Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 18
Dezoito


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que vinha mais cedo, não disse?
Parte da minha empolgação se deve ao filme do ano. Onde Pepper não aparece, pra nossa tristeza, mas é mencionada com amor pra acalmar meu coração Pepperony. Hahahaha.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/589814/chapter/18

*Tony*




Depois de um dia cheio como o que tivemos tudo o que eu não precisava era estar na sala de espera de um pronto-socorro, até hesitei, mas se eu não estivesse aqui ela teria vindo sozinha. Quando achei uma das responsáveis pela garotinha, ela a procurava também, e assim que chegamos ao ambulatório ela já tinha um curativo nos joelhos, mas choramingava sempre que o médico tentava tocar em seu braço. O inchaço e a sensibilidade ao toque o fez deduzir que houvesse fratura, e instruiu a responsável do abrigo a fazer exames mais precisos. Pepper não as deixou ir a um hospital público, e por isso estamos aqui. Aguardando.

—Os responsáveis por Julie Anne Rivera Morris.— a enfermeira chama assim que chega à sala de espera, Pepper e a moça do abrigo se levantam —Qual de vocês?— a mulher questiona confusa.

—Ela.— sem graça, Pepper aponta pra outra mulher, que estava sentada no lado oposto ao nosso na sala de espera porque a minha esposa não havia sido exatamente gentil com ela mais cedo —Errr... você poderia me dar notícias?— ela pede quando Evelyn, do abrigo, passa por nós, a mulher aquiesce e some com a enfermeira.

Pepper senta ao meu lado novamente, ela está tensa e angustiada, eu só a senti ligada a alguém assim uma vez, e isso me assusta e amedronta, porque ninguém pode se ligar a alguém tão rápido assim. Ou pode?

—Oi?— Evelyn volta após alguns minutos —Julie sofreu uma fissura no pulso, precisou engessar o braço, mas ela está medicada, e eles disseram que vão liberá-la, mas é preciso... — a moça hesita desconfortável —...Pagar a conta, e o abrigo não pode arcar...

—Eu cuido disso.— ela diz ao pegar os papéis das mãos da mulher —Ela vai precisar de remédios? Posso comprar.

—Bem, no abrigo nós temos remédios, mas acho que não esses.— a mulher responde. Evelyn aparenta ter mais ou menos a idade de Pepper, ela usa uma camisa branca com o logo do abrigo St. Patrick no peito, seu cabelo castanho escuro está preso deixando bastante evidente o seu rosto exausto.

—Me dê as receitas.— Pepper pede, a moça entrega —Eu posso vê-la?

—Ia mesmo perguntar se a Sra iria querer isso.— diz Evelyn—Mas antes, quero que saiba que, ao contrario do que a Sra disse, em nenhum momento nós fomos omissos com Julie ou qualquer outra criança. E que nós as levamos ao centro justamente porque sabemos que pra elas é muito importante ver as coisas além dos muros onde elas passam a maior parte do tempo. Eram trinta crianças e cinco funcionárias.— ela esclarece —Trinta crianças que raramente veem o mundo, simplesmente eufóricas e encantadas com todas aquelas cores, luzes e sons.

—Me desculpe.— Pepper pede —Imagino que não deva ser fácil.

—Crianças se perdem a todo momento, Sra Stark...— ela continua —Mesmo que seja apenas uma com um cuidador exclusivo como, provavelmente, deve ser na sua casa.

—Nós não temos filhos.— Pepper sibila. A mulher imediatamente passa as mãos pelo rosto.

—Desculpe, é que algo na sua maneira de agir me fez pensar...

—Não tenho.— a voz dela embarga.

—Bem, vamos ver a Julie.— a mulher diz pra fugir da situação embaraçosa.

—Você vem?— Pepper pergunta.

—Claro.

Quando chegamos ao quarto Julie está quase dormindo, segundo a enfermeira a sonolência é causada pelos remédios.

—Ela parece ainda menor agora, quantos anos ela tem?— Pepper pergunta, afagando os cabelos da garotinha. Me intriga a maneira como elas olham uma pra outra, e não sei porque, mas não gosto.

—Cinco, em setembro.— ela responde. Mas a minha analise me faz crer que talvez ela esteja errada, já que a garota é pouco menor que a Alex, que acaba de completar quatro.

—Ela vai precisar passar a noite aqui?— Pepper pergunta pra enfermeira.

—Não, a pediatra precisou sair pra atender uma emergência, mas já assinou a alta dela.

—Imagino que vocês não têm como voltar, colocarei vocês num táxi, tá? — eu digo —Por minha conta.— esclareço antes que Evelyn se manifeste.

—Julie, é hora de voltar pra casa, vamos? — Evelyn questiona e Julie apenas assente.

—Posso te ajudar a descer da cama?— Pepper pergunta, e é autorizada com um aceno de cabeça, então brevemente a pega no colo para colocá-la no chão —Alguém não gosta muito de conversa.— ela comenta.

—Ela fala pouco mesmo, lidar com estranhos é sempre difícil, me surpreende ela tê-la deixado pegá-la, até com as outras crianças a interação é complicada. Sempre foi assim.— Evelyn diz —Mas nós nos damos bem, né?— Julie concorda enquanto deixamos o quarto —Quanto tempo ela deve ficar com o gesso?

—Na idade dela a calcificação é muito boa, então, é recomendado que em três semanas ela faça uma nova radiografia.— a enfermeira responde a pergunta de Evelyn.

—Se você não se importar posso trazê-las aqui, bem, foi aqui que ela foi atendida, eu acho que é melhor.— Pepper se manifesta.

—Não é necessário, Sra Stark, afinal é um exame bem simples, não é?— Evelyn pergunta pra enfermeira que aquiesce —Está vendo? Mesmo assim obrigada. Obrigada por tudo.

Eu paguei a conta do hospital e chamei pelo táxi, enquanto Pepper foi com Evelyn e a garota até a drogaria que fica do outro lado da avenida.

—Resolvido? — pergunto quando elas voltam. Pepper aquiesce. —Logo esse braço estará bom, não é?— tento afagar o cabelo da menina e ela se esquiva.

—Vai sim, não vai?— Pepper pergunta e se abaixa ficando com os olhos na mesma altura que os de Julie —Já não dói mais, né?— estranhamente, ou não, a garotinha não se esquiva, Pepper pode tocá-la —Posso te dar um beijo? — outra afirmação, ela pode tudo pelo visto —Tchau, pequena.— ela diz ao beijá-la, então se levanta.

—Mais uma vez obrigada.— Evelyn agradece e embarca com Julie no táxi que já as espera há alguns minutos.

Pepper me abraça com uma força impressionante, começa a chorar e me quebra, por que eu sei o passo que ela vai querer dar. E, diferente do que um dia eu disse pra ela, talvez eu não esteja pronto, porque aconteceu mais rápido o que eu esperava.


(...)



Quando chegamos em casa já passa das 22h e Alex ainda está acordada, Rhodes e Kate vieram passar o final de semana conosco e nós os deixamos completamente avulsos.

—Sarou o braço dela?— Alex pergunta assim que saímos do elevador, Pepper acha estranho —Mamãe disse que vocês foram no hospital com a menininha porque o braço dela tava machucado, sarou?

—Sarou sim, meu amor.— respondo.

—Kate, me desculpe por não deixar que você a visse, é que o outro médica já havia dito o que poderia ser e...

—Tudo bem, Pepper, lá no ambulatório nós não poderíamos fazer muita coisa mesmo.— Kate diz —Mas a suspeita do médico...?

—Estava certa.— Pepper responde —Ela fissurou um ossinho no pulso.

—Nessa idade elas se recuperam rápido.

—Dói, mamãe?

—Um pouquinho, meu amor, mas os médicos sabem fazer parar de doer.— Kate responde.

—Nós somos péssimos anfitriões, não é? Fizemos vocês voltarem sozinhos, vocês jantaram?— Pepper pergunta.

—Papai pediu pizza. Eu guardei pra você, dinda.— Alex diz.

—Oh, meu amor, obrigada, mas agora a dinda só quer um banho, vestir um pijama como o seu e dormir.— Pepper diz depois de beijar os cabelos de Alex —Amanhã de manhã a dinda come.

—Pizza no café da manhã?— Alex estranha.

—É uma delícia.— Pepper diz.

—Bem, mocinha, dê um beijo na dinda, no padrinho, no papai e vamos pra cama também.— Kate diz pra Alex que obedece, então as três somem através do corredor.


—As caras de vocês estão...

—Ótimas.— dou um sorriso amarelo pro Rhodey e vou ao bar me servir de uma dose de uísque —Quer?

—Manda.— ele diz. Pego dois copos, a garrafa e vamos conversar na varanda —O que há de errado?— Rhodey pergunta.

—Ela quer a menina.— respondo ao nos servir.

—Ela disse?

—E precisa?— contraponho.

—Bem, acho que sim.— ele diz ao dar um gole em seu uísque.

—Eu conheço a minha mulher, Rhodey. Aquela garotinha a ganhou no momento em que a Pepper colocou os olhos nela, e as últimas horas só serviram pra concretizar isso.— levo o meu copo a boca quando Rhodey diz...

—E que mal há nisso, achei que adotar fosse uma opção, você disse que haviam conversado sobre.— viro todo o uísque e encho o copo novamente —Ei, devagar, tá?— ele segura a minha mão.

—Eu disse que era, que estaria pronto, porém nunca achei de verdade que fosse acontecer, mas agora parece bem real. A menina está lá com o braço quebrado, Pepper está aqui com o coração quebrado, e eu... Eu se quer posso tocá-la.

—Porque você não pode tocar na Pepper?— ele pergunta confuso.

—Não na Pepper, Rhodey, na menina.— respondo —Ela é uma espécie de bichinho do mato, enclausurada no próprio mundo, um mundo que a Pepper conseguiu acessar.— eu digo e dou um gole em meu uísque.

—Bem, não é a primeira vez que alguém que nunca se aproximou de ninguém deixa a Pepper entrar, né?— ele bebe e me olha sobre a borda do copo.

—Ela não tem nada a ver comigo.

—Você não vai saber se não tentar se aproximar também.— ele diz.

—Ela não fala.— eu lembro —Não disse uma única palavra, chorou bastante enquanto tinha motivo, de resto foram só acenos de cabeça, como eu vou lidar com uma criança que não fala?

—Aprenda a linguagem de sinais, crie alguma coisa pra ajudá-la a se expressar. Você é inteligente.— ele diz —Mas antes de tudo você só precisa buscar saber porque ela não fala. Pode ser ou um trauma sei lá, Tony, ela é uma criança de...

—Cinco anos.— eu digo —Quer dizer, quase cinco.

—Então, você não faz ideia do que ela já pode ter sofrido com essa idade.— ele diz.

—Segundo a mulher do abrigo, ela faz aniversário em setembro, é o mês da Mariah, você sabe.

—Sei.— ele diz —Mas ela não apareceu pra substituir a Mariah, vocês podem e devem lembrar dela, chorar se quiserem, mas a vida segue, Tony. Ou vocês tentariam calcular a data do nascimento do próximo filho de vocês? Está proibido nascer em setembro?

O Rhodes é tão sensato que eu tenho vontade de dar um soco nele, porque ser assim é irritante. Mas ele é meu amigo, o melhor, então no lugar do soco eu lhe dou um abraço e mesmo sem dizer nada, eu sei que ele sabe que estou agradecendo por ele estar aqui, mais uma vez falando o que eu preciso ouvir.

—Vou deitar.— digo dando um tapinha em seu ombro após soltá-lo.

—Eu também.— ele diz —Não tô a fim de escovar os dentes de novo, vê se eu tô com bafo de uísque?

—Porra, Rhodey!— eu o empurro porque não tive se quer a chance de desviar da sua baforada. Ele ri, esse cretino.

—Tô ou não? A Kate vai me encher porque eu bebi a essa hora e blá, blá, blá.

—Nada que um enxaguante bucal não resolva, mas você é um preguiçoso nojento.— eu digo.

—Vou te dar uma dica, tá? De graça.

—Diga.

—Quando a Pepper disser que quer adotar a...

—Julie.— eu falo.

—Então...— ele continua —...Quando ela disser, e vocês conversarem, e a adoção se concretizar, você diz que seria bom voltar pra Malibu, vai ser bom pra vocês, bom pra garotinha, afinal, tem a Alex, elas podem ir pra escola juntas e tal.

—Você morre de saudades minhas, não é? — dou um soquinho em seu ombro.

—Claro que não.

—Claro que sim, confessa.— provoco.

—É que eu sei que você não curte muito Nova York no frio e já já é outono de novo.— ele dá de ombros e eu rio —Mas se você já acostumou fique aqui mesmo.

—Eu também acho que Malibu é melhor pra nós e, com certeza, eu terei que trabalhar porque a Pepper vai querer tirar licença maternidade.

—O que é um direito dela.— ele observa.

—Mas se eu tiver que trabalhar prefiro que seja na matriz da Stark.

—Bem, a conversa está boa, mas boa noite.— ele diz.

—Boa noite, Rhodey.

Deixamos a varanda, Jarvis fecha as portas e vou deitar. Quando chego ao quarto ela parece dormir, tomo um banho rápido e logo me aconchego junto a Pepper em nossa cama.

—Eu não consigo parar de pensar nela.— ela diz quando eu a abraço.

—Achei que você estivesse dormindo.

—Tentei, mas não consigo parar de pensar.— ela senta na cama, eu me sento e aumento a luminosidade no quarto —Nem lá atrás quando a adoção era a minha única opção e eu já tinha ido a abrigos e conhecido algumas crianças, nada foi desperto em mim, mas hoje...

—É ela?— eu pergunto ao colocar seu cabelo atrás da orelha.

—É ela.— ela diz —E eu sinto que não sou eu quem a está escolhendo, ela me escolheu.— ela completa com a voz embargada.

—Então nós vamos trazê-la pra casa.

—Mesmo?— ela chora e enxuga a lágrima.

—Mesmo.— eu afirmo. Ela suspira um suspiro profundo e aliviado.

—Eu achei que você não fosse estar pronto, que o primeiro obstáculo seria entre nós.— ela diz tranquila.

—Eu disse que estaria.

—Mas quando você disse era só uma hipótese, agora está acontecendo.— ela diz —Obrigada por me amparar.— ela me abraça e me beija —Eu te amo. Muito.— outro beijo.

—Eu também te amo, baby, demais.

Diminuo as luzes e nos deitamos, curiosamente, ela não demora a pegar no sono, e isso me leva a crer que o que a impedia de dormir era o medo da resposta que eu daria para esse que, com certeza, é o passo mais importante de nossas vidas.

Dedicamos o domingo às nossas visitas. E na segunda-feira marcamos com o advogado da empresa que nos instruiu a ir até a vara de família e de infância em Nova York. Voltamos pra casa com folhas e mais folhas de um questionário que respondemos e enviamos de volta através de Derek Shepherd, nosso advogado. Passaram quatro semanas e fomos chamados de volta ao escritório da vara de infância. Conversamos por horas com uma assistente social que realizou entrevistas com a gente, juntos e separados. Antecedentes criminais, vícios, religião, renda familiar e outras coisas que já tínhamos respondido nos questionários de papel foram nos perguntadas novamente. E depois de mais um dia em que eu me senti um fugitivo da CIA, finalmente, nos foi dito que seria marcada uma reunião diretamente com a assistente social e a diretora responsáveis pelo abrigo aonde Julie mora, mas sem data definida.



(...)



Faz dois meses que Julie entrou em nossas vidas, e Pepper se lembrou até do dia que ela teria que retornar ao hospital para tirar o gesso. Derek disse que não era prudente Pepper ir até o abrigo para levá-la ao hospital novamente, que só deveríamos nos reaproximar quando a assistente permitisse, foi difícil convencê-la, mas no fim deu certo. Há dois meses Pepper diz estar com saudade de olhar pra alguém que ela mal conhece, ainda bem que o nosso encontro no abrigo acaba de ser marcado.

—Derek deu notícias?— Pepper pergunta ao entrar na oficina, ela, que nunca mais havia vindo aqui, agora vem sempre que acha que eu demoro pra aparecer.

—Boa noite, amor da minha vida, o meu dia foi ótimo, obrigada por perguntar.— respondo.

—Eu sei que estou chata, mas...— ela deixa sua frase morrer no ar ao encostar-se à minha mesa de projetos.

—Essa ansiedade está corroendo você, baby.

—A Angelina Jolie faz tudo parecer tão fácil, quando o assunto é adoção. Ela já vai adotar outra criança, sabia?— ela pergunta.

—Não, eu não sabia.— eu falo —Mas você mesma disse que tinha a consciência de que seria demorado. Derek estava fazendo o possível pra acelerar o processo, inclusive nós temos uma entrevista com a assistente social amanhã.

—Outra?— ela diz desanimada.

—Só que agora é lá no St. Patrick, com a diretora do abrigo e a assistente de lá.

—Sério?!— ela sorri um sorriso tão grande que me faz sorrir também.

—Hum-rum.— afirmo —O que eu ganho agora?— pergunto ao segurar sua cintura quando ficamos cara a cara.

—Um beijo?— ela questiona ao envolver meu pescoço com seus braços.

—Uns beijos.— eu digo.

—Só isso?— ela ri.

—Um jantar e depois uns amassos.

—Feito.— ela me beija e eu começo a achar que pularemos o jantar direto pros amassos.



(...)



A viagem até Staten Island parece durar uma eternidade, por isso eu chamo de viagem. Chegamos ao abrigo um pouco antes das 11h e somos recebidos por Evelyn que nos guia até a administração, no caminho passamos por alguns grupos de crianças e percebo que Pepper procura Julie entre elas, porém não encontra. A administradora do abrigo é uma mulher bonita, 40 anos ou mais, pele bem clara, olhos azuis, cabelos ruivos num tom um pouco mais escuro que os da Pepper, ela não me amedronta como achei que seria.

—Elizabeth Mitchell, prazer em conhecê-los Sr e Sra Stark.— ela cumprimenta a mim e a Pepper —Esta é Anna Grey a nossa assistente social.— cumprimentamos a mulher também, morena, bem vestida, olhos e cabelos castanhos. As mulheres se sentam de um lado da mesa, eu e Pepper de outro assim que Evelyn deixa a sala —Bom, antes de tudo quero dizer que agradeço o que vocês fizeram pela nossa Julie no dia da reinauguração do centro comunitário.— ela começa —E confesso que o início do processo teria levado menos de um mês se as circunstâncias fossem outras.— ela revela.

—Como assim?— Pepper pergunta.

—Era normal que vocês se fragilizassem com a condição da garotinha órfã com o braço quebrado, mas eu queria ver até quando vocês levariam a história adiante.— ela revela.

—Você achou que desistiríamos dela? — Pepper pergunta.

—Pela sua ficha a Sra já desistiu de um processo de adoção com muito menos tempo.— ela alfineta.

—Pela minha ficha e a Sra deve saber também que eu nunca tive contato com nenhuma criança antes da Julie.— Pepper rebate.

—Realmente.— ela diz —Mas nós também tínhamos que nos certificar de que o interesse de vocês pela adoção não tinha a ver com a perda do seu bebê.

—Não vejo uma ligação.— eu digo.

—Bem, Sr Stark.— Anna se manifesta pela primeira vez —Nós lidamos com diversos tipos de casais aqui, a grande maioria como vocês, que perderam filhos recentemente. Geralmente, a mulher evita a gravidez porque se acha incapaz, até por medo do fracasso, mas quando o processo de adoção começa, o instinto maternal parece aflorar novamente e quase sempre ocorre uma nova gravidez e o filho biológico acaba “atrapalhando”— ela faz aspas com as mãos —...a adoção.

—Isso é sério?— eu pergunto incrédulo.

—Mais do que o Sr imagina.— ela responde.

—Eu não a quero como uma substituição, eu a quero porque... — Pepper hesita.

—Porque?— Anna pergunta.

—Talvez você não acredite, mas ela me escolheu, nos escolheu.— Pepper diz —No hospital Evelyn nos disse que Julie não interage muito com estranhos, nem mesmo com as crianças, mas quando eu me dei conta ela estava lá, sorrindo pra mim, alguém que ela nunca havia visto na vida, uma completa estranha.

—A Sra tocou num ponto crucial.— Elizabeth diz —Julie não é de muita conversa, e isso já a fez ser devolvida algumas vezes.

—Algumas quantas?— eu pergunto.

—Três em um ano e meio.— ela responde —A maioria das crianças chegam aqui até os dois anos de idade, Julie chegou com um pouco mais. Acreditamos que o fato de ter convivido mais com a mãe faz com que ela não aceite facilmente outra figura maternal, por isso ela é fechada, calada. Os casais se encantam por ela, mas não tem paciência para conquistá-la. Também há outro empecilho...

—Que empecilho?— Pepper pergunta.

—Julie nunca teve uma referência masculina.— ela responde —Você precisará se empenhar, Sr Stark, porque a única figura paternal com a qual ela conviveu por mais tempo foi quem a deixou aqui conosco.— faz sentido ela ter se esquivado de mim .

—O pai dela a abandonou?— mostro-me curioso.

—O padrasto.— ela responde —E positiva, ou negativamente, esse fato fez com que nós conhecêssemos muito mais da história dela.— ela abre um arquivo —Essa é a mãe da Julie.— ela nos mostra uma foto.

—Ela é linda.— Pepper diz, e a moça na foto realmente é linda, um tipo latino de pele morena, cabelos castanhos encaracolados e olhos castanhos, que parece ter, no máximo, 26 anos.

—Selena Rivera Morris, era o nome dela.— diz Elizabeth —Ela conheceu o pai da Julie na universidade, e ele não fez nada além de dar alguns dólares pra que ela interrompesse a gravidez, então ela teve a bebê sozinha e a criou sozinha até conhecer o Damon.

—O rapaz que deixou a Julie aqui? — Pepper pergunta.

—Ele mesmo.— afirma a assistente —Segundo ele, e os diários da Selena, eles estavam juntos há pouco mais de seis meses. Damon alegou que não poderia arcar com a responsabilidade de cuidar de uma criança e entregou a Julie ao estado.

—Como a mãe dela faleceu?— Pepper quis saber.

—Num acidente de carro, um cara bêbado avançou o sinal, Julie escapou por sorte. Estavam apenas as duas no veículo.

—Sem familiares?— eu pergunto.

—Avós maternos falecidos, sem tios ou parentes. E familiares paternos desconhecidos. — responde Anna —Tudo o que sabemos sobre a Julie e que um dia ela pode vir a descobrir sobre si mesma, está nesta caixa. A mãe dela parecia gostar de documentar as coisas, há diários, fotos.

—Mas nada sobre o pai?

—Pra não dizer que não hã nada, em algumas fotos de Selena na época da universidade ela sempre aparece ao lado do mesmo rapaz, pode ser ele ou não.— Elizabeth responde.

—Nós vamos ficar com a caixa porque é a história da Julie.— Pepper afirma.

—Espere um pouco, Sra Stark, vocês acham que só porque nós os chamamos aqui, já é certo que vocês ficarão com a Julie?— Elizabeth questiona pra minha surpresa e o desespero de Pepper.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, vai ser fácil ou não transformar a pequena Julie numa Stark?

Li todos os comentários e vou responder, tá?

Apareço em breve.

Beijos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um divã para dois" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.