Apareceram na sala das lareiras de novo.

Depois que recuperaram o equilíbrio se olharam e correram para as portas. Era realmente a sala precisa, pois logo que saíram a porta desapareceu.

Lena não se lembrava de ter descido com tanta pressa as escadas, de modo que mal registrou o fato de ter alunos ainda de pijama (estranho, pois as aulas já deviam ter começado) nos corredores parecendo atordoados.

Quando finalmente chegou ao salão de entrada ela parou. No meio do hall estava o corpo de um homem de uns trinta e poucos anos de cabelos pretos bagunçados e olhos muito verdes que agora estavam vidrados. Seus óculos redondos caíam por sua face e uma cicatriz em forma de raio era visível em sua testa. Harry Potter estava morto.

Claro que ela sabia, pois o homem ruivo entrara falando na audiência, mas era difícil de acreditar até que visse por si mesma. Dois garotos choravam perto do corpo se abraçando, os quais Lena reconheceu por Alvo e Tiago Potter. Uma pequena ponta de compaixão surgiu nela. Ela também sabia o que era ficar sem pai – embora o seu tenha retornado.

_Melhor irmos agora, acho que você é a última pessoa que eles querem ver_ disse Ashley baixinho. Lena assentiu e dirigiu-se junto com eles ao salão comunal da Sonserina.

Todos os alunos da Sonserina estavam lá, e conversavam animadamente e davam risadas, exceto por alguns, que sentavam tristemente em um canto. Nem todo Sonserino apóia o Lorde, “mas deveriam” ela pensou.

Lena correu para se juntar a um grupo que discutia os acontecimentos da manhã.

_O que aconteceu?_ ela perguntou.

_Bem, só soubemos hoje que tinham levado vocês para o ministério da magia_ explicou um garoto do quinto ano com olhos muito azuis.

_Foi ridículo, perguntaram um monte de coisas sem sentido, não tinham provas e parecia que queriam que a audiência demorasse.

_Exato, Harry Potter apareceu aqui logo que vocês saíram.

_Não, espera_ ela tentou se lembrar da audiência_ ele estava conosco! Até protestou no meio da audiência...

_Acredito que alguém tomou uma poção polissuco para se passar por ele, seria muito estranho se ele não estivesse no julgamento. Como eu ia dizendo, o Lorde das Trevas também apareceu e eles começaram a duelar e não sei como, mas quando vimos Harry caiu morto. Algo aconteceu que permitiu que Ele matasse Potter.

_Acho que levaram vocês com medo que Lena se juntasse ao Lorde das Trevas_ disse uma menina que estava com uma cara pensativa.

_Foi tudo armação!_ Lena estava furiosa. A centelha de compaixão tinha sido apagada com uma balde de água fria.

_Visivelmente...

_Pelo menos Potter está morto, deu tudo errado_ ela riu com selvageria.

_Sabia que o Lorde ia vencer_ disse o garoto, mas ele não estava rindo_ já sou comensal também_ ele mostrou a Marca Negra.

Nossa, parecia que seu pai estava recrutando jovens para seus serviços. Estranho.

_Legal, bom saber que estou cercada de gente de confiança_ ele sorriu, mas algo disse para ela que ele não era o tipo de pessoa que se deve confiar_ Com licença_ ela se retirou a procura de Ashley que falava – não, gritava – com um homem de expressão dura. Lena se aproximou para escutar.

_NÃO VOU COM VOCÊ_ o rosto dela estava vermelho_ GOSTO DAQUI, TENHO AMIGOS.

_Querida, o ministério está prendendo todos os ex-comensais, acham que nos deram chances suficientes_ ele disse desesperado, Lena o reconheceu, era o pai de Ashley.

_Papai, me deixe aqui.

_Para seqüestrarem você e nos fazer voltar? Não, você vai_ ela começou a chorar mas assentiu.

_Agora, faça suas malas, pouca coisa, peguei todo o dinheiro, compramos coisas quando chegarmos.

_Aonde vamos?

_Não posso dizer, o Lorde providenciou tudo_ ela correu para o dormitório e Lena a seguiu.

_Ash?_ ela estava chorando_ escutei uma parte de sua conversa e eu sinto muito_ sentia mesmo, fora a primeira amiga que ela teve.

Então ela fez algo que surpreendeu Lena. Abraçou-a.

_Vou sentir falta das suas confusões_ ela riu.

_Vou sentir falta de tudo_ Lena também estava chorando quando começou a ajudá-la com as malas.

_Não posso mandar cartas, mas não vou deixar você me esquecer_ ela riu_ Lena, lembre-se, serei pra sempre sua melhor amiga, não importa onde eu esteja.

Lena ficou mais surpresa ainda quando ela abraçou Ashley.

No momento em que ela saiu com o pai Lena mal se agüentava de pé.

_Estamos sendo vigiados_ disse Jake_ acho que as coisas vão mudar, tenho ouvido algo sobre a Ordem estar mais presente_ ele falou com desgosto_ meus pais foram embora também, mas acharam melhor eu ficar.

_Nossa, como você está?_ ela o olhou, vendo que ela não era a única preocupada.

_Péssimo, descobri que Carol realmente procurou o ministério para nos denunciar, acho que ela não queria que sofrêssemos mais, bom agora estamos sofrendo_ ele respirou profundamente_ meus pais quase morreram de desgosto e a entregaram para seu pai. Ele foi misericordioso, deu a ela uma morte rápida_ Lena tapou a boca com as mãos.

_Ele a matou?

_Ela mereceu_ deu pra ver que ele estava sofrendo.

Lena o abraçou.

Mentalmente contou quantos abraços tinha dado na ultima hora. Definitivamente estava ficando sentimental, isso a assustou. Ele retribuiu.

Alguma parte da sua mente registrou o quanto gostava do perfume dele, mas a maior parte sua estava concentrada em não desmaiar.

_As coisas vão melhorar_ ela sussurrou_ agora, se essa coisa da Ordem for verdade, temos de nos preparar.

Em dois dias mais alunos foram embora. Malfoy, Rosier, Dolohov e muitos outros. Scorpius também faria falta.

_Parece que sobramos nós_ Jake analisou a sala comunal, parecendo mais vazia sem Ashley e Scorpius.

_Verdade, precisamos conhecer mais pessoas.

_Falando em conhecer pessoas_ disse uma voz atrás dela. Era o menino dos olhos azuis, muito bonito, mas por alguma razão Lena achou que não se interessaria por ele_ estamos aqui_ a menina alta apareceu do lado dele.

_Nem sei se me conhece_ o garoto olhou para Lena_ Sou Justin_ ela sorriu. Tinha algo familiar nele.

_Sou Alison, primeiro ano_ ela sorriu_ sou namorada dele_ ela indicou Justin_ não me julgue, sei que ele é mais velho, mas nos amamos.

_Olha o exagero_ ele riu. Ela bateu nele_ mentira, somos felizes, moramos juntos_ ele sorriu quando viu a cara surpresa dela_ com os pais dela, eles me adotaram quando nasci, ficaram me empurrando para ela a vida inteira.

_Nossa, não conhece seus pais?_ a expressão dele endureceu.

_Sim, meu pai, minha mãe morreu, mas não faço questão de ter laços com ele. O odeio_ Lena se surpreendeu com a amargura dele_ Vamos falar de outra coisa, tipo a partida de quadribol de sábado!

Depois disso Jake e Justin começaram uma acalorada conversa sobre o esporte e Alison começou a conversar com ela.

_E ai, como é ser filha do chefe?

_Estranhamente normal_ Lena riu da denominação que ela atribui ao Lorde.

_Bom, eu ia adorar, tipo, se eu não gosto de alguém era só pedir para papai mandar matar.

_Também tem o fato de saber das reuniões.

_Gosta de moda? Beleza? Fofocas?

_Como não gostar?_ elas riram e se puseram em um sério debate de gostos entre os tons de azul.

A alegria não durou muito, porque pela manhã eles souberam que todos os cargos de professores tinham sido tomados pela Ordem, estavam cercados.

A diretora se levantou.

_Alunos, infelizmente tivemos que tomar algumas precauções para manter Hogwarts a salvo. Cartas serão revistadas, não devem sair depois do anoitecer, qualquer aluno que for acusado de relação com o partido das trevas correrá risco de expulsão, os passeios de Hogsmeade estão cortados_ ela respirou_ passaremos a lista para quem vai ficar no Natal_ ela completou o discurso como se tivesse anunciado a previsão do tempo.

_Ridículo_ Lena murmurou.

Neste momento o correio coruja chegou, centenas de corujas com cartas e encomendas, um pouco mais tarde do que o comum.

Uma carta caiu na frente de Lena.

“Lena, sinto em dizer que terá de ficar em Hogwarts neste Natal. As coisas por aqui estão muito agitadas. Espero não ter de lhe escrever novamente, então lhe desejo um Feliz Natal.”

Na carta dizia que o remetente era Draco (Filch nem devia ter reparado que ele e a familia estavam desaparecidos então não poderia mandar a carta) mas Lena reconheceu a caligrafia do pai. Teve vontade de atirar a carta longe.

_O que foi?_ assustou-se Jake quando o papel começou a queimar.

_Vou ter que ficar em Hogwarts no Natal­_ ela respondeu aborrecida.

_Somos dois.

_Quatro_ corrigiu Justin.

_Mudando de assunto, gostaria de saber porque papai conseguiu matar Harry.

_Talvez devesse dar um pulinho na biblioteca.

_Já fui lá, nada.

_Não na seção reservada_ ele sorriu travessamente.