A Janela escrita por Leandro Zapata


Capítulo 4
2004


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo! IEI!
Espero que gostem! Comentem, curtam, compartilhem, recomendem... *u*
Boa leitura.



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Hazel nunca sentiu tanta dor em toda sua vida. Ter o corpo subdividido em nível celular era como cortar cada membro de seu corpo, um por um usando uma faca de cozinha praticamente cega. A dor durou muitos e muitos minutos, mas para Hazel, foram minutos intermináveis. Até que finalmente ela não aguentou mais e desmaiou. Sua mente caiu na escuridão.

Quando Hazel despertou, ela viu o céu noturno. Viu estrelas, ou pelo menos era assim que acreditava chamar aqueles pontos brilhantes no céu. No futuro, em 2167, não era possível ver as estrelas. Ela sentiu frio. Olhou para seu corpo e percebeu que estava nua. Sentou-se num susto, o que lhe deu tontura. Suas roupas estavam a alguns metros dela, junto com sua bolsa e o colar dado por sua mãe.

Levantou e correu para se vestir, torcendo que ninguém a tenha visto daquela forma. Tinha muita vergonha de seu corpo magro e, achava ela, sem graça. Ela estava se sentindo fraca. Olhou em volta. Estava em uma rua pequena, mas que tinha alguns comércios. Encontrou uma farmácia e seguiu para lá. Sabia que seu corpo estava precisando de proteínas e vitaminas.

A porta estava trancada, é claro. Ninguém em sã consciência manteria seu comércio aberto durante a noite. Andou em volta do prédio e encontrou uma janela. Ela sacou de sua bolsa a arma de pulso eletromagnético. Com o punho, quebrou o vidro. Um alarme disparou; o barulho era ensurdecedor. Olhou para a pistola; mirou para cima e atirou. Nada visível aos olhos humanos aconteceu, mas o alarme parou, assim como todos os eletrônicos num raio de cinquenta metros.

Hazel abriu a janela sem mais dificuldades. Entrou. Caçou pelas prateleiras qualquer frasco que contivesse pílulas de vitaminas e proteínas. Encontrou um frasco cuja a embalagem dizia “vitaminas de A ao Zinco”. Tomou cerca de vinte pílulas sem água. Estava acostumada devido a sua classe no futuro.

Contudo, não era o bastante. Ela tentou se segurar às prateleiras, mas não conseguiu. Ela caiu no chão inconsciente.

Uma luz ofuscante atravessou suas pálpebras. Hazel acordou devagar, sentindo-se tonta e confusa. Não se lembrava do lugar onde estava ou o que fora fazer ali. Ouviu vozes masculinas. Tentou se sentar, mas não conseguiu, seu corpo não respondia. Aos poucos sua visão foi voltando ao normal.

Um homem jovem debruçou-se sobre ela, pegou seu pulso e mediu seus batimentos cardíacos olhando no relógio. Ele falou algo para outra pessoa que também estava presente. Os movimentos de seu corpo foram voltando gradativamente. Ela foi capaz de mover o pescoço e viu que estava em uma farmácia; que ela invadira na noite passada depois de viajar no tempo através da Janela do Dr. Lake Harkness.

Alguns minutos se passaram. Ela conseguia mover seus braços, mas não conseguiu sentar. Tentou falar, mas sua voz saiu fraca. Ela ouviu um barulho horrível que parecia com a campainha que havia na U.T.A.S.O. para indicar o fim do expediente.

Mais homens entraram na farmácia. Eles falaram com ela ao mesmo tempo em que checavam seus batimentos e faziam alguns outros testes nela, mas ela não conseguiu responder. Eles prenderam alguns equipamentos de imobilização nela e a jogaram sobre uma cama muito dura. Ela nunca tinha visto algo assim no futuro. Eles a arrastaram até um carro quase tão grande quanto um ônibus e a colocaram na traseira. Ouviu alguns deles comentar “coloquem-na na ambulância”. Então, ela perdeu a consciência de novo.

Ao acordar, Hazel percebeu que estava deitada em uma cama superconfortável, muito diferente daquela em seu quarto em 2167. Olhou em volta; era capaz de movimentar o pescoço, pelo menos. Estava em um quarto de paredes brancas. Estava sozinha, apesar de haver outras três camas no mesmo quarto. Alguns aparelhos estavam ligados ao seu corpo. Um deles emitia um bip constate e irritante; outro era uma sacola com um líquido transparente que pingava entrando em sua veia.

Olhou pela janela. O sol estava alto no horizonte, indicando que era mais de meio-dia. Quanto tempo ela ficou desmaiada? Um homem asiático vestindo um jaleco branco entrou no quarto. Um cientista, Hazel concluiu, estava cansada de cientistas.

– Bom dia. - Ele disse. - Eu sou o Dr. Who, muito prazer. E você, quem é?

Ela não quis responder a pergunta, preferiu fazer outra:

– Onde estou?

– No Bagdasar-Arseni Clinical Emergency Hospital. - Ele respondeu, mas ela estava na mesma.

– Em que país, quero dizer.

– Romênia. - O médico estranhou a pergunta. - Você sofreu uma queda muito brusca de proteínas, sais minerais e vitaminas. Se não tivesse tomado aquelas pílulas na farmácia teria morrido...

– Farmácia que ela invadiu e roubou! - Um senhor de idade interrompeu a conversa entrando com tudo no quarto; Hazel reconheceu sua voz: era uma das pessoas que a encontraram na farmácia.

– Pai, não interrompa o médico!

Um rapaz jovem, de dezenove anos estava logo atrás, tentando acalmar o idoso e tirá-lo do quarto. Hazel viu pela janela ao lado da porta e que dava para o corredor uma mulher um pouco mais velha que o rapaz pegar o idoso e levá-lo embora. O rapaz voltou ao quarto.

Hazel achou-o muito bonito. Ele tinha os dentes muito brancos e estava completamente limpo, como se ele tivesse tomado um banho de uns dez minutos ou mais! Seu cabelo loiro era bem cortado e penteado de lado, e não estava nem um pouco oleoso! Ele vestia calças jeans e uma camiseta preta simples. Seus olhos muito azuis estavam um pouco escondidos atrás dos óculos redondos, mas ainda dava para admirá-los. Hazel sentiu o coração acelerar.

– Desculpe meu pai, doutor, ele está um pouco irritado com o arrombamento da loja.

– Tudo bem. - O doutor disse.

– Se importa se eu conversar com a paciente?

O médico olhou em alguns papéis presos em um pedaço de madeira e respondeu: - Tudo bem. Ela está bem, só precisa descansar um pouco.

– Tudo bem, serei rápido. - O médico saiu, deixando eles a sós. - Olá, qual o seu nome? - Ela apenas fitou-o. - Pelo jeito, não é uma mulher de muitas palavras. Meu nome é Connor Hartdegen. O velho rabugento que entrou aqui é meu pai, Alexander. Sabe, nós decidimos não prestar queixa de você devido ao seu roubo, afinal, você o fez para salvar sua vida.

– Obrigada. - Ela falou, pela primeira vez.

– Ela fala! - Ele soltou uma leve risada. - Mas você vai ter que pagar pelo conserto da janela e pelo remédio que abriu.

– Eu não tenho dinheiro. - Ela respondeu entristecida. - Não tinha nem mesmo de onde vim.

– Vamos fazer um trato, você me fala seu nome que eu pago a janela e digo que foi você. E o remédio, bem, deixa isso pra lá. - Ela soltou uma leve risadinha. - Agora, sim.

Meu Deus, ela pensou, quem é esse cara? Ela nunca tinha visto alguém tão gentil.

– Me chamo Hazel. Hazel Emmett Brown.

– Muito prazer, Hazel. - Ela sorria como não sorria há três anos.

Uma batida na porta interrompeu-os. Uma enfermeira enfiou a cabeça pela fresta e disse que Hazel tinha visitas. Estranhou, já que ela viera do futuro! Olhou pela janela ao lado da porta. Um homem estava parado ali. Ela prestou atenção em seus olhos para ver que, em um deles, havia um pequeno brilho vermelho.

– Coalition. - Ela sussurrou para si mesma.

– O que? - Connor perguntou.

Antes que qualquer um pudesse entender ou impedir a situação, Hazel começou a desconectar todos os aparelhos preso a ela. Sentiu um pouco de dor quando tirou a agulha de sua veia, mas ignorou. A enfermeira entrou desesperada dizendo que ela não podia fazer aquilo, que ela ainda não estava bem. O policial da Coalition entrou com tudo, empurrou a enfermeira para o lado, que bateu com força contra uma parede.

Hazel saiu da cama nesse momento. O policial iria sacar sua arma, mas Hazel a atraiu para si. Seu poder estava funcionando! Sem hesitar, ela atirou no policial no peito, que caiu no chão.

Um pandemônio começou no hospital.

Todas as pessoas que ouviram o tiro se esconderam da maneira que pode. A enfermeira que estava dentro do quarto tapou os ouvidos e começou a chorar. Hazel se aproximou dela e, com brutalidade devido a pressa em que estavam, tirou a mão dos ouvidos dela.

– Onde estão minhas coisas?! - Perguntou gritando.

A enfermeira não disse nada, apenas apontou para um pequeno armário que estava ao lado da cama. Ali, ela encontrou suas roupas, bolsa e o colar dado por sua mãe em 2167. Em menos de um minuto ela colocou as calças e a camiseta regata que costumava usar por baixo de suas blusas, esquecendo-se completamente que Connor estava no quarto.

Ela jogou a arma sobre o policial ferido, pois ela tinha localizadores GPS e pegou a de eletromagnetismo na bolsa. Apontou para Connor e disse:

– Desculpe-me por isso, mas eu preciso sair daqui. Tem que como me mostrar o caminho?

Connor parecia calmo, como se soubesse que Hazel não atiraria nele. Ele saiu pela porta e indicou para que ela o seguisse.

Assim que saíram, uma dupla de policiais da Coalition vinha pelo corredor. Hazel apontou a arma para eles, pensou em atirar, mas desistiu. Ela estava em um hospital! Se atirasse ali, todos os aparelhos eletrônicos seriam desligados. Havia gente ali dependendo daquela eletricidade. Ela fez então a mesma coisa que fizera no beco. Apontou suas duas mãos para eles. As armas voaram de seus coldres para a mão de Hazel, que atirou nos dois.

– Não se mexa, Brown. - Uma voz mecanizada veio de trás dela.

Ela se virou para ver que o primeiro policial em quem tinha atirado estava fazendo Connor de refém. Hazel tinha atirado em seu peito. Na hora, esquecera-se de que precisava atirar na cabeça para matá-lo. Ela tinha alguns minutos para que os outros dois também levantassem.

– Jogue as armas no chão. Agora. - Ela obedeceu. - E nem pense em estender essa mãozinha para mim, garota.

– Eu não estava pensando nisso. - Ela falou.

Hazel se concentrou. Era difícil usar seu poder sem apontar para o objeto desejado, mas ela era capaz. A arma voou da mão do policial mais uma vez e, com uma força acima do normal, veio na direção de Hazel, que a segurou com a mão direita. Sentiu dor por isso, mas nada comparado à dor de viajar no tempo. Ela, então, atraiu Connor para longe de seu captor. Entretanto, ela não podia segurar ele com sua outra mão, por isso, quando ele estava na metade do caminho entre o Coalition e ela, parou de puxá-lo. Connor se desequilibrou e caiu no chão. Hazel, então, atirou entre os olhos do homem.

– Onde você aprendeu a atirar desse jeito? - O rapaz disse, aproximando-se dela.

Antes de responder, ela o puxou pelo corredor, eles pularam por cima dos outros dois. Correram para o elevador.

– Meu pai me ensinou. - Ela disse. - Ele costumava me levar para caçar droids.

– Espera, o que? Caçar droids? Tipos, robôs? - Ele notou que ela estava confusa com os botões do elevador; ele apertou um que dizia “G2”.

– Neuron proibiu o uso dessa palavra. É ofensiva. Que dia é hoje?

A porta do elevador demorou em fechar, talvez estivesse com defeito. Os dois policiais estavam levantando. Hazel não teve outra escolha e atirou em suas cabeças, matando-os.

– Dia 25/03/2004. Quem é Neuron? Do que está falando? - A porta fechou e o elevador desceu.

– Olha, Connor, eu sou do futuro. - Ela então contou tudo que havia acontecido nas últimas horas de sua vida. - Eu sei que é difícil de acreditar...

– Ah... Eu acredito.

A porta do elevador abriu; Hazel detinha a arma em mãos pronta para atirar caso algum policial da Coalition estivesse esperando por eles; felizmente, não estavam. Connor pediu que ela o seguisse até seu carro. Eles seguiram pela saída sem levantar suspeita. Enquanto eles desciam a rua, alguns carros de policia passaram por eles com as sirenes ligadas indo em direção ao Hospital que eles acabaram de deixar.

– Me fale mais sobre o futuro. - Ele disse. - Quem vence a Copa do Mundo de 2006?

– Quem vence o que? - Ela estranhou. - Olha, eu vim do ano de 2167. Não temos isso que você chama de Copa do Mundo.

Ela levou o caminho todo para resumir os acontecimentos. Contou sobre os irmãos Farrow, contou sobre a viagem no tempo que Lionel faria. Contou sobre tudo. Por alguma razão, Connor não pareceu se surpreender.

– Você parece estar aceitando isso muito bem. - Hazel comentou.

– Bem, tenho que falar algumas coisas para você também. - Ele disse enquanto abria a porta de seu apartamento, para onde tinham ido. - Mas primeiro, tome um banho. Você está fedida.

– Pelo menos você é sincero. - Ela riu.

Ele ensinou a ela como abrir o chuveiro, qual era água quente e qual era água fria. Ele deixou-a sozinha para ter privacidade. Hazel tirou suas roupas, ligou o chuveiro quente e entrou de baixo sem hesitar. Fazia mais de três anos que não tomava um banho longo e quente.

Hazel nunca se sentiu tão limpa em toda sua vida.


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