A Janela escrita por Leandro Zapata


Capítulo 5
Emmett


Notas iniciais do capítulo

Está chegando ao fim! Uma das melhores histórias que já escrevi! Espero que gostem.
Compartilhem! Sempre ajuda.



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Depois de comerem uma macarronada cozinhada por Connor, que não conseguia parar de encará-la, os dois conversaram sobre ela e sobre o futuro. Dois motivos passaram pela mente de Hazel que justificavam Connor encarando Hazel daquela forma: ela era muito, muito bonita ou ela era uma viajante do tempo que viera de 2167 para tentar impedir que uma Inteligência Artificial chamada Neuron não domine o mundo. Hazel não teve dúvidas de que era a segunda opção.

Hazel contou para Connor todos os detalhes do futuro. Sobre a fundação da Coalition por parte dos Russos; sobre as Treze Colônias, sobre o Domo Natural; sobre as Usinas de Tratamento de Água Salgada. Connor notou que, quando ela citou o Domo Natural, sua voz tremeu um pouco. Contou que em 15/02/2017, Grant Farrow criaria Neuron...

– Espere um pouco. - Connor interrompeu. - Grant Farrow está morto. Ele morreu anos atrás em um acidente de carro.

– Eu sei! Mas ele tem um irmão...

– Lionel Farrow. Eu sei. Eu sou amigo de Lionel. - Ele sorriu. - Era isso que eu tinha para te falar; é por isso que eu acreditei em você. Lionel está criando uma máquina do tempo.

– Exato! Ela vai usá-la para salvar o irmão.

– Não, ele não vai. - Connor disse. - Eu cresci com Lionel. Conheço tudo sobre ele; nós estudamos na mesma escola. Ele sabe que mudar algo no passado pode ter consequências catastróficas no futuro.

– E tem! - Hazel afirmou, estava ficando desesperada; ela tinha menos de 36 horas para impedir Lionel de viajar ao passado. - Ele salva Grant, que cria Neuron, que domina e destrói o futuro!

– Nós temos que pará-lo! - Connor finalmente havia entendido.

– Então vamos! Você deve saber onde ele está, não?

– Mas é claro. Faz uns seis meses que ele mal sai daquele laboratório dele. - Connor, porém, não fez menção de levantar. - Você mesmo disse que tem até amanhã para ele voltar, então, me responda algumas coisas: onde aprendeu a atirar daquela forma? Você tem superpoderes? Porque você atraiu aquelas armas com sua mente.

– Não foi com a minha mente. - Ela explicou. - E eu disse que meu pai me ensinou a atirar caçando droids. - Ela pausou e respirou fundo. - É uma longa história.

– Não se preocupe, temos tempo. - Ele ajeitou-se na cadeira, serviu-se mais um pouco de macarronada e esperou que ela narrasse sua história.

Ela começou explicando a história por trás do Domo Natural:

No ano de 2056 um cientista biólogo chamado James Harkness percebeu para o que o mundo avançava; a Terra estava ficando cada vez mais quente; os desertos estavam cada vez maiores. A vida animal estava acabando. Por isso, ele escolheu um lugar naturalmente gelado durante todo o ano: os polos. O norte e o sul do mundo estavam se tonando tão quentes quanto as chamadas Zonas Temperadas.

Ele criou o Domo Natural no intuito de salvar a natureza do mundo, por isso o Dr. James Harkness, com ajuda de Neuron e da Coalition, recolheram maior parte da vida animal e vegetal restante do planeta e colocaram no lugar chamado de Groelândia, que passou a ser chamado Domo Natural. Lá, eles impediram que a natureza fosse extinta. O Domo Natural é o maior dos domos, mas não faz parte das Treze Colônias, é como se fosse uma décima quarta colônia.

No ano de 2164, três anos antes da viagem de Hazel ao passado, a família Brown, desenvolvedores do sistema moderno de captação e potalização de água do mar, atualmente era composta de três membros: o pai, Howard Brown, a mãe, Brigitte Emmett Brown, e a única filha, Hazel Emmett Brown. Eles pertenciam a Classe Alta da sociedade criada por Neuron, o Senhor Supremo do Mundo. Como prêmio por seus serviços prestados a sociedade, a família Brown, assim como alguns pouco felizardos, morava no Domo Natural.

Howard Brown era um inventor brilhante. Ele estava trabalhando em um sistema de propulsão gravitacional para que pudéssemos levar o que sobrou da raça humana para KOI-3010.01, ou como é mais conhecido, planeta Neuronium. Howard também trabalhava em um sistema de Terraplanagem Planetária para deixar o planeta 100% habitável.

Contudo, ele não queria que Neuron chegasse ao planeta com os humanos. Queria libertá-los de sua tirania. Por isso, ele começou a trabalhar em um projeto secreto chamado Gravitatem. Ele queria dar a crianças a habilidade de atrair objetos para si e, ir ainda mais além, desenvolver outros tipos de habilidades mentais. Dezenas de crianças foram parte do projeto, incluindo sua própria filha, Hazel.

O Gravitatem falhou miseravelmente.

As crianças não aceitavam a tecnologia implantada a nível subcelular. Nenhuma delas chegou a desenvolver qualquer habilidade; algumas morreram devido a rejeição. Até que a Cordis, que subsidiava o projeto, cancelou-o de uma vez por todas.

Dez anos se passaram. O projeto de mudança da humanidade para Neuronium estava cada vez mais próximo; tornando-se cada vez mais possível. No dia 12/10/2164 a família comemorava o feriado indo ao zoológico do Domo Natural. Hazel adorava os animais e as plantas e tudo que vinha da natureza.

Eles caminhavam rindo pelas ruas do zoológico. Viam os animais, admiravam-nos. Hazel tinha quinze anos, mas parecia uma criança toda vez que iam ali. Pararam para comer as comidas sintéticas que serviam no restaurante do local. Hazel sentiu muita dor no estômago; correu para o banheiro. Se sentindo melhor, ela voltou ao salão.

A família Brown observava os macacos quando o incidente ocorreu. Mais uma vez Hazel sentiu uma dor angustiante no estômago. Não havia para onde correr. Então, tudo ficou escuro. Quando acordou, estava em um hospital. Sua mãe, chorando, contou-lhe que, do nada, todas as portas das jaulas dos animais abriram de repente, os animais fugiram. A Coalition não teve outra opção e precisou abater alguns deles para salvar algumas pessoas.

Howard sabia o que havia acontecido com Hazel. O projeto Gravitatem havia surtido efeito e, portanto, deveria ser mantido em segredo. Ele alegou que tinha um objeto dentro do bolso que causou aquele efeito, algo totalmente acidental. O objeto foi destruído assim que causou o pandemônio, e Howard condenado a morte, pois alguns dos animais mortos eram o último de suas respectivas espécies.

O julgamento de Howard aconteceu na Colônia de Washington. O juiz Jerry Godie condenou-o a morte por causar a extinção de setenta e duas espécies de animais. Sua família seria mandada pra a Colônia de Odessa, onde trabalhariam para pagar pelos crimes cometidos por seu patriarca. O projeto de êxodo para Neuronium foi adiado até que algum cientista corajoso e brilhante o bastante assumisse-o.

Os três Brown estavam reunidos na sala que antecedia a da cadeira elétrica. Era o último momento em que a família estaria junta, depois disso, seria apenas Hazel e Brigitte. Também, diferente de todo o resto da dos humanos de 2164, eles teriam um momento totalmente privado. Ninguém, nem mesmo Neuron, saberia das palavras trocadas naqueles cinco minutos antes da execução.

– Brigitte, - ele dizia em meio as lágrimas - você tornou-se meu mundo na primeira vez em que eu te vi; eu me apaixonei por você, casamos, e tivemos essa linda filha juntos. Existe muitas coisas que eu gostaria de conseguir para nós, para toda raça humana, mas infelizmente não cheguei nem perto.

A esposa abraçou-o calorosamente antes de desabar chorando mais uma vez.

– Hazel. - Ele olhou nos olhos da filha; ele era um tanto mais alto que ela. - Dentro de você há um poder extraordinário. Um dia, o mundo irá precisar de você e do seu poder. Você precisa controlá-lo e, quando chegar o momento, você poderá mudar tudo. - Hazel nunca tinha visto o pai olhá-la tão intensamente. - Você nasceu para lutar, Hazel Brown. Então, lute com bravura.

A menina não quis assistir a execução, mas fez questão de ver o corpo mecânico de Neuron. Ele estava sentado ao lado dos primeiros-ministros de cada Colônia. Apenas seus dois olhos vermelhos entregavam sua origem mecânica. Neuron se parecia com um humano, apesar de ter 2,5 metros de altura. Seu cabelo era preto e cortado curto, como um militar; sua barba, da mesma cor, era bem feita, com exceção do bigode. Era o rosto de um homem cruel, ditador; o rosto de alguém que controla a todos.

Hazel odiou aquela máquina por toda sua vida.

– No fim, - Hazel concluiu a história para Connor - meu pai estava certo. Eles realmente precisam do meu poder.

– Você não sente raiva do que seu pai fez com você?

– Não. - Ela disse. - Eu nunca soube, apenas quando ocorreu o incidente. E depois disso não tivemos tempo para que eu sentisse raiva dele.

– Eu... - Connor parecia constrangido. - Sinto muito.

– Não se preocupe com isso. Eu superei e, agora, tenho uma nova chance de vê-lo. Se eu conseguir cumprir minha missão e restaurar a linha do tempo, é claro.

Hazel e Connor trocaram olhares silenciosos por vários minutos. A comoção da história e a diferença temporal pesaram sobre eles. Sem dúvida o menino queria perguntar sobre o futuro, mas depois do que ela havia contado, estava com vergonha. Já ela, queria saber mais sobre o passado. Os melhores lugares para ir, as cidades, as fazendas, os animais, tudo isso.

– Você é amigo de Lionel Farrow, não? Pode me leva até o laboratório dele?

– Sim, mas ele não vai te escutar. - Connor parecia chateado. - Faz seis meses que ele não para de trabalhar naquela máquina do tempo. Ele não atende as ligações, a esposa abandonou-o grávida de um filho que ele nunca viu. A vida dele está uma droga. Talvez isso o mudou; por isso ele tenta salvar o próprio irmão.

– Eu tenho que impedi-lo. Vam...

Uma batida bruta interrompeu-os. Hazel não precisou esperar para ver que eram mais policiais da Coalition. No futuro, eles estavam observando-a, sabiam onde ela estava o tempo todo. O Dr. Lake Harkness não chegou a mencionar se era possível comunicação entre o futuro e o passado através de rádio, entretanto, ela deduziu que não.

– No meu quarto, na janela, há uma saída de incêndio. Me encontre duas quadras na frente de uma floricultura que tem ali em quinze minutos. - Connor sussurrou. - Não fale com ninguém, ou pode haver consequências catastróficas.

– Direita ou esquerda? - Ela perguntou, apressada.

– O que?

– Você disse duas quadras. Para direita ou para esquerda?

Ele pensou um pouco antes de responder: - Esquerda.

Ela confirmou uma vez com a cabeça, pegou sua bolsa, onde a arma de pulso eletromagnético estava, e correu para o quarto. A saída de emergência que ele citara era na janela; havia uma escada gasta que um dia fora pintada de vermelho que descia entre dois prédios, em um beco.

Hazel correu até a rua, dobrou a esquerda e correu o máximo que suas pernas permitiram. Passou por diversas lojas na primeira quadra, mas nenhuma floricultura. A segunda quadra começava com um restaurante e em seguida uma espécie de teatro. Encontrou a floricultura fechando. Ela parou estupefata. Sua broca abriu-se num “O”. Apesar de viver quinze anos no Domo Natural, ela nunca tinha visto tantos tipos diferentes de flores. Eram centenas e centenas. Havia flor de todas as cores; algumas que ela nunca tinha visto antes.

Uma senhora idosa, com olhos muito azuis e de cabelo alvo, regava alguns vasos presos a parede enquanto um jovem forte guardava os vasos soltos dentro da loja. Hazel precisou apenas dar mais um passo para que a senhora começa-se a falar.

– Essas são lírios da paz. - Ela explicou. - Eles precisam de muita água. É preciso regar diversas vezes ao dia.

– São lindos. - Hazel estendeu uma das mãos para tocá-los, mas hesitou.

– Se for delicada, pode tocá-los. - A velinha sorriu. - Minha mãe costumava dizer que os lírios da paz eram um sinal de que o mundo irá atingir a paz; que enquanto essas flores existirem, ainda há esperança de paz para o mundo.

– A senhora realmente acha que as pessoas ainda têm esperança?

– A única coisa que as pessoas têm é esperança. - Ela terminou de regar as flores e pegou uma tesoura; ela cortou um dos botões e entregou a menina. - É um presente para você sempre ter esperança.

Uma lágrima brotou nos olhos de Hazel. Antes que ela permitisse que escorresse, Connor parou em uma moto à beira da calçada.

– Vamos, Hazel. - Ela falou. - Temos uma máquina do tempo para parar.

Hazel montou na moto e aceleraram em direção a Universidade de Bucareste‎. Depois de meia hora de viagem, eles passaram pela faculdade e, quando o fizeram, notaram algumas dezenas de policiais da Coalition estavam no portal, protegendo o perímetro. Eles pararam alguns quarteirões depois e voltaram correndo, a pé.

Escondidos dos outro lado da rua, eles observavam os policiais.

– O que eles estão fazendo? - Connor perguntou.

– Estão garantindo que Lionel crie a máquina do tempo, é claro. - Ela respondeu o óbvio.

– Isso no seu pescoço, o que é? - Connor perguntou de repente, mudando totalmente o rumo da conversa.

– O que? - Ela olhou para o próprio pescoço, em que o colar dado por sua mãe estava. - Isso não é importante agora.

– Eu já vi isso antes. - Ele puxou o colar de repente; apertou aqui e ali e a concha se abriu.

– Eu não sabia que...

– Temos um problema. - Antes que ela pudesse perguntar, Connor continuou: - Lionel tem uma concha exatamente como a essa. Ela pertenceu ao irmão dele, Grant. Vê? - Ele mostrou as iniciais cravadas por dentro da concha. - G.E.F.

– O que o “E” significa? - Hazel estava confusa.

– Emmett. - Connor concluiu. - Você é descendente de Grant.

– O que quer dizer que, se eu cumprir em minha missão, eu vou deixar de existir. - Hazel sussurrou mais para si do que para Connor.


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