Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 17
Dezessete


Notas iniciais do capítulo

Esse é o maior capítulo até agora, e precisou ser assim pra começarmos a aparar algumas arestas.
Vamos a virada na história.



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*Pepper*




O sol invade a nossa suíte, e eu imediatamente desperto, deve ser cedo, mas a nossa euforia nos fez esquecer de fechar as janelas da sacada. Me movo, ele se move, saio de seus braços, me enrolo ao lençol e vou fechar as janelas. Por um instante me esqueço do que vim fazer, talvez essa seja a vista mais incrível do mundo, o mar Mediterrâneo banha toda a Costa Amalfitana e eu não sei onde o mar termina e o céu começa. Não me canso dessa vista, dessa cidade e de seus arredores.

No nosso quinto aniversário Tony me trouxe à Positano, foi aqui que passamos a nossa lua de mel, estamos hospedados no mesmo hotel de cinco anos atrás, na mesma suíte, e tem sido incrível, já passaram 5 dias desde a nossa chegada, e dessa vez consegui ver quase tudo. Ontem fomos de carro à Nocelle, uma cidade perto daqui, e passamos o dia num vinhedo que parecia o cenário de um filme romântico, todas as cidades daqui parecem saídas do mesmo filme de amor.

Por falar em amor, olho sobre o ombro pra dentro do quarto e o sol da manhã reflete no meu, fecho as janelas, as cortinas e a penumbra toma conta da suíte novamente, posso dormir um pouco mais, ainda temos 48h no paraíso. Volto pra cama e Tony me envolve em seus braços, encaixa seu corpo ao meu e beija o meu pescoço. Calor imediato.

—Deve ser muito cedo.— ele resmunga.

—É sim.

—Quem deixou as janelas abertas?

—O tarado que me atacou na varanda na noite passada.— respondo e ele ri.

—Não foi a primeira vez, você devia avisar a segurança do hotel.— ele brinca e beija a minha nuca.

—Porque se eu gostei de ser atacada?

—Gostou?— seu membro semi-ereto me cutuca.

—Hum-rum— eu murmuro, sua mão, antes espalmada sobre minha barriga, desliza pra baixo com destino certo. Nós vamos continuar na cama, mas não voltaremos a dormir tão já.


(...)



A minha bata verde-água tremula seguindo a direção do vento. Estamos em alto mar, mais precisamente na Ilha de Capri. Passamos a manhã em Amalfi, embarcamos depois do nosso almoço, não faço ideia de que horas são agora, mas o céu alaranjado no horizonte indica que o dia está acabando, é assim que tenho me baseado nos últimos dias, pelo sol, quando ele nasce e se põe. Depois de amanhã, quando estivermos em casa e retomarmos à nossa rotina, eu volto a me basear pelo relógio.

—Pronta?— ele pergunta ao parar ao meu lado.

—Só um mergulho.— eu respondo.

—Só um mergulho.— ele repete. Tiro a minha bata, ele tira a camiseta e nós pulamos no mar gelado. O que foi uma irresponsabilidade, eu acho, porque o comandante do barco está berrando com a gente em italiano. —Italianos berram muito.— Tony diz o ignorando, eu rio.

—Eu acho que ele acha que a gente caiu.— digo ao vê-lo arremessar duas boias. Tony agradece, nós nadamos até as boias, sentamos nelas e ficamos boiando por algum tempo. Quando o céu de fato escurece o comandante volta a ficar histérico com o fato de ainda estarmos no mar, então voltamos a bordo. Sentamonos ao convés da embarcação e voltamos pro hotel sob a luz da lua.

Depois de um banho relaxante e demorado desfrutamos do melhor jantar, servido na varanda da suíte. É a nossa última noite aqui, talvez por isso o jantar especial. Por falar em especial, tudo foi planejado por ele, todo o roteiro da nossa viagem, vilas que visitamos, restaurantes que comemos, passeios de carro e barco, Tony havia pesquisado tudo previamente. Ainda bem que o susto que passei foi apenas um alarme falso, ou então não estaríamos vivendo nada disso. Confesso que fiquei aliviada, por não ser o que eu pensei, o atraso de dois dias foi o suficiente pra me tirar do eixo, me tirou o chão. Não estou pronta pra uma nova gestação, não ainda.

—Um beijo pelos seus pensamentos.— ele diz ao me servir outra taça com champanhe.

—Estava pensando na vida.— eu digo —Agora eu quero o beijo.— peço e ele me beija —Obrigada.

—Pelo beijo?— ele pergunta.

—Por tudo.— eu digo —Pelos últimos dias, pelo último mês, pelo último ano. Por esses cinco anos e pelos onze que vieram antes. Você entrou num elevador e mudou completamente o rumo da minha vida...

—Na verdade...— ele pega a taça da minha mão e põe sobre a mesa junto a sua —...Foi você quem entrou no elevador, né?— ele lembra —Foi você quem mudou a minha vida. O que era pra ter sido uma noite, já dura dezasseis anos. E eu nunca quis tanto algo na minha vida.— ele diz e eu sorrio.

—Demorou só uns dez anos pra você se declarar, imagina se não me quisesse.— eu brinco.

—Eu nunca tive tanto medo.— ele confessa —Tive medo de sentir, de você saber, medo de morrer sem ter dito e de que você não sentisse a minha falta.

—Eu senti a sua falta todos os dias, porque além de te amar como homem eu te amava como meu amigo. "You was my best friend. Best friend without benefits..." — adapto a letra da canção que mais ouvi depois de conhecê-lo .

—Você cantarolava isso direto.— ele observa.

—Cantarolava demais.

—Era pra mim?

—Ding, ding, ding!— eu brinco como se ele tivesse acabado de ganhar um prêmio num programa de auditório.

—Você nunca disse!

—Você é que nunca prestou atenção, só reclamava do meu carro e do rock de menina chorona que eu teimava em ouvir.— eu digo, ele reclamava muito mesmo, ainda mais porque todas as vezes que o fiz andar no meu carro era pra fazer algo que ele não queria.

—Mas, baby, seu carro fazia muito barulho, eu mal conseguia ouvir seus cds.— reviro os olhos —Você podia cantar pra mim agora.— ele pede, nego com a cabeça —Presente de cinco anos, por favor?— o tom com o qual ele fala me desarma, mas nem tanto.

—Eu precisaria de um violão.— dou um desculpa. Afinal, aonde ele conseguiria um violão a essa hora?

—Arrumo um.— ele se levanta do lugar ao meu lado e some numa rapidez surpreendente. Eu nunca cantei pra ele, quer dizer, não que ele soubesse que era pra ele. Levanto-me da mesa e sento-me no sofá ainda na varanda. Com a mesma velocidade que sumiu Tony voltou com um violão velho. —Esse serve?

—Foi rápido, onde você conseguiu?— estou surpresa.

—Peguei com o cara do restaurante, dois mil euros.

—Dois mil euros por um violão velho, amor?!

—Baby, uma vez eu dei um Rolex por uma caixa de morangos que você nem comeu.— ele revela.

—Porque eu morreria se comesse.

—E eu morreria se você morresse.— ele diz.

—Morreria nada.— eu digo.

—Mas ficaria bem triste.— ele me beija —Tome, faça a sua mágica. — Tony me entrega o violão.

—Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não toco violão há, pelo menos, dez anos.

—Deve ser como andar de bicicleta.— ele me sorri com expectativa. Apóio o violão em minha perna pra ver se ela para de tremer, não sei por que estou tão nervosa, ou talvez eu saiba, sei lá. Dedilho algumas notas buscando a melodia. Ele está ansioso e isso me faz tremer ainda mais. Só me senti assim diante dele uma vez. Na nossa primeira vez, porque assim como agora houve expectativa, mas no final, foi melhor do que eu poderia imaginar. De repente ele fecha os olhos e tudo parece ficar mais fácil pra mim. Até as notas há pouco desencontradas por causa da minha total falta de prática com o violão se harmonizam.

I had no choice but to hear you. You stated your case time and again I thought about it. You treat me like I'm a princess, I'm not used to liking that. You ask how my day was. You've already won me over in spite of me. Don't be alarmed if I fall head over feet. Don't be surprised if I love you for all that you are. I couldn't help it, It's all your faults…— depois dos primeiros versos ele abriu os olhos, e eu já me sentia confiante o suficiente pra continuar — I've never felt this healthy before, I've never wanted something rational. I am aware now. I am aware now. You've already won me over in spite of me. Don't be alarmed if I fall head over feet. Don't be surprised if I love you for all that you are. I couldn't help it.
It's all your faults.”

—Baby, você não pode ser real.— ele diz logo após o último acorde —Eu não sei se isso é possível, mas eu estou mais apaixonado por você agora. É possível?

—Se você está dizendo.— eu encolho os ombros.

—Porra, você é... Você não podia ser só uma coisa? Tinha mesmo que ser boa em tudo?

—Amor, você está me deixando bem sem graça.— eu digo.

—Eu te amo pra...— eu rio quando ele para —Você detesta que eu fale palavrão.— ele lembra.

—Você acabou de dizer um.

—Porra, baby, eu te amo pra caralho!— ele exclama —Sabe quanto é isso?

—Não faço ideia. — sorrio, porque na verdade eu faço, e sei que sua pergunta indica que ele vai me mostrar o quanto me ama a noite toda —Você pode me mostrar?

—Vou adorar.— ele tira o violão das minhas mãos e coloca num lugar do sofá que não atrapalhe sua aproximação. Então, meu marido chega mais perto e segura minha nuca levando minha boca próxima da sua. Sua boca na minha, num beijo que me rouba os sentidos. Meu mundo se reduz a ele, ao seu toque. Monto em seu colo, ele aperta as minhas coxas e escorrega suas mãos até preenchê-las com o meu bumbum. Minhas mãos passeiam por suas costas as arranhando sobre a camisa, segurei seu lábio inferior entre os dentes e seu gemido foi tão sensual que me deixou em brasa —O que há com essa varanda?

—Não sei, mas espero que não haja câmaras, porque depois dessa semana eles terão bastante material nosso.— eu digo e ele ri. —Vamos pro quarto?

—Não pra dormir.— ele diz.

—Não mesmo.— eu o beijo e me levanto, o pego pela mão e ao entrarmos no quarto me certifico em fechar ao menos as cortinas.

Volto a beijá-lo, ao mesmo tempo que tiro sua camisa e o empurro para a cama onde ele cai de costas. Tony se ajeita, e sem dar muita chance pra que ele faça qualquer coisa volto a montá-lo sobre a cama, suas mãos estão em direção às minhas pernas, mas eu o paro no meio do caminho, o seguro e inclinando-me sobre ele levo suas mãos sobre sua cabeça. Beijo seu pescoço, mordo o lóbulo de sua orelha, beijo sua boca, e o nosso beijo termina com mordidinhas no lábio inferior porque sei que isso o enlouquece. Sinto isso bem embaixo de mim.

—Você é o meu sonho, é a mulher da minha vida e eu quero muito estar dentro de você.— ele ofega.

—Eu sou sua, amor, toda sua, e também quero isso, mas eu vou desfrutar de você só um pouquinho.— beijo seu peitoral —Você é tão gostoso.— trilho um caminho de beijos até o cós de seu jeans —Posso?— pergunto ao abrir o botão. Ele engole seco e aquiesce, abro seu zíper, minha mão invade sua cueca, envolvo sua ereção.

—Porra, baby, eu sou louco por você.— ele geme.

Dou o meu sorriso mais sacana e digo —Eu sei.




Dois meses depois



O nosso projeto caminhou muito bem e os quatro centros comunitários ficaram prontos em tempo recorde. Todos possuem quadras poliesportivas, teatro e laboratório de informática, além de biblioteca, ambulatório e espaço para feiras e eventos. Mas o meu favorito, sem duvida alguma, é Staten Island, a revitalização do parque linear na margem do rio Hudson está em fase de conclusão. Embora pra mim seja o mais importante, será o último a ser inaugurado, ainda bolei um plano pra liquidar uma outra historia pendente.

—Jarvis, o sr Stark está em casa?— pergunto ao me jogar no sofá exausta.

—Na oficina, Sra.— Jarvis avisa —Desde a última vez em que a Sra perguntou.— ele completa, sinto que Jarvis está me criticando por cobrar demais o meu marido.

Deixo a minha bolsa e sapatos na sala e vou a cozinha para colocar o nosso jantar pré-pronto no forno. Quando Tony dá o ar da graça já estou saindo do banho.

—Passei pela cozinha e o cheiro lá estava ótimo, mas aqui, meu deus que fome.— apesar do comentário malicioso ele me beija castamente.

—Como foi seu dia?— pergunto a caminho do closet.

—Você sabe como foi.— ele responde numa altura que eu possa ouvir de onde estou —Afinal, me monitorou o dia todo.

Visto-me rapidamente e volto ao quarto.

—Desculpe o monitoramento, mas...

—Mas essa camiseta é minha.— ele me interrompe.

—E daí? Você sabe que eu amo usá-las e nunca falou comigo nesse tom por causa disso.

—Que tom?— ele pergunta ao sentar-se à poltrona ao lado da cama.

—Como quem diz “Essa camiseta é minha, tire-a!”— eu digo ao tirá-la —Você tá bravo por eu te cobrar profissionalismo, voltamos no tempo?

—Se há alguém bravo aqui não sou eu.— ele diz —Eu só falei da camiseta porque essa é nova, e você tem mania de dar um nozinho na barra pra que elas fiquem mais justas, com o tempo isso vai estragando o tecido.— Cheiro a camiseta e sorrio.

—É parece nova mesmo, não tem o seu cheiro ainda.

—Porque talvez esteja limpa?— ele questiona.

—Mesmo as limpas tem o seu cheiro.— continuo rindo, caminho até a poltrona e sento-me em seu colo —Amor,...— amaranho meus dedos em seus cabelos e seguro sua nuca —...Sabe o que eu acabo de constatar?

—Não faço ideia.— ele diz olhando bem no fundo dos meus olhos.

—Que você está se tornando um velho chato.— eu provoco —Primeiro você se recusou a fazer festa de aniversário, e agora isso.

—Eu não quis festa de aniversário porque atrapalharia a nossa viagem à Itália.— ele argumenta, poderia rebater que o atraso seria de um dia, mas deixo pra lá —E sobre a camiseta...

—Já tirei.

—Você fica muito melhor sem ela, e sem isso.— ele abre o fecho do meu sutiã.

—Não sei o que é pior, você ficar velho e chato ou velho e tarado.— digo ao sair de seu colo, volto ao closet e pego outra camiseta, minha dessa vez.

—Que tal você parara de me chamar de velho?— ele pergunta ao me seguir.

—Que tal você ir tomar banho pra jantarmos e depois me deixar ver o que você está fazendo?— contraponho.

—Banho sim, jantar sim, ver o projeto antes de sábado à noite... não.— ele diz.

—Mas é o meu projeto.

—Sim, e dessa vez você ficará com o crédito.

—12% como da última vez?— lembro-me do projeto da Torre Stark.

—Não.— ele me beija —Embora a execução, assim como da última vez, seja minha, dessa vez o mérito sera todo seu.— sem me dar tempo de argumentar ele entra no banheiro.



(...)


Me levanto por volta das 10h, é o primeiro sábado do verão e o dia está ensolarado lá fora. Quando saio do banheiro vejo o meu celular piscando sobre o móvel e ao pegá-lo vejo a mensagem da Jess.

"Já estou na cidade, amore. Almoço antes do nosso compromisso?" ela me pergunta.

"Claro, tô com saudades" respondo a mensagem dela. Enquanto caminho até a cozinha.

"Vai acontecer" eu escrevo e envio para o Dr Hayden pra que ele leve a Luna até Staten Island.

—Bom dia.— beijo o Tony ao chegar a cozinha.

—Bom dia, flor do dia.— ele me responde —Jessica conseguiu chegar?— assinto enquanto me sirvo de uma caneca enorme com café —Você não acha irônico ela vir direto de Londres pra cantar na reinauguração de uma roda-gigante genérica?

—Na verdade ela vai cantar na inauguração do centro comunitário.

—Muito glamour pra alguém que acaba de gravar num estúdio usado pelos Beatles. — ele ri e vira o restante do suco em seu copo.

—Filantropia, lembra?— ele ri.

—Como esquecer, sou Tony Stark: gênio, bilionário, playboy e filantropo.

—Ex-playboy.— deixo claro, ele revira os olhos —Vou almoçar com a Jess, quer ir?

—Não, o Rhodey chega daqui a pouco, achei que almoçaríamos juntos, aliás.

—Esqueci completamente.— eu falo —Mas podemos juntar tudo, almoçamos no Central Parque, e depois vamos de balsa pra Staten Island, acho que a Alex vai gostar.

—Você não?— ele arqueia uma sobrancelha.

—Eu não.— sorrio e dou um gole em meu café.


Chegamos a Staten Island por volta das 16h30. Há muitas pessoas e bastante gente da imprensa. Diante do centro comunitário deixamos que o prefeito fale o mínimo possível pra que a ocasião não se transforme num evento político. Eu falo um pouco e depois Tony faz questão de cortar a fita que simbolicamente lacra as portas do centro.

—Você quer ajudar o padrinho nisso?— ele pergunta pra Alex.

—Essa tesoura é grande, não posso.— ela diz.

—Sem tesoura, a gente puxa o laço como no seu tênis.— ele explica e ela segura numa ponta da fita vermelha e ele na outra puxando até desfazer o laço e abrir as portas.

—O Tony é didático, né?— Jessica comenta.

—Como eu nunca achei que seria.— eu digo.

—Pelo visto aquele é o meu cantinho.— Jess comenta ao reparar num pequeno palco no salão —Brian vai dar uma força no violão enquanto eu canto.

—Você sabe que não precisa ficar muito é só pra fazer uma cena.— ela aquiesce —Então vai lá pro escritório da administração e assim que a Luna chegar eu mando uma mensagem.

Cerca de meia hora se passa, assim como nos outros bairros o centro atrai cada vez mais curiosos, e não demora chegam uma porção de crianças de um abrigo que há aqui perto. Não é difícil de distingui-las, elas usam crachás e andam em grupos sempre de mãos dadas em filas. Tony e Rhodey parecem entediados, enquanto Kate não tira os olhos de Alex que não para. Volto o meu olhar para a entrada principal e avisto o Dr Hayden, acompanhado de uma elegante mulher loira de cabelos curtos e uma garota emburrada que, com certeza, não queria estar aqui.

—Como vai, Virginia?— ele me cumprimenta.

—Bem... Christopher. — é estranho não chamá-lo de Dr Hayden, mas foi algo combinado entre nós.

—Essa é minha esposa, Isabel.— a mulher sorri e me cumprimenta —E essa é a minha filha, Luna.— Luna é linda e tem compridos cabelos castanhos-claro.

—O seu pai fala muito de você.— digo ao cumprimentá-la. —Ele também disse que você vai se candidatar a algumas universidades bem difíceis e que precisa de pontos extras. Que tal encarar algumas horas de trabalho voluntário aqui como atividade complementar?

—Gosto da ideia, mas não pode ser no Brooklyn? Soube que vocês revitalizaram o centro comunitário de lá também. Nada contra o local, pelo pouco que vi talvez esse seja o mais legal, mas...

—Ele enjoa bastante na balsa.— Isabel diz.

—Quase não embarcamos.— Dr Hayden completa.

—Parece que dá pra vir de ônibus ate aqui, mas é uma viagem.— Luna diz e eu concordo com a cabeça.

—Bem, mas hoje você precisava vir até aqui, eu queria muito te conhecer e queria que você conhecesse uma amiga minha.— pego o celular e mando a mensagem para a Jess.

—Papai disse que você tem contatos na UCLA, só não disse como conheceu alguém tão influente, já que ele vive naquele consultório, espera...— ela levas as mãos à boca —...Você é casada com Tony Stark, não é? Ele está aqui?— assinto —Não vai me dizer que vocês já recorreram ao meu pai?

—Você sabe que eu não atendo apenas casais.— Dr Hayden desconversa e mais uma vez em minha vida eu sou salva de uma situação embaraçosa porque Jess começa a cantar. Quase fico surda com o grito da Luna quando a ouve.

—Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!— ela exclama enquanto treme —Não consigo me mexer.— Luna diz e nem precisa, já que Jessica vem até nós. Ela termina de cantar bem diante de sua fã que a abraça e chora.

Quando Luna se acalma, vai com Jess até o palco e fica por alguns minutos hipnotizada enquanto a vê cantar. Depois do breve pocket-show elas conversaram, fazem fotos e eu quase chego a acreditar que essa garota sabe mais da vida da minha melhor amiga do que eu.



A noite cai, por volta das 18h, chega a hora que eu mais esperava, a inauguração do Parque Linear, sento-me num banco com vista privilegiada para a roda-gigante, enquanto a maioria das crianças aqui, inclusive a Alex, fazem fila pra brincar no carrossel.

—Encontrei você.— Tony diz ao sentar ao meu lado —Porque você sumiu?

—Não sumi, só vim sentar e esperar, aliás, tá na hora, né? Olha a quantidade de crianças aqui, daqui a pouco elas têm que dormir.

—Você tá certa.— ele diz, pega seu celular do bolso interno do blazer e abre um aplicativo, desliza o dedo na tela do aparelho algumas vezes, aperta vários ícones —Pare de olhar pra mim e olhe pra lá agora.— ele me instrui.

Olho pra roda-gigante e ela se ilumina, primeiro em se eixo, depois é como se as luzes caminhassem entre os raios até sua extremidade então só as gaiolas onde os passageiros sentam ficam iluminadas enquanto ela gira, e depois de algum tempo o processo se repete, do centro à extremidade, girando e girando.

—É lindo.— eu digo.

—Ficou do jeito que você queria?

—Melhor do que eu queria.— eu digo entusiasmada e o beijo brevemente.

—Você parece uma criança, a diferença é que todas elas preferem o carrossel. — ele observa.

—Parece que nem todas.— comento ao olhar para o meu lado.

Há uma garotinha sentada no banco, parecendo tão embasbacada quanto eu há alguns minutos. Pelo crachá preso à sua camiseta branca suja de alguma coisa que não sei identificar, dá pra perceber que ela é uma das crianças do abrigo que vieram pra inauguração. A olho por algum tempo sem que ela me olhe de volta. Mas sabe aquela coisa de que quando você mantem os olhos em alguém ela fatalmente olhará pra você? Então. Depois de muito tempo ela olha pra mim, grandes e expressivos olhos verdes-hazel, me encara até que eu ganho um sorriso tímido e ela volta a olhar pro céu.

—Baby, acho que agora a gente pode ir pra casa, né?— Tony fala comigo, mas eu não consigo para de olhar pra ela, o cadarço dos tênis desamarrados e seus pés balançam porque suas perninhas não param já que não alcançam o chão. Ela usa um jeans um pouco surrado, as mãos pequenininhas estão juntas sobre seu colo, e seus cabelos castanhos estão presos num rabo de cavalo, com alguns fios soltos talvez por ter brincado e corrido à tarde toda. Ela olha pra mim mais uma vez, sorri, salta do banco e corre em direção ao carrossel. Mas não vai muito longe porque tropeça nos cadarços desamarrados. Seu choro me faz levantar e ir ao seu socorro. —Ela tá bem?

—Tudo bem?— pergunto ao examiná-la superficialmente, nenhuma resposta, o jeans puído rasgou no joelho direito que sangra um pouco, suas mãos estão sujas de terra, ao tentar segurar seu pulso pra limpar sua mão direita ela grita, continua chorando e algo dentro de mim se aperta, ela é tão pequena —Será que ela fraturou?

—Não sei, baby.

—Onde estão os responsáveis por ela que a deixam assim sozinha por aí?

—Baby, você viu a quantidade de crianças que há aqui? Ela deve ter escapulido.

—Tá, isso é normal, só não é normal ninguém a procurar.— eu digo, a pego no colo e ela choraminga, segundo seu crachá seu nome é Julie —Eu vou levá-la ao ambulatório, você pode ver se encontra alguém responsável por ela?

—Você não quer fazer o contrário? Eu a levo e você...

—Não, eu fico com ela.— eu digo, Tony vai pra um lado e eu pra outro.


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Notas finais do capítulo

Algumas de vcs juraram que pelas transformações hormonais da Pepper viria um baby por aí, né? Hahahahha. Não. Mas vem gente por aí.


Pretendo não demorar pra postar o próximo como tenho demorado, tá? Desculpa a demora em responder os coementários tbm, e sejam bem-vindas leitoras novas.

Ah, a música que a Pepper canta é essa https://www.youtube.com/watch?v=4iuO49jbovg eu ♥

Beijos e até mais.



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