Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 19
Dezenove


Notas iniciais do capítulo

Aaaah, quero pedir desculpas pela demora em postar, é que essa vida de adulta não tá fácil.

Aaaaaaaaaah, eu fico um tempo sem se quer entrar no site e quando faço login vejo uma nova recomendação linda ♥♥♥
Obrigada pelas palavras, JuTwi, obrigada por voltar a acompanhar uma história minha.



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*Pepper*




Tremendo. É assim que eu estou e não consigo parar. Raiva, frustração e a sensação de que fomos feitos de idiotas nos últimos dois meses. Papéis, entrevistas e espera. Mais espera, mais papéis, mais entrevistas e no fim... isso. Meus olhos queimam e ao sentir a lágrima correr pelo meu rosto passo a mão com agressividade antes que seu caminho seja maior.

—Porque isso?— Tony se levanta —Nós preenchemos papéis, fizemos não uma, mas várias entrevistas, foram até a nossa casa, invadiram a nossa intimidade, vasculharam a nossa vida, e tudo isso pra quê?— ele pergunta pra minha surpresa.

—Pra ter certeza de que vocês estavam aptos a acolher a Julie.— diz a assistente social.

—E...— enxugo outra lágrima, não estou chorando por estar triste, mas por ser a única maneira que encontrei de expelir a minha raiva, já que não posso gritar com as duas mulheres diante de mim ou tudo o que já foi feito cairá por terra —... Se vocês nos julgaram não aptos, por que...?

—Nenhuma de nós disse que vocês não são aptos.— Elizabeth diz —Eu só disse que a vinda de vocês aqui não significa que a adoção da Julie é uma coisa acertada.— ela esclarece.

—Então o que significa?— Tony pergunta.

—Você pode se sentar?— ela pergunta e ele se senta novamente ao meu lado —Bem, como eu disse no começo da nossa conversa muitas vezes as crianças são tiradas dos abrigos levadas pra uma casa nova e por “n” motivos algumas são devolvidas, e não se enganem, o número de rejeição é bem alto. Por isso não será mais assim, com a Julie ou qualquer outra criança.— ela diz.

—E como vai ser?

—Vocês e a Julie passarão por períodos de adaptação.— Anna continua —Começando com visitas periódicas, vocês devem vir até ela e não o contrário, vocês poderão começar a sair com ela, pegá-la num domingo pela manhã e trazê-la de volta à tarde, e depois essas saídas poderão ser pelo final de semana todo.

—Só uma pergunta.— Tony se manifesta —Isso ainda faz parte do teste de resistência pra ter certeza de que nós não vamos desistir dela?

—Não, Sr Stark, nós só estamos tentando resguardar as nossas crianças o máximo possível.— Anna esclarece.

—Eu posso vê-la?

—Hoje?— a diretora pergunta, aquiesço —Creio que não será possível, Sra Stark.

—Por favor?— insisto, as mulheres se olham.

—Tudo bem.— Elizabeth concorda —Anna você pode pedir pra Evelyn trazer a Julie para o jardim?— a morena aquiesce se levanta e deixa a sala.

—Amor, você acha que ela vai se lembrar de mim?

—Claro que vai, baby.— Tony afirma.

—Eu tenho certeza.— Elizabeth fala —Desde que conheceu você ela tem sido mais receptiva comigo.

—E qual é a ligação?— Tony questiona.

—Ela deve ter feito alguma associação por causa da cor dos cabelos.— a ruiva diante de nós responde.

—O cara que a abandonou aqui não tinha cavanhaque não, né?— Tony pergunta ressabiado.

—Não, Sr Stark, ele só era homem.— ela responde rindo.

Eu não acho que essa teoria tenha fundamento, mas, se tiver, não estou preocupada, porque se há uma coisa em que meu marido é realmente bom essa coisa é conquistar o sexo feminino.

—Julie e a Sra Grey esperam por vocês jardim.— Evelyn avisa ao entrar na sala da diretora do abrigo.

—Só pra ficar claro, as visitas dentro do abrigo terão a supervisão da Anna, e vocês só poderão sair pra passear com a Julie se e quando ela julgar que vocês estão familiarizados, ok?

—Tudo bem.— Tony e eu concordamos.

Saímos da sala da diretora e seguimos um corredor até o jardim do abrigo, a julgar pela quantidade de crianças que Evelyn disse que há aqui o lugar parece enorme, mas não é intimidador ou aparenta frieza como vemos na ficção. O jardim é bonito, bem cuidado, florido e há uma fonte bem no centro que não para de verter água. Julie está sentada no banco ao lado de Anna, ela usa os mesmos tênis vermelhos, uma legging azul marinho e camiseta branca com listras horizontais azuis. Seus cabelos estão presos em maria-chiquinhas trançadas. Quando nos aproximamos ela nos olha um pouco mais desconfiada do que da primeira vez, talvez porque não acreditava que fosse nos ver novamente. Agora que conheço um pouco de sua historia posso dizer que seus olhos verdes-hazel talvez sejam a única característica herdada do pai que ela nunca conheceu, já que sua pele é morena como a de sua mãe e seus cabelos tem um tom castanho um pouco mais claro do que o da moça na foto que vimos há pouco.

—Oi.— coloco minha bolsa sobre o banco e me agacho diante dela —Lembra de mim?

—Hum-rum.— ela murmura passando a mão pelo meu cabelo.

—E de mim, você lembra?— Tony pergunta, ela o analisa desde seus tênis modernos até seus óculos escuros e balança a cabeça afirmativamente. Ele afasta a minha bolsa e senta ao lado dela —E esse braço aí, tá pronta pra outra?— ela o ignora e volta olhar pra mim.

—Acho que outra daquela não seria legal, né?— eu brinco afagando sua cabeça.

—Não, porque dói.— ela responde com tanta timidez que sua voz sai meio rouca.

—Conta pra eles que gosto tinham os remédios.— Anna nos ajuda na conversa.

—Gosto de morango.— sua vozinha soa mais sonora agora.

—Você gosta de morangos?— Tony pergunta, ela aquiesce —Eu também.— ele afirma.

—E você, gosta?— ela pergunta pra mim.

—Eu não lembro se eu gosto.— respondo.

—Como?— ela pergunta com a curiosidade peculiar de uma criança da sua idade.

—Preciso me sentar pra explicar.— eu digo, Anna parece perceber que está sobrando, cede o seu lugar pra mim e vai se sentar num banco ao lado. Sento-me deixando Julie entre Tony e eu —A última vez que comi morangos eu tinha o seu tamanho, por isso não me lembro.

—Quem não deixa você comer?

—As pessoas deixam, mas eu não posso, porque se não eu fico doente.— respondo.

—O que você pode comer?

—Todas as outras frutas.— eu digo.

—Banana?

—Com certeza.— Tony responde, ela o olha e eu o fuzilo porque sei que sua resposta é extremamente maliciosa, a sorte dele é que ela é inocente demais pra entender o que isso quer dizer —Banana, maçã, melancia, manga, kiwi...— ele continua —Já comeu kiwi, Julie?— ela faz eu não e suas tranças balançam —Ele é azedinho como um morango, mas é verde e tem casca com pelinhos.

—Parece ruim, não gosto.

—Você nunca comeu.— ele rebate —Da próxima vez que viermos ver você trarei kiwis, tudo bem?— ela dá de ombros.

—A gente pode voltar outro dia, você vai gostar se isso acontecer?— eu pergunto.

—Sim.— ela responde, e foi a melhor coisa que eu poderia ouvir hoje.

Nós “conversamos” por pouco mais de meia hora, até que Anna olhou no relógio e disse que era hora de irmos porque senão Julie perderia a oportunidade de almoçar com as outras crianças.

—Diga até logo pro Sr e a Sra Stark.— Anna a instrui.

—Adeus.— ela diz ao saltar do banco.

—Não é um adeus, é até logo.— eu digo quando ela fica parada diante de nós —Posso te dar um beijo como naquele dia no hospital?— ela aquiesce e eu a beijo.

—E eu posso te dar um beijo também?— Tony pergunta, ela apenas lhe estende a mão. Não acho tão ruim, já é um começo.

—Vou pedir que alguém venha abrir o portão pra vocês.— Anna diz. Pouco antes de sumir do nosso campo de visão e entrar nas dependências do abrigo Julie olha pra trás e acena um adeus.

—O que foi aquele comentário sobre bananas?— eu não me contenho.

—Foi só uma resposta.— ele diz rindo, só não bato nele aqui porque isso denigriria a nossa imagem —Eu precisava entrar na conversa, oras.

—Dizendo que eu amo banana?

—Qual é o problema? Muita gente gosta.— ele zomba.

—Quando ela tiver uns 16 anos você retoma essa conversa sobre as bananas.— eu digo ao me levantar do banco porque há um senhorzinho fazendo sinal pra nós. Caminhamos até a entrada principal e ouvimos o portão de ferro se fechar atrás de nós. Tony calou-se e manteve-se estranho durante o nosso curto trajeto até o carro.

—16 anos?— ele pergunta ao se acomodar no assento do motorista. Agora eu sei o motivo de seu silêncio e vou provocá-lo.

—Nos dias de hoje, até antes, 14, 15.

—Mentira?!— ele se mostra indignado, Tony pode não perceber, mas já está agindo como pai.

—Verdade, você não vê jornais?

—Filha minha não vai comer banana antes dos 30, já vou avisando.— ele diz.

Como pode alguém ser tão machista e tão fofo? Não sei. Só sei que quero muito beijá-lo agora e é isso o que eu faço.

—Quando ela for nossa nós conversamos.— eu digo ao afastar meus lábios dos dele —Mas antes de instruí-la, eu e você falaremos sobre o seu machismo.

—Não sou machista.— ele diz.

—Não mesmo?— pergunto —E se fosse um menino?

—Ele poderia distribuir bananada por aí.— ele ri.

—Põe esse carro em movimento porque só isso vai me impedir de bater em você.— digo entre dentes.




(...)



Bastaram três visitas e, mesmo que ela ainda fosse mais ligada a mim do que ao Tony, nós conseguimos o direito de ver a Julie sem a supervisão da assistente social e fora do abrigo.

—Tá ansiosa?— ele pergunta ao ajoelhar diante de mim pra me ajudar a calçar os sapatos.

—Um pouco.— confesso —Porque eu não sei se longe de alguém da convivência dela ela será mais solta com a gente ou mais introvertida.

—Eu acho que ela vai se soltar, aliás, ela já está se soltando, mas você tem que continuar fazendo a ponte entre nós dois.— ele diz.

—Você precisa dialogar mais com ela.

—Mais do que eu já falo?

—Não só com a fala, Tony, porque ela ainda está fechada pra você, mas converse com seu corpo. Tire os óculos, deixe-a te olhar nos olhos, e pra que ela faça isso você precisa começar a se abaixar diante dela, seus olhos precisam estar a mesma altura dos dela pelo menos na hora em que você a cumprimenta.— instruo.

—Você anda conversando com o Dr Hayden sem mim?— ele arqueia uma sobrancelha.

—Não precisa ser psicólogo pra deduzir que talvez ela se sinta intimidada ao ter que olhar pra cima pra te ver. E olha que você nem é tão alto.— caçoo. Ele ri sem humor —É sério, faça isso e logo ela baixará a guarda. Ok?— seguro seu rosto em minhas mãos.

—Ok.— ele afirma e eu o beijo —Mas se ela começar a me amar muito e te deixar de lado não quero ouvir reclamação.— ele brinca e se levanta.

—Isso não vai acontecer. — digo convicta.

Por ser a primeira vez que sairemos com Julie, usaremos o meu carro, porque todos os dele são de apenas dois lugares. E ele odeia andar no meu carro desde que nos conhecemos mesmo que esse de hoje seja muito melhor e mais moderno que aquele Honda Civic 95.

—O que é isso no banco de trás?— ele pergunta ao ajeitar o retrovisor.

—Assento de elevação. Carros que transportam crianças precisam disso.— esclareço.

Ele me olha e não diz nada, mas eu o conheço tão bem que sei que seu olhar está me dizendo "Vá com calma, baby, não crie expectativas demais". Foi o mesmo olhar que ele me deu ontem quando eu disse que precisávamos pensar na decoração do quarto pra ela e o mesmo que recebi semana passada quando comprei algumas roupas pra que a Julie possa usar quando viesse passar finais de semana conosco.

Nós chegamos ao abrigo ao meio-dia porque pedi que saíssemos com ela pro almoço e então passaríamos a tarde de domingo juntos. Julie nos esperava na sala da diretora, e como em todas as vezes em que esta sentada seus pezinhos balançam no ar, hoje ela esta usando sapatilhas pretas e meias da mesma cor, vestido xadrez preto e cinza e um casaquinho vermelho.

—Olha quem chegou, Julie.— a assistente diz, ela olha pra porta e sorri, pula da cadeira, vem até nós e abraça as minhas pernas.

—Que saudade de você, pequena, tudo bem?— pergunto ao me abaixar.

—Tudo.

—Eu amei a sua roupa.— digo ao passar as mãos por seu cabelos que pela primeira vez estão soltos —O Tony também sentiu saudades suas.— eu digo, ela o olha, ele a olha, eu o olho porque não pode ser possível que ele tenha esquecido da nossa conversa sobre contato visual.

—Senti saudade mesmo.— ele diz já cara a cara com ela.

—Mesmo?— ela cruza os braços desconfiada.

—Verdade verdadeira.— ele diz ao beijar sua bochecha. Ela encolhe o ombro e coça a bochecha —Que horas nós temos que trazê-la de volta?— ele pergunta.

—Até as 19h.— responde a assistente.

—Até essa hora a gente pode se divertir bastante, né?— pergunto ao pegá-la pela mão, ela assente. Tony pega os documentos de identificação de Julie, assina o termo de responsabilidade por ela e nós deixamos o abrigo sem ter a menor ideia de pra onde ir com uma criança de cinco anos de idade.

—Pra onde vamos?— Tony pergunta ao afivelar seu cinto de segurança.

—Não sei.— respondo —Acho que primeiro, temos que procurar um lugar legal pra comermos. Está com fome, Julie?— pergunto ao olhar pra ela entre os bancos.

—Hum-rum.— ela murmura e balança a cabeça afirmativamente.

—Já sei pra onde ir, você adora e ela vai gostar também.— ele diz ao dar partida no carro. No começo do trajeto me perguntei pra onde estávamos indo, mas quando atravessamos a ponte de volta à Manhattan soube qual era o nosso destino.

Almoçamos no Tavern On The Green, no Central Park, foi aqui que viemos quando Rhodes veio nos visitar e a escolha do restaurante, naquela ocasião, foi feita pela Alex que reconheceu um local por causa de um filme. Julie pareceu gostar do restaurante também, talvez ela tenha reconhecido o local da mesma forma que Alex.

Por falar na minha afilhada, depois da perda da Mariah, assistir a maneira como Kate a tratava me incomodava. Acarinhar, cuidar e mimar uma criança, eu achava que isso jamais aconteceria comigo, porque o meu medo de perder sempre foi maior do que a vontade de tentar novamente. Mas esse medo foi embora, e não é porque eu acabo de cortar um pedaço de carne em pedacinhos pequeninhos pra que fique mais fácil pra Julie comer. Eu fiquei bastante mal no mês passado quando a nossa perda completou um ano, mas na semana seguinte foi aniversário da pessoinha almoçando ao meu lado. Setembro vai ser assim pra sempre, numa semana eu vou chorar e na outra comemorar.

—Olha, Tony, ela comeu tudo.— digo ao limpar sua boca.

—Cabe sobremesa ainda?— Tony pergunta, ela aquiesce empolgada —O que você quer?— ela não responde.

—Diz, meu amor, se você não disser nós não vamos saber.— falo pra ela.

—Quero morango e chocolate, mas não quero que você fique doente.— ela mostra preocupação, incrível que ela não tenha esquecido.

—Eu posso pedir outra coisa, meu amor, pode comer o doce que você quer.

—Tá bom.— ela sorri.

Tony chama o garçom que vem anotar os nossos pedidos. Eu peço um pedaço de bolo de limão com suspiros, pra ela um doce com morangos e chocolates branco e meio amargo, e Tony abre mão da sobremesa.

—Isso está bom?— ele pergunta pra mim quando meu bolo está quase no fim.

—Quer provar?— pergunto, ele aquiesce sirvo um pedaço do doce em sua boca.

—Agora eu quero chocolate com morangos.

—Toma.— ela diz ao empurrar a taça com doce na direção dele. Tento segurar o riso porque a cena é bem engraçada, o humor e o modo de falar dela mudam completamente quando se trata do Tony.

—Você não pode me dar como a Pepper fez?— ele pergunta.

—Come sozinho, você é grande.— ela responde.

—Poxa, Julie.— ele faz bico —Só uma colherzinha?

—Você vai chorar?

—Se você não me der um pouquinho de doce.— ele finge choro. Ela olha pra ele e me olha como se quisesse uma dica do que fazer.

—Se sujar a sua roupa você briga?— ela pergunta, agora sei qual é o seu receio.

—Pode me lambuzar inteiro.— ele diz balançando a cabeça negativamente.

—Tá bom.— ela sorri, puxa a taça de doce de volta pega uma colherada e diz —Abre a boca.— pego o meus celular dentro da bolsa pra registar o momento porque tenho certeza que alguém vai sair bem sujo, e não é ela —Abre mais.— ele abre e mesmo assim ela bate a colher no canto de sua boca fazendo com que alguns pedaços de morangos melados de chocolate caiam sobre sua camiseta, que por sorte é preta como a maioria —Gostoso?

—Hum-rum.— ele diz ao mastigar, então engole.

—Mais?— ele afirma —Abre a boca.— ele a o faz e dessa vez ela teria acertado se Tony não tivesse movido a cabeça.

—Você não acerta uma.— ele brinca.

—Você mexeu.

—Quer tentar de novo?— ele pergunta —Mas não pode errar.

—Você vai ficar parado?— ela pergunta, ele afirma que sim, mas pela sua cara talvez não, Tony abre a boca e ela começa a fazer o trajeto com a colher de doce que dessa vez tem destino certeiro. Ela sorri.

Julie termina a sua sobremesa enquanto Tony vai ao banheiro limpar-se, já que os guardanapos na mesa não foram suficientes. Ele demora um pouco demais pra voltar e ela começa a o procurar, então percebo que a sua inquietação é porque ela já está ligada a ele.

—Vamos, mocinhas?— ele pergunta ao voltar pra nossa mesa.

Nós deixamos o restaurante e saímos caminhando pelo Central Park, o outono ainda está no começo, mas as folhas já começaram a alaranjar, logo elas cairão. Mas a minha época favorita é aquela intermediária em que as folhas estão quase secas prestes a cair, não é tão frio e o parque fica lindo.

—Preciso sentar.— eu digo para o Tony enquanto Julie caminha alguns passos na nossa frente.

—Quem é o velho agora?— ele me provoca.

—Caminhe por todo esse parque com esses sapatos.— digo pra ele.

—Julie, a velhinha aqui precisa sentar.— Tony zomba.

—Quem?— ela para e vira pra nós com as mãozinhas na cintura.

—A Pepper.

—Você tá cansada?— ela vem até nós e pergunta.

—Um pouco.— respondo.

—Você não aguenta andar até lá?— ela aponta pra ponte —Eu queria chegar lá.

—Aguento.— eu respondo. Caminhamos por quase 300 metros até a ponte, eu me sento e deixo que o Tony cuide dela sabendo que isso vai ser bom para aproximá-los ainda mais.

—Agora eu tô cansada.— Julie diz ao sentar ao meu lado —O Tony disse pra eu sentar aqui que ele vai buscar água pra mim.

—Você não quis ir com ele?— pergunto.

—Não, quis ficar com você.— ela fala e silencia por algum tempo —Porque ele te chama assim?

—Assim como?

—Pepper.

—É o meu apelido.— respondo —Você não tem um apelido?

—Mamãe me chamava de outro nome, mas não lembro mais.— vê-la falar de sua mãe me aperta o coração, porque talvez chegue um dia que ela não se lembrará mais dela, seria cômodo pra mim se isso acontecesse, mas não tenho coragem de apagar a historia dela. —Se eu for morar na sua casa como eu vou te chamar?— ela pergunta depois de segundos de silêncio que pareceram uma eternidade.

—Você vai poder me chamar do que quiser.— digo ao abraçá-la e beijo seus cabelos.

—Acabei de ter uma ideia pro nosso final de domingo.— Tony diz ao voltar, ele abre a garrafinha de água pra ela e insere um canudo.

—Qual é a sua ideia?— pergunto.

—Aquele dia nenhuma de vocês conseguiu andar na roda-gigante, né? Podíamos ir lá agora.

—Oba!— ela exclama eufórica.

Chegamos a Staten Island pouco antes das 18h, e seguimos pro parque linear as margens do rio. A noite cai quando estamos as duas juntas no alto da roda luminosa e apesar de ter uma vista privilegiada da Estátua da Liberdade daqui de cima, estar no chão agora parece mais interessante pra mim e pra garotinha que por motivo algum solta a minha mão.

—E aí, Julie, vamos de novo comigo?— Tony pergunta quando chegamos no chão , afinal foi esse o nosso acordo quando disseram que não podíamos ir os três juntos.

—Não quero mais, é muito lá em cima.

—Tudo bem, vamos sentar.— ele diz.

Curiosamente, nos sentamos no mesmo banco em que me sentei pra admirar a roda-gigante meses atrás. Quem diria que depois de tudo o que eu e Tony passamos um banco diante de um brinquedo de parque de diversões traria alguém pra, literalmente, mudar as nossas vidas?


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Notas finais do capítulo

O Tavern On The Green realmente existe, ele é aquele restaurante do filme Os pinguins do papai.

Leitoras amadas, paciência com a autora aqui, tá? Pretendo não demorar.

Obrigada pelos comentários e recomendações até aqui.

Até breve ;)



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