Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 11
Capítulo 11: Continuar a ter esperança




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Capítulo anterior: "Red morreu honrado. Morreu lutando por mim, não foi em vão, estou segura. Não foi minha culpa, não foi culpa dele. Foi Gareth. E eu vou me vingar."

POV THEA:

Abro os olhos, um pouco mais leve.

Olho com carinho para machete de Red em minha perna. Era pesada demais para carregá-la assim, teria que arranjar um jeito de colocá-la nas costas, mas isso ficaria para depois, no momento eu tinha que pensar em um jeito de encontrar Gareth, fazê-lo pagar.

O soco inglês pesa em meu bolso, tiro-o de lá com um sorriso. Era frio, pesado. Como Jared.

O objeto de metal escapa por entre meus dedos, caindo na grama com um baque inaudível, brilhando no gramado escuro. Abaixo para pegá-lo, após uma boa olhada a minha volta.

Agora, mais do que nunca, tínhamos que nos manter em alerta. Se Gareth e os moradores de Terminus sobreviveram ao ataque, eles iriam se vingar, e eu tinha que estar pronta para acabar com o que tinha começado.

Ouço um barulho baixo, como um ganido. Meus olhos seguem em direção ao som, meus pés se movendo sozinhos, quase sem permissão.

"Entre e peça por ajuda.", minha mente gritava, mas meus pés não pareciam ouvir.

Piso em algo escorregadio, molhado. Levanto o pé ainda atenta, e não me surpreendo ao notar o sangue na sola de minhas botas. Não era sangue podre, preto e coagulado de errante. Era vermelho, recente. Sangue humano.

Apresso o passo, ouvindo minha mente gritar ainda mais alto para eu voltar para igreja, pedir por ajuda.

– O que você está fazendo, sua louca? - Daryl se faz presente atrás de mim, a voz num sussurro irritado, como se eu estivesse aprontando algo.

Ele olha para minha expressão assustada, abre a boca para falar algo com seu tom ríspido, mas um outro ganido baixo o faz entrar posição de ataque.

Suas mãos vão firmemente para o meu braço, me colocando atrás de seu corpo forte.

– Fiquei quieta e se mantenha atrás de mim. - sussurra firme, ajeitando a besta nos braços.

Eu não retruco, apesar do ímpeto de fazê-lo me atingir em cheio. Guardo o soco inglês em meu bolso, firmando uma faca de arremesso em meus dedos.

Daryl anda a passos lentos e decididos em direção ao som, que parece ficar cada vez mais agoniado. Parecia um animal enjaulado, mas era humano, sem sombra de dúvidas.

– Daryl. - falo, receosa, pegando em seu braço, como para fazê-lo parar.

Ele me olha impaciente, pronto para me mandar calar a boca, mas sou mais rápida.

– Pode ser Gareth. Pode ser uma armadilha, acho melhor chamar os outros. - ele concorda, passando as mãos pelos cabelos de forma agoniada, talvez pensando em algo.

– Eu vou em frente, corra de volta para igreja e chame Rick. Deixe-os alerta.

– Vai sozinho? Não!

– Thea. - diz somente, firme, sem deixar espaço para que eu retrucasse.

Novamente engulo o ímpeto de mandá-lo para o inferno e fazer o que bem entendesse. Eu não estava mais sozinha, tinha que pensar nos outros e deixar meu orgulho de lado.

Dou uma última olhada para Daryl, que assente, a expressão firme e os olhos azuis frios, deixando claro que eu não devia me preocupar com ele.

Corro até a igreja, abrindo a porta num rompante. Carol se levanta, apontando seu revolver para minha cabeça.

"Por que diabos ela sempre faz isso?", minha mente grita. Não havia tempo para discutir sobre.

– Thea? O que foi? - pergunta, a expressão preocupada. Ela vai até a porta da igreja, olhando em volta.

– Rick? - balanço o homem, que dormia com Judith entre ele e Carl.

– O que aconteceu? - ele desperta num rompante, levantando e acordando Mich a seu lado.

Resolvo ignorar isso, é assunto para outra hora.

– Eu e Daryl encontramos alguma coisa lá fora. Achamos que tem a ver com os moradores de Terminus. - digo, olhando para Michonne de modo cúmplice.

Gareth era meu, ela sabia.

Rick corre para fora, sendo seguido por mim e Mich. Carol acordava Maggie e Glenn para ajudarem-na com a segurança.

Sasha desperta com a movimentação, sonolenta ela olha para o chão vazio a seu lado. Seu olhar se volta para nós, saindo da igreja às pressas. Sua expressão se torna angustiada. Volto o olhar para frente, sem conseguir encará-la, compreendendo sua angústia.

Bob havia saído mais cedo, ela já estava dormindo. Ele não voltou.

Engulo em seco, dando uma última olhada para a mulher, que agora se debatia nos braços do irmão, chamando pelo companheiro.

Tomo a dianteira, ainda meio anestesiada, mostrando o caminho para Rick e Mich. O sangue no chão chama a atenção deles, que se entreolham preocupados. Era sangue humano, eles sabiam disso.

– Bob saiu e não voltou. - digo, continuando a correr.

– Nós devíamos ter feito turnos. - Rick diz, se martirizando.

Daryl aparece em nossa frente, contornando a igreja. Ele carregava um Bob ensanguentado e molhado de tanto suor, mas a coisa mais chocante ainda estava por vir: uma atadura empapada de sangue pendia mal feita no que antes era sua perna.

Rick salta na direção deles, ajudando Daryl a carregar o homem, que parecia desmaiado.

– Bob? - Sasha chama, já na porta da igreja. Os olhos marejados e a voz esganiçada.

Bob sorri, ainda de olhos fechados, como se a voz da mulher fosse a melhor coisa que ele poderia ouvir.

– Pensei que nunca mais ia ouvir sua voz. - a frase sai num fio, com dificuldade. Sasha chora mais, indo na direção do homem que ainda sorria.

A única coisa que consigo sentir é raiva.

POV DARYL:

– Eu só fui lá fora, precisava de ar. Ainda é difícil para mim ignorar a bebida. - Bob fala, num fio de voz.

Para um pouco para tomar a água que Sasha lhe oferecia. Ele bebe tudo rapidamente, fazendo careta por conta da dor.

– Resolvi entrar na floresta, me afastar um pouco. Eu estava meio grogue, não percebi quando um errante se aproximou. - ele olha para Sasha, que chorava, segurando firme sua mão. - Ele me mordeu. - continua, puxando a camiseta para baixo, deixando a mostra a mordida em seu ombro.

Sasha se afasta um pouco, por conta do choque. Engole o choro, talvez percebendo que era o fim da linha para Bob e que ela precisava se manter forte por ele.

– Eu estava voltando para igreja, iria me explicar, dizer adeus, mas eles me interceptaram. - os olhos fecham de dor, o rosto assumindo uma feição raivosa. - Me apagaram e quando acordei... - ele olha para perna, chorando e rindo de maneira aflita.

– Eles ficaram loucos quando souberam que comeram carne contaminada. - ele continua rindo, fazendo Sasha chorar mais um pouco, sem conseguir se controlar. - Depois eu acordei aqui. Pensei que estava no céu quando ouvi sua voz. - ele fala para a mulher chorando a seu lado. - Mas, não acho que eu vá pra lá, então percebi que estava vivo, que eu ainda tinha chance de te pedir desculpas, de dizer adeus.

Nos afastamos, deixando-os a sós na pequena cama onde o padre Gabriel dormia. Ty acena com a cabeça, dizendo que ficaria com eles.

Me sento em um banco da igreja, vendo a pouca luz do sol nascendo refletindo no vitral colorido, deixando o altar a minha frente de diversas cores. Rick senta ao meu lado, dá um suspiro pesado, cansado.

– Devíamos ter feito a ronda.

– Não ia mudar nada, ele foi para a floresta desarmado, foi pego pelos dois lados. Se não fosse o errante, os carniceiros de Terminus teriam o matado.

Rick assente, a expressão cansada, o peso da liderança e das perdas em suas costas novamente. Dou um tapinha amigável em seu ombro. Era só o que eu poderia fazer.

– Rick. - Michonne aparece, a expressão séria.

Ele olha para ela de forma cansada, mas se mantém atento. Eles pareciam ter construído uma boa relação após o tempo que passaram sozinhos com Carl na estrada.

Me levanto, pensando em dar espaço para os dois conversarem, mas Michonne me interrompe.

– Acho que você também tem que ouvir. - ela fala, séria. - Gareth é da Thea. Todos nós queremos vingança, mas ela tem que fazê-lo. Nós devemos isso a ela.

Rick assente, talvez um pouco relutante. Todos nós queríamos acabar com Gareth com nossas próprias mãos, mas Thea era a única que tinha esse direito.

Michonne olha para ele profundamente antes de nos virar as costas, caminhando em direção a Thea, que estava sentada do outro lado da igreja, sozinha.

Thea observa Michonne sentar a seu lado, fala algo para a mulher, a raiva parece transbordar em suas palavras. Mich balança a cabeça em concordância, parecendo meio preocupada. Continuo olhando, sem conseguir me desviar. Seus olhos verdes me encontram e agora já não brilhavam límpidos. Eram escuros, sérios, cheios algo parecido com mágoa. Algo me atinge, quase como uma perda. Como se a falta daquele brilho esperançoso nos olhos de Thea tirasse a nossa esperança.

"Ela precisa por um fim em tudo isso", minha mente acusa.

Desvio o olhar, vendo Tyreese aparecer com a expressão triste.

– Ele quer se despedir.

(...)

Bob sorri, vendo a Bravinha no colo de Rick.

– Antes da prisão, eu não sabia se ainda havia pessoas boas... - ele para, pensativo, como se falasse de um tempo muito distante. - Você me acolheu, Rick, você ajudou as pessoas. Era você, cara. - Bob sorri, com gratidão. - As mortes não devem acabar com quem você é. Esse mundo não pode acabar com quem nós somos. Mas, isso é apenas a opinião de homem morto... - ele balança a cabeça, tentando se concentrar. Olha para Judy novamente, com um sorriso feliz. - Olhe para ela e me diga que o mundo não vai mudar.

Rick continua em silêncio, sem conseguir fazê-lo.

– Exato. - Bob prossegue. - Temos que continuar a ter esperança.

Continuar a ter esperança. - Rick repete, com um sorriso saudoso, a espécie de mantra.

Bob assente, orgulhoso, fazendo um último carinho em Judy. Sorri para Carl, que acena com um movimento do chapéu e um sorriso triste.

– Obrigado. - ele olha para mim e para Glenn, um sorriso ainda em seu rosto. - Eu devo tudo a vocês. Vocês me deram a chance de ter uma família novamente, de viver. Eu sempre serei grato por essa oportunidade. - ele diz, olhando para Sasha, apertando sua mão com um sorriso nostálgico.

Ela chora, e eu deixo o quarto sem conseguir ver beleza naquela despedida. Perdemos mais um, a vida se resumia a isso.

Continuar a ter esperança. - Thea sussurra ao meu lado, já do lado de fora do quarto.

Os olhos verdes grandes e brilhantes, como duas bolas de gude estavam de volta. Desvio o olhar, ainda com aquela sensação de que se eu encarasse aqueles olhos por muito tempo, eles me engoliriam. Ela da um sorriso triste, me seguindo para o final da igreja.

Thea se senta no chão, olhando para seu lado, como se me convidasse. Faço o mesmo, sem muita opção. Ela sorri novamente, com aquela cara de quem espera que eu diga algo. Continuo em silêncio, sem ter o que dizer.

– Eu sinto muito por Bob. - ela diz, desviando o rosto, parecendo constrangida.

Balanço a cabeça. Eu também sentia, todos nós sentíamos, mas não havia nada a se fazer. As pessoas continuariam morrendo, dia após dia, seja pela mão dos errantes, seja pela mão de pessoas, ou pelos dois, e nós não podíamos fazer nada para impedir.

– Sinto muito pelo seu amigo, pela sua família. - digo, me sentindo completamente errado quando a percepção do que fizemos me atinge.

Havíamos entrado em Terminus e dizimado toda sua família, como se eles fossem apenas sacos de carne.

Foi tudo pela sobrevivência, foi para manter os nossos a salvo, Thea entendia isso, mas mesmo assim, não justificava o fato de não ter havido um pedido de desculpas, nem mesmo um "eu sinto muito" de nossa parte. Quem estávamos nos tornando, afinal de contas?

Seus olhos marejam, e ela me sorri. O sorriso cheio de dentes novamente.

– Jared. Red. - ela diz simplesmente.

Assinto, ainda em silêncio, tentando mostrar solidariedade. Não sabia ao certo com fazê-lo, só sabia que era certo.

– Eu o conhecia desde sempre, não consigo lembrar de como era minha vida antes dele. - ela sorri, como se tentasse lembrar, exemplificando o que falava. - Red era filho de um amigo íntimo de meu pai, eles eram tipo irmãos. Depois que meu pai faleceu e minha mãe meio que pirou, Red foi a única figura que eu tive para me orientar. Ele não tinha uma mãe, então a gente meio que se criou sozinhos. - ela ri suavemente, balançando a cabeça, talvez lembrando-se de algo.

– Quando eu fiz dezesseis e resolvi sair de casa, Red me acolheu. Ele tinha vinte um anos e estava apavorado demais com a ideia para me dizer não, então eu meio que aproveitei, tomando a decisão por ele. Desde então a gente não se desgruda... ou desgrudava. A última vez que eu o vi, ele estava indo para Terminus. Eles tentaram encarcerar um casal com uma criança, e Red simplesmente pirou. Ele era explosivo, violento. Tentei controlá-lo, mas ele não queria saber. Jared tinha tanta raiva de Terminus... Eu vi quando os errantes o cercaram, pensei que ele não tinha escapado, então eu fugi. Fiquei fora, andando por aí sem rumo meses a fio, então encontrei Carol, depois Ty e Judy. E ontem, descobri que simplesmente abandonei Red com Gareth, para ser torturado pela minha localização. - ela dá de ombros de forma irônica.

– Não foi sua culpa. - é só o que consigo dizer.

Ela sorri, como se minha falta de palavras fosse engraçada.

– Eu sei que não. Foi culpa de Gareth.

Olho para ela, tentado entender seu tom. Thea precisava logo se livrar de Gareth e o que o primo significava, ou aquela centelha de esperança que ela trazia, toda vez que abria a boca para falar alguma merda, apagaria aos poucos.


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Notas finais do capítulo

Comentem!

Beijos de luzzzzzz



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