Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 2
Capítulo 2: Falando de canibalismo


Notas iniciais do capítulo

O Espírito Santo me visitou e mandou as quatro pessoas que acompanham a história mostrarem a cara. Ele disse que é vaidoso e que gosta de se sentir amado, então já sabem, né?
Aliás, voltei pra quinta série: COMENTEM!



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Capítulo anterior: "Chegando ao tal ponto de encontro, assobiei e logo os passos de Rick, Michonne e Carl foram ouvidos."

POV DARYL:

– Meu nome é Stormy, aliás. - somente acenei com a cabeça. - Não vai dizer seu nome?

– Isso não importa muito agora.

– Que seja. Só lembre-se do que você me prometeu. - arqueei as sobrancelhas. - Você não vai me machucar. - falou séria e fiquei como um idiota, olhando para seu rosto, enquanto ela me encarava como se pudesse ler meus pensamentos.

Só então percebi como ela era malditamente bonita. Pequena, feições delicadas e olhos verdes extremamente brilhantes. E ela ainda continuava me olhando.

"Isso está ficando constrangedor", pensei, desviando o olhar de forma desconcertada.

– Daryl, quem é essa? - falou Rick se aproximando, fazendo eu balançar a cabeça para nortear meus pensamentos. Mas, antes que eu pudesse responder, uma Michonne deslumbrada aparece com Carl em seu encalço.

– Thea? - ela chama, indo na direção da mulher que parecia paralisada.

– Mich? - fala em um fio de voz e logo é agarrada pelos braços de Michonne.

– Mich! - fala mais uma vez, como se finalmente entendesse o que estava acontecendo, soltando uma sonora gargalhada e apertando mais Michonne em seus braços.

– Eu pensei que nunca mais iria te ver, garota. - Michonne fala, soltando Stormy, Thea, ou quem quer que seja, de seus braços.

A garota sorriu, olhando para nós em seguida.

– Quem são eles? Onde estão os rapazes? Seu filho? Mich... O que aconteceu aquele dia? Eu voltei para te...

– Dá para você calar a boca um minuto, Thea? - Michonne fala séria, mas ainda com um sorriso, segurando o rosto da mulher em suas mãos.

Como uma mãe carinhosa seguraria o rosto de sua filha. Como Carol segurava o rosto de Sophia.

– Você ainda não aprendeu a parar de falar? Continua parecendo uma pequena multidão tempestuosa!

Stormy olha pra mim com um sorriso malandro, como uma explicação. Desvio o rosto, desconfortável. Mas, tão rápido quanto o sorriso apareceu, ele sumiu, dando lugar a uma carranca séria.

– Nós temos que sair daqui. - falou, arrastando Michonne em direção aos trilhos, de forma rápida. Michonne a segue sem refutar, assentindo para nós, como se dissesse que estava tudo bem. E, ao longe, vozes masculinas podiam ser ouvidas.

(...)

Já anoitecia quando achamos um bom lugar para acampar em meio a floresta. Após nos arrastar por aí como fugitivos, Thea estava sentada no chão, remexendo no fogo com um graveto, tentando manter a fogueira acesa. Carl estava sentado ao seu lado, procurando em nossas bolsas o que comer. Observei o local com uma ronda rápida. Nada parecia se mexer mais que o normal e nenhum barulho estranho era ouvido.

– Certo. Nós só temos duas latas de legumes e uma garrafa grande de água. - Carl diz decepcionado, olhando para a mulher ao seu lado.

– Eu tenho nove barrinhas de cereais, uma lata de sopa e duas garrafas pequenas de água. - suspira frustrada. - Acho que vou dar uma volta, ver se algum animal desavisado quer virar comida. - fala, se levantando.

– Eu vou. - me disponho, ajeitando a besta nas costas.

– Não tem necessidade, Daryl. - Ela sorri, seus olhos verdes brilhando como duas bolas de gude.

Eu precisava sair logo dali, antes que aqueles olhos me engolissem.

– Daryl vai, Thea. - Carl diz, quase desesperado. - Ele é bom nessas coisas de caçar. Não que você não seja, Mich disse que você é muito boa, mas você está sozinha há quanto tempo sem dormir bem? Tente descansar um pouco, sei lá. - diz, se enrolando um pouco com as palavras.

Olho para Rick com as sobrancelhas arqueadas e este me responde com um sorriso debochado.

– Fazer o que? É meu filho. Um cavalheiro! - brinca, após eu e Michonne nos aproximarmos.

– Está mais para garanhão. - Michonne diz, escondendo um riso. - Ele está deslumbrado! Thea tem 24 anos, pelo amor de deus!

– Vamos combinar que o menino tem o dom. - Rick brinca, se referindo ao sorriso encantado que a mulher mandava para Carl. Era um sorriso de "que criança fofinha", mas ele não sabia disso. Me mexi desconfortável por estar de pé ao lado de duas velhas fofoqueiras.

– Alguém tem que explicar para ele que isso não vai dar certo. - Michonne ri. Era raro ver Michonne assim, ainda mais recentemente. Ela sempre fora quieta, calada, muito reclusa, e agora estava quase gargalhando de alegria.

Olhei em volta. Estávamos todos descontraídos. Fazia tempo que não sentíamos isso. Não foi com surpresa que percebi que a presença de Thea ali, inconscientemente, nos deixava esperançosos. Se Michonne pode rever sua amiga depois de tanto tempo, porque nós não poderíamos rever os nossos?

– Deixe ele sonhar. - Rick diz, e depois fica sério, dando fim a futricagem. - Você confia nela, Michonne? - pergunta.

– Eu confiava a vida de meu filho a ela, Rick. - confidencia, de modo sério, quase bravo. - Se ela estivesse lá, com certeza ele ainda estaria vivo.

Rick assente, engolindo em seco. Michonne nunca havia falado do filho, e aquela frase tinha um peso muito grande para Rick, que não tinha mais Little Ass Kicker em seus braços.

– Eu não duvido disso, mas você não a vê faz muito tempo, talvez esse mundo tenha...

– Isso não aconteceu conosco, por que iria acontecer com uma pessoa como Thea? - ela dá um meio sorriso ao mencionar o nome da mulher. - Ela é uma boa pessoa. Eu não colocaria a vida de Carl em risco, vocês sabem disso. - diz, dando um ponto final em nossa conversa, indo se sentar.

– O que você acha dela? - Rick me pergunta, olhando para a mulher pelo canto dos olhos.

– Não me parece perigosa, se é isso que quer saber. - Dou de ombros, sorrindo de forma debochada. - Você realmente desconfia tanto dela assim?

– Não, na verdade não. Só quero ter certeza de que ninguém se opõe a ela e ao que ela representa.

– Michonne confia nela. Michonne não é do tipo que confia. Vamos levar isso em conta.

– Você está falando como eu. - Rick ri. O clima era leve novamente. - Mas você está certo, vamos levar isso em conta. Michonne está feliz em revê-la, não vamos estragar isso por desconfiança. Talvez devêssemos manter um pouco do cuidado, não abrir totalmente a guarda até termos total certeza de quem ela é, com quem ela está, enfim...

– Vamos conversar com essa garota. Thea, Stormy, seja lá o nome dela. Vamos fazer algumas perguntas, sobre ela, sobre Terminus... O de sempre. Só para termos certeza.

– Certo. - Rick assente. - Quando você voltar, começamos.

Dou de ombros, indo em direção à floresta.

(...)

Depois de meia hora floresta a dentro, um esquilo raquítico era tudo o que eu tinha conseguido. Ele não iria alimentar cinco pessoas, mas daria para o gasto. Era isso ou sopa estragada.

Voltei ao acampamento meio frustrado, levando a caça amarrada pelas orelhas em um cordão. Alguém tinha cercado o acampamento com latas e arame envolta de uma árvore. Rick, Carl, Michonne e Thea estavam sentados em frente a fogueira, conversando animadamente. O clima era leve e todos pareciam relaxados. Não foi com surpresa que senti toda a frustração se dissipar ao ouvir uma gargalhada baixa de Thea. Ela era mesmo tempestuosa. Exalava vivacidade, energia, esperança. Era como uma multidão. Balancei a cabeça, afastando meus pensamentos e pigarreei.

– Meu deus! - Thea levanta animada, indo em direção ao esquilo magrelo que jazia amarrado no cordão, assustando um pouco o resto do grupo, que colocou as mãos em suas armas, prestes a se defender do que quer que seja.

– Ainda existem animais nessa floresta! Juro pra vocês que eu achava que tinha comido todos! Há três dias atrás cacei dois esquilos e depois: Nada! Cheguei a cogitar a ideia de ter comido os dois únicos esquilos que tinham sobrado no apocalipse, ai pensei: Nossa, Thea, você é tão idiota! Matou os dois últimos seres comestíveis no mundo e os comeu de forma tão rápida. Você deveria ter aproveitado mais. Se bem que a definição de "comestível" é muuuuuuito discutível nesse mundo de hoje em dia. Grama é comestível, papel é comestível, mato é comestível. Se bem que mato e grama são a mesma coisa, enfim. Gente também é...

– Thea, cala a boca. - Carl a interrompe, de olhos arregalados e com um sorriso pendendo em seus lábios.

– Desculpa. - Responde corada, dando um sorriso constrangido. - Às vezes deixo as pessoas tontas.

– Percebemos. - Rick diz, com uma cara cômica. Thea dá uma risadinha, pulando em minha direção.

– Eu limpo esse troço. - fala, arrancando o esquilo do cordão e tirando uma faca do coldre.

POV THEA:

Certo, eles deviam me achar muito estranha agora. Michonne já sabia disso. Carl também, já que Mich havia me difamado no apocalipse para uma criança de 14 anos. Rick não era problema, ele também era meio estranho. Um estranho legal. O problema era o caçador gostosão, que agora me olhava como se eu fosse uma aberração. Uma linda aberração do apocalipse.

Olhei para Mich enquanto tirava a cabecinha do pequeno esquilo fora. Foi sorte eu tê-la encontrado depois de anos dessa merda de apocalipse, mas foi mais sorte ainda eu tê-la encontrado enquanto fazia meu trabalho de super heroína de humanos desavisados.

Suspirei aliviada em ter desistido de voltar para o barracão. Não queria nem pensar o que teria acontecido ao grupo de Mich se eles tivessem entrado lá. Eu nunca me perdoaria.

Limpei minhas mãos na calça, terminando de arrancar as partes não comestíveis do esquilo. No final, não havia sobrado quase nada do bichinho além dos ossos, mas aquilo era, definitivamente, melhor do que apenas sopa estragada. Enterrei as vísceras, a cabeça e a pele deste na terra, antes de levantar e ir em direção à fogueira.

– Dois minutos e meio, Mich. - Falo, empalando o esquilo em um graveto e colocando-o na fogueira. - Acho que bati meu próprio record. Eu andei treinando.

– Você não tem mais o que fazer? - pergunta, debochando da minha cara deslumbrada, enquanto eu olhava as chamas baixas da fogueira assarem o esquilo delicadamente.

– Pra falar a verdade, tenho não. - me sento ao lado de Daryl.

Se um dia me perguntarem, eu morro antes de admitir que foi proposital.

– Esse negócio de salvar as pessoas de Terminus é meio entendiante, sabe? É raro alguém tentar entrar pelos fundos e, quando tentam, às vezes eu não consigo impedi-los...

– Como assim? - Rick pergunta.

– Ah, você sabe... Eu tento impedir que eles entrem lá, igual eu fiz com vocês hoje. A diferença é que normalmente não tem Michonne, então as pessoas não confiam muito em mim. - dou de ombros.

– Não é isso. Como assim "salvar as pessoas de Terminus"? - Daryl fala, como se eu fosse uma idiota.

– Terminus não é o que vocês pensam. Não é a fortaleza segura que eles anunciam em placas pelos trilhos da Georgia. O mundo acabou, gente. Ajudar uns aos outros, muitas vezes significa morrer. As pessoas de Terminus... Elas... Esse mundo as mudou.

– O que aconteceu depois que o acampamento caiu, Thea? Você tinha saído uma semana antes e não estava lá, o que aconteceu? - Michonne pergunta, com o cenho franzido.

– Eu encontrei meus primos, Mich. - um sorriso amargo dança em meus lábios - Saí uma semana antes em uma busca com o Red e, como você estava treinando no rio, pedi pro Mike te avisar.

– Mike vivia bêbado e drogado demais até para cuidar do próprio filho, quem dirá para me avisar sobre algo. - ela cuspiu, como se o nome do ex noivo lhe causasse náuseas.

– Eu devia ter avisado para mais alguém, mas eles iam tentar me impedir de ir com Red a onde quer que fosse. Eles tinham medo dele. - ela assentiu, talvez se lembrando de todos os problemas e confusões em que Red se metia. - E, para não criar problemas, eu só fui. - dei de ombros, dando uma pequena pausa e continuando. Não era um assunto fácil para mim, muito menos para Mich.

– Fiquei dias seguindo pistas segundo a última comunicação de rádio que tive com minha família e, por fim, os encontrei em uma casa. Estavam todos lá, até minha tia. Dois dias depois, voltamos para o acampamento e não havia mais nada lá além daqueles carniceiros. Eu te procurei como o diabo. Te rastreei por dias e só o que encontrei foi uma cruz de graveto e o ursinho de Andre. - abaixei os olhos, lembrando de como foi chocante constatar que a criança que amei como um sobrinho estava enterrada embaixo daquele monte de terra e mato seco, como se fosse só mais um corpo no meio do apocalipse.

– Depois disso eu te rastreei por mais uns dias, mas perdi seu rastro por conta de uma tempestade. Juntei minha família e algumas pessoas que encontrei no caminho e nós viajamos por duas semanas até encontrar uma casa. Ficamos lá até o fim do inverno e logo tivemos que nos mudar. Tivemos muitas perdas pelo caminho. Por fim, fomos todos para Terminus.

– Onde está Red? - Michonne perguntou.

Suspirei, procurando um modo menos doloroso de responder a sua pergunta. Não encontrei. Apenas abaixei a cabeça, balançando-a em sinal de negação. Ela ficou em silêncio, sem saber o que dizer.

A morte de Red não parecia algo que um dia iria acontecer, mas aconteceu. Ninguém era imortal.

– E sua família? - Rick perguntou, tentando soar delicado. Engoli seco, tentando evitar as lágrimas que sempre vinham quando em pensava em Jared.

– Rick... - Michonne advertiu, como se falasse "Assunto delicado. Por que você não cala a porra da boca?"

Por um momento me animei, Michonne havia encontrado boas pessoas, formado uma família. Estava segura com eles.

– Em Terminus.

– Por que você não está em Terminus com eles? - Daryl perguntou.

– Você é um hipopótamo de tão sutil, Daryl. - resmunguei, tentando procurar um jeito de explicar tudo sem que eles me achassem louca. Mas que se dane. Os mortos voltaram a vida, e todos nós éramos loucos desde então.

– Acho que vocês não estão entendendo. - Suspirei. - Terminus não é um bom lugar. Quem vai para Terminus não é salvo, quem vai para Terminus é abatido. Como gado num abatedouro. Estou falando de pessoas comendo pessoas. No sentido literal da palavra comer.

– Você está falando em canibalismo, Thea? - Rick pergunta, colocando a mão em meu ombro, como se eu fosse insana.

– Sim. É exatamente disso que eu estou falando, Rick. Eu estou falando de pessoas presas em containers sendo alimentadas com leite em pó para que engordem. Estou falando de pessoas definhando, vivendo meses em meio a sua própria sujeira e que, depois de certo tempo, são levadas a um lugar, onde são mortas e servidas como refeição para um bando de lunáticos.

Eles pareciam não acreditar. Era sempre assim. Sempre me olhavam incrédulos, riam da minha cara, viravam-se e entravam em Terminus.

Suspirei, tirando o esquilo do fogo, juntamente de uma panela de sopa com legumes que Carl havia colocado ali sutilmente.

– Você sabe que essa história parece um tanto fantasiosa, não sabe? - Michonne perguntou, como se duvidasse da minha sanidade.

Certo, eu tinha sido fatalmente magoada.

– Nós acordamos todos os dias e a primeira coisa que vemos são um bando de mortos andando por aí tentando nos comer. Isso também era fantasioso, e aconteceu.

– Nós concordamos com você sobre isso. - Rick falou com a voz calma, como um pai acalmando um filho teimoso. - Sua família está em Terminus, o que eles fazem lá?

– Comem as pessoas.

Carl solta uma risadinha, recebendo um olhar reprovador do pai.

– Vou tentar explicar toda essa doideira de um modo rápido, se irão acreditar ou não, o problema é de vocês. - falei, odiando o fato de ter que me explicar e não ser acreditada. - No começo, quando fomos todos para Terminus, queríamos mesmo montar um acampamento destinado a salvar pessoas. Era uma ideia ilusória, mas no começo todos tínhamos a ilusão de que isso era o certo. Nós colocamos placas por tudo quanto é lado e juntamos um contingente até grande de moradores. Com o tempo, vieram as hordas e fomos perdendo pessoas, mas nós continuamos. Queríamos continuar ajudando, mas nos esquecemos que nem todos eram bons e que já tinha passado tempo suficiente para que as pessoas tivessem sido corroídas por todas as merdas que o apocalipse trouxe. Não tínhamos conseguido nem nos reestruturar direito quando um grupo de vinte homens bateu na nossa porta com um tanque de guerra, querendo roubar o acampamento. Nós lutamos, resistimos. Tínhamos poucas armas, mas conseguimos nos defender. Nossa pior idiotice foi não fugir. O nosso ego foi maior que nosso senso de preservação. Quando não havia mais munição nem pessoas para lutar, que resolvemos ir. Já era tarde demais. Poucos conseguiram. Eu e Red, por exemplo, mas os outros ficaram. - suspirei tentando tirar as imagens da minha cabeça.

– Os homens tomaram o acampamento e trancaram todos de Terminus nos containers, e por meses abusaram das mulheres enquanto forçavam os homens a assistirem. Minha família estava lá dentro. Minha tia, minha prima... Os que fugiram eram poucos, mas ninguém queria abandonar suas famílias. Depois de um tempo, nos organizamos em busca de munição. Encontramos uma base militar e algumas poucas pessoas dispostas a ajudar. Conseguimos armas e montamos um plano. Nós atacamos de forma covarde, no meio da noite, quando o grupo estava desfalcado e tomamos de volta o que era nosso. Os homens que se renderam foram trancados em um container. Nós conseguimos o acampamento, mas não éramos mais o mesmo grupo. Estávamos com fome, sede e cansados demais para conseguir algo. Foi quando quatro mulheres se suicidaram juntas dentro de um container, entre elas, minha prima. Gareth, meu primo mais velho, pirou de vez e levou todos com ele... Ele pôs na cabeça dos mais fragilizados que a forma mais razoável de passar por isso era jogando o mesmo jogo que 99% da população mundial joga. Eles mataram os homens nos containers, e se alimentaram deles por dias. Os que eram contrários, foram expulsos. Eu tentei de tudo quanto é jeito botar um pouco de juízo na cabeça daquele idiota do Gareth, mas tudo que recebi foi um "Saia da porra da minha frente antes que eu meta uma bala na sua cabeça, Thea. Estamos bem e vamos passar por isso sem que os nossos morram de vez e você não pode nos impedir de fazer o que é certo".

– Você foi expulsa de lá. - Rick afirma, um pouco desconfiado.

– Sim, senhor.

– Sem querer ofender, Thea. - Michonne começou, com aquele olhar que eu sempre recebia toda vez que resolvia fazer alguma sandice. - Você sabe que eu confio em você com minha vida, e eu acredito no que você diz, mas...

– Mas prefere ver com seus próprios olhos se é isso mesmo. - falo, me levantando irritada. - Isso não é confiança, Mich. Eu não mentiria para você e também não estou louca! Olhe, acreditem no que acharem melhor. Se quiserem pegar suas coisas e irem para lá, os portões estão abertos. - Fiz uma mesura. - Eles nunca fecham.

Eles se entreolharam, tentado chegar em um consenso.

– Se vocês resolverem ficar, amanhã cedo vou voltar para o barracão. Se quiserem ir comigo... Tenho comida e água de sobra lá. E um pequeno grupo: três pessoas e meia. - falei, sem olhar para eles, pegando minha mochila e escalando a árvore em que Rick estava escorado.

– O que você vai fazer ai em cima? - Michonne perguntou, franzindo o cenho.

– Dormir. - Eles me olharam sem entender. - Mordedores não escalam e humanos não olham para cima enquanto andam. Normalmente, não tenho ninguém para vigiar enquanto eu durmo. Boa noite.


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Notas finais do capítulo

Acabou. Fim. Vou lá comer meu quiche.
Fiz um quiche com uma cara mt boa mesmo, gente.
Acho que deixei queimar um pouco, mas não dá pra ser linda, maravilhosa, ter uma mente brilhante e saber fazer quiches de forma impecável, não é mesmo? Tenho que ter algum defeito!
Beijos de luz.