Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 30
Capítulo 30: Saddam Hussein


Notas iniciais do capítulo

Sim, meu povo, é isso mesmo que vocês estão vendo: UM NOVO CAPÍTULO DE TEMPESTUOSO.
É o fim do mundo? Não!
A autora finalmente tomou vergonha na cara? Também não!
Então o que é? É só uma ilusão. Esse capítulo não existe. Tempestuoso também não. PAH!



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POV THEA:

Daryl continua a dianteira, os olhos sérios e concentrados no rastro a nossa frente, que seguia cada vez mais em direção à estrada. Fico em silêncio, sem conseguir pensar em nada para dizer. Talvez porque não houvesse muito o que dizer. Daryl havia levado um tiro e havia sido minha culpa. O silêncio, sem sombra de dúvidas, era a melhor escolha naquele momento, pelo menos até eu pensar num modo de pedir desculpas que não soasse falso demais até para mim.

Olho para o torniquete empapado de sangue e para o vinco em sua testa, e só o que consigo pensar era que ele devia estar sentindo uma dor infernal, e isso revira meu estômago, fazendo a ânsia subir até a garganta como se eu tivesse engolido mil navalhas.

Daryl Dixon não iria morrer por conta de um tiro de raspão, mas não era esse o problema, não era isso que fazia a culpa pesar em meus ombros. Era o fato de eu ter feito exatamente o que eu prometi não fazer, e a facilidade com que aquilo poderia ter nos matado. Não era somente sobre eu ter corrido, ter arriscado Daryl de alguma forma. Era sobre eu ter feito isso sem pensar duas vezes, como se eu ainda precisasse correr de tudo, me arriscar sozinha no meio dos mortos. Eu tinha um grupo agora, pessoas de quem eu dependia e que também dependiam de mim e, principalmente, dependiam de Daryl. Era o mundo morto, não tinha espaço para agir com impulso, para viver por si só. Um erro e você estava fora, tudo pelo que você lutou e acreditou seria devorado, tirado de você com uma mordida ou um ferimento à bala.

O inverno estava cada dia mais próximo, mais perto a cada vento congelante que soprava vindo do Norte. Éramos um grupo de vinte pessoas, e não tínhamos água, comida, nem abrigo. E, por um momento, eu havia achado que um arco e flecha roubado de um morto qualquer resolveria este problema. Mera inocência.

A única coisa que poderia nos ajudar perante o fim do outono era se nos mantivéssemos juntos, a salvo e seguros. Só assim seríamos fortes o suficiente, e eu sabia que não seríamos fortes sem Daryl. Eu não poderia ser forte sem ele. E isso me assustava como o inferno. A necessidade, o medo de perder. A facilidade que era perder.

Era um mundo morto, um mundo pela metade. Tudo que era por inteiro pesava demais. E eu fui estúpida em pensar que eu ou Daryl conseguiríamos viver nesse mundo pecando pelo excesso.

Se envolver era perigoso demais. Pessoas faziam loucuras para manter os seus à salvo, e isso as matava. Eu me arrisquei por um arco e flecha, na esperança de ser útil; e Daryl se arriscou para me manter à salvo, porque ele também não tinha forças para continuar sem mim.

O fato era que, a vida na estrada não era mais 50% e 50%. A probabilidade de dar merda sempre era maior quando estávamos expostos, desunidos e fracos, e de nada adiantaria todo o esforço se não nos mantivéssemos atentos ao que realmente importava: continuarmos vivos. Sem beijos no meio do mato, sem grandes esperanças e sem distrações. Só vivos, e isso já era o suficiente. Era mais do que podíamos pedir num mundo morto.

Balanço a cabeça, sentindo as lágrimas começarem a nublar minha visão e o nó apertar minha garganta. Eu amava Daryl, e me manter longe das mãos calejadas e da grosseria característica seria difícil como o inferno, mas valeria o esforço se conseguíssemos voltar a atenção ao que realmente importava.

Respiro fundo, piscando algumas vezes para evitar as lágrimas descerem quentes pelo meu rosto frio. Ao longe, consigo distinguir um burburinho por entre a mata, e a cada passo que dava em direção a estrada, as vozes ficam cada vez mais nítidas.  

— Estamos perto. – sussurro para Daryl, tentando manter meus pensamentos à uma distância segura do que eu pensava anteriormente.

Ele assente, me olhando com o cenho franzido quando desvio o rosto vermelho por conta do choro de sua direção. Daryl dá de ombros, com a expressão séria, e me sinto pequena com o pensamento de que talvez ele também achasse melhor manter distância.

— Não atirem! – digo, assim que vejo, por entre as árvores, Rick e o resto do apontando armas em nossa direção.

— Thea? – a voz de Michonne se sobressai, e vejo seus olhos se comprimirem ainda mais a medida em que nos aproximávamos da estrada.

A primeira coisa que vejo é o carro abandonado no acostamento e a katana da mulher a minha frente sendo abaixada lentamente conforme o reconhecimento. Dou uma rápida olhada pelo grupo reunido, como se para garantir que estava tudo bem, mesmo que a rapidez do movimento impedisse qualquer tipo de reconhecimento mais profundo.

Respiro profundamente, tentando dissipar o peso dos pensamentos anteriores. Eu não queria ter que falar sobre o que eu estava pensando, não queria discutir o que sentia com ninguém antes de falar com Daryl. E eu não sabia se teria coragem de abrir margem para essa conversa.

— Não, Saddam Husseim. – ironizo, tentando manter a voz quase divertida, e vejo Mich balançar a cabeça em reprovação. Dou um passo em sua direção, sendo envolvida por rápido abraço, como uma saudação.

— Por que demoraram tanto? Já estávamos indo atrás de vocês... – ela alerta olhando por cima do meu ombro, para Daryl.

Sigo seus olhos na direção do caçador, sentindo meu estomago revirar com medo do que ele poderia dizer. É uma olhadela rápida, mas seus olhos me flagram quase que instantaneamente, transmitindo um grande ponto de interrogação. Desvio o olhar rapidamente, tentando não fixá-lo no ferimento em seu braço, mas é quase impossível não fazê-lo.

— Tivemos alguns problemas. – Daryl diz, a voz rouca me atordoando como uma droga, seu efeito me deixando cada vez mais desconfortável ao perceber que a culpa que eu sentia começava a se dissipar, mesmo que momentaneamente. Ainda sinto seu olhar queimando minha nuca, como gravetos em chamas pressionados contra a pele, mas consigo frear a vontade de encará-lo, sabendo que aquele tipo de contato não ajudaria em nada se a melhor opção fosse manter-me afastada.

— Algo me diz que isso tem algo a ver com esse torniquete ensanguentado em seu braço. – Michonne responde, desviando os olhos negros em minha direção.

O mesmo olhar questionador de Daryl, a única diferença palpável era o motivo. Entretanto, a resposta para ambas seria a mesma: minha culpa.

Ouço passos se aproximando, e a imagem de Rick com sua feição séria de sempre toma minha visão. Ele olha para Daryl e para mim, o agradecimento mudo estampado no olhar, fazendo com que eu assentisse freneticamente, como uma completa idiota.

— Daryl. – ele acena com a cabeça em direção à Abe e um homem desconhecido, após dirigir à mim um meio sorriso politizado. – Acho que você quer ouvir o que estamos discutindo.

Daryl assente, estreitando os olhos para o anônimo com quem Abe continuava falando. Antes de ouvir seus passos rumando para longe, ainda sinto seus olhos em minha nuca mais uma vez. Dessa vez não consigo evitar olhar, e o vislumbre de dúvida em seus olhos faz com que eu me sinta perdida.

— O que foi? – pergunta Michonne, ainda parada a minha frente. A expressão desconfiada de sempre dando lugar ao olhar inquiridor. O mesmo olhar que ela me dava quando eu fazia alguma merda antes do fim do mundo, e não consigo deixar de sentir nostalgia.

— Nada. – digo, focando o olhar em minhas botas sujas de terra, sabendo que essa desculpinha xoxa não colaria com Michonne. A maldita me conhecia bem demais.

— Menos drama e mais palavras, Thea. Essa cara de bunda é por causa do rombo no braço de Daryl?

Suspiro, sabendo que não adiantaria mentir. Michonne era como uma mãe para mim, uma mãe que eu nunca tive, e talvez fosse melhor falar algo com ela antes de jogar tudo para o alto.

— Eu fui atrás disso, – levanto o arco em minha mão de forma apática, mostrando que não queria estar falando sobre aquele assunto – e Daryl levou um tiro. Satisfeita? – digo rapidamente, envergonhada em assumir minha culpa em voz alta.

— Levou um tiro de quem? Do nada? – ela ironiza, ainda sem entender o que tudo aquilo significava.

— Do cara do bastão. – sinto meus ombros caírem, e me desabo a falar. – Eu não sei muito bem o que aconteceu. Num momento eu estava correndo com Daryl em meu encalço, no outro o cara surge e atira em Daryl sem mais nem menos. “Isso foi só as boas vindas”, ele disse. – suspiro, resignada. - Foi um tiro de raspão, mas eu não sei o que dizer. Não para Daryl, pelo menos. E pensar sobre isso faz com que eu me sinta...

Michonne estreita os olhos em minha direção, esperando eu terminar a frase, o que não acontece. Somente dou de ombros, sem querer continuar, como se colocar aquilo para fora fosse a admissão de um crime.

“Nemo tenetur se detegere. O direito de não produzir provas contra si mesmo”, minha mente evoca, e não consigo deixar de me sentir idiota por pensar numa coisa dessas... Como se a Constituição dos Estados Unidos não tivesse ido para o saco junto com o resto do mundo... Grande bosta, Thea. Grande bosta.

— ...culpada – ela completa, me tirando de meus devaneios.

— Sim. – digo, num sussurro baixo. – Eu não queria que ele tivesse se machucado, mas não consigo parar de pensar que ele se machucou por minha culpa. Eu prometi não me arriscar, e eu o fiz. E ele se arriscou para me manter a salvo.

— Você não o obrigou a isso. – interrompe, como se corrigisse meu pensamento.

— Não, mas não é como se ele tê-lo feito tivesse sido uma surpresa. Eu não pensei que isso poderia arriscar alguém além de mim, Mich. Eu agi por impulso, como eu agia quando estava sozinha. E foi só quando eu vi o sangue de Daryl que eu constatei que as coisas mudaram mesmo, que eu não estava mais por mim mesma e que as pessoas agora também se arriscavam por mim.

— Red se arriscava por você, não é como se isso fosse muito diferente.

— Não é como se Red fosse um exemplo, Michonne. Ele morreu tentando me proteger, me manter a salvo de Gareth. E isso poderia ter acontecido com Daryl hoje, e eu não posso lidar com isso. Eu não quero ser responsável por isso.

— Então não é sobre o tiro, Thea. Você sabe que não foi você que pressionou o dedo no gatilho. Isso tudo é sobre seu problema em depender dos outros, e sentir culpa por aquilo que não é sua culpa. Você é assim desde sempre, sempre querendo fazer as coisas por si só, pois acha que é mais fácil assumir a responsabilidade somente por si mesma, mas agora você não tem uma escolha. Em grupo é mais seguro, pessoas juntas duram mais.

— Eu sei. – abaixo a cabeça. – E isso me faz pensar que talvez seja melhor eu me afastar, antes que as coisas piorem. Não é um mundo para se envolver.

— As coisas já estão piores, Thea. – ela diz lentamente, a voz assumindo um tom doce a muito desconhecido. - Vocês já se envolveram. E eu fico feliz em saber que você tem a Daryl, porque talvez ele seja um dos únicos que podem lidar com toda essa merda, mesmo com um tiro no braço. – termina, me olhando fixamente. Suas palavras me lembrando da Michonne de antes do apocalipse, a mulher feliz, esperançosa e pé no chão que cuidava de uma criança, um marido drogado e dois adultos sem noção.

Assinto, confusa com o novo rumo dos meus pensamentos. Me afastar não parecia mais tão sensato assim, como se a distância só fosse piorar mais as coisas. Longe de Daryl eu me sentia fraca, e essa dependência emocional me assustava como o inferno, mas já era tarde demais. Eu estava completamente na dele, e me afastar por medo seria como abrir mão de segundos de felicidades que o mundo morto raramente proporcionava. Eu tinha o direito de ir contra a razão, de não seguir as regras para poder ter um pouco de conforto em meio a toda aquela frieza. Daryl me aquecia e, de repente, abrir mão de seu calor não fazia mais sentido.

Por um momento, me deixo pensar em quão difícil seria continuar leve tendo o peso deste envolvimento em minhas costas, mas logo afasto tal pensamento. Daryl valia a pena, ele havia mostrado isso para mim durante todo o tempo que permaneceu naquela cabana lutando contra seus demônios só para me dar uma explicação.

Focalizo meus olhos em Mich, que me sorri calorosa, acariciando meus cabelos por uma fração de segundos, para que, logo após, sua expressão se fechasse novamente, dando lugar a nova Michonne, que agora portava uma katana ao invés do sorriso acolhedor. Eu gostava dessa Michonne também, mas sentia falta da Michonne de verdade, aquela que conseguia ter sonhos leves e sorrir sem medo de afrontar seus mortos.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu estou backkkkkk!
Tudo bem com vocês? Eu espero que sim! Como estão as férias? As minhas estão tranquilas e favoráveis, like a Mc Bin Laden (essa fanfic tá muito terrorista hoje, rsrsrs)

Galera, eu queria agradecer vocês! Sério! Mesmo depois de todo esse tempo sem postar, hoje eu entro no Nyah! e dou de cara com a seguinte mensagem:
"Emmy Awards:
Olá, Babsi! Tudo bem com você? Estamos aqui para lhe informar sobre a indicação que sua fanfic Tempestuoso recebeu na nossa premiação da categoria twd, você pode encontrar mais detalhes e saber onde o local da votação está acontecendo clicando no meu perfil! Boa sorte e bom dia!"

VOCÊS ME INDICARAM PRA PREMIAÇÃO DE MELHOR FANFIC DE TWD? GENTE! VOCÊS SÃO TUDO QUE EU PEDI AO MEU DOG! Sério!

Mesmo que eu não tenha ganhado a premiação, eu não fico triste! Só de ter sido indicada eu já me sinto A fodona! hahahaha Os juízes da competição fizeram algumas críticas construtivas à fanfic que eu super concordo e agradeço, pois vejo isso como uma oportunidade de melhorar.

Enfim, eu fiquei em penúltimo lugar do sexto grupo de fanfics, com 42 votos. E, mesmo não sendo uma suuuuuper colocação, eu já me sinto orgulhosa só de ter participado, e de ter leitores que apreciam minha escrita a ponto de me indicar a um premio! Muito obrigada, galera, não consigo expressar o quão emocionada eu fiquei, e o quão sensacionais vocês são!

Beijos de luz e até o próximo, amores! (coração)

(PLENO ANO DE 2016 E O NYAH! AINDA NÃO RESOLVEU ESSA DESGRAMA)
(vou fazer uma petição no avaaz, vcs vão ver!)
(vou me vingar, nyah!)
(#vaitercoraçãosimsenãotivernoiszoaobarraco)

PS: capítulo em tempestuoso é igual a justiça: TARDA MAS NÃO FALHA, MALUCO!