After escrita por Ero Hime


Capítulo 2
After death


Notas iniciais do capítulo

Choro garantido.



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Foi uma quarta-feira. 18 de março. Ela ainda estava feliz por ter completado seus tão sonhados vinte e um anos, e gostava de se gabar por termos só um dois de diferença, em vez de três. O céu estava claro durante o dia, de um azul ímpio e pacífico. O pôr do sol caiu imponente, e o céu, no entanto, estava sem estrelas. Elas também perderam seu brilho naquela noite. O céu inteiro chorou comigo.

Depois de três dias sem dormir, tomar banho ou me alimentar de alguma coisa não-congelada que não fosse de hospital, finalmente me convenceram a voltar para casa, por alguns minutos, e tirar um cochilo. Eles ficariam no meu lugar, e Sakura disse que tinha as melhores histórias para contar a ela. Hinata sempre amou suas histórias. Eu concordei, sentindo o cansaço me alcançar. Maldita hora em que sai daquele quarto. Maldita seja a hora que eu não insiste, briguei. Maldita seja a hora em que nossos olhos se encontraram pela última vez.

Ela tivera uma recaída. Os remédios do tratamento não surtiram efeito durante algum tempo, e ela foi atacado por uma gripe repentina, que resultou em uma pneumonia. Tudo aconteceu rápido demais, acho que não consegui acompanhar. Subi em um trem desgovernado sem destino, sem paradas. Corria sobre os trilhos, vendo a colisão perto dos meus olhos.

Ela tentou ignorar que estava morrendo mais rapidamente que outrora. Sua resistência piorou drasticamente, o levando a uma série de doenças sem importância, mas, a cada vez que ela espirrava, ou tossia sangue, eu sabia que aqueles vírus o consumiam. O implodiam. Uma maldita bomba-relógio, era isso?

Mas não. Ela ria e fazia piadas. Brincava com as toucas, usando-as como rappers ou como um hippie, ou fingia ser sua princesa preferida com as tiaras brilhantes. Sua preferida era uma grande e vermelha, que fora minha. Eu a dei sem pestanejar quando ela pediu. Queria sentir meu cheiro quando eu estava longe. Eu apenas não podia recusar absolutamente nada do que ela me pedia. Eu estava mais fraco que ela, mas minhas muralhas eram fortes e disfarçavam o desmoronamento que eu sentia por dentro.

E então, naquela quarta-feira, eu fui embora. Ela estava acordada, mas era hora dos remédios, e ela provavelmente dormiria por mais doze horas seguidas. Seria o tempo que eu precisava para me reabastecer e permanecer ao seu lado, lutando. Seus olhos pérola tinham algo diferente naquela noite. Ela sabia. Com certeza sim. Hinata sempre fora especial, do tipo de pessoa que você encontra uma vez a cada dois milênios na Terra. Hinata era única. Ela sentia, sempre estava certa. Ela sentiu que estava próximo, e não tinha medo. Eu sempre quis ser como ela. Não ter medo de nada. Hinata era valente, guerreira, seu sorriso era sua arma, guiando-a por um caminho de rosas. Hinata era pura, gentil, mas forte. Muito forte. Ela me reconfortava, complacente e aconchegante nas noites frias, uma ótima companheira nas noites mais quentes. Eu só queria ter sido forte por ela naquele momento.

Ela sorria para mim. Pela primeira vez em meses, pude rever suas ruguinhas, ainda que não tão pronunciada quanto costumava ser, mas, ainda assim, ali estava. Sua marca registrada. Todos se apaixonavam por suas ruguinhas, mas não tanto quanto eu. Eu me apaixonava por elas todos os dias, a cada vez que elas me eram dadas. Estava somente de um lado, em seu olho esquerdo. Ela sorriu com sua ruguinha fraca, e seus olhos se conectaram no meu. Senti uma súbita vontade de chorar. Não queria ir. Mas ela insistiu com Sakura.

“Eu te amo, Naruto” ela disse, “Eu te amo para sempre”.

Eu lhe disse que a amava mais que minha própria vida. Sakura fez alguma piada sem-graça sobre nós e rimos. Eu sai, deixando meu coração com ela.

Depois daquilo, nunca mais tornei a senti-lo bater sobre meu peito.

Eu cheguei em casa, e tomei um banho rápido. Comi algum pão envelhecido, e fui dormir. No sofá, para acordar rápido. Acho que as horas voaram, porque quando o telefone tocou, estava tudo escuro no céu. Um céu negro. Eu me senti, sonolento, mas meu peito apertou de uma maneira que jamais conseguirei explicar. Não a mim mesmo, não a você, aos meninos, a ninguém. Eu apenas senti essa sensação se apoderar de mim. Eu peguei o meu celular, com os dedos trêmulos de ansiedade. Era Sakura.

Como eu disse, não bastou palavras.

Houve ruídos do outro lado. Eu chamei Sakura duas vezes, e ela soluçou. Seu choro era baixo e incontrolável. Eu entendi rápido.

Não senti quando o celular escorregou da minha mão. Surpreendentemente, não me lembro de muita coisa depois daquela ligação. Dizem que quando o cérebro passa por uma situação muito sôfrega, tende a apagar as memórias, para sua autoproteção. Não sei ao certo. Só sei que, minutos depois, eu estava no hospital. Não me lembro de ter me vestido com minha jaqueta jeans pequena demais – era a de Hinata, sua preferida. Não me lembro de ter pegado o carro ou dirigido, mas lá estava, estacionado de qualquer maneira na vaga exclusiva. Eu subi os degraus correndo. Não estava chorando. Era algo mais doloroso. Nada saia de meus olhos, mas meu coração não batia, meus pulmões não respiravam e minha mente não processava. Eu só enxergava borrões. Talvez fosse o choque.

Então eu cheguei, e ela estava ali. Sakura. Chorando com a cabeça sobre o ombro de Sasuke e Ino, ambos também de olhos vermelhos. Parados em frente ao seu quarto na unidade intensiva. Não queriam que eu visse quando me aproximei, tentaram bloquear minha visão me abraçando, mas eu consegui ver. Dois enfermeiros cobrindo seu rosto com um manto branco.

Caiu a ficha de que eu jamais a veria novamente. Jamais veria seus olhos brilhantes e perolados que eu tanto amava. Seu rosto corar quando eu dizia algo inapropriado. Seu sorriso se abrir quando eu o surpreendia. Suas ruguinhas encolhendo seus olhos. Suas maçãs salientes e tão lindas. Seu rosto esculpido. Jamais a beijaria nos lábios novamente, ou acariciaria sua pele. Eu jamais tornaria a mordê-la por brincadeira, nem poderia ouvir sua voz – aquela que me acalmava nos prantos, ria comigo, gritava e gemia. Jamais ouvir ia-a chamando por meu nome.

Por que eu não fiquei? Eu nem tive tempo de me despedir da maneira correta. Eu diria que a amava, e que ela era minha vida. Diria que foram os melhores anos que uma pessoa poderia ter vivido. Eu teria pego sua mão contra a minha e apertado seus dedos, para mostrar que eu estava ali para ela. Eu teria lhe plantado um beijo na testa e depois nos lábios, mesmo presos a tubulações. Ela teria sorrido e corado, mesmo que fraco. Não importava. Eu teria feito juras de amor e chorado em seu travesseiro. Eu não pude fazer nada disso.

Depois de sua morte, só havia a escuridão. Um vazio horrível, dilacerador. Me consumia e queimava, e tudo que eu queria era que a dor cessasse. Nunca cessaria, eu sei. Tudo que eu queria era ter a chance de tocá-lo uma última vez – mesmo depois da sua morte. Mas não iria.


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Notas finais do capítulo

Não me matem.



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