Eleanor & Park escrita por MsNise


Capítulo 1
Capítulo Único




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park

na escola. agora”. Eleanor sempre escrevia em letra minúscula.

Sem se importar em trocar de roupa, Park se levantou e se dirigiu rapidamente à pequena escola que tinha perto da casinha de Eleanor. Naquela mesma escola, onde eles leram juntos Watchmen sem que fosse no ônibus. Naquela mesma escola, onde eles fizeram as pazes depois da briga por causa de Tina.

Eleanor estava na escada.

Ele já sabia que a encontraria, mas vê-la com os mesmos cabelos ruivos cacheados e com as mesmas sardas lhe cobrindo a pele — salpicada de doçura — foi quase insuportável. As memórias lhe invadiram, todas, e tornou-se difícil respirar.

As primeiras lágrimas lhe escorreram pela face.

eleanor

Estar naquela escola tão perto de sua antiga casa foi horrível. Sentia como se Richie pudesse encontrá-la a qualquer instante. Ela tremia, por dentro e por fora, ansiosa para ver Park e deixar aquele lugar.

Porque foi o único motivo que a levara até ali.

Para ir buscá-lo.

E, quando ele apareceu, ela se desintegrou. Como acontecia desde a primeira vez que ele lhe segurara a mão.

Ela queria que ele segurasse sua mão.

park

Quis correr até ela e envolvê-la nos braços, mas estava paralisado.

Seria mesmo a sua Eleanor?

Quando ela falou, era a mesma voz. Suave e trêmula.

Quer ler comigo? — ela perguntou timidamente e só então ele reparou que ela segurava o gibi do Watchmen que eles leram muito tempo antes, naquele mesmo lugar. Tinha sido a primeira vez que leram fora da escola.

Ficou difícil suportar a distância.

Ele cruzou o espaço que os separava e a envolveu nos braços, tirando-a do chão, tirando-a do eixo. Seu rosto afundou nos cabelos dela e ele sentiu que pudesse inundar o mundo com suas lágrimas.

Mas não importava. Eram lágrimas de alegria.

Era a sua Eleanor… Em seus braços.

eleanor

Ela se sentiu inteira quando foi envolvida por aqueles braços. Os mesmos braços. Quentinhos. Ela fechou os olhos e enterrou seu rosto na curva entre o pescoço e o ombro de Park, molhando sua pele com suas lágrimas quentes de saudade.

Gente, como doía ser segurada pela pessoa que amava.

Ela não queria se separar. Nunca mais.

E ficou feliz com a perspectiva de que talvez nunca precisasse.

park

Ele sentou-se na escada com ela ao seu lado, ainda juntos, amparando um ao outro. Pensou que nunca mais fosse ter a oportunidade de segurá-la nos braços.

Era a sua Eleanor. A mesma que tinha ido embora.

Mas ela estava ali, com ele.

Nunca tinha o deixado.

Já cansou de mim? — ela sussurrou, sua cabeça encostada no ombro dele.

Ele segurou em sua mão e a levou até o coração, acariciando-a suavemente. Costumava fazer isso no ônibus, quando iam para a escola juntos, sentados lado a lado, lendo gibis, ouvindo música ou tocando um no outro.

Park procurou pelo seu ouvido no meio de todo aquele emaranhado ruivo e assoprou a palavra.

Impossível.

Realmente, era impossível.

Ele fechou os olhos e entrelaçou seus dedos. A sua pele branca salpicada de doçura o fazia se sentir incrível.

eleanor

Por quê? — ela continuava sussurrando, com medo de que as palavras saíssem do seu controle. Continuava de cabeça baixa também, porque sabia que se levantasse não conseguiria conter a sua vontade e encostaria seus lábios com urgência.

Não queria a urgência.

Queria a hesitação e gentileza de Park.

Porque eu preciso de você — ele balbuciou e ela se sentiu desmontar.

Como pudera aguentar?

Ele sempre a amaria tanto quanto da última vez, quando disseram adeus. Ele sempre a amaria e agora ela sabia disso.

Foi quando percebeu que ainda não tinha dito que o amava.

park

Ele continuou com os olhos fechados, sentindo-a em cada terminação nervosa de seu corpo. Eles estavam tão abraçados um ao outro que mal contavam como dois.

Foi quando lhe surgiu a pergunta.

Por que… — e então hesitou, temendo desmanchar o momento perfeito. Temendo que ele se desfizesse como um papel quando é posto na água. Limpou a garganta. — Por que voltou?

eleanor

Poderia dizer a verdade. Poderia dizer que era para buscá-lo, caso ele ainda estivesse disposto a ir com ela para qualquer lugar que fosse.

Mas, no fundo de seu coração, sabia que não era por isso que tinha voltado.

Era por mais, por muito mais.

Era porque já não aguentava mais nenhum segundo longe dele.

Era porque não queria parar.

Porque eu vivo por você — ela murmurou, lembrando-se da primeira conversa que eles tiveram por telefone. Park continuava acariciando a sua mão. — E porque eu te amo — foi quase inaudível.

Quase.

Mas Park escutou.

E era o suficiente.

park

Ele ficou em silêncio por um tempo, absorvendo as palavras que havia muito tinha desistido de escutar. Tinha desistido de escutar principalmente daquela voz.

E, no entanto, lá estavam elas, as três palavras mágicas, pairando no espaço, enchendo o seu pulmão de ar e o seu coração de batimentos acelerados e vivos.

Ele teve certeza que ela tinha percebido a aceleração de seus batimentos.

Venha aqui — ele suspirou no ouvido dela, soltando da sua mão e erguendo seu rosto com a ponta dos dedos. Os olhos escuros dela estavam meio inchados e vermelhos, o que a deixava ainda mais linda. — Quero te mostrar uma coisa.

Ela sorriu antes de seus lábios se encontrarem suavemente.

Era mais que um milagre; era um milagre que fez Park derramar mais lágrimas, assim como Eleanor.

Eles poderiam explodir de felicidade, mas permaneceram inteiros, juntos.

Porque se explodissem não tornariam a se ver.

E queriam se ver todos os segundos do resto da vida deles.

eleanor

Por que não respondeu minhas cartas? — ele perguntou, a voz meio inflamada de dor.

Ela estava com medo. Passada a êxtase do reencontro, todos os medos retornaram. Começou a tremer, lembrando-se de seu padrasto. Do monstro que não queria encontrar. Precisavam sair daquele lugar logo.

Mas estar nos braços de Park era tão bom. Quentinho.

Eu nem as li — ela murmurou, observando o contraste delicado entre suas peles. — Não parecia fazer sentido lê-las se eu não poderia te abraçar no segundo seguinte.

Ele ponderou a resposta que recebera.

Por que veio até aqui?

Aquela era a hora de dizer o motivo concreto.

Pensei que…

Empacou.

Pensou que…? — Park sempre sabia incentivá-la.

Talvez seja besteira — ela balançou a cabeça e fechou os olhos. — Mas pensei que pudesse vir buscá-lo. Começarei a fazer faculdade e então poderei arranjar um emprego e comprar uma casinha só para mim. Mas seria muito vazia se fosse só para mim. E eu sentiria a sua presença em todo lugar. Seria injusto eu ficar sozinha lá e você ficar sozinho aqui, sendo que poderíamos… ficar juntos. Como nos velhos tempos — ela se apressou em acrescentar. — Se não quiser, eu entendo.

Ela franziu o cenho, pensando que ele pudesse falar que era um absurdo. Que as coisas mudaram em um ano. Que era tarde demais. Que era loucura.

Ele procurou pelo seu olhar.

Eleanor — era a primeira vez que ele experimentava como soava seu nome depois de um ano. Ela amava o jeito como a boca dele se mexia quando ele falava. — Como que você veio até aqui?

Meu tio me trouxe.

Ele ainda está aqui?

Não. Foi então que ela percebeu o quanto acreditava em seu próprio plano. Balançou a cabeça.

Você já sabia que eu aceitaria, não é?

Ela simplesmente o olhou. Seus olhos estavam muito escuros, como se ele tivesse borrado o delineador. Desconcertante. Ele ainda era desconcertante. Principalmente quando confirmava qualquer chama de esperança que ela tivesse nutrido.

Ele encostou seu rosto no cabelo dela.

Estava com tanta saudade.

park

Tenho tantas perguntas para te fazer — ele murmurou enquanto caminhavam até a casa dele de mãos dadas.

Era bom segurar a mão dela. Ele se sentia inteiro, mesmo depois de ter se quebrado em um milhão de pedacinhos com a distância e o tempo.

Tenho tempo para respondê-las — ela retrucou, sorrindo largo. Não pensou que pudesse sorrir tanto em um lugar que a aterrorizava.

Você tem tempo? Nós temos tempo? — ele confirmou, sorrindo também. O sorriso escapava facilmente de sua boca quando ele estava com ela.

E, quando ela o olhou, pensou que pudesse se desfazer ali mesmo.

Nós temos tempo — ela assentiu. — Bastante.

Legal.

Porque nenhuma palavra parecia o suficiente para o momento.

eleanor

Os pais de Park a receberam gentilmente, mesmo que tivessem um milhão de perguntas em seus olhos. Ela não queria respondê-las; sabia o quanto eles deveriam estar magoados com ela por ter feito o filho deles sofrer. E eles foram gentis, mesmo assim.

Pensou que não merecia uma extensão de sua família tão boa.

A mãe de Park não queria deixá-lo ir. Começou a chorar e falar que sentiria muito a sua falta. Seu pai foi mais direto, falando que já estava na hora de ele tomar o seu caminho sozinho. Ou com Eleanor.

Ela sentia o quanto o pai de Park gostava dela. Como se ela incitasse uma parte boa de seu filho. Uma parte destemida.

No final, a decisão cabia somente a Park. E ele já tinha decidido.

Partiram pela manhã.

park

O que mais te aterroriza naquele lugar? — ele perguntou no meio da viagem.

Eleanor estava distante, olhando pela janela. Nem parecia que estava ali, no mesmo carro que ele. Mas estava. Ele sabia que sim.

Ele.

Foi o suficiente.

Nunca mais vou deixá-lo chegar perto de você — Park prometeu, olhando para frente, segurando com firmeza o volante do Impala.

Eleanor quis dizer que tudo bem, mas não encontrou forças. Então continuou olhando pela janela.

Estava tão linda. A janela do seu lado estava aberta, fazendo o seu cheiro ir diretamente para Park. Cheiro de baunilha. As coisas não mudaram tanto, afinal.

Eleanor.

Hum.

Eu te amo.

Ela sorriu e encostou a cabeça no ombro dele, mesmo que tivesse que se inclinar de maneira desconfortável por conta do cinto.

Eu também te amo, Park — ela sussurrou. — Eu também.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado :3
Digam-me suas opinies :3