Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 9
Capítulo 9: Um último adeus


Notas iniciais do capítulo

Bom capítulo!



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Capítulo anterior: "Um barulho alto me sobressalta, seguido de um clarão. Carol havia começado o plano. Terminus vai queimar."

POV THEA:

Aperto meu passo em direção a área de containers, tentando não me distrair com a correria que todo aquele barulho causou.

Moradores de Terminus passavam por mim correndo em desespero. Rostos conhecidos. Me olhavam sem ver, apavorados demais para se lembrarem, para tomarem consciência de quem eu era.

Aperto o rifle em minhas mãos, tomando uma lufada forte de ar a cada passo forte e decidido que eu dava em direção ao container A.

Meu peito se enchia de tanta esperança e eu não conseguia pensar o porquê, só conseguia entender que era por conta dela que eu corria, mesmo me sentindo cansada demais com o peso de todas aquelas armas em minhas costas.

Chego na área de containers, procurando pelo grande A em tinta branca com os olhos concentrados. Eu estava perto demais do abatedouro, onde Gareth tinha se enfiado com Rick, Daryl e Glenn. Eu tinha que ficar alerta.

Continuo correndo após tomar fôlego, avistando o grande A piscando para mim por entre o mar de caixas gigantes e enferrujadas, mas antes que eu pudesse desviar, o corpo de alguém me faz parar, num susto contido. Um grito preso em minha garganta.

Dou um passo para trás, o susto evidente em meu rosto, e quando minha visão foca na pessoa a minha frente, só consigo sentir medo.

– Gareth. - solto num sussurro, dando pequenos passos para trás de forma cautelosa, com o rifle firme em meus dedos, que agora se encontravam com os nós brancos devido a força com qual eu apertava a arma.

– Eu sabia que você tinha alguma coisa a ver com isso. - sibila por entre os dentes, com a expressão carregando um ódio quase palpável.

Minha garganta se fecha, como se algo a tampasse. Tento retomar meus pensamentos - agir de modo a me defender, quando vejo sua mão se levantar com o revólver firme por entre os dedos.

Eu simplesmente não conseguia agir, pensar. Minha mente era uma nuvem negra.

Ele atira. Fecho os olhos, esperando a dor chegar.

Nada.

Olho para trás, um errante caído com um furo no meio da testa me faz olhar de volta para Gareth.

Ele estava perto, perto demais. Os olhos injetados, um ódio profundo. Aquele não era meu primo.

– Você é minha. Sua hora vai chegar. - fala por entre os dentes, e sai em direção a explosão.

Paraliso, ainda em choque, tentando absorver o ocorrido. Eu não estava morta, pelo menos não ainda.

Olho em volta, errantes tomavam o lugar.

– A horda. - sussurro, retomando meus sentidos e lembrando qual era meu objetivo ali. Com um suspiro pesado, aperto o passo em direção ao container.

Bato três vezes neste e ouço a voz abafada de Michonne chamando por meu nome.

– Mich, eu estou aqui fora. Tem uma horda invadindo. - falo, sem fôlego. - Eu preciso que vocês empurrem a porta quando eu destravar, é muito pesada.

Ouço vozes igualmente abafadas concordarem e logo depois vejo Michonne sair de dentro do container com sua postura firme, de quem enfrentaria o inferno por sua família. Ela me envolve num abraço rápido e logo depois lhe estendo a bolsa de armas, sem prestar atenção em quem eram as pessoas junto com minha amiga dentro do container. Eu não tinha tempo.

Vejo Michonne pegar sua katana e as pessoas as armas. Coloco a bolsa vazia em minhas costas, ao lado da besta de Daryl.

– Vou no arsenal, Gareth não vai deixar por isso mesmo, vamos precisar de mais munição. - falo, correndo em direção ao local onde eles guardavam as armas saqueadas, antes que Mich tentasse me impedir.

Corro como o diabo, derrubando a tiros os errantes em meu caminho. Logo a munição acaba. Um walker se aproxima, afasto seus dentes de mim chutando-o, esmagando sua cabeça com a coronha do rifle. Outro se estica em minha direção, as mãos agarram a arma, enquanto tento me defender com esta na horizontal, mantendo-o afastado de mim. Empurro-o para longe, o errante cai como um saco de carne podre, o rifle ainda em suas mãos.

Chego ao arsenal, ainda tensa. Um errante puxa a besta em minhas costas. Consigo tirá-la de suas mãos, enfiando uma flecha em sua cabeça. Olho confusa para a arma, ainda sem compreender como eu tinha conseguido usá-la.

A minha frente Daryl caminhava a passos firmes e pesados em minha direção. Ele intercepta um errante com um chute, pisando em sua cabeça, que explode em uma poça de miolos e sangue podre. Puxa a besta de minhas mãos, tira a flecha da cabeça do errante e prepara a arma para mais uma flechada, me puxando na direção contrária a que eu pretendia ir.

– Não. - grito, afastando minhas mãos.

Ele olha para mim, confuso, irritado.

– O arsenal. Tenho que ir ao arsenal. - falo, sem fôlego, apontando para o lado contrário.

Ele assente, me seguindo. Abre a porta do local com um chute, entrando primeiro, com a besta preparada. Ainda sem dizer uma palavra olha para mim, balançando a cabeça em afirmação, como se dissesse que o local estava limpo.

Entro, dando uma boa olhada para a longa mesa cheia de armas e munição, colocando na bolsa tudo que me parecia útil. Daryl pega um rifle, guarda munição nos bolsos, deixando a besta preparada em costas.

Uma saraivada de tiros é ouvida lá fora, e uma mulher de cabelos curtos aparece com o tal Glenn na porta do arsenal.

– Maggie. - Daryl assente, com um meio sorriso. A mulher lhe sorri, olhando para Glenn carinhosamente, mas ainda com uma expressão séria no rosto.

– Eles estão invadindo. Uma horda. Precisamos de ajuda.

Daryl olha para mim, que ainda colocava as coisas na bolsa de armas, e depois para Maggie e Glenn.

– Eu estou terminando, vá com eles. - grito, empurrando-o.

Ele não se demora, me olha mais uma vez com uma expressão quase preocupada e corre com Glenn e Maggie em direção a sua família, fechando a porta atrás de si.

Coloco o resto das coisas na bolsa, pegando no coldre minha pistola ainda carregada.

Um grupo de errantes arranha a porta do arsenal, empurrando-a com seus corpos mortos, e esta logo cederia com o peso. Em meio a gemidos famintos, olho em volta, procurando por outra saída.

Uma porta azul com escritas brancas toma minha visão, sem pensar duas vezes abro-a e entro no que parecia um galpão, fechando a porta com um baque logo atrás de mim.

Velas iluminavam o local, um cheiro de guardado e incenso toma conta de meu olfato. Tento me situar, apertando os olhos para ver por entre as velas o que estava escrito em tinta preta nas paredes. Ando em direção a escrita, adentrando o que parecia um círculo de velas.

NEVER TRUST. NEVER AGAIN. WE FIRST ALWAYS.

Meus olhos marejam, e eu olho para o chão. Nomes em tinta branca e objetos formam um círculo. Nomes que eu conhecia.

Caio de joelhos, sem conseguir conter as lágrimas e os soluços. A dor da morte de todas aquelas pessoas me atingindo como um soco no estômago.

Eles eram minha família. Todos aqueles nomes eram de pessoas mortas, pessoas que eu amava, pessoas que estavam comigo desde o começo de Terminus, antes do Santuário se tornar um mausoléu de culto e vingança à pessoas que se foram.

Um nome me chama atenção: Amber J. West. Meus olhos se enchem de lágrimas novamente. Minha prima. Minha prima que havia se suicidado num container com outras mulheres. Minha prima que tinha sofrido com todos as perdas, todos os ataques.

Ao lado, o nome de Red se destacava: Jared T. Riley. Sua machete e cinto logo abaixo. Seus únicos objetos pessoais.

Amarro o cinto na cintura, com a machete pendendo em minha perna, grande e pesada, me lembrando em como esse mundo era fácil para Red. Viver na violência para ele era como respirar.

O nome ao seu lado toma minha atenção por uma última vez. Thea J. West. Um soco inglês e uma flor morta eram meus objetos. O soco inglês que Red havia me dado quando eu fiz dezoito anos.

"Já é uma mulher, já pode se defender sozinha", ele disse, me fazendo revirar os olhos, aceitando o presente com um soco em seu braço e um abraço carinhoso.

Engulo as lágrimas, amassando a flor seca em minha mão, esta se desfaz facilmente, como cinzas.

Levanto indo em direção a outra porta, que me tiraria daquele lugar.

Terminus estava queimando e eu não teria mais que me preocupar com seus vivos, muito menos com seus mortos.

O vento gelado do outono bate em meu rosto, o cheiro de morte se arrastando pelo local junto com os errantes. Eu nunca me senti tão agradecida em ouvir seus gemidos e sentir o fétido cheiro de suas carnes como me sentia naquele momento. Qualquer coisa era melhor do que o cheiro de incenso e sofrimento que aquele galpão tinha.

Ao longe vejo o grupo de Rick despejando uma saraivada de tiros nos mortos, aperto meu passo em direção a eles, aliviada por estar perto.

– A onde você pensa que vai? - a voz de Gareth se faz presente, me fazendo virar em sua direção.

Lá estava ele, a roupa cheia de sangue, assim como seu rosto, seus olhos injetados de raiva, como se eu lhe tivesse tirado algo muito precioso. Ao seu lado eu errante preso em correntes me chama atenção. Ele tenta pegar Gareth, mas esse parece controla-lo muito bem com algemas e uma espécie de focinheira.

Meus olhos se estreitam tentando entender o que ele estava pretendendo com aquilo, mas então a compreensão me atinge como um tiro. A machete ficando mais pesada em minha perna, assim como o soco inglês em meu bolso. Aquele errante de dois metros era Jared.

A roupa rasgada ainda era a mesma do dia em que eu o tinha visto pela última vez, porém, aquele homem forte e bonito de antigamente dava lugar a uma criatura de pele esverdeada e feridas purulentas.

– Que tipo de pessoa é você? - minha voz sai num fio, com dificuldade, a julgar pelo nó em minha garganta, impedindo que as palavras saíssem.

Gareth ri, o rosto de feições suaves que já não existia mais dando espaço para os traços duros e maltratados de um sádico. Ele empurra o que antes era Jared em minha direção. Eu deixo cair a bolsa de armas a meus pés, enquanto o errante se arrasta para mim a passos lentos e gemidos famintos.

– Ele sofreu muito antes de morrer. - Gareth comenta, apontando a arma para minha cabeça.

Minha pistola tremia em minhas mãos, enquanto soluços tentavam se manter em meu peito, junto com as lágrimas em meus olhos.

– Digamos que foi torturado um pouquinho, mas você sabe o quanto ele era durão... Preferiu morrer a abrir o bico. Você meio que o matou.

Olho para Gareth, sem conseguir compreender a que ponto de nossa jornada que ele havia se tornado naquele homem a minha frente.

O ódio cresce em meu peito, algo que eu nunca havia sentido antes. Meus olhos se mantém nos olhos verdes de meu primo, olhos antes translúcidos e assustados, mas que agora davam lugar somente a insanidade, a perda.

– Vai para o inferno. - eu grito, vendo Gareth rir.

Ele olha sobre meus ombros, os olhos brilhando em reconhecimento, um brilho maldoso. Sorri novamente.

– Até mais, prima. - sussurra, correndo como um covarde.

Sinto o ódio puro misturado com sangue em minhas veias, minhas mãos se enrijecessem, parando de tremer. Firmo meu corpo no chão, meus dedos se firmam no gatilho e eu descarrego o pente de minha pistola em Gareth.

Atinjo seu ombro, mas ele continua a correr, como se nada tivesse o atingido.

Solto a pistola no chão com dificuldade, meus dedos rígidos por conta da força. Meu choro se torna audível e as lágrimas correm. O que sobrou de Red ainda caminhando a passos mortos em minha direção.

As lágrimas caem, uma por uma, em câmera lenta. Pego a machete no cinto. Cinco passos decididos e estou a um braço de distancia do errante. Levanto a machete e, com uma força que eu não reconhecia em mim, dou a Red seu descanso merecido.

Guardo a machete - que ainda pingava sangue podre - no cinto, pegando a bolsa de armas no chão e me virando em direção ao grupo de Rick.

Daryl corria em minha direção com os olhos estreitos, a preocupação evidente em seus traços fortes, e Michonne corria logo atrás dele, os olhos marejados e uma expressão de ódio no rosto.

Ela entendia.


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Notas finais do capítulo

Thea vai mostrar as garrinhas.



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