Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 8
Capítulo 8: Terminus vai queimar


Notas iniciais do capítulo

Não vou nem comentar muito sobre o meu desaparecimento por 6 meses. Seria muita vergonha na cara minha voltar aqui com um capítulo novo, achando que vai ser de boa a recepção de vocês. Eu sei que não vai, eu sei que vocês me odeiam um pouquinho e tá tudo bem.
Aqui tem mais um capítulo de Tempestuoso. Não vou prometer nada a vocês. Não vou prometer um capítulo novo todos os dias. Vou escrever quando tiver inspiração, postar quando me sentir pronta para postar e, mesmo vocês achando que eu sou uma puta duma autora sem vergonha, espero que vocês continuem gostando de Tempestuoso.
Curtam o capítulo e estou aberta à críticas, tanto em relação a fic quanto em relação a minha demora. Eu sei que errei com vocês.



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POV THEA:

– Eu preciso de um banho. - falo, olhando com repulsa para o sangue seco de errante em meu corpo. - Acho que chutar a cabeça daquele errante até ela explodir não foi uma boa ideia.

– E você só percebeu isso agora? - Daryl resmunga, ajoelhado em frente a moto.

Estávamos novamente no local onde a havíamos achado. Como não tinha jeito de levá-la pela floresta em direção ao barracão, resolvemos retirar a gasolina e deixá-la no lugar de sempre. Se precisássemos da moto, faríamos o mesmo processo de antes.

– Na hora parecia um bom plano. - dou de ombros, atenta ao barulho cada vez mais próximo de um walker.

Ele aparece aos poucos, vindo da floresta. O andar trôpego e as mãos agarrando o nada, como sempre. Pego minha faca, me preparando para tacá-la mas, antes que eu fizesse alguma coisa, o errante tropeça em seus próprios pés, caindo sobre os trilhos. Sua cabeça bate com força no dormente, numa explosão de miolos e sangue podre.

– Que bagunça. - balanço a cabeça, sem conter uma careta de nojo.

– Idiotas. - Daryl diz com desgosto, voltando a seu trabalho.

– Sinto que um dia ainda vou ser como esse errante. Seria muito minha cara tropeçar em meus próprios pés, cair e acabar com a cabeça espatifada no chão, mesmo depois de morta. Ou semi-morta... Que seja. Pelo menos eu poupo o trabalho de alguém.

– Sua cara mesmo é abrir a boca para falar esse tanto de merda. Você devia ter um filtro, Thea. Quem sabe assim para de falar essas coisas idiotas.

– Só me censura... Mal sabe você que eu penso muito antes de falar!

– Pensa? Não parece.

– Claro que penso. Eu penso toda hora. Eu penso para tudo. Nada que eu faço é impensado, Daryl.

Ele balança a cabeça, em desaprovação.

Olho novamente para o errante, sem conseguir conter a careta de nojo.

– Eles estão cada dia mais fracos e patéticos. Não sei como conseguiram dominar o mundo.

– Eles não "dominaram o mundo", Thea. Não estamos em um dos seus filmes da Disney. Eles são uma praga, não o vilão da Branca de Neve.

– Dá na mesma, Daryl. Dá na mesma. - comento, sentando ao seu lado, no chão de brita. - O conto da Branca de Neve nem tem um vilão, aliás.

Daryl me olha feio, o olhar repreensivo de sempre, e volta para suas atividades.

– Você acha que aquela horda está vindo para cá? - pergunto, chamando sua atenção novamente.

– Acredito que sim. Em direção a Terminus, para falar a verdade. Talvez eles se dispersem pela floresta... - dá de ombros. - Temos que tomar cuidado a partir de hoje.

– Se sua família estiver lá, temos que agir antes que essa horda os alcance.

– E antes que seu primo maluco resolva fazer alguma coisa, mas primeiro temos que ter certeza de que eles estão lá.

Desvio o olhar, tentando não me deixar levar pela acusação. A loucura de Gareth não tinha nada a ver comigo, não era um fator genético e, muito menos, era minha culpa, então porque eu me culpava e me ofendia tanto?

– Merda. - Daryl resmunga, passando a mão pelos cabelos de modo nervoso. - Eu não queria dizer assim...

– Não, está tudo bem. Eu entendo. - assinto, tentando um sorriso.

– Não, não está tudo bem. - fala, puxando meu rosto de modo que eu olhasse para ele.

Os olhos azuis fundos me fitando com seriedade. Os dedos calejados em minha pele, me causando arrepios.

– Não é sua culpa, Thea. Eles escolheram isso. É responsabilidade deles, não sua. Entenda isso de uma vez e pare de se culpar pela porcaria das ações de outras pessoas.

Assinto, me esquivando delicadamente, um pouco confusa com as sensações que seu contato me causava. Ele franze o cenho, talvez um pouco ofendido com o modo como eu me afastei, penso em pedir desculpas, mas um nó na garganta impede que as palavras saiam. Minha mente trabalha a mil, enquanto Daryl, ainda com o cenho franzido, continua o que estava fazendo.

Eu conhecia aquele grosso há poucas horas e era como se eu o conhecesse por toda uma vida. Talvez essa sensação clichê não tivesse a ver com uma paixãozinha platônica de cinema e sim com toda essa história de fim de mundo e a falta de contato humano que esta situação implicava. Talvez, isto tenha feito com que as pessoas se unissem mais. Não eram mais necessárias todas aquelas convenções para se beijar uma pessoa e se sentir feliz em estar perto dela, pois só o fato de estar perto de alguém vivo já era o bastante.

Podia ser só isso, ou podia ser uma coisa de filme romântico clichê e sem graça também, não era como se eu fosse ficar pensando sobre isso a todo segundo. Eu não ia complicar uma coisa que me parecia ter uma explicação tão simples: humanos querem ficar com humanos.

Pigarreei, tentando retomar a atenção de Daryl, que se mantinha numa árdua tarefa de tentar fazer com que a moto pareça mais acabada do que realmente parecia, para que ninguém se sinta tentado a surrupiá-la.

Ele não me olha, e tento entender se minha relutância à seu toque o ofendeu tanto assim. Não era possível, Daryl não me parecia fazer o tipo magoado.

– O que você e Rick pretendem fazer se conseguirem achar sua família? - pergunto, um pouco relutante.

Ele estreita os olhos em minha direção, desconfiado.

– Não sei. - responde simplesmente, voltando a atenção ao que estava fazendo. Ele arrasta o corpo do walker até a moto, sujando esta com o sangue podre, em sua tarefa de torná-la visivelmente inútil.

Continuo em silêncio, como um modo de fazê-lo falar mais.

– Acho que vamos seguir em frente, procurar um novo lugar relativamente seguro para nos estabelecermos no inverno. - ele responde sem muita vontade.

– Você acha que Michonne iria com vocês?

– Onde você quer chegar?

Dou de ombros, tentando disfarçar meu desconforto. Eu não queria ficar para trás, mas também não poderia deixar Terminus sem inimigos para impedir as barbaridades cometidas por seus moradores.

– Ela é da família de vocês agora, não mais da minha.

– Não acho que ela pense assim. - fala, os olhos azuis estreitos, me analisando. - Aliás, não acho que alguém pense assim. Você nos ajudou, isso deve significar algo para Rick e para o resto do grupo.

– Certo. - comento, vendo ele terminar o trabalho com a moto e ajeitando a besta nas costas, pronto para partir.

(...)

– Eu não nasci para o apocalipse. - sussurro, como um mantra, tentando me manter concentrada em outra coisa que não seja o cansaço maldito que sentia.

Sério, as pessoas deviam ter pensado em um meio de transporte para andar no meio do mato cheio de árvores, raízes e errantes, antes desse negócio de apocalipse acontecer. Agora, nós seres humanos restantes, temos que nos contentar em morrer de cansaço para sempre.

– Se você calasse a boca por um segundo sequer, talvez se cansasse menos. - Daryl resmunga, tomando a dianteira em direção ao barracão.

– Falar não cansa, o que me cansa é andar nesse monte de mato velho. Eu já te contei da minha teoria sobre o mundo ter virado um monte de mato?

– Sim, em uma das suas falações você me falou algo sobre.

Balanço a cabeça, satisfeita em saber que Daryl captava até mesmo minhas conversas mais sem noção. Isso queria dizer alguma coisa, não?

– Você concorda comigo, então?

– Sobre?

– Sobre o mundo ter virado um monte de mato, Daryl. Preste atenção nas coisas que eu te digo, você é muito desatento. Um dia vou cobrar todas essas conversas, tipo uma prova.

– Com certeza vai. - fala para si mesmo, como um aviso.

Continuamos o resto do caminho em silêncio. Eu tento começar um assunto, mas o Caçador parecia concentrado demais em todo aquele mato velho e seco para responder à altura. Desisto e continuo andando, reclamando mentalmente de todo o esforço. Pelo menos eu me manteria linda, saudável e sarada.

Logo o barracão estava há poucos metros de nós e um burburinho suspeito me deixa em alerta.

– Tem alguma coisa acontecendo. - comento, vendo Daryl apressar o passo. Eu o sigo sem pestanejar.

Ele adentra o local num rompante, a besta armada e pronta para atirar. Pego minha pistola no coldre, fazendo o mesmo.

O grupo surge a nossa frente, Carol e Tyreese entre eles. A mulher de cabelos curtos apontando uma arma diretamente para mim, como se eu fosse o perigo.

– Por que você sempre aponta isso pra minha cabeça, mulher? - reclamo, vendo-a revirar os olhos e abaixar a arma, assim como os outros.

Relaxo, mas Daryl ainda se mantinha em alerta, porém, a besta já se encontrava novamente em suas costas.

– O que fazem aqui? - pergunta, olhando de Carol para Ty.

"Sutil como um elefante", penso.

– Eles estão lá. - Ty é o primeiro a falar, com um brilho de esperança no olhar.

– Vocês os viram?

– Não, mas seu poncho, que estava com Maggie, e o relógio de bolso de Glenn estavam com eles. Nós vimos perfeitamente.

– Quais as chances? - Rick se volta a mim, com a expressão determinada.

– De eles estarem vivos? - pergunto, engolindo em seco. Eu sabia que uma hora a responsabilidade iria cair sobre mim.

Eles assentem, esperançosos. Fecho os olhos pensativa, procurando em minha mente uma forma de dar uma resposta sem frustrar suas esperanças, e as minhas. Eles haviam entrado lá e eu não tinha conseguido impedir.

– Eu não sei. Depende do tanto de pessoas que eles tem nos containers. - comento, estralando os dedos. - Eles colocam as pessoas novas no container A, e depois as realocam de acordo com a necessidade. Eu não consegui montar um padrão muito certo. - olho para Michonne, que tinha uma expressão tão determinada quanto a de Rick.

Eles eram sua família, eu devia isso a ela.

– É perigoso eles continuarem lá por mais um segundo que seja, nós temos que dar um jeito. Eu não sei quantas pessoas eles tem nos containers restantes antes que eles realoquem sua família, se é que já não o fizeram. - Rick assente, junto com os outros, começando a arrumar suas coisas.

– Eles devem ter chegado em Terminus no dia em que eu voltei para o barracão, antes de ir atrás de vocês. Isso foi há uma semana.

– Não foi sua culpa. - Michonne diz, pontuando cada palavra.

– Qual o plano? - Carol pergunta, colocando um rifle nas costas e a munição deste em sua mochila.

– Temos que entrar lá, ir até o container A. Temos que ser capturados. - Rick diz firme, seus olhos atingindo um brilho quase psicótico.

– Tyreese fica aqui com Carl e Judy. - Daryl comenta, organizando tudo.

Ty assente, sabendo que era melhor ficar longe da guerra eminente. Lembro de ouvi-lo comentar sobre problemas com violência.

Rick estende lhe mais munição, fazendo o mesmo com Carl em seguida, que pega sem pestanejar, mostrando o quanto pode ser forte.

– Michonne, eu e Rick vamos entrar. - Daryl continua. - Carol e Thea ficam lá fora, dando cobertura para quando escaparmos.

Assinto, olhando para Carol. Era o melhor a fazer, já que eu não podia simplesmente aparecer lá. Gareth era louco, mas não era idiota. Ele saberia na hora que estávamos planejando algo e nos mataria sem pensar duas vezes.

– Vocês tem que entrar com poucas armas. - comento, pegando um rifle com Michonne. - Eles não vão aprisioná-los de primeira. Vão tentar alimentá-los antes de tudo, vão parecer amigos, deixando-os com suas armas. Depois vão deixá-los acuados, tirar todos seus pertences, armas, objetos pessoais... Fiquem só com o essencial, o que não querem perder.

– Entramos somente com as pistolas e facas. Coisas que podemos deixar de lado. - Rick diz.

– Como vocês sairão de lá? - Carl pergunta, com Judy em seus baços, brincando com seu chapéu de xerife.

– Distração. - Carol diz. - Eu os distraio e Thea os liberta, levando a arma até vocês. É o único jeito.

(...)

Daryl é o último a se render, seguindo com Michonne e Rick até o container A, como no plano.

Carol assente ao meu lado, vendo tudo ocorrer conforme planejado.

Sinto o peso da besta de Daryl em minhas costas, ao lado da bolsa de armas, que abrigava rifles e a katana de Mich. Tinha que dar certo.

Gareth sorria como um grande ditador, após trancafiar os três. A população de Terminus parecia orgulhosa, com rostos felizes e pacíficos, como se tivessem vencendo uma espécie de guerra.

Aquilo era tudo tão errado. Me deixava tão nauseada pensar que todos aqueles rostos conhecidos, rostos de pessoas que eu havia dividido comida, água, esperança, dores... Tudo tinha ido parar no ralo, só o que sobrou foi a loucura e a insanidade que havíamos prometido ignorar.

Eles deram aos mortos exatamente o que eles queriam, abriram mão da única coisa que os tornava diferentes. Os moradores de Terminus não lutaram, como imaginavam que estavam fazendo. Eles se renderam.

Uma movimentação no container A me tira de meus pensamentos. Um morador de Terminus abria a parte de cima deste, jogando bombas de gás dentro do container, enquanto outros três abriam as portas, entre eles, Gareth.

Observo a tudo confusa, vendo Daryl, Rick e um homem desconhecido sendo arrastados em direção ao abatedouro.

Olho para Carol, esperando por alguma reação. Rick balançava a cabeça em um não, como se pedisse para esperar.

– Quando estiverem lá dentro, fora do alcance das balas, eu irei atirar no tanque de combustível. - ela olha para mim, explicando tudo didaticamente, enquanto eu assentia um pouco desnorteada. - Você vai até o container A. Michonne está lá junto de nossa família, Glenn era o homem arrastado para fora com Daryl e Rick. Eu te dou cobertura, Thea.

– Certo. - me preparo, pronta para pular o alambrado e me fazer vista.

– Thea. - ela segura meu braço, os olhos sérios. - Se concentre. Eles não são mais sua família, nós somos. Faça o que for preciso para nos manter a salvo.

Olho para ela, deixando explícita toda minha determinação. Dou um beijo em seu rosto, ela me sorri daquele jeito Carol, sem muito se importar.

Escalo o alambrado, com a besta de Daryl e a bolsa de armas nas costas. Pulo para o chão, correndo como nunca em direção ao container A, para longe dos tanques de combustível.

Um barulho alto me sobressalta, seguido de um clarão. Carol havia começado o plano.

Terminus vai queimar.


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Notas finais do capítulo

Carol, como vocês podem ver, gosta de Thea, mas não se deixem iludir... Ela é uma boa pessoa, mas é pragmática. Sabe o que falar, exatamente como falar... CAROL É FODA!



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