Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 12
Capítulo 12: Tempestuosa


Notas iniciais do capítulo

Gareth ainda não é agora. Eu tinha falado no capítulo anterior que ele iria aparecer neste, mas o capítulo acabou ficando grande demais e eu o dividi em dois!



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Capítulo anterior: "Olho para ela, tentado entender seu tom. Thea precisava logo se livrar de Gareth e o que o primo significava, ou aquela centelha de esperança que ela trazia, toda vez que abria a boca para falar alguma merda, se apagaria aos poucos."

POV THEA:

Rick aparece em nossa frente, o rosto cansado, uma expressão de derrota.

– Ele se foi. - diz, deixando o corpo cair ao lado de Daryl. - Ty fez o que era preciso. Sasha não conseguiu. Glenn, Tyreese e Abraham vão enterrá-lo. Rosita, Carol e Maggie ficarão de guarda.

– Vou ajudá-las. - levanto, pensando em deixá-los a sós para conversarem.

– Temos que conversar. - Rick fala com o tom sério, mas não reprovador.

Ele suspira, cansado demais para continuar. Concordo com a cabeça, me sentando novamente, só que agora em frente aos dois, como um grupo de crianças no recreio.

Rick fecha os olhos, encostando a cabeça na parede. O peso de uma noite mal dormida e de uma liderança cheia de perdas em seus ombros.

– Eu não sei se posso te pedir esse tipo de coisa. - ele balança a cabeça, como se fosse me propor algo absurdo demais para concordar. - Antes de tudo ele é seu primo, e eu vou entender se tomar alguma decisão que visa protegê-lo, mas nós precisamos nos defender. Você sabe do que ele é capaz, sabe que ele não pensaria duas vezes antes de nos ferir...

Fecho os olhos, não querendo ouvir mais nada. Eu sabia do que Gareth era capaz, eu tinha visto com meus olhos. Sua crueldade se arrastando para mim em forma de um errante de dois metros. Aquela foi a coisa mais cruel que ele poderia me fazer.

– Eu não quero te pressionar, mas você tem que escolher um lado...

– Eu já escolhi um lado.

Fito os olhos de Rick e Daryl, meu olhar firme, assim como minha voz, para que não haja duvidas.

– Eu escolhi um lado quando Gareth e as pessoas que eu consideravam minha família tomaram a decisão de agir como animais; escolhi um lado quando impedi que vocês entrassem em Terminus; escolhi um lado quando reencontrei Mich; escolhi um lado quando os ajudei a terminar de destruir o Santuário que eu quase morri para construir; eu escolhi um lado quando vi minha única família me apontando uma arma. Eu escolhi um lado quando tive que enfiar uma machete de meio quilo na cabeça do que antes era Jared. Eu já escolhi o meu lado, Rick. Cabe a vocês escolherem o meu lado, ou o lado do ódio que está corroendo vocês por dentro.

Rick fica em silêncio, o olhar meio perturbado, como se me analisasse, como se por um momento eu não fosse mais confiável, como se eu fosse a ameaça.

– Isso não é um jogo. - Daryl se faz presente, a voz firme e repreensiva, como se eu fosse uma menina mimada, prestes a fazer birra por conta de minhas vontades.

– Não é um jogo? - rio de forma irônica - É só o que é, Daryl. Um jogo sujo e de humor negro, e Gareth sabe jogar muito bem. Todas essas mortes, todos essas atitude para nos chocar... Bob mutilado, Red como um walker, o medo eminente de um ataque a qualquer momento. Ele quer nos fragilizar, ele está brincando com toda essa merda que a gente está sentindo, como se nós fossemos meros peões.

– O que você quer, Thea? Qual o seu lado? - Rick pergunta, a expressão de um cara cansado de ver sua família morrer. Alguém que faria de tudo para manter aqueles que estão sob sua responsabilidade a salvo.

– Eu quero Gareth. Eu quero terminar com essa história de uma vez. Eu quero exatamente o que vocês querem: vingança. Mas, eu tenho que terminar isso com minhas próprias mãos, se não eu nunca vou conseguir deixar Terminus e todo esse peso para trás, Rick. Eu sei que estou pedindo para vocês abrirem mão de sua vingança, do ódio que vocês estão sentindo, mas eu acho que eu tenho o direito de fazê-lo. Gareth é meu. Esse é meu lado.

– Isso não está em discussão, Thea. Michonne já nos esclareceu. Você tem o direito, você se sente responsável e nós sabemos que você precisa fazê-lo. Quando a hora chegar, Gareth será seu e você pode terminar o que acha que começou.

Balanço a cabeça em agradecimento, meus olhos marejados, como se um peso estivesse saindo aos poucos dos meus ombros. Era bom encontrar pessoas que entendiam.

– Eu estou do lado de vocês, do lado de Michonne, nunca duvidem disso. Obrigada por me darem o direito à vingança.

– Você é parte do grupo agora, Thea. Sua vingança é a nossa.

Sorrio de forma suave, vendo os olhos de Daryl me fitarem profundamente. Engulo em seco, tentado parar as lágrimas que queriam cair. Eu não iria chorar, pelo menos não até ter Gareth em minhas mãos, não até botar um fim definitivo em Terminus.

– Qual o plano? - pergunto, após um minuto de silêncio para nos recompormos.

– Primeiro temos que traçar um padrão. Quantas pessoas são, como irão atacar, se pretendem nos fragilizar novamente... - Rick fala, olhando para Daryl de vez ou outra, como se buscasse por aprovação.

Eles tinham uma relação bonita de se ver. Eram como irmãos, mas era maior que isso.

Ser irmão é questão de sangue, genética e isso não era nada no mundo de hoje. Daryl e Rick eram irmãos de apocalipse, e isso sim era algo maior. Eram unidos não pela conveniência, nem pela obrigação, muito menos pelo sangue. Eram unidos por perdas, pela dor, pelo objetivo de permanecerem vivos e manterem as pessoas amadas à salvo.

Um apoiava e mantinha o outro em pé. Rick não conseguiria lidar com toda a responsabilidade sem Daryl, e o Dixon não conseguiria assumir a posição do Xerife. Eu confiaria minha vida aos dois sem pestanejar.

– Consegui distinguir três pares de pegadas onde deixaram Bob. Se estão acampados aqui por perto, devem estar num grupo pequeno, menor que o nosso, ou já teriam atacado. - Daryl diz.

– Mas, estão jogando conosco, estão tentando nos deixar fracos demais para lutar. Estão em desvantagem. - continuo.

– Então eles não vão atacar até se sentirem em vantagem. - Rick fala, pensativo.

– Eles vão esperar o grupo estar desfalcado. É o que eu faria, foi o que a gente fez quando fomos invadidos em Terminus. - digo, com a voz pesada.

Era tão irônico, tão paradoxal, o fato de eu o conhecer tão bem, saber cada um dos seus passos, exatamente como ele agiria. Era como receber um tapa na cara do universo seguido por uma cartinha dizendo que, por mais que eu dissesse o contrário, eu e Gareth não éramos assim tão diferentes.

– Então temos que fazê-lo pensar que estamos saindo, deixando o grupo desfalcado. Eles irão atacar, e então aparecemos. - Rick diz. - Vou conversar com os outros, ver o que conseguimos. Ver se Abraham e seu grupo ficarão para lutar conosco, precisaremos de pessoas.

Ele se levanta, a disposição voltando a seu rosto antes abatido. Nesse mundo o luto tinha que ser rápido, a dor tinha que ser passageira, ou não conseguiriamos lutar, nos manter em pé para ir atrás das migalhas restantes de humanidade.

– Não confio no Padre Gabriel. - Daryl diz para Rick, antes deste se afastar, como um aviso para manter o pároco fora do plano.

– Eu também não confio. - o Xerife sorri de forma cautelosa e se afasta em direção a saída da igreja, onde Tyreese estava cavando uma cova rasa para enterrar o que sobrou de Bob.

– Eu também não confio nesse tal de Padre Gabriel. - falo, chamando a atenção de Daryl, que ainda estava sentando em minha frente. - Não confio muito na palavra dos chamados homens de Deus. Eles não me parecem dignos de confiança, entende? Parecem sempre prontos para julgar, para apontar o dedo na sua cara e, para isso, usam como justificativa a palavra do Senhor.

Daryl continua em silêncio, com aquela carranca séria e impaciente que ele tinha. Dou de ombros, sem me abalar.

– Sem falar que a maioria deles são tudo uns cagões. Padre Gabriel é o segundo homem de Deus que eu conheço nessa merda apocalipse, e ele não me ajudou muito a melhorar a minha opinião sobre os Padres, se quer saber.

– Não sei se quero.

– Claro que quer, Daryl, você sempre quer. - reviro os olhos teatralmente, continuando meu relato. - Quando eu ainda estava acampada com Michonne, em nosso terceiro acampamento, tinha um Pastor que vivia com a gente. Ele sempre fazia umas rodinhas de reza e essas coisas, sempre atraia fieis. O fim do mundo é um bom negócio para os homens de Deus, eles sempre conseguem um bom rebanho... Eu nunca fui uma pessoa de Deus, então ficava de lado. Enfim, como sempre, nós fomos atacados por uma horda. - reviro os olhos, pensando em como os errantes eram previsíveis. - Quando você pensa num religioso, a primeira coisa que vem em mente é um cara que daria sua vida pelo próximo, cheio de amor para dar, mas esse Pastor não era desses. A primeira coisa que ele fez quando viu que não ia conseguir escapar, foi jogar uma fiel que corria a seu lado na boca dos walkers, como uma isca, para que ele pudesse fugir. Não funcionou. Moral da história: não é muito fácil correr de roupa social.

Daryl solta uma risada impaciente, balançando a cabeça, como se não acreditasse em minhas palavras. Dou de ombros novamente, sem muito me importar com o que ele acreditava.

– Você só pode ser maluca. - fala, se levantando.

Ergo as sobrancelhas, falsamente ofendida com tamanho absurdo.

– Uma hora está toda irritada, querendo se vingar de Deus e o mundo, e depois toda animada, uma bonequinha de dar corda que só fala merda.

Levanto, pensando seriamente em peitá-lo. Daryl estava ficando muito do folgado.

– Tem assuntos em que eu preciso ficar toda irritada, Daryl. Assuntos que eu não consigo simplesmente ignorar e sorrir como se eu não me sentisse atingida. Nesse mundo, a gente precisa lidar com algumas coisas, com algumas pessoas, com as nossas próprias mãos. Precisamos nos sujar de sangue para podermos continuar fortes.

– Você mesma me disse que não gosta de ver pessoas morrendo como se não fossem nada.

– Gareth merece, Daryl. Você sabe disso. Você sabe que eu tenho que matá-lo para dar um fim em tudo isso. Para esquecer Terminus, para esquecer a merda da dor que é ter sua família como seu principal inimigo. Ele não vai parar até estar morto. E eu vou matá-lo. Você gostaria de fazer o mesmo se estivesse em meu lugar, se ao contrário de Gareth, o monstro fosse Merle.

Ele me olha, o cenho franzido e os olhos injetados de raiva, a boca fechada em uma linha fina, como se isso o impedisse de despejar um monte de xingamentos sobre mim.

Merle era assunto proibido.

– O que você vai fazer com todo esse ódio quando Gareth tiver estirado a seus pés, Thea? Você realmente acha que todo esse peso vai deixar seus ombros quando meter uma bala na cabeça dele? - fala, como se estivesse cuspindo verdades em minha cara. - Ele é sua única família, o que vai ser de você quando perceber que foi a responsável pelo cadáver do seu primo?

– Eu pensei que, de todos, você seria o único que me entenderia, Daryl, mas você não entende. - sibilo, sentindo suas palavras me machucarem mais do que deveriam.

– Sim, eu entendo. Eu já carreguei essa cruz. Já estive entre meu sangue e minha família.

– Quem você escolheu?

– Isso não importa. O que importa é se você tem peito para carregar em suas costas o peso da morte de alguém que você ama.

– Eu não amo...

– Ele é seu sangue! - explode, chamando a atenção das pessoas para nós.

Recuo um passo, assustada com sua explosão. Ele se acalma, dando um passo em minha direção e depois voltando para onde estava, parecendo confuso. Sua expressão se suaviza, e ele parece arrependido.

– Eu só tenho medo de não ver mais esse olho verde brilhando esperançoso depois que você puxar o gatilho. Não são muitos que ainda tem esperança, Thea. Não quero perca isso. - ele diz, se virando e andando em direção a saída da igreja.

Sinto um bolo na garganta vendo-o me dar as costas, a sensação de que o decepcionei trazendo a tona sentimentos que eu nunca havia sentido antes. Meus olhos marejam, enquanto uma Michonne passa por mim irada, indo na direção em que Daryl fora. Penso em segui-la, mas Beth e Judy me interrompem.

Judy pula para meu colo, o sorriso de dois dentes parece se alargar ao me ver. As mãos vão para minhas bochechas, apertando-as como se fossem massinha.

– Você acha que eu tenho bochechões? Acho que sim, deve ser por isso que ela gosta tanto de me apertar. - pergunto para Beth, tentando disfarçar meu abalo pela conversa com Daryl.

Ela sorri docemente, apertando meu ombro com carinho.

– Não, Thea, você não tem bochechões.

POV DARYL:

– O que você acha que está fazendo? - Michonne diz, aparecendo logo atrás de mim, a fúria em seus olhos me fazendo franzir o cenho.

– Com todo respeito, Mich, eu não te devo satisfações. E também não sei do que você está falando. - falo, me sentindo um menino emburrado que resolve responder para a mãe.

Sim, eu sabia do que ela estava falando. Eu havia perdido a linha com Thea e eu não tinha esse direito, mas o pensamento de que toda aquela raiva um dia tomaria por completo sua tempestuosidade característica me corroía por dentro.

– Você não pode fazer isso, Daryl. - Michonne diz, a expressão preocupada. - Não pode tentar impedir que ela faça o que é certo. Se Thea não der um fim nisso, ela nunca vai tirar esse peso de seus ombros. Ela vai continuar se culpando por algo que não é culpa dela, por algo que ela não podia impedir. Vai continuar agindo como se tivesse que compensar as pessoas, como se ela fosse responsável por todas essas merdas.

– E você acha que matar Gareth vai fazer com que ela se sinta menos culpada?

Michonne fica em silêncio. Suspira pesadamente, a expressão triste.

– Eu não sei. Definitivamente não sei. Talvez ela se sinta pior, mas pode ser que puxar o gatilho tire um peso de seus ombros. Ela acha que é o certo, Daryl. Thea sabe o que faz, sabe até onde pode chegar. Ela parece explosiva demais, impetuosa demais, mas não é inconsequente.

Tempestuosa. - digo simplesmente, sem conseguir manter a língua na boca.

Michonne sorri, cúmplice de algo que eu ainda não entendia.

– Toda essa raiva que ela guarda é por causa dele, Daryl. Ela foi até o inferno atrás de Gareth, Mary, Amber e Alex, e no final das contas, todo o esforço dela acarretou em todas as perdas e mortes que ocorreram em Terminus. Ela começou Terminus, ela tem que terminar. Gareth é a única ponta solta.

– Thea é adulta, ela sabe o que faz. - digo, um pouco envergonhado, passando as mãos pelos cabelos de modo nervoso.

Michonne ri, aquele sorriso cúmplice ainda em seu rosto.

– Obrigada por se preocupar com ela, Daryl.

Aceno para Mich com um movimento de cabeça, dando de ombros.

Caminho em direção a Rick, ainda sem entender em que ponto de minha conversa com Thea eu havia mudado de ideia em relação a sua vingança para com Gareth.

Minha mente me recrimina por ser um intrometido. Eu não tinha nada a ver com aquilo tudo. Thea podia fazer o que bem entendia e eu duvidava muito de que isso me afetaria de alguma forma.

Balanço a cabeça, norteando meus pensamentos. As resoluções teriam que ficar para depois, pois eu tinha o plano perfeito para acabar com tudo aquilo de uma vez.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo tem Gareth, Thea e o acerto de contas. E ele só vem quando eu receber review. :)

Beijos de luzzz



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