Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 21
Vinte e Um


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu demorei, eu sei.
Antes tarde do que nunca, né?
Antes tarde do que mais tarde.


Quero agradecer a Gwennie pela recomendação, muito abrigada por compartilhar o seu gosto pela minha história ♥



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*Pepper*




Meu coração está desacelerando agora do susto, se não fosse o Tony dar um jeito de segurá-la eu não sei o que teria acontecido. Talvez o braço quebrado novamente, o queixo machucado, ou sei la, tentei parar de pensar no momento em que ela me abraçou o mais apertado que conseguiu apesar de seus bracinhos curtos.

—E então você e o Tony iriam ver um filme?— pergunto enquanto mostro a sala de tv pra ela.

—É, Nemo.— ela responde —Ele perguntou pro inteligente artificial se tinha o filme.

—Pra quem?— pergunto só pra ter certeza.

—O nome dele é Jarvis, ele é inteligente artificial invisível e fala com o Tony.

—Porque você os chama de Tony e Pepper?— mamãe pergunta.

—Porque é o nome deles, ué.— Julie encolhe os ombros.

—É simples, mãe.— eu falo assim que chegamos ao quarto de hospedes —Eu vou mostrar o quarto da Julie pra ela, mas fique a vontade, troque de roupa, tome um banho se quiser.— eu a beijo na bochecha.

—Se eu não quiser ficar no quarto posso ir pra cozinha começar o almoço?

—Você não veio aqui pra cozinhar, mamãe.— eu digo pra ela —E a empregada deixou quase tudo pronto.

—Até o peru? Não há Ação de Graças sem peru.

—Temperado no freezer.— respondo.

—Posso ir colocá-lo pra assar?

—Você não vai sossegar se não for pra cozinha, né?— ela move a cabeça em negação —Então vá.

—Vou trocar de roupa.

—Pelo menos isso.— eu digo —Ah, eu amei esse colar se você quiser deixá-lo ai não vou me importar.— brinco.

—Vou pensar.— ela me beija —Até daqui a pouco, Julie.

—Até.— Julie diz antes que mamãe feche a porta.

—Então, vamos ver o seu quarto?— pergunto, ela aquiesce animada. Mais duas portas e paramos diante da porta do quarto dela, que fica ao lado do nosso, o que difere das outras portas é o nome dela pendurado. —É esse, sabe o que está escrito aqui?— ela entorta a boca pro lado e pensa.

—Hum. Não conheço todas as letras, mas... esse é um J de Julie e esse é um U de uva.— ela diz —Esse é...

—L de laranja.— eu digo —I...

—De igreja e E de escola.— ela completa —J, U, L, I, E, é meu nome, né?

—É o seu nome.

—Eu tenho uma porta?

—E tudo o que há além da porta.— eu digo ao abri-la.

Entramos, mas nem tanto, apenas um passo adentro do quarto, ela para e analisa tudo. Foi difícil montar o quarto em uma tarde, convencer a loja de móveis a entregá-los prontamente, queria ter pintado as paredes, na verdade acho que eu queria que ela estivesse junto pra escolher cada coisinha.

—Eu amo passarinhos.— ela diz. Eu sei disso, descobri no nosso segundo encontro quando os passarinhos que pousavam na fonte do abrigo eram muito mais interessantes do que o Tony e eu, no nosso passeio no Central Park eu pude ver o quanto ela gosta da natureza, e fiz o possível pra trazer as referências pro quarto dela.

Depois que colei a árvore na parede onde a cabeceira da cama está encostada o branco do fundo já não me incomodou mais, quando colei o passarinho na parede eu passei a amá-la. A cama dela é branca com armação em ferro, agora está coberta com um edredom azul claro com flores estampadas, de ambos os lados da cama há mesinhas com abajures. As persianas são verticais num tom de rosa clarinho. No lado oposto à cama há a cômoda e o guarda-roupas também brancos com flores. A poltrona que fica na direção dos pés da cama próximo à janela tem um tom de verde-pistache, nesse momento os bichinhos de pelúcia e bonecas a ocupam. Mas eu acredito que o seu comentários sobre passarinhos tenha sido por causa do lustre onde eles estão pousados.

—Eu sei que você ama passarinhos.— digo pra ela —Gostou?— ela balança a cabeça afirmativamente sem articular nenhuma palavra.

—É só pra mim?— ela pergunta.

—Só pra você.— respondo —Pode ver tudo.— me encosto ao batente da porta enquanto ela faz o reconhecimento de seu novo território, curiosa ela abre as gavetas da cômoda, as portas do guarda-roupas, o baú aos pés da cama e a porta do banheiro, tudo isso com a sua mochila ainda nas costas.

—A minha cama parece fofinha.— ela comenta ao aperta-la.

—Senta pra ver.— eu digo, ela tira a mochila e coloca sobre a poltrona, caminha até a cama e se senta, sento-me ao lado dela e a incentivo a explorar a cama ainda mais. Pulamos, rolamos e, depois de alguns minutos de risadas, cansamos —É fofinha?— pergunto tirando os cabelos de seu rosto.

—Muito fofinha.— ela diz com um enorme no rosto, que faz com que eu sorria também.

—Vamos voltar pra sala agora?

—Pra sala onde eu vou ver o filme ou a outra sala?— ela pergunta.

—Pra qual você quer ir?

—Quero ver o filme, será que o Tony ainda quer?

—Você vai ter que perguntar pra ele.— eu digo —E convide o meu pai também.

—Tá bom.— ela diz ao descer da cama. Antes de deixarmos o quarto arrumo os fios soltos do seu rabo-de-cavalo, dou outro calçado pra ela, já que ela fez questão de tirar o único tênis que estava em seu pé e as meias.

—Então, mocinha, o que você achou do quarto?— Tony pergunta assim que surgimos na sala.

—É lindo.— ela diz ao sentar ao lado dele.

—E o que você pretende fazer agora?

—Assistir o Nemo, você quer ainda?— ela pergunta.

—É um filme legal?

—Muito.

—Então eu quero.— Tony responde.

—Você quer ver o Nemo com a gente?— ela pergunta pro meu pai.

—Não assistir o futebol no dia de Ação de Graças pra ver filme infantil, acho que isso é ser avô, não é?— papai pergunta.

—Você é meu avô?— Julie questiona confusa.

—Se você deixar.— ele diz a puxando em seu colo.

—Nunca tive um avô.

—Bem, então agora você tem um avô e uma avó.— papai diz.

—Isso é legal?— pergunto pra ela. Julie olha pra mim, pro Tony e pro meu pai.

—Eu acho que é, não é?— ela pergunta o fazendo rir.

—É claro que é.— meu pai diz ao levantar do sofá e a coloca no chão —E quando você for a Portland você vai saber mesmo o quanto é legal ser minha neta, porque aqui tem toda essa coisa de computador e tal, mas lá tem mato, natureza...

—Tem passarinhos?— ela pergunta.

—Uma porção deles, pergunta pra sua mãe.— ele diz e Julie olha pra mim, nunca me denominei como sendo sua mãe, mesmo assim ela não o corrige, pode ter sido um ato falho do meu pai, mas eu não acho ruim —E quando eu estiver te empurrando na balança que há no jardim você vai ver o que é voar...— o ouço dizer diz enquanto a leva pela mão até a sala de tv.

—Eu tô vendo isso mesmo?— Tony pergunta —Levei semanas pra que ela segurasse a minha mão e agora vem um avô e leva ela assim?— eu rio —Ele ainda tá desfazendo das minhas coisas, baby.

—Ele não tá desfazendo de nada.

—Ah, sim, um balanço no jardim é mais legal do que um computador.— ele comenta.

—Você quer mesmo que eu diga que prefiro que ela seja criança como eu fui, do que um mini-adulto como você foi?— pergunto.

—Não.

—Então não vou dizer.

—Você já disse.— ele diz emburrado.

—Não fica assim.— envolvo meus braços ao redor dele —Não precisa ter ciúme dela, no domingo eles vão embora.

—Ela também.— ele diz, eu não achei que isso aconteceria tão rápido, mas ele está muito ligado a Julie.

—Mas ela volta na semana que vem, e daqui a algum tempo ela já não irá mais.— eu digo e o beijo —Agora vá pegar a sua garotinha de volta, que eu vou até a cozinha ver o que a minha mãe tá aprontando.— o beijo novamente.



—O seu pai grudou na garota, não foi?— mamãe pergunta quando chego à cozinha.

—O que você acha?— replico.

—Ele estava louco pra conhecê-la, até porque ultimamente você só fala dela.

—É o meu melhor assunto.— eu falo —Papai vai encher a cabeça dela sobre Portland, e eu não sei quando conseguiremos ir até lá.

—Porque não no natal?

—Não sei se podemos viajar com ela, nunca foi nos dito nada.

—Bem, se você não perguntar não irá saber. Mas...— ela hesita.

—Mas...?

—Você disse que o começo foi difícil, colocaram obstáculos por meses, essa adoção é certa mesmo?— mamãe pergunta.

—Acredito que sim. Ainda mais se eles levarem a opinião dela em consideração. Eu sei que ela gosta da gente. Ela gosta muito da gente.

—Eu só não quero te ver sofrer.— ela se aproxima e me beija a têmpora.

—Você não vai.— retribuo seu beijo —Agora vamos nos preocupar com esse almoço...

—Jantar, né?

—Mas e o almoço?

—Filha são quase três da tarde...

—Mentira.

—Verdade.

—A Julie precisa almoçar, mãe.

—Pensei nisso, e enquanto vocês demoravam no quarto eu montei uma lasanha, nada elaborada, mas bem gostosa, seu pai adora e a vovó também, está no forno.

—Com quem a vovó ficou?

—Com a sua tia Louise.— ela responde —E Gabby está cuidando do hotel.

—Imaginei.— eu falo —Estou pensando agora, se Julie curtiu a ideia de ter avós, vai adorar ter uma bisa, primos, tios... Preciso mesmo levá-la à Portland.— eu digo enquanto mamãe vai ao forno ver a sua lasanha.

Depois de uns vinte minutos servimos o almoço que está muito atrasado, o filme já havia terminado quando fui à sala buscá-los, papai convenceu Julie a ver as prévias das partidas de futebol e explicava pra ela a função de cada jogador em campo. Tony estava entediado num canto do sofá porque ele nunca gostou de esportes. Aviso que mamãe os espera na sala de jantar e papai e Julie levantam as pressas, ela passa por mim sem dizer nada e sai grudada a ele. Agora sei o que o Tony está sentindo.

—Porque seu pai tem que ser tão legal?— ele pergunta emburrado.

—Está sendo muito ruim?

—Qual é a sua definição de ruim?— ele pergunta —Eu continuo sendo Tony enquanto ele foi promovido a Vovô Jonathan, e eles se conhecem há umas três horas só.

—Vou falar com ele.— eu digo.

—Não.— ele pede —Vou conquistá-la, mesmo com ele no meu caminho, não é a primeira vez que eu vou ter que afastar um certinho de uma garota.

—Só não vá se indispor com o meu pai, tá?— ele aquiesce —Vamos almoçar.

A minha mãe conquistou a Julie por causa de uma lasanha de abobrinhas. Que criança gosta de aboborinhas? Acho que ela estava com fome, só isso explica.

—Estava mesmo gostoso, Julie?— mamãe pergunta.

—Tava sim, vovó.— Julie responde.

—Cabe a sobremesa ainda?— Tony pergunta —A Pepper fez bolo.

—Fez?— Julie, papai e mamãe perguntam em sintonia. Meu pai e minha mãe tudo bem, mas parece que até a Julie está duvidando dos meus dotes.

—Fiz.

—Eu estou na cozinha praticamente desde a hora em que cheguei e não vi.— mamãe diz.

—Eu quero bolo.— Julie se manifesta.

—Vou buscar, pequena. Amor, vem comigo pra pegar os pratos e talheres.— eu peço.

—Com licença.— eu e Tony falamos ao levantar da mesa.

Vou à cozinha e o bolo está sobre o aparador aonde eu o deixei desde quando desenformei, pego a calda pronta e a deixo mornar um pouco no micro-ondas, depois a jogo sobre o bolo.

—Quais são os pratos de sobremesa?

—Os menores, Tony.

—Então devo pegar os menores talheres, certo?— ele pergunta me fazendo rir.

—Eu vi esse bolo, mas acho que ele não tinha calda.— mamãe diz quando coloco o bolo sobre a mesa.

—Nós fizemos agora.— Tony brinca.

—Tá gostoso?— Julie pergunta.

—Olha, eu não sei...

—Parece gostoso.— ela diz.

—Então vamos parar de especular e ter certeza, né?— meu pai se manifesta.

Sirvo os pedaços de bolo e aguardo ansiosamente o veredito dos meus convidados especiais, eu acho que bolo ficou bom, mas nesse caso a minha opinião não conta.

—Tá uma delícia, baby.— Tony diz, a opinião dele também não vale.

—Eu gosto de bolo de chocolate.— Julie diz.

—Mas você gostou desse?— eu pergunto.

—Eu amei esse.— ela diz. Era a opinião que eu precisava.

—Tá muito bom mesmo, pequena.— meu pai diz.

—Eu?— Julie pergunta.

—Você também é pequena, mas ela é a minha pequena.— ele diz pra Julie.

—Mas ela é grande.

—Porém foi a minha primeira pequena.— ele esclarece —Assim como você será a pequena dela mesmo quando estiver bem grande.

—Porque?

—Porque ela é nossa filha. E você é filha dela.— mamãe diz.

É a segunda vez que Julie olha pra mim desse jeito hoje, um olhar confuso e meio perdido, tudo isso porque essa é a segunda vez que dizem pra ela que eu sou sua mãe. Espero que ela esteja aceitando bem a ideia.

Depois do nosso almoço atrasado volto pra cozinha com minha mãe porque ela faz questão de incrementar todos os pratos que a cozinheira já deixou previamente prontos pro nosso jantar de Ação de Graças. Cozinhar é terapêutico pra ela, e ela faz isso muito bem, mamãe cuidou por anos da cozinha da pousada que era dos meus avós, em Portland, meu pai cuidava das finanças e sempre achou o lugar pequeno demais, então depois do falecimento do meu avô eles reformaram a pousada e a transformaram num hotel 4 estrelas, e a cozinha ficou grande demais pra ela. Eu amo aquele lugar, cresci lá, mas nunca me vi administrando o hotel como meus pais queriam. Minha tia Lou, irmã da minha mãe, vendeu a metade que lhe cabia do estabelecimento pros meus pais, e a minha prima Gabrielle, filha dela, é gerente de marketing de lá, vai entender.

—Pepper, eu posso ficar aqui?— Julie pergunta ao aparecer na cozinha.

—O que houve?— pergunto.

—O vovô só quer ver futebol, eu cansei.

—Mas cozinha não é lugar de criança.— eu argumento.

—Diz a criança que cresceu na cozinha.— mamãe resmunga.

—Pode ficar, mas do outro lado do balcão.— eu a pego no colo a sento na banqueta —E se equilibre bem pra não cair.— beijo o topo de sua cabeça e volto aos meus afazeres. Alguns minutos depois Julie está nos assistindo entediada.

—Posso fazer com que ela se sinta útil?— mamãe pergunta. Permito. —Você quer ajudar a vovó com a torta?

—Quero!

—Nós estamos fazendo uma cheesecake de cerejas, e eu preciso de ajuda para colocar cerejas na minha torta.

—Eu ajudo!

—Tá com as mãos limpas?

—Acho que sim.— ela responde ao olhar as mãos.

—Melhor lavar pra ter certeza.— ela pega a Julie e lava as suas mãos na pia da cozinha mesmo, depois a coloca de volta no banco —Você vai pegar cereja por cereja desse potinho e vai colocar sobre o creme, enquanto a vovó faz a calda pra colocar sobre as cerejas, ok?

—Ok!— ela começa a caprichosamente cumprir a sua tarefa.

—Pronto, ajudante?— mamãe pergunta depois de algum tempo.

—Prontinho.

—Então agora nós vamos colocar essa calda sobre a torta e deixá-la na geladeira até a hora do jantar.



(...)



Talvez tenha sido o melhor dia de Ação Graças da minha vida, e a tendência é só melhorar, porque eu estou perto das pessoas mais importantes da minha vida. E embora a Julie tenha se negado a comer o peru, mesmo que nós tenhamos explicado que não se tratava de um passarinho gigante, o jantar foi muito bom.

Depois do jantar, Tony e eu colocamos a Julie para dormir, e isso era outra coisa que, depois de perder a Mariah, eu achei que nunca mais conseguiria fazer. Quando eu sonhava com a primeira noite em que eu colocaria a minha filha pra dormir em casa, a cena não era essa, porém, agora eu não me vejo em outro cenário.

—Missão cumprida.— Tony sussurra assim que ela parece completamente imersa em seu sono —Vamos?— ele pergunta, mas tudo o que eu queria era ficar aqui zelando pelo sono dela, a noite toda. Só pra me certificar que amanhã de manhã ela ainda estará aqui. —Eu sei que se dependesse de você a sua noite seria aqui...— ele diz. Eu ainda me surpreendo com a sua capacidade de adivinhar o que eu penso —...Mas os seus pais estão na sala a nossa espera.— damos um beijo cada um em sua testa e deixamos o quarto.

—Vinho?— meu pai pergunta assim que voltamos à sala.

—Achei que você não estivesse bebendo.— eu digo.

—O médico libera uma taça por dia.— ele replica.

—Só que hoje já foram várias, não é? — mamãe reclama.

—Em feriados e dias santos o esquema muda.— papai brinca, mamãe revira os olhos.

—Agora eu sei de quem você herdou essa coisa de revirar os olhos.— Tony diz.

—Você é bem devagar pra algumas coisas, né, filho?— papai caçoa —Torça pra que a Julie não herde o humor da Ginny ou você estará perdido.

—Herdar, Jonathan?— mamãe pergunta —Por mais que ela pareça deles, ela não é.

—É claro que ela é.— Tony a corrige —As características dela podem não ser herdadas geneticamente, mas daqui a algum tempo algumas manias dela serão iguais as nossas, a personalidade dela quem vai moldar somos nós.

—Me desculpe.— mamãe pede sem graça —Foi uma observação infeliz.

Tony e eu a desculpamos, porque eu sei que por ela ser nossa filha adotiva esse tipo de comparação acontecerá sempre, dentro da família ou não. Eu nunca me importei se ela se parece com a gente. Se ela é branca, negra, asiática. Acho que a primeira vez que cogitei adotar uma criança não aconteceu porque eu jamais conseguiria escolher, não é como ir as compras e trazer pra casa algo que mais combina com você. Eu fui incapaz de escolher e acabei sendo escolhida, e o meu marido, que, provavelmente, é o melhor do mundo cada vez mais me mostra que foi capaz de acolher o serzinho que me escolheu.

—Espero que vocês jamais a tratem com diferença ou deixem alguém dizer que ela não é nossa.— eu peço —Até porque vocês já foram promovidos a vovô e vovó, enquanto nós que a conhecemos há meses ainda somos Pepper e Tony.

—Nós nunca a trataremos com diferença, pequena, você nem precisava pedir isso. A sua mãe já disse que foi uma observação infeliz.— ele se levanta —Acho que precisamos de uma boa noite de sono.

—Eu concordo.— mamãe diz ao se levantar também, me levanto e dou um beijo de boa noite nos dois antes de eles irem para o quarto.




(...)



Nunca explorei tanto Nova York quanto nesse final de semana prolongado, parques, museus, restaurantes, e ainda assim eu queria que a tarde de domingo tivesse passado mais devagar. Enquanto Tony saiu pra deixar meus pais no aeroporto eu fiquei em casa pra arrumar a Julie pra levá-la de volta ao abrigo. Cada vez que eu tenho que devolvê-la a sensação é pior, mas hoje, depois de tê-la perto por tanto tempo meu coração parece ainda mais apertado.

—Quando o vovô e a vovó voltam?— Julie pergunta quando eu a tiro do banho.

—Não sei, meu amor, o vovô e a vovó tem muita coisa pra cuidar em Portland. Mas basta a gente convidar e eles virão.— digo enquanto a ajudo a se secar.

—A gente pode ir visitar eles? Quero ver os passarinhos no hotel do vovô.— ela comenta quando a coloco sobre sua cama e vou até a gaveta de calcinhas.

—A gente só vai poder viajar com você quando a Dona Elizabeth deixar, ela e a Anna devem decidir juntas.— explico enquanto a visto.

—Mas se eu pedir?— ela indaga enquanto veste a camiseta —Se eu disser que quero ver o vovô e a vovó em Protland?

—É Portland.— eu rio —Bem, se você disser, talvez elas atendam o seu pedido.— eu enquanto a ajudo com a calça

—Elas sempre perguntam o que eu achei quando saio com vocês, sabia?

—É mesmo?— mostro-me curiosa —E o que você diz?

—Digo quero ir de novo porque eu gosto de passear com vocês.— ela responde —Uma vez elas perguntaram se eu queria morar com você e o Tony.

—E o que você respondeu?— a minha curiosidade só aumenta.

—Eu disse que não sabia.— ela diz. Agora eu entendo porque a deixaram passar o final de semana conosco pra que pudessem sondá-la com mais precisão. Passo o moletom por sua cabeça e ela se senta na cama pra calçar os tênis.

—E agora você sabe?— pergunto.

—Acho que sei.— ela responde —Mas...— ela entorta a boquinha pro lado e mesmo que ela não seja nossa o Tony tem um cacoete igual quando não sabe o que dizer.

—O que foi, meu amor?

—Eu vou ter que te chamar de mãe, não é?— Julie pergunta afastando os cabelos dos olhos.

—Não, você não vai ter.— respondo.

—Mas você não quer ser minha mãe?

—Quero mais do que qualquer coisa.— eu digo —Mas eu só quero que você me chame de mãe quando e se você sentir que eu mereço ser a sua mãe.

—Eu acho que você merece, mas não consigo dizer.— ela fala, e pelo seu tom ela sente tanto quanto eu por não conseguir.

—Tudo bem, mas saiba que você tem duas mães.— digo olhando em seus olhos, depois esfrego meu nariz no seu e ela sorri.

—Você e a minha mãe que tá no céu, né?

—Isso mesmo.— respondo —Cabelo preso ou solto?

—Preso só aqui em cima.— ela diz, vou a cômoda pra pegar a escova de cabelos e uma presilha, paro diante dela e arrumo os seus cabelos —E o Tony?— ela pergunta —Ele quer ser meu pai?

—Ele quer muito.— respondo.

—Eu nunca tive um pai.— ela comenta.

—Então, mocinha, você terá o melhor pai do mundo.— eu a beijo na testa.

—Prontas?— Tony pergunta ao entrar no quarto. Assentimos.

Julie pula da cama, pega a sua mochila e dá a mão pra ele. Quando deixamos a Torre Stark a caminho do abrigo em Staten Island eu desejo essa seja a última vez que ela irá embora.



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Notas finais do capítulo

Até o próximo.
Starkisses ;)



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