Um retrato de nós dois! escrita por dentedeleão


Capítulo 17
17




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Na terça feira informei do meu aceite aos gestores e as mudanças começaram, eu agora tinha uma sala maior com meu nome na porta e um espaço definido em conjunto com os outros doutores dentro do laboratório. Era engraçado observar as mudanças em questão de horas, antes disso eu era tratada como Senhorita Swan por todos independente de ter as honras como doutora ou não e agora todos insistiam em colocar o Dra. na frente do meu nome.

Sentia orgulho em finalmente ser reconhecida. O hospital fez questão de promover um almoço interno entre pesquisadores e novos residentes para expor o plano de carreira ali proposto e também as linhas de pesquisa seguidas pela instituição. Fiz um breve agradecimento e algumas fotos foram tiradas. Carlisle me recebeu em um abraço paternal e não poderia estar mais feliz com o rumo que minha vida estava seguindo, esta tranquilidade financeira espantou diversos fantasmas de minha vida.

Com os louros também vieram as responsabilidades e a semana passou como um sopro. Trabalhei no sábado e parte do domingo para manter o acordo feito com Edward, meu filho não ficou muito feliz com isso, mas quando lhe disse que conversaria com seu pai e tentaria um encontro com os dois ele logo esqueceu que passaria o final de semana longe da mãe. Não fiquei de toda triste com isso. Eu precisava colocar um ponto final nesta parte de nossas vidas e usaria todo meu tempo livre para esclarecermos as coisas.

Foi só no sábado que mandei uma mensagem de texto informando o local do encontro. Pensei em diversos restaurantes que ofereciam mesas privadas, mas nada me parecia adequado ou informal, acabei optando por sanduiches em uma parte mais afastada do parque onde poderíamos nos sentar e conversar sem intromissões. Eu levaria o almoço, apenas lhe indiquei o local e os trajes que ele deveria vestir me responsabilizando por todo o resto.

Na segunda de manhã Sue me ajudou no preparo dos lanches.

“Sabe Bella, muitas vezes o tempo é um fiel amigo do coração.”

“Por que diz isso Sue?”

Estávamos terminando de pôr tudo dentro de uma sacola térmica quando ela me apontou o pote com o pudim de coco. Eu havia feito tudo de forma tão mecânica que não percebi que assim como os lanches, a sobremesa também era a preferida dele de tempos atrás.

“Eu acho que minha mente apenas funciona em paralelo quando penso nele.”

Sue me abraçou de forma carinhosa e deixei que algumas lagrimas corressem. As lembranças doíam como feridas abertas.

“Não haverá julgamentos Bella, apenas faça o que o seu coração lhe ditar!”

Me distanciei de seu braços secando o rosto em uma folha de papel, eu o ouviria e quem sabe poderíamos manter uma relação saudável por conta de nosso filho, mas voltar a uma relação era algo que não fazia sentido para mim. Eu amei uma pessoa e fui abandonada por outra completamente diferente.

...

“Eu estranhei seu pedido por tênis, mas agora entendo seu ponto”

Estávamos em frente ao portão do parque, uma trilha lateral nos levaria a uma clareira onde seria possível esticar a toalha e aproveitar de um almoço entre as arvores. Poucos visitantes iam aquele local por ser totalmente reservado e não oferecer nada além da grama.

“Eu não tenho certeza sobre os rumos desta conversa então optei por algo que nos daria liberdade.”

“Eu vejo.”

Seguimos pela trilha em silencio, o dia estava agradável e pude observar que Edward optara por calças de algodão e uma camisa de flanela, eu não estava diferente dele, apenas acrescentei uma jaqueta a blusa leve que usava e coloquei um allstar.

Já na clareira estendi a toalha no chão e separei os mantimentos de forma a deixar livre sua escolha pelo que comer. O vinho que escolhi era de uma safra nova, mas de sabor leve e agradável, combinaria bem com todo o resto e traria um pouco de álcool a minha corrente sanguínea necessitada.

“Você se deu ao trabalho de preparar os meus preferidos?”

“Não notei que o tinha feito até que estivesse pronto, não foi intencional.”

Ele parecia feliz em ver que ainda lembrava de coisas do nosso passado. Com cuidado ele se posicionou em uma ponta da toalha, ele pegou para si um lanche de frango e uvas enquanto eu servia o vinho e puxava para mim algumas cerejas.

“Lhe devo desculpas por muitas coisas e vou começar pela forma que terminamos. Eu não vou colocar a culpa em ninguém por meus atos, mas alguns fatores me deixaram dentro de uma nevoa na época.”

Eu o observei sem nada dizer, ele me contaria seu ponto e no final poderíamos chegar a um acordo sobre a visão dos fatos.

“Assim que cheguei em NY me deparei com um apartamento e um carro. Meu pai mentiu para minha mãe sobre a viagem de negócios, ele me queria mais cedo em NY apenas para me mostrar os benefícios de uma conta bancaria.”

“Quando minha avó faleceu ela deixou parte de sua herança para mim e eu só teria direito ao completar 18 anos, meu pai havia forjado uma procuração em meu nome para ter acesso a conta e utilizou de parte do dinheiro para me dar um flat próximo a universidade e o carro dos meus sonhos. No mesmo dia em que pisei em NY eu tinha na garagem um volvo prata.”

Seus olhos brilhavam com a lembrança, eu conseguia imaginar sua felicidade. Sua família nunca foi de classe média ou passou necessidades, mas ele era mantido em rédeas curtas quanto a seu dinheiro e só teria seu primeiro carro se o comprasse com o dinheiro de seu trabalho. O que no passado era impossível, além de estudar ele fazia outros cursos, incluindo o de línguas, para conseguir a bolsa na faculdade. Eu só conseguiria acompanha-lo em NY porque o dinheiro que ele economizava de sua mesada seria unido ao meu para o primeiro semestre.

“Você lembra como eu desejava ter um carro para podermos sair?”

Ele sonhava em ter um carro e poder me levar para lugares que nossas bicicletas não conseguiriam chegar. Bom, o sonho dele foi realizado finalmente.

“Eu me esqueci completamente de tudo quando todas as restrições foram cortadas. Eu te ligava, mas não via a hora de desligar e sair para explorar a cidade. Eu tinha um cartão de credito, um pai e uma prima me incentivando a conhecer o mundo.”

“Minha prima dizia que amor adolescente morria com o tempo e que logo eu perceberia que aquilo não era amor de verdade.”

Ele se manteve de cabeça baixa enquanto eu apenas bebia o vinho. Aquelas palavras cortaram meu coração, ele realmente havia me trocado por festas e dinheiro.

“Quando voltei para Forks não desejava te encontrar. Eu temia fraquejar ao olhar para você.”

"Você não merecia estar com o que eu havia me tornado."

–--

“Quando colocamos um fim em tudo por telefone eu estava em uma festa, havia experimentado maconha pela primeira vez e não queria me sentir preso a mais nada. O engraçado foi que na manhã seguinte eu estava me sentindo um lixo e mortalmente arrependido.”

“A razão me veio rápido e organizei minhas coisas para voltar a Forks pedindo seu perdão. Quando meu pai me viu com as malas e soube o que eu planejava fazer...”

Ele fez uma pausa e ainda sem me olhar nos olhos se virou erguendo a blusa deixando visível duas enormes cicatrizes ao longa de suas costas.

“Ele nunca havia levantado a mão para mim até aquele dia. Eu acho que foi o choque ou meu estado de náusea pela droga que não me fizeram reagir. Ele só parou quando notou o sangue escorrendo, a fivela de seu cinto também estava manchada de sangue. Eu não chorei ou pedi por ajuda. Apenas me enterrei ainda mais na merda da vida que havia conhecido.”

A surpresa me bateu com força e quase engasguei com o vinho. Deixei o copo sobre a toalha percebendo que minhas mãos tremiam.

“Edward...eu...”

“Me deixe contar todo o resto, você não terá pena de mim no final.”

Me sentei de forma mais confortável aguardando pelo final de tudo.

“Eu tinha uma escolha, poderia voltar para Forks naquele momento, prestar queixa e tentar recomeçar tudo sem a presença do mostro que encarnava na figura de meu pai. Ele realmente nunca foi presente em minha vida, mas não demonstrava tamanha frieza nos anos que vivera ao lado de minha mãe.”

“Naquele mesmo semestre ele pediu o divórcio deixando minha mãe com nada além de uma casa e uma conta bancaria mínima. Percebendo o que ele pretendia, cacei a procuração, mas já era tarde, ele havia utilizado mais da metade de toda a herança de minha avó, não era pouca coisa e com o que restou eu ajudei minha mãe a iniciar um negócio online e mantive minha reserva.”

“Minha prima, Rosalei, foi meu maior erro. Ela estava ali, próxima e completamente disponível. Eu acabei por me deixar levar por seus encantos e cuidados esquecendo completamente de todo o resto.”

“Com ela eu conheci festas, bebidas, drogas e tudo o que se pode sonhar em respeito a sexo”

“Quando o meu dinheiro já não era suficiente para bancar sua dosagem diária de cocaína ela me deixou. Isso ocorreu um ano e meio após o nosso termino.”

Ele fez uma pausa, seus dedos separavam as uvas do caule sem realmente provar da fruta ou do pão a sua frente. Ele tomou um longo gole do vinho antes de me fitar e no mesmo segundo desviar o olhar para o chão novamente.

“Depois disso veio a overdose, a dispensa da faculdade e meu tratamento em uma clínica.”

“Esta foi a fase mais feliz da minha vida e sabe porquê?”

Ele finalmente me olhou nos olhos, havia prazer e felicidade ali e eu não conseguia entender o motivo após um relato tão deprimente.

“Foi na clínica que fiz uma verdadeira amiga e a perdi quando descobri que você havia me dado o maior presente de todos. Eu havia me tornado pai.”

Minha mão correu a boca tentando abafar o grito de surpresa, meus olhos pareciam querer sair da orbita tamanho espanto. Ele sabia da existência de Robert, ele sabia que era pai de um filho meu.


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