Mischief escrita por Liv


Capítulo 14
A deixou ir


Notas iniciais do capítulo

E ENTÃO, MEUS LINDOOOOS??? Agradeço ETERNAMENTE por seus comentários, senti muitas saudades de vocês. Notei que ganhei alguns leitores novos, sejam HIPER bem-vindos e espero que estejam gostando. Adoraria conversar com vocês e saber suas opiniões, podem deixar um "AMEI" ou "ODIEI", mas ficarei imensamente feliz em responder seu comentários, pessoal.
Muito obrigada pelo apoio, esse capítulo foi muito importante para mim e espero mais do que tudo que vocês gostem.
ÓTIMA leitura!!!



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"Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo

Só sente falta do sol quando começa a nevar

Só sabe que a ama quando a deixou ir

Só sabe que estava bem quando está se sentindo pra baixo

Só sabe que a ama quando a deixou ir

E você a deixou ir

Olhando para o fundo do seu poço

Esperando que um dia faça um sonho durar

Mas sonhos chegam devagar e passam muito rápido

Você a vê quando fecha seus olhos

E talvez um dia entenda o porquê

Tudo o que você toca, certamente morre"

–Let Her Go (Passenger)

Não demorou muito para que chegassem ao apartamento de Jane. Nas semanas em que Loki passara como Odin ele aprendera ainda mais com as próprias ilusões. Thor não poderia desfazer a ilusão pois, para a sorte de Loki, a armadura de Fragal era grande e cobria praticamente todo o corpo, menos a cabeça. Ele lembrou-se de que quando Rayon descobriu sua farsa, ela conseguiu quebrar a ilusão apenas quando tocou em sua pele, mas sabia que ninguém o faria porque não desconfiavam de nada. Estavam preocupados demais para isso.

Os três entraram em uma caixa estranha que subia e descia. Jane chamara aquilo de elevador. A sensação de estar naquele local era extremamente desconfortável. Assim que as portas duplas do tal elevador se abriram, Jane correu para a porta de seu apartamento e abriu-a, entrando desesperadamente. Antes que o deus pudesse entrar no local, uma voz o impediu.

–Frandal... –Sussurrou Thor. Fora a primeira coisa que ele dissera após a notícia sobre a perseguição de Rayon.

Loki virou-se e encarou o irmão, incentivando-o a continuar falando.

–Eu preciso lhe contar uma coisa. –Thor ergueu os olhos e estava tomado por uma sensação que Loki reconhecera. Ele vira aquela mesma expressão nos olhos de Heimdall quando deixara Asgard- Ray está... ela não está bem. Eu não contei isso a nenhum de vocês porque só soube quando cheguei aqui. Não sei o que houve e nem como explicar essa situação, mas...

Antes que Thor desse continuidade, Jane chegou em desespero. Seus olhos estavam vermelhos e lágrimas escorriam por seu rosto. Loki olhou-a confuso.

–A Ray... –Foi tudo o que ela conseguiu dizer antes de cair de joelhos. Thor segurou-a, tentando acalmá-la, mas ela simplesmente negava com a cabeça.

Aquele nome foi tudo o precisava ouvir para começar a entrar em pânico. Antes que perdesse o controle dos próprios atos, ele aproximou-se da humana e fitou-a.

–Onde ela está? –Disse, tentando manter a calma.

Jane se recompôs e levou-os por alguns corredores até que chegassem um último e longo corredor praticamente vazio e sem nenhuma iluminação. A medida em que se aproximavam, ele pôde notar o acúmulo de água espalhada pelo chão, saindo do último cômodo. Por mais que estivesse escondendo qualquer sensação, ele desejou mais do que tudo que Jane não entrasse naquela porta, pois agora ele estava começando a entender que o que Heimdall e Thor disseram não era loucura, pois realmente havia algo de muito errado.

Para sua decepção, Jane abriu a porta e fitou o interior do local. Levou alguns segundos para que ela entrasse, seguida por Thor.

A cena ela alarmante. O cômodo era um banheiro, mas Loki não pôde observar muito, pois sua atenção foi desviada para o local de onde toda aquela água espalhada havia saído. A seus pés estava uma banheira, ou fora uma banheira algum dia. Duas das laterais possuíam profundos buracos, como se alguém houvesse entrado lá e batido forte com um martelo. O restante da banheira se encontrava com enormes rachaduras, por onde a água havia escorrido. O espelho acima da pia estava completamente quebrado e em alguns cantos da parede rachaduras eram bem visíveis. Os resquícios de água que ainda restavam na banheira estavam com pequenas manchas vermelhas e...

Um choro interrompeu os pensamentos do deus, fazendo-o notar o amontoado de pessoas que ali estavam. Jane ainda chorava, mas Thor não a estava consolando agora porque seu rosto estava completamente devastado. Ele reconheceu o Gavião Arqueiro e a Viúva Negra, que também se encontravam lá. Os dois tinham algo em suas mãos e fitavam preocupados o que quer que fosse.

Loki deu alguns passos para perto deles, para que visse melhor a situação.

Naquele momento, ele se lembrou de algo que lera uma vez. A mente é como um imenso quebra-cabeças, que pode parecer muito complexo, mas também que fazia muito sentido. Ele lera que, quando sua mente vê algo que não consegue processar seu inconsciente entrará em ação, tomando conta de seu controle. Isso também acontece quando alguém desmaia. Essa é a defesa do corpo, porque a mente sabe que é uma dor que não é possível suportar, então o inconsciente se faz presente nessas horas. Não fazia tanto sentido quando ele lera tal coisa, mas agora ele sabia bem como era a sensação. Loki não desmaiaria, pois não sentia dor física alguma.

Seus olhos foram tomados por uma lembrança...

Ser frio não o privava da terrível dor que o consumia naquele momento. Ser frio não o impediria de chorar ou gritar. Ser frio não o ajudava em nada agora, ele simplesmente não conseguia esconder. Não naquela situação. O deus tentava ao máximo ser forte, mas não possuía força alguma. Ele havia repelido todos os que já se importaram com ele.

Jogou o livro que segurava no chão com força e assistiu o objeto cair. Viu uma silhueta fora de sua cela. Estava um pouco longe então ele não conseguia ver bem com a fraca iluminação que o lugar agora tinha. Usava um longo vestido verde e parecia brincar nervosamente com seus dedos. A pessoa se aproximou dele. Ele já havia sonhado em tocar seu cabelo e fazê-la sorrir, mas jamais pensara em como seria vê-la tão desolada como agora. Ela fitava o livro caído, sem olhar para ele.

–O que faz aqui? -Perguntou secamente, por mais que agradecesse por dentro.

–Companhia...

–Não quero sua companhia.

A boca da menina se contraiu, ele sabia que estava a machucando, mas ele não podia se importar, não mais. Mas tudo o que ele pensara para dizer a ela, toda a frieza que ele estava disposto a jogar na menina, se dissolveu ao olhar seus olhos. Rayon não estava sentindo pena dele, ela parecia estar sentindo dor.

–Mas eu quero a sua. -Sussurrou ela, sentando-se nos pés da jaula do deus. Ela sorriu friamente.- Foi meio que minha culpa, sabe? Se eu tivesse matado aquele infeliz ela... ela não...

~*~

Ela o amou pelo que ele era e ele tinha a certeza de que ela não o amaria se fosse diferente. Sabia que ela não o amaria se fosse como Thor. Rayon, sua Rayon, o amou por ser Loki. Ela não queria que ele mudasse, não queria que ele parecesse com outra pessoa. Ela o queria como ele era. Exatamente como ele era.

Loki abriu seus olhos e deixou que uma lágrima escorresse por seu rosto. Ali estava ela, sua Rayon. Estava tão diferente que, se ele não houvesse olhado bem, não a reconheceria. Sua pele morena estava pálida e ela se encontrava encolhida, pequena, frágil. Ele já vira Ray chorar ou surtar, mas ela jamais parecera frágil a seus olhos, não como naquele momento. As roupas mundanas que usava colavam-se em seu corpo, pois ela estava completamente encharcada. Os olhos do deus se alarmaram ao encarar a banheira novamente. Era Rayon que estava lá. Aquelas marcas não foram feitas por um martelo, mas sim por ela. Asgardianos tinham força o suficiente para isso caso estivessem em um estado de descontrole grande demais. Ao fitar uma mancha vermelha escorrendo pela banheira ele sentiu um calafrio. A testa de Ray se encontrava com uma enorme linha machucada, que escorria levemente os resquícios de sangue. Seus cabelos estavam completamente sem vida, assim como ela mesma estava.

Ela tentara se matar? Então era isso? Ele a fizera sofrer tanto que ela simplesmente desistira da própria vida?

Naquele momento, Loki compreendeu. A raiva que havia cultivado escorreu para fora de seu corpo assim como as águas frias da banheira. Nos últimos meses, tudo o que pensava era que Rayon provavelmente estaria feliz, vivendo a vida longe dele, sem ter que se preocupar com que ele a incomodasse com suas conversas idiotas. Mas ao fita-la ali, completamente devastada e consumida pelo caos, ele entendeu que ela também estava sofrendo. Ele entendeu o quão errado haviam sido suas escolhas. Agora não havia mais nada que ele pudesse fazer, nada que ele pudesse impedir, pois já estava feito.

Ela ainda não estava morta, mas era visível que a vida já estava deixando completamente seu corpo.

Loki não saberia jamais explicar o que estava sentindo e nem gostaria de tentar. Ele poderia fazer como Jane e chorar amargamente de arrependimento e uma culpa que já o havia consumido, mas não sobrara nada. Rayon era a vida que existia dentro de Loki. Rayon era a chama que podia fazer todo o gelo de sua alma desaparecer. Se ela morresse, o restante de qualquer bondade, amor e paz que ainda restava nele morreria junto com ela.

Era possível sentir o frio. Era possível sentir seu coração congelando outra vez. As lágrimas não rolavam mais e a culpa simplesmente havia desaparecido, deixando apenas um enorme buraco em seu peito, mas o que era mais uma sombra em meio a tanta escuridão?

***

Thor insistira para que ele ficasse e assim o fez, pois estava cansado demais para encarar qualquer um daqueles seres patéticos e chorões de Asgard. A situação era bem clara: ele não conseguiria dormir. Não que isso fosse um problema, pois ele sabia bem que sua própria mente o proporcionaria sonhos nada agradáveis.

Ele planejava apenas ficar deitado, mas seu corpo começara a tremer e sua mente não demoraria a vagar para longe. Desistindo de qualquer tentativa de permanecer ali, ele se levantou e deixou o quarto. Seus passos direcionaram-se inconscientemente para o quarto onde Rayon repousava.

Loki fitou a porta por um longo tempo. Ele jamais admitiria, mas a cula ainda estava ali, o consumindo silenciosamente. Antes que perdesse a coragem, ele girou a maçaneta e entrou no cômodo. Nenhuma luz estava acesa, mas a cama se encontrava levemente iluminada pela luz da noite. Fechou a porta e certificou-se de que estava trancada.

Assim que seus olhos pousaram nela, ele perdeu o fôlego. Faria qualquer coisa para que ela não morresse. O ferimento em sua cabeça já não sangrava e sua respiração ficava mais forte, mas a palidez e a fraqueza ainda eram claras.

Sentou-se ao lado dela na cama e segurou sua mão. Sua forma verdadeira retornou e ele sorriu fracamente.

–Ray... -Sussurrou ele em uma mistura de saudade e desespero- Ray, por favor.

Loki inclinou-se para frente e encostou sua testa na da garota. Naquele mesmo segundo foi tomado por um calafrio e sentiu que tudo pesou ao seu redor.

O mundo ao seu redor parecia estranho de alguma forma. Ele abriu os olhos e encarou o branco dominar sua visão. Tudo em sua frente estava completamente branco. Era como se ele estivesse em um enorme quarto com paredes e chão daquela cor.

–Loki? -Ouviu alguém chamar atrás de si. Ele sentiu o ar se esvair quando reconheceu a voz.

Virou-se lentamente e encarou Rayon, sentada no chão. Ela não tinha mais a terrível aparência ou os machucados. Vestia um vestido verde profundo, o que o fez sorrir. Loki amava vê-la de verde.

–O que faz aqui? -Perguntou.

–Ray... -Ele se agaixou na frente dela e encarou seu rosto. Ela parecia calma e confusa, mas ele não conseguiu se controlar. Puxou-a para si e fechou os olhos levemente, passando as mãos por seu cabelo.

Ela estava rígida, não movera um músculo, apenas afastou-o calmamente. Loki olhou confuso em seus olhos, ele sabia que Ray ainda poderia estar irritada com ele, mas sabia que ela sentia sua falta também. Havia algo de errado, algo nos olhos dela estava faltando, algo que ele não sabia o que era, mas aquela não era sua Rayon.

–Loki, tem algo errado com você? -Perguntou ela. Ray mantinha-se a uma distância segura dele e isso causava uma pontada dolorosa em si mesmo.

–Eu... eu senti sua falta, Ray. Ver você naquele estado era simplesmente horrível e eu...

–Sentiu minha falta? -Seus olhos procuravam desesperadamente uma resposta no rosto do deus, mas ao não achar nada, ela sorriu levemente- Loki, eu... nós... nós mal nos conhecemos.

Ele poderia ter achado que ela estava brincando. Poderia simplesmente rir e dizer que sentia falta do senso de humor dela, o que não era mentira alguma, mas era claro ao olhar em seus olhos que Rayon não o reconhecia e aquilo estava acabando com ele.

–Como conseguiu entrar em minha mente? -Ele ergueu os olhos assustado.

–O que?

–Você está em minha mente Loki. De alguma forma, quando eu tive aquela última lembrança, fiquei imersa em minha própria mente.

–Não consegue sair daqui?

–Não quero sair. -Disse sinceramente- Loki, eu estou cansada. Esses lapsos de memória estão me consumindo. Eu mergulhei naquela maldita banheira por mais de uma semana tentando encontrar respostas e mesmo assim acho que jamais recuperarei tudo.

–Você perdeu a memória? -Ele disse chocado. Thor mencionara que ela havia sofrido um acidente, mas ninguém explicara a situação devidamente.

E assim, Rayon contou a ele o que acontecera. Contara sobre os surtos, a descoberta de seus poderes, contara sobre o quase afogamento e sobre todo o resto. Loki ouvira cada palavra completamente chocado e confuso. Perto dela, ele se transformava em algo que ele nunca imaginara ser. Ele se importava, se importava com o bem estar dela, mas isso também o fazia se importar com os outros. Não com muitos, mas com alguém além dele mesmo.

Não havia sentido em estar realmente na mente de Ray ou como tudo aquilo estava acontecendo, mas nada fazia muito sentido em muito tempo. Apesar de tantas dúvidas, ele precisava tentar uma última vez. Não apenas por ele, mas pelos dois. Ray lhe daria um tapa se ele não tentasse.

–Ray... eu sei que você não se lembra muito de mim, mas por tudo o que você me disse significa que eu estou nas suas memórias, de alguma forma, eu estou lá e eu preciso te pedir que confie em mim, Ray. Por favor, confie em mim... talvez eu tenha uma forma de acessar suas lembranças. Isso tudo foi culpa minha então, por favor, deixe-me te ajudar. Prometo que eu...

–Sim. -Ele se interrompeu e encarou-a.

Loki reuniu todas as suas forças, esquecendo-se das terríveis dúvidas que abatiam sua mente, pois ele sabia que, se Ray sobrevivesse, ela ajudaria-o a aguentar o peso de seu próprio mundo, assim como fizera inúmeras vezes.

O deus inclinou-se sobre ela, tomando seu rosto com uma das mãos e selando seus lábios. Por um momento, ela ficou imóvel novamente e ele teve a certeza de que ela recusaria o ato. Não demorou muito para que ela abrisse passagem para ele e se aproximasse ainda mais. Os lábios de Rayon eram macios e dóceis, seu rosto exibia um leve sorriso e Loki soube que o seu próprio exibia um ainda maior. Ele puxou-a o quanto mais pôde para perto, fazendo todas as agonias e inseguranças dos últimos meses se dissolverem entre os dois.

O elo e a pressão se desfizeram assim que o fôlego dos dois acabou. Loki abriu seus olhos e estava novamente no quarto, testa a testa com ela.

–Não vou desistir de você. -Sussurrou, acariciando seu rosto.

A mão de Rayon segurou a dele e seus olhos cor de mel se abriram lentamente.

–Como se eu fosse desistir de você, seu idiota. -Disse ela, com a voz fraca. Loki sorriu abertamente e respirou aliviado quando encarou os olhos de Rayon.

–Ray?

–Parece que sua desculpa esfarrapada para me beijar funcionou com as minhas memórias.

–Eu fiz isso apenas para que você não me chateasse. É patético ter que aturar alguém sem memórias, não tenho tempo para isso, minha cara.

Rayon riu alto, assim como ele. Ambos haviam esquecido como era estar na presença um do outro, como era ser eles mesmos sem máscara alguma. Ainda que as coisas estivessem desmoronando, os dois sabiam que o caos era sua casa eterna e a diversão era seu lema.

Mas a situação era ainda maior e mais pesarosa do que qualquer um imaginava. Existiam forças ao seu redor que eles não compreendiam e nem eram capazes de controlar. O caos retornaria e com ele, viria a ruína.


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Notas finais do capítulo

E ENTÃÃÃÃO? Acharam que ficaria tudo bem, não é? MUAHAHAAAA, ainda não, pessoal. Tem muito chão pela frente de Mischief, afinal, acham mesmo que esses dois sobreviveriam sem um pouco de desastre por ai? Duvido!!!
Até os comentárioooos ;)