Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 22
Vinte e Dois


Notas iniciais do capítulo

Olha, nem demorei tanto e escrevi mto ;)



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*Tony*




Pepper acreditava que depois do primeiro final de semana com a gente não demoraria pra que Julie viesse definitivamente. Ela não veio. As noites de sexta, quando Julie chegava, eram sempre alegres, e as noites de domingo, depois que ela ia embora, eram um saco. Quase um mês passou, o natal está próximo, e não temos planos, tudo depende da resposta ao nosso pedido de viajarmos com ela. Pra ajudar a diretora do abrigo disse que nesse final de semana é pra irmos buscá-la no sábado de manhã e não na sexta à noite como estamos acostumados, então, desde segunda-feira eu durmo ao lado de uma mulher tensa e ansiosa. É quinta-feira e eu já não aguento mais, por isso decidi cozinhar pra ela. Arrumei a sala de estar, acendi a lareira, coloquei algumas almofadas em volta do aparelho de fondue. Pepper adora fondue de queijo com Chardoney.

—Jarvis me disse pra vir até aqui, o que você...— ela para quando vê a sala arrumada —Fondue diante da lareira?

—E vinho.— eu me levanto e vou buscá-la na porta da sala, ela ainda veste o tailleur branco com o qual saiu pela manhã, mas seus pés estão descalços, porque a primeira coisa que ela faz ao entrar em casa é abandonar a bolsa e os sapatos.

—Alguma data especial que eu tenha esquecido?— ela pergunta.

—Só um marido carente implorando por um pouco de atenção e um momento a dois.— eu falo enquanto a guio até as almofadas.

Nós sentamos, bebemos, comemos, conversarmos. E todas as vezes que ela tentava inserir uma terceira pessoa no assunto eu desconversava.

—No sábado nós podemos...

—Dá pra deixar o sábado pra sábado?— pergunto sem paciência.

—O que há com você?

—Baby, eu amo a Julie, mas não quero falar dela agora, ela não pode ser o nosso único assunto.

—Bem...— ela dá um gole no seu vinho —...Pelo clima armado aqui acho que você não está a fim de conversar sobre nada, você só quer...

—Não vou negar que seria bom se acontecesse.— eu a interrompo —Porque até isso agora tem dia certo pra acontecer. Durante o final de semana não pode, no domingo à noite você está chateada, na segunda de manhã pode se atrasar pro trabalho, na terça você trabalhou demais, quarta é um dia bom, pra um sexo mecânico, na quinta o trabalho de toda a semana começa a pesar, na sexta nem pensar.

—Você está sendo injusto.

—A gente nem sai mais, Pepper.— falo pra ela —E eu tô falando de sairmos nós dois, juntos, eu e você, Tony e Pepper marido e mulher, não os pais da Julie. Se nós não formos mais nós nem quando ela não estiver aqui, quando ela vier definitivamente eu não sei o que irá acontecer.

—Eu tô tensa sim, porque depois daquele final de semana eu achei que ela viria de vez.— ela diz.

—Você achou, mas não foi o que aconteceu, e talvez demore pra acontecer. Enquanto isso a gente tem que viver, baby.

—Fazendo sexo?

—Eu nem tô pensando em sexo, Pepper.

—Ah tá.— ela ironiza.

—Esse jantar foi uma péssima ideia.— falo ao me levantar.

—Aonde você vai?— ela pergunta quando estou deixando a sala.

—Pra oficina.— falo sem olhar pra trás.

Chego à oficina e abro um projeto, que já não precisava mais ser mexido, pra desconstruí- lo e refazê-lo, apenas pra passar o tempo ou perder a noção dele. Se estivesse em Malibu sairia pra beber com o Rhodey, sempre admirei que ele e a Kate soubessem viver pra Alex, mas também apesar dela, o casamento deles parece que até melhorou depois do bebê. Já o meu, parece que filhos sempre vêm pra tirar as coisas que iam bem dos eixos. Nova York está me sufocando novamente, odeio inverno.



(...)



O quique dos saltos dos sapatos no chão da oficina tiram a minha concentração, mesmo assim eu não olho pra trás. O sofá de couro atrás de mim range e eu sei que ela se sentou nele.

—Essa é enorme, porque tão grande?— ela questiona a respeito do holograma do projeto de uma nova armadura aberto sobre a mesa.

—Pra controlar o Banner quando o cara verde tomar conta dele.— respondo.

—Já tem um nome?

—Acho que vou deixar que ele escolha.— eu digo, estamos conversando sem sequer nos olhar.

—Você tem noção de que passou a última noite e todo o dia de hoje aqui?

—Tenho.— respondo ao me sentar na banqueta diante da minha mesa, porém, embora não tenha me dado conta antes, parece que sentar me trouxe todo o peso do mundo.

—Não tem não.— ela se levanta, vem até mim e cheira a minha boca.

—O que você tá fazendo?!— viro meu rosto.

—Vendo se você está bêbado ou só muito cansado.— ela responde —Vamos subir, você precisa descansar.

—Preciso de um banho.

—Eu sei.— ela diz.

—Com você.— eu digo, ela sorri.

—Banheira?

—Acho ótimo.— respondo.

Subimos, e agora estamos imersos na banheira com água bem quente e sais de banho que fizeram muita espuma. Inventando a posição de todas as vezes que tomamos banho juntos sou eu quem está entre as pernas dela, e encostado aos seus seios macios eu relaxo. É tão simples sermos nós dois, não dava pra ser sempre assim?

—Me desculpa por ter estragado a noite de ontem?— ela pergunta apoiando o queixo ao meu ombro direito. Mantenho-me calado. —Eu gostaria de ouvir uma resposta.— ela insiste.

—Você sabe o que eu vou responder.

—Mas eu preciso te ouvir dizer, mesmo que você ainda esteja magoado e não seja totalmente verdade.— ela argumenta, prefiro ficar em silêncio.

Minutos depois estou na cama, exausto, o peso dos pensamentos das últimas 24h me faz cair no sono muito rápido.


(...)



Acordo por volta das 11h, relativamente tarde se comparado ao horário que costumo acordar, Pepper não está na cama, mesmo assim o meu reflexo é virar pro lado e fechar os olhos novamente. Depois de alguns minutos a sensação de peso extra me faz virar pro lado dela outra vez, dou de cara com uma bandeja de café da manhã. Suco, café, ovos mexidos, waffle, frutas e mel.

—Café na cama.— comento ao me sentar.

—Ainda tô pedindo desculpas.— ela diz —Se eu te fizer uma pergunta você vai ficar bravo?

—Eu não vou verbalizar as minhas desculpas porque você sabe a resposta antes mesmo de perguntar.

—Não é nada disso, ainda assim tem a ver com isso...— ela começa —...Eu quero saber se você vai comigo buscá-la hoje? Nós passamos o final de semana com ela e no natal viajamos, só os dois, nem precisamos ir à Portland, podemos esticar até o ano novo...

—Então ficaríamos duas semanas sem a Julie?— ela assente, passo as mãos pelo cabelo —Você não entendeu nada.— eu digo —Ter tempo pra nós dois não significa abandoná-la, baby, eu não conseguiria e você muito menos, e seria a pior viagem das nossas vidas.

—Independente do que acontecer ou de quanto tempo demore, eu prometo que vou saber me equilibrar entre vocês dois, ok? Sou multifuncional, não sou? Esposa e mãe. Dona de casa e empresária. Amiga e amante. Eu dou conta.

—Pra mim pode reservar sempre a parte de você que é amiga e amante e eu prometo não reclamar mais.— eu brinco e ela ri depois me beija enredando as mãos entre os fios do meu cabelo bagunçado.

—Temos um acordo então.— ela diz contra a minha boca, ao contrario do meu, seu hálito é fresco, mesmo com o leve aroma de café —Mas agora a sua esposa e a dona de casa estão pedindo pra você não desfazer do café preparado com tanto carinho e um pouco de culpa.


Tomamos café, nos arrumamos e saímos pra pegar a Julie pra mais um fim de semana. Diferente de todas as vezes que estivemos aqui, ela não nos espera sentadinha na sala da diretora. Acho estranho e Pepper também. Elizabeth está sentada à sua mesa com seus cabelos ruivos presos num coque e um tailleur preto, Anna não está ao lado.

—Sentem-se.— ela diz após nos cumprimentar.

—O que está acontecendo?— Pepper não se contem e pergunta.

—Não é nada ruim, podem ficar tranquilos.— ela diz —Já faz alguns meses que vocês vêm saindo com a Julie, ela passou a visitar vocês e, tomando por base a evolução pessoal dela e a aproximação de vocês, nós acreditamos que a partir de hoje vocês podem ter a guarda provisória dela.

—Provisória?— pergunto. A palavra provisória me soa estranha depois desse tempo todo.

—A documentação pra adoção definitiva fica pronta em mais ou menos um mês, e nesse tempo o processo ainda pode ser encerrado.— Elizabeth esclarece.

—Não vamos desistir dela.— Pepper diz.

—Dar as informações faz parte do protocolo, e pode acreditar, tem gente que desiste.— ela tira uma pasta da gaveta de sua mesa e a abre. Nela há o documento cedendo a guarda provisória da menor Julie Anne Rivera Morris a Anthony Edward Stark e Virginia Potts Stark. Assino os papéis e Pepper também —Em algumas semanas Anna fará uma visita a Julie e só após o parecer dela vocês poderão registra-lá.— ela informa.

—Com certeza será uma visita surpresa pra que nós não tenhamos tempo de desamarrar a Julie e tirá-la do porão, não é?

—Ele tá brincando.— Pepper deixa claro, embora a diretora tenha entendido e achado graça.

—Bem...— Elizabeth some atrás da mesa por alguns segundos —Essa é a caixa que chegou junto com ela, vocês querem mesmo levar?

—Sim, é a vida dela.— Pepper responde.

—Então agora falta o mais importante.— ela pega o telefone em sua mesa e pede pra que tragam a Julie.

Ela chega tão quieta que me faz lembrar a primeira vez que estivemos aqui, a diferença agora está na maneira como ela nós olha, não há mais receio e desconfiança em seu olhar, eu só consigo enxergar esperança.

—Vamos pra casa?— eu pergunto, ela aquiesce e me abraça. Beijo sua cabeça.

—Porque você tá chorando?— ela pergunta pra Pepper ao me soltar.

—Porque eu tô muito feliz.— Pepper se agacha e a abraça.

Enquanto levo as coisas pro carro Julie se despede de Evelyn, a moça que a levou ao pronto-socorro àquela noite. Agora eu sei o motivo de só podermos pegá-la hoje depois do almoço, eles devem ter feito uma festa de despedida, ao passar pela porta do refeitório pude ver alguns balões coloridos. Ao voltar à administração do abrigo, pego o documento de tutela, a caixa de lembranças e as minhas garotas. Já que não penso em adotar outra criança, porque não tenho vocação pra Brad Pitt, voltaremos a pisar no St. Patrick outra vez só pra fazer filantropia.


O restante do dia foi repleto de paparicos, e ao ver as duas juntas eu me senti meio idiota pelo nosso desentendimento, estava acostumado a ter a Pepper só pra mim, nesses 16 anos sempre foi assim, mesmo quando arrumava alguém ela continuava sendo minha. Agora a coisa mudou, e na escala de prioridades terei que me acostumar com o segundo lugar. Dei boa noite pra Julie há alguns minutos e vim deitar, enquanto Pepper continua lá, lambendo a cria, como diz meu sogro.

Antes que meu sono chegue ela vem pra cama, apesar da noite gelada seu corpo é quente e convidativo, o contato de sua pele com a minha me atiça. O beijo que ela dá em meu pescoço me acende.

—Com sono?— ela mordiscar o lóbulo da minha orelha.

—Você vai me provocar e me deixar na vontade, baby, isso é um golpe muito baixo.

—Vamos até o fim.— ela diz ao montar em mim.

—E aquela desculpa sobre a Julie estar no quarto ao lado?

—Ela estará no quarto ao lado pelo menos até a universidade, você consegue ficar tanto tempo sem mim?— ela pergunta enquanto espalha beijos pelo meu peitoral.

—Claro que não, eu te quero sempre.— respondo.

—Então nós vamos ter que aprender a trancar a porta do quarto.— ela diz antes atacar a minha boca. Espero que a ela tenha trancado a porta, assim como espero que a Julie tenha um sono muito pesado.




(...)



—Já tá chegando?— Julie pergunta pela milésima vez, não é exagero, uma semana conosco e ela já não é mais aquela criança calada de antes, sinto até saudades.

—Quase, meu amor.— Pepper responde —Sabe porque não chega? Porque você está ansiosa.

—Eu tô com saudade do vovô e da vovó.— ela diz sentada entre nós dois, no banco traseiro do táxi. Tudo hoje será novidade, a começar pela viagem de avião onde estávamos só os três, e agora a cidade que é muito diferente de Nova York.

—Chegamos.— Pepper diz após algum tempo. A casa dos pais dela é longe do centro, e apenas a alguns quilômetros do hotel. Um sobrado com as paredes pintadas de salmão, um grande jardim diante da casa e cerca branca na varanda. Parece mais frio aqui do que em Nova York, talvez por estarmos no ponto mais alto da cidade, mas, pelos menos, não está nevando como lá.

—Vá até lá e bata na porta.— eu digo pra Julie enquanto ajudo o taxista a pegar as nossas malas.

—Sem correr.— Pepper diz pra ela, só que Julie entende o “Não corra” como “Corra”.

—Ela é uma gracinha.— o taxista comenta —Quantos anos?

—Cinco.— Pepper responde.

—Você não lembra de mim, não é?— o cara pergunta. Ligo o meu radar.

—Deveria?— Pepper indaga.

—Kevin McCallister, levei você ao baile de formatura no ensino médio.— ele diz.

—Oh, meu deus, me desculpe, é que você...

—Diferente, eu sei.— ele a interrompe —A carreira como atleta não deu certo e bem, não há lugar como o nosso lar, não é?

—Deve ser, amigão.— eu corto o assunto —Quanto deu a corrida mesmo?

—Setenta dólares.— ele diz.

—Feliz natal.— eu digo ao pagar o triplo.

—Feliz natal, Kevin, foi bom te ver.— Pepper diz antes que ele entre no carro.

—Você adora ver ex-namorados, não é?— digo enquanto adentramos a propriedade dos meus sogros.

—Meus pais me deram educação, Tony.

—E deixaram você ir ao baile com um gordinho espinhento.— alfineto.

—Há vinte anos ele não era gordinho e nem espinhento, pode ter certeza.— ela rebate.

—Mas se você tivesse ficado em Portland seria esposa de um taxista gordinho...

—Era o Kavin?— Sue pergunta ao surgir na varanda.

—Era, mas eu nem o teria reconhecido se ele não dissesse.— Pepper responde.

—Ontem nós jantamos com ele a esposa e os pais, eu disse que você viria, que era pra ele vir tomar um café.

—Ai, mãe.— Pepper rola o olhar.

—Ele poderia trazer os meninos dele, um deles tem a idade da Julie.— Sue esclarece, mesmo assim eu não quero nenhum gordinho perto da minha menina.

—Kevin era um bom garoto, e depois de adulto se tornou um bom homem.— meu sogro diz —Mesmo dono da empresa de táxis ele continua a trabalhar.— Pepper me envia um olhar como quem diz “Eu seria primeira-dama de uma frota de táxis, pelo menos” —Mas é melhor que ele não venha mesmo, assim o vovô fica mais tempo com a pequena, não é?

—É!

—Parece que você cresceu, o que você anda comendo?

—Comida.

—A viagem foi ótima, obrigado.— eu digo, já que estamos aqui há um bom tempo e ninguém perguntou.

—Seja bem-vindo.— minha sogra diz —Sinta-se em casa, Anthony, você sabe onde deve levar as malas. Vou voltar pra cozinha.

—Quero cozinhar com a vovó.— Julie diz.

—Então vem.

—Quero que você conheça a vovó Franny primeiro.— Pepper diz pra ela.

—Quem é essa?— Julie pergunta.

—É a mãe da vovó e vovó da sua mãe.— Sue explica —Isso faz dela a sua bisavó.

—Eu nunca tive uma.

—Bem, agora você tem.— Sue diz —Mas ela acabou de dormir, então vocês só poderão vê-la mais tarde.

—Ok.

—Agora vamos pra cozinha, ainda bem que você chegou a gente tem um monte de comida pra preparar até a noite.— Sua diz pra Julie enquanto vai da sala pra cozinha.



(...)



Não me lembro de outro natal na casa dos meus sogros que tenha sido assim. A casa relativamente grande pareceu pequena pra tanta gente. Tios, primos, crianças correndo pra todos os lados. Eu nunca sei quem são os Potts, do lado do pai da Pepper, e quem é Potts do lado da mãe, acho muito estranho, e ao mesmo tempo curioso, que eles tenham o mesmo sobrenome, porém, segundo Jonathan, não há chance alguma de parentesco, já que a familia da Sue sempre esteve na cidade e ele tenha mudado pra cá com os pais e os irmãos na adolescência.

Começo a suspeitar que talvez a Julie tenha sido trocada, porque aquela menina que não interagia com ninguém não existe mais. E por ser a novidade entre as crianças ela tem sido o centro das atenções. Pra nossa surpresa ninguém a tratou como uma estranha ou intrusa, acredito que o acolhimento imediato facilitou a adaptação, e o fato de saber que ela tem a quem recorrer a deixa segura entre toda essa gente que ela só conheceu hoje, mas vai conviver pra sempre. Ela adota as pessoas imediatamente, esse é meu tio, essa é minha prima, essa é minha tia, no entanto, eu e Pepper continuamos sendo Tony e Pepper.

Saio pela casa a procura da minha esposa e a encontro na estufa que Sue tem nos fundos do jardim, ela conversa com a prima, Gabrielle ou Gabby como eles chamam, as duas têm a mesma idade, os mesmos cabelos ruivos e tom de pele, o corpo esguio e longilíneo deve ser de família também, e mesmo que elas se pareçam tanto algo as difere, os olhos de Gabby são verdes e os da minha Pepper são azuis. Acho que nenhuma delas me viu, paro no meio do caminho ao vê-las saltitantes e felizes entre abraços efusivos, e quando se acalmam vejo Pepper acariciar o ventre de sua prima. Outro Potts, ou seja lá qual for o sobrenome do marido da Gabby, a caminho.



—Você quer mesmo ficar aqui sozinha?— Pepper pergunta ao colocar Julie na cama, passa das 2h e só agora ela começou a baquear.

—Quero dormir no seu quarto.— Julie diz sonolenta.

—Você sabe que o Tony e eu dormiremos no hotel do vovô, certo?— Julie assente.

—Você jura juradinho que vai voltar?

—Juro juradinho.— Pepper responde cruzando os dedos em seu lábio.

—Então pode ir. Boa noite.— ela diz. Damos boa noite e a esperamos dormir.

—Do jeito que ela correu hoje, só acorda depois das 11h amanhã, mas eu vou ficar de olho nela. Podem ir tranquilos.— Sue nos tranquiliza assim que deixamos o quarto.

Os três dias que passamos em Portland foram assim, durante o dia ela era nossa, quer dizer, quando ela cansava de correr ela era, e à noite ela ficava com Jonathan e Sue. Depois de alguns dias com a família da Pepper, na véspera de Ano Novo, nós voamos do Maine para a Califórnia.



O clima em Malibu é completamente diferente de Portland, o sol brilha e esquenta apesar de ser inverno aqui também. Adeus roupas pesadas. O caminho até em casa é quase um apelo pra que fiquemos aqui pra sempre. E eu sinceramente espero que, agora que a nossa vida está acertada, a gente volte logo pra ficar.

—Aqui é praia, né?— Julie pergunta.

—Aqui é o melhor lugar do mundo.— eu digo ao pararmos diante do portão da mansão, dou o comando e Jarvis o abre, descemos do carro no pátio e entramos em casa.

—Quem mora nessa casa grande?— Julie indaga curiosa.

—A gente.— Pepper diz.

—Mas gente não mora aqui.

—Mas já moramos, a gente quer dizer eu e sua mãe, moramos aqui depois mudamos pra Nova York, mas a casa ainda é nossa.

—Porque vocês mudaram, se aqui é tão lindo?

—Porque a gente precisava conhecer você.— Pepper a pega nos braços —A garotinha mais curiosa, mais linda e mais fofinha.— ela diz enquanto beija o pescoço de Julie a fazendo gargalhar.

—Para, eu não aguento cócegas.— Julie diz entre as risadas —Para, por favor.— Pepper não para —Por favor, mamãe.— ela diz de maneira tão espontânea que talvez nem tenha se dado conta, mas Pepper ouviu e isso a fez parar com as cócegas, mas a maneira com a qual ela aperta a Julie agora talvez dificulte a respiração da menina. Mas isso era tudo o que ela queria ouvir.


Nós mostramos tudo pra Julie, e passamos o dia em casa. O nosso jantar de Ano Novo foi pedido por delivery, num bom restaurante, mas ainda assim era delivery. Ano passado estávamos os dois em Nova York, tristes, cada um num cômodo. Fiz questão de virmos pra casa pra encerrar de vez o ciclo de tristeza que começou aqui. Sabe aquela coisa de ano novo, vida nova? É isso o que eu quero. Hoje somos três, de novo, mesmo que as circunstâncias sejam outras, estamos aqui, o vento soprando, o mar arrebentando nas pedras e os fogos de artifício colorindo o céu ao longe.

—Olha, uma estrela!— Julie aponta.

—Você fez um pedido?— pergunto mesmo sabendo que não era uma estrela, era um desses fogos que parecem um estrela cadente e de repente explodem.

—Eu fiz um pedido.— Pepper diz —Eu pedi pra ter vocês dois na minha vida pra sempre.

—Então eu vou pedir a mesma coisa.— eu digo —Quero vocês duas na minha vida pra sempre.

—Posso pedir outra coisa?

—O que você quiser.— Pepper fala.

—Quero trazer o meu quarto da outra casa pra essa casa.— a pequena diz, e eu sinto que basta assinarmos os papéis e voltaremos pra casa, até isso acontecer posso continuar sendo apenas Tony, mesmo que Pepper tenha sido promovida a mamãe.



(...)



No início do ano voltamos pra Torre Stark, não conseguimos ver o Rhodey, Kate e a Alex porque eles estavam numa viagem. Passaram algumas semanas, o ano novo está prestes a entrar em seu segundo mês e nada da visita da assistente social.

Pepper está estranha, ontem a peguei chorando, talvez ainda seja receio de que as coisas não deem certo. Anna finalmente aparece na segunda semana de fevereiro, ela viu a casa toda, e depois de ficar trancada no quarto com a Julie por algum tempo elas voltaram pra sala.

—E então?— Pepper pergunta ansiosa, assim que elas sentam ao sofá diante da gente.

—Eu disse que quero morar com vocês pra sempre porque a gente pediu pra estrela.

—Que historia é essa da estrela?— Anna pergunta —Ela começou a falar desembestada, e eu não estava muito acostumada a ver a Julie falar, foi difícil de entender.

—Uma coisa que fizemos na noite de ano novo.— respondo —Tem a ver com fazer pedidos pra estrela cadente.— a mulher compreende.

—E você pediu pra estrela pra ficar com o Anthony e a Virginia?

—É, quero ficar, e levar o meu quarto daqui pra outra casa.

—Mudança?— Anna questiona.

—Não pode?— Pepper indaga.

—Assim que ela for registada por vocês a responsabilidade sobre ela é de vocês.— Anna responde, entendo isso como um sim. A gente pode ir com ela pro México ou pro Brasil sem sermos foragidos. —Eu vou anexar o relatório da visita de hoje aos papéis da adoção e enviar com os documentos de vocês três para o cartório e eles emitirão uma nova certidão de nascimento pra ela, só que agora como filha de vocês.

—Você ouviu?— Pepper abre os braços pra ela, Julie entende o sinal e corre em sua direção —Você é nossa pra sempre, como a gente pediu pra estrela.


A adoção era fato consumado, quer dizer, faltava a nova certidão, mas isso ficou a cargo do nosso advogado, a mim coube trabalhar enquanto a Pepper desfruta da sua licença maternidade. Dias depois, quando Derek entrou na minha sala, quero dizer, na sala da Pepper, trazendo o documento, eu abandonei o trabalho e subi pra mostrá-lo pra ela, sem me importar que eu havia acabado de chegar na empresa. Passa das 9h da manhã, a Julie ainda está dormindo quando passo pelo seu quarto e ao chegar ao nosso a minha esposa parece surpresa ao me ver. Seus olhos estão vermelhos e isso me preocupa.

—Tudo bem?— eu a abraço.

—Humrum.— ela murmura e me beija numa clara tentativa de me distrair.

—Tenho algo pra você.— eu digo, me afasto e entrego a nova certidão da Julie.

—Julie Anne Potts Stark.— ela lê o documento —Duas certezas num mesmo dia.

—Duas certezas de quê?— pergunto confuso enquanto ela me puxa para o banheiro.

—De que definitivamente e irrevogavelmente nós somos pais.— Pepper responde ao me mostrar um teste de gravidez que, pelo visto, acaba de ser feito.







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Notas finais do capítulo

Capítulo enorme, fofo e com surpresa no final ♥

Até mais ;)



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