porque seria muito injusto com todos nós.

—A gente vai conversar agora?— ela levanta a cabeça do peito do Tony e pergunta assim que me vê entrar na sala. Ele parece com mais sono do que ela.

—Vamos conversar agora.— eu digo. Ela se senta e o Tony também.

—O que tá acontecendo, é bom ou ruim?— ela pergunta ansiosa.

—Isso é você quem vai dizer.— Tony a puxa em seu colo, dou a deixa pra que ele comece a contar —Hoje nós deixamos você com a Tia Nat porque a mamãe precisava ir ao médico...

—Você tá doente, mamãe?— ela pergunta preocupada.

—Não.— respondo —Eu só precisava ver uma coisa.

—Que coisa?

—Mamãe descobriu que está esperando um bebê e precisava ver se ele está bem.— respondo pra ela.

—Ele está?— assinto —Então vocês não vão me querer mais?

—Ei, é claro que vamos, você é a nossa mocinha.— Tony diz pra ela —Lembra do pedido pra estrela? Nós juntos pra sempre?— ela aquiesce.

—Mas e o meu outro pedido?

—O do quarto na outra casa?— pergunto.

—Sim.

—Vai acontecer.— Tony afirma —Vamos morar naquela casa, mamãe, você e eu...

—E o neném.— ela completa —Ele vai ser meu irmão, né?

—Vai sim.— eu digo —Irmão ou irmã, o que você prefere?

—Prefiro cachorro.— ela diz, Tony não contém o riso.

—Acho que primeiro você vai ganhar um irmão ou irmã depois a gente conversa sobre o cachorro.— Tony diz rindo —Agora...

—Dormir?

—Isso mesmo.— ele diz.

—Posso ir de cavalinho?

—Sobe aí!— ele diz, ela fica em pé no sofá e gruda nas costas do Tony —Deu beijo na mamãe e no bebê?— ela desgruda dele vem até mim e beija o meu rosto e minha barriga.

—Pronto!— ele gruda novamente, Tony se levanta de deixa a sala com ela em suas costas. Uma vez o Tony disse que ela iria amá-lo mais que a mim, não sei se isso é possível, mas definitivamente ela o deixou entrar.





(...)




Uma semana depois da nossa conversa estamos de volta a Malibu, agora pra ficar, Julie já tem vaga garantida numa ótima escola e o seu quarto aqui é exatamente igual ao outro, Tony disse pra ela que ele veio em outro avião.

—Estão prontas?— Tony pergunta ao entrar no nosso quarto.

—Sim.— respondo ao fechar o zíper da saia, me sento à poltrona e calço os sapatos.

—Aonde a gente vai?

—Jantar na casa de um amigo do papai.— Tony responde.

Chegamos à casa do Rhodey por volta das 19h, Alex nos recebe de maneira efusiva já que não nos vemos desde julho. Ao contrario do que pensávamos as nossas pequenas não se deram bem de cara, e o motivo estava claro. Ciúme.

—Eu tenho dois gatos.— Alex diz pra Julie.

—Porque você não leva a Julie pra vê-los, meu amor?— Kate pergunta.

—Só gosto de passarinho e de cachorro.— Julie responde antes do convite.

Depois do jantar ajudo a Kate com a louça, mas isso é só um pretexto pra ficarmos sozinhas, os homens ficaram administrando as suas princesas ciumentas.

—Como ela reagiu quando soube do bebê?— Kate pergunta.

—Bem.— respondo —Quer dizer, nós perguntamos se ela preferia irmão ou irmã e ela disse que prefere um cachorro...— Kate ri, assim como o Tony, meus pais e a Gabby.

—Pelo menos ela foi sincera.

—Deve ser complicado pra ela, tudo é novo, e eu queria me dedicar mais à Julie antes de pensar em ter outro filho, pra que ela não se sinta como ela esta se sentindo. Todas as noites nós temos que "jurar juradinho" que ela não vai embora.

—Ela acha que vocês vão devolvê-la por terem um bebê?

—Foi o que o casal anterior a nós fez, segundo a assistente social, foi o marido quem desfez a adoção assim que a esposa engravidou.— eu digo.

—Que tipo de gente faz isso?

—O pior tipo.— respondo —Dá pra entender a hostilidade essa noite, né? Não é por mal, ela tá se aproximando do Tony agora, e de repente ela descobre que há outra garotinha na vida dele. Mas elas vão se dar bem.— falo esperando que isso realmente aconteça, até porque acabo de matricular a Julie na mesma escola que a Alex.




(...)




O primeiro trimestre da minha gestação está acabando e, invertendo a ordem dos fatores, os meus enjoos ficaram intensos só agora, Dra Ellis disse que deve durar até o quinto mês. A fase que me amedronta mais. Foi ao entrar no quinto mês que desenvolvi pré-eclampsia na outra gestação. Saio do banheiro enxugando a boca numa toalha e me sento na cama.

—Muito ruim?— Tony afaga as minhas costas.

—Queria que o meu café da manhã parasse no meu estômago só isso.— eu respondo, toda manhã é isso.

—Vou deixar a Julie na escola daqui a pouco estou de volta.

—Você devia ir pra empresa.— eu lembro.

—Posso trabalhar de casa.— ele replica. Tony não assume, mas tem receio de me deixar sozinha. Não vou insistir é uma batalha perdida, e pelos próximos seis meses ele vai voltar pra casa.




(...)




Aos quatro meses e meio, nenhum sinal de dores de cabeça e picos de pressão, e eu já começo a me tranquilizar. Até os enjoos pareceram diminuir. Quem sabe agora eu posso curtir a minha barriga que começa a aparecer. Todo mundo já percebe que ele está aqui, inclusive ele que acordou de vez e já não para mais, principalmente de manhã, Tony adora sentir os chutes do bebê e é isso que ele está fazendo agora.

—Bom dia, bebê.— ele beija a minha barriga. —Hoje na consulta a gente pode saber o sexo, né?

—Poder podemos, mas eu não quero.— respondo.

—Mas baby...

—Quero ser surpreendida, amor.

—Mas e o quarto, as roupas, carrinho...?

—Podemos comprar tudo que sirva pra menino ou menina, mas só vou pensar nisso daqui dois meses.— respondo —Mas se você quer tanto saber pergunte à Dra Ellis, mas não me diga nada, ok?— ele concorda e me beija antes que eu deixe a cama.

—Bom dia, mamãe.— Julie esta sentada em sua cama quando entro em seu quarto.

—Bom dia, princesa, acordou antes da mamãe chamar.— beijo sua cabeça —Vamos tomar banho pra ir pra escola?

—Não quero ir pra escola, quero ver o bebê também, papai disse que vocês vão hoje.— agora entendo porque ela acordou cedo.

—Não vai dar pra você ir, mas a mamãe traz uma foto dele pra você, tudo bem?— ela assente, porém sei que não está contente, porque ela é igual ao Tony quando está contrariada.

Deixamos a Julie na escola e seguimos pro consultório da Dra Ellis, como acontece desde a nossa volta ela nos recebe com um sorriso nos lábios que reflete em seus olhos verdes.

—Hoje nós veremos esse bebezinho nos mínimos detalhes.— essa é a sua maneira de me cumprimentar.

Vou à outra sala trocar o meu vestido pela camisola de consulta e antes de me deitar na maca ela me pesa e mede a minha pressão arterial, que, graças a deus, continua normal. Quando eu me deito, dou a mão pro Tony, ela abre camisola exibindo a minha barriga e logo sinto o gel geladinho sobre ela, quando o exame começa a primeira coisa que ouço é o coraçãozinho acelerado do nosso bebê, na imagem no monitor diante de nós eu o vejo perfeitamente, preguiçoso, ele coça o olhinho como quem está acordando, mas as suas pernas permanecem fechadas.

—Estão vendo?— ela pergunta —Um bebê perfeitinho. Eu jurava que nesse ultrassom morfológico conseguiríamos ver o sexo, mas alguém é muito tímido.

—Ou tímida.— Tony complementa, descubro o que ele espera que o nosso bebê seja, e eu já posso imaginá-lo surtando por ser pai de duas lindas meninas.




(...)




—Mamãe, onde você tá?!— ouço a Julie gritar. Ela está acostumada a me ver na sala ou na cozinha quando chega, mas hoje resolvi ver o mar porque o dia está lindo e ensolarado. Mas ela chamou tão alto que foi quase impossível não ouvi-la daqui da varanda —Oi, irmão.— ela beija a minha barriga quando me vê.

Mesmo que tenhamos dito a ela que não sabemos o sexo do bebê, desde que viu o vídeo da ultra ela o chama de irmão. Nunca disse pro Tony, mas ele responde. Sete meses, e minha barriga cresce a olhos vistos, nada me preocupa mais e tudo está bem.

—Como foi na escola?

—Bom.— ela responde —A Alex pode dormir aqui hoje?— a pergunta não me surpreende, é sexta-feira, o que me surpreende é o fato de a Alex não ter vindo junto do colégio como acontece desde quando elas começaram a se dar bem.

—Mamãe precisa ligar pra tia Kate pra perguntar.

—Tá bom.— ela diz e senta ao meu lado na espreguiçadeira —Tenho que tirar o uniforme ou posso ficar?

—Melhor tirar.— eu digo, embora a ache linda nesse uniforme azul-marinho e vermelho desde o primeiro dia de aula —Cadê seu pai?

—Aqui.— ele diz ao chegar —Precisando de ajuda pra levantar?— ele zomba.

—Se eu sentei sozinha, sou capaz de levantar sozinha.— semicerro os olhos —Vamos trocar de roupa, filha.— eu me levanto e o deixo na varanda.

—Posso escolher minha roupa?

—Pode.— respondo enquanto vagarosamente subimos as em direção aos quartos.



(...)




Setembro começa e eu entro no nono mês, a primeira semana é triste porque é impossível não me lembrar e pensar na Mariah, mas tento me distrair enquanto me ocupo com a decoração do quartinho do bebê. Semana que vem é aniversario dá Julie e ela acredita piamente que ganhará um irmão de presente. Por mais que ele possa nascer a qualquer momento, já que estamos na 36° semana, acredito que o bebê só saia daqui no tempo limite, por isso os convites da festa da Julie foram enviados.

—Você é maluca.— Jessica diz pra mim —Prestes a explodir e andando sorridente pra cima e pra baixo nesse jardim.

—Mas olha a carinha de feliz, é o primeiro aniversario dela com a gente, tínhamos que fazer.— eu digo.

—Dá pra sentar, só um pouquinho, você está me deixando aflita.— ela diz, e eu me sento, mas não por muito tempo.

—Dinda, você vai me ensinar a tocar a minha violinha?— Julie pergunta.

—Posso ensinar, mas isso é um ukulele, como aquele que você gostou de ver a dinda tocar em casa.— ela diz —E a apresentação de aniversário, vamos fazer ainda?

—Tô com vergonha de cantar na frente das pessoas.— Julie responde.

—Tudo bem.— Jessica a beija —Vá brincar com os seus amigos.

—Ela te adotou como dinda mesmo.— eu digo.

—Eu tô me achando por causa disso, mas precisamos arrumar um dindo.— Jess observa.

—Acho que não será possível, porque ela escolheu duas dindas.— comento.

—Pode isso?

—Acho que não, mas ela escolheu, não pude fazer nada Julie é assim.— eu digo.

—Quem é a outra dinda?— Jess pergunta —Me deixa adivinhar,... a Gabby?— assinto.

Tínhamos que comemorar o sexto ano da Julie, e embora seja uma festa pequena, todo mundo veio, inclusive a Natasha. Claro que meus pais vieram, com a vovó, Gabby, Paul, seu marido, e Laura, a bebê, que é a bolinha ruiva mais fofa que já vi na vida. Tony ficou bobo com ela nos braços porque ele jura que o nosso bebê será assim. Julie espera por um irmão, ele por outra filha, e nos últimos meses o bebê tem aguçado a disputa mantendo as pernas fechadas.

—Ele está louco por uma menina, né?— Gabby observa, concordo —Tony Stark pai de duas meninas, ele não sabe os pecados que irá pagar.— nós rimos e mesmo antes que elas cheguem a adolescência eu começo a ter pena delas, porque os surtos de ciúmes não serão fáceis.

A festa da minha pequena tem a decoração da Tinker Bell, e assim como a fada ela passou o dia correndo pelo jardim de vestido verde e asinhas nas costas. Julie só parou na hora dos parabéns, e depois de cortar o bolo quem ganhou o primeiro pedaço fui eu, quer dizer, o irmão, mas eu sou a ponte pro bolo chegar até ele.

—Alguém vai ter que lidar com a decepção quando esse bebê sair de dentro de você, hein, pequena?— papai comenta quando eu me sento à mesa onde estão ele, mamãe e vovó, pra finalmente comer o delicioso bolo de chocolate que acabo de ganhar.

—Espero que seja o Tony.— mamãe diz.

—Vovó Franny, você que tem bastante experiência, ao olhar pra mim diria que o bebê é menino ou menina?— sentada ao lado dela aliso minha barriga enorme.

—Você não queria surpresa?— ela rebate —Porque estragar a surpresa agora que falta tão pouco?

—Você está certa, vovó, como sempre.— pego sua mão sobre a mesa e a beijo.

—Daqui duas semanas vocês descobrirão.— ela acrescenta.

—Como a Sra pode dizer isso com tanta convicção?— pergunto cismada.

—Bebês adoram nascer durante mudanças de lua.— ela responde.

—Bem, ele ou ela pode chegar a hora que quiser, tudo já está pronto.— eu afirmo. O quarto do bebê é amarelinho e branco com decoração de ursinhos, tudo escolhido pela nossa decoradora mirim.




(...)




39° semana, e se no começo eu não dormia por medo, agora não durmo de ansiedade. A lua cheia surgiu enorme no céu à noite e foi impossível não pensar no que a minha avó disse, faz exatamente duas semanas, papai voltou pra Portland com ela, já que ele tem que administrar o hotel durante a licença maternidade da minha prima, mas mamãe fez questão de ficar. Mamãe e Tony estão me enlouquecendo com a disputa entre menino ou menina, é claro que eles não iriam concordar. Nunca. E eu decidi não tomar um partido já que cada um tem 50% de chance de estar certo.

—Baby, volta pra cama.— meu marido diz ao enfiar a cabeça no vão da porta entreaberta.

—Tô arrumando a mala dele.— essa é a desculpa pra vir pro quarto do bebê, à noite, durante a madrugada ou pouco antes do sol nascer como hoje.

—Dele?— ele entra e se senta na poltrona.

—Dele, o bebê, independente do sexo.— esclareço.

—Tudo bem, eu sou voto vencido mesmo.— ele diz chateado.

—Vai ser muito ruim se não for uma menina?— deixo a bolsa do bebê dentro do berço e me aproximo, ele faz com que eu me sente em seu colo.

—Jamais seria ruim.— ele afaga a minha barriga —Só será mais difícil.

—Porque você acha isso?

—Não sei, eu levo mais jeito com mulheres, meninas.— ele corrige —E sendo menina, o espelho dela é você, não sei se seria uma boa referencia pra um garoto.— ele confessa.

—É esse o seu medo?

—Não quero ser como o meu pai.

—Então seja melhor que ele.— eu seguro seu rosto entre as minhas mãos —Eu não conheci o seu pai, mas tenho certeza que você já é um pai muito melhor do que ele foi.— eu o beijo.

—Você acha mesmo?— ele me pergunta, o bebê chuta.

—Coloca a mão na minha barriga e sinta a resposta.— falo pra ele —E se ainda não for suficiente quando a Julie acordar você pergunta pra ela. Menina ou menino, nós dois seremos referências pros nossos filhos.

—Eu já disse que te amo?

—Você diz todos os dias.— respondo —E sempre vem acompanhado de uma mentira.

—Que mentira?— ele pergunta alarmado.

—Que eu estou linda, mesmo desse tamanho.— eu digo.

—Você está.— ele me beija —Está sim.— outro beijo —Amor... Você nunca me disse o que acha que é.— ele assunta.

—Não disse, mas aposto que você tem um nome pra menina, qual é?— pergunto.

—Gosto de Aurora.— ele responde.

—Aurora é um lindo nome. Bastante significativo depois de tudo o que vivemos.— eu digo —Vamos ver, o que será, sera.— desconverso e me levanto com dificuldade. Caminho até a porta do quarto e uma leve pontada me faz parar.

—O que foi?— ele imediatamente me ampara.

—Nada.— respondo. Eu acho.

—Ainda bem, desde que a sua avó disse aquilo que eu espero pelo momento em que você dirá...

—Amor, a bolsa.— o interrompo ao sentir minha calcinha umedecer.

—Não brinca assim, baby.— ele diz.

—É sério,Tony, a minha bolsa rompeu...


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Notas finais do capítulo

As respostas pros comentários do capítulo passado estão atrasadas, eu sei. Tive que escolher entre responder ou escrever. Escolhi escrever. Mas vou responder tudo antes de postar o próximo.

Faltam só dois agora. Estamos perto do fim =/

Beijos e até mais :*



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